A casa de Lupin
Fachada de mente,
Pilar que acende
A vela apagada
Em chama acordada.
Deambula fantasma
Em minha, tua alma,
Dir-te-ei “amado”,
Dir-me-ás “recordado”!
Pois o és, sendo eu,
O que tens era meu…
Eclipsadas memórias…
Oh! Conto-te histórias!
Entra, vê o visto,
Lê o sitio onde existo,
O corpo, a respiração,
Lê os sinais do coração!
Apareceram de frente para uma casa enorme, mas com um aspecto extremamente velho. Era em madeira castanha e de telhado verde-seco. Algumas das janelas estavam fechadas, mas outras deixavam vislumbrar cortinas brancas que ondeavam à brisa que entrava pelas janelas.
- E aqui estamos nós, na grandiosa morada de Remus Lupin! – observou Sirius teatralmente.
- Ah…
- Sim, é verdade. Está um bocado velha, mas o Remus gosta dela assim, diz que lhe trás velhas recordações e que o ar pesado e a humidade, diga-se só de passagem, o inspira. A mim faz-me espirrar, o meu nariz canino é demasiado sensível… mas cada um com o seu sintoma.
Harry riu-se do que o padrinho estava a dizer. Numa altura daquelas só mesmo ele para manter o sentido de humor no auge.
Avançaram por um caminho repleto de folhas já a começar a secar e subiram três degraus que os deixavam à beira da porta. Sirius bateu três vezes e instantaneamente a porta abriu-se com um gemer típico de filme de terror.
- Bizarro… - observou Sirius com um arrepio. – Isto de ser lobisomem anda a afectá-lo.
- Não é assim tão mau… - tentou amenizar Harry. – Provavelmente não há óleo…
- Há sim! Mas por mais que eu ponha estas portas fazem sempre questão de ranger e encravar e fazer coisas que eu nunca imaginei uma porta fazer!
- Tipo as de Hogwarts?
- Exactamente, tipo as portas de Hogwarts – confirmou Sirius num tom aborrecido.
Por dentro, a casa tinha um certo ar de vazia antiguidade. Cada compartimento era maior que outro, mostrando o que se pode chamar de mansão. Harry nunca imaginou que Lupin vivesse numa casa tão imponente, mas, apesar de tanta grandiosidade, a casa inspirava tristeza e decadência.
- Como pode o professor Lupin viver aqui? – perguntou num murmúrio ao padrinho.
- É como eu te digo, a casa traz-lhe recordações. Da sua vida passada em criança, antes de ser mordido; dos pais e outros familiares… enfim… é melancólico. E os anos que ele passou aqui sozinho sem ninguém… é quase tão mau como Azkaban! Sente-se a tensão no ar, como se espíritos habitassem cada centímetro que percorremos – disse Sirius olhando em volta.
- Não sabia que simpatizavas assim tanto com o meu querido lar – disse uma voz.
Ambos se viraram para trás no longo corredor que percorriam. Do seu lado lateral esquerdo, de uma porta em carvalho negro, saía Remus Lupin. Um homem alto, de cabelo castanho manchado de madeixas cinzentas que lhe davam um charme de intelectual. Trazia um avental posto, e da sala donde saíra vinha um cheiro delicioso a comida, deveria ser a cozinha.
- Boa-tarde, professor – cumprimentou Harry.
- Boa-tarde, Harry – retribuiu o antigo professor de Defesa contra as Artes Negras. – Pelo que vejo o Sirius já andou a espalhar a fama da minha simpática casa. Um difamador, na minha opinião.
- Talvez seja um pouco – disse Harry, para não dar razão nem a um nem a outro.
- Eu não acho. É perfeita para mim – Lupin olhou em volta com um leve sorriso no canto dos lábios e um brilho amável nos seus olhos castanhos-claros. – Enfim…Estás bem? Já há algum tempo que não te via.
- Sim, sim, estou óptimo – Respondeu Harry, e como achou muito estranho chamar-lhe professor Lupin, já que Lupin não era professor, disse: - Mr. Lupin.
- Ah… sinceramente, prefiro que me chames Lupin…Remus…Professor Lupin… Mr. Lupin é demasiado formal, faz-me sentir velho. — Observou o professor.
- Como quiser, só pensei que fosse...
- Estranho, sim, compreendo. Então Sirius, o que vieste cá fazer? — Perguntou Lupin intrigado. — Pensei que ias levar o Harry a casa do Ron, pelo menos foi isso que me disseste.
- E vou! Só que tive que passar por cá, para vir buscar uma coisa. — Respondeu Sirius.
- O quê?
- Nada! — disse Sirius fazendo sinal para Harry com os olhos, mas nas suas costas. — Espero que não te importes de ficar aqui um pouco com o Harry, Remus.
- Claro que não, será um prazer. — Lupin sorriu para Harry amavelmente. – Temos que pôr a conversa em dia, já que há cerca de um ano que não nos vemos.
- Sim, façam isso. Pelo menos sempre alegram este casarão assombrado – observou Sirius dirigindo-se para o fundo do corredor, e desapareceu numa curva.
Harry ficou a olhar para o chão e para todos os sítios possíveis menos para Lupin. Nada tinha a dizer, pelo menos naquele momento não se lembrava. Era o que acontecia imensas vezes: longe das pessoas imaginava-se a dizer imensas coisas, mas quando estava com elas, esquecia-se de tudo o que fosse de interesse de ser dito.
- Ah… queres chegar comigo à cozinha? Sempre nos pudemos sentar e falar de qualquer coisa interessante – sugeriu Lupin sorrindo-lhe com a sua típica amabilidade.
- Sim, penso que sim – disse Harry educadamente e seguiu o professor até um amplo compartimento forrado a azulejos brancos, o que lhe dava um ar imaculado. Ao fogão encontrava-se um tacho com algo que Harry não fazia a mínima ideia do que era, mas que lhe abria o apetite.
- Er…professor Lupin, não sabia que cozinhava!
- Ah! O que uma pessoa tem que aprender quando vive sozinho! – riu-se Lupin. – Mas modéstia à parte, até tenho jeito para isto. Queres provar?
- Se não se importar, não digo que não – disse Harry. – O que é?
- Sopa de Arbirden. Uma ave que vive na América Central, muito popular por lá. Hei-de a mostrar nas aulas que… - mas calou-se de repente.
Apesar de ter sido uma menção rápida, Harry apercebeu-se do que Lupin dissera.
- Vai voltar a dar-nos aulas? – inquiriu Harry abrindo os olhos de entusiasmo.
- Bem, a ideia era ser surpresa, mas como a influência do Sirius me pôs a falar demais… - lamentou-se Lupin passando a mão pelo cabelo. – Sim, vou voltar a dar aulas. O professor Dumbledore tem andado à procura de um professor para Defesa Contra as Artes Negras e como não conseguiu nenhum…
Harry já sabia o que lá vinha.
- …Eu aceitei dar aulas — Informou Lupin.
- A sério professor?
- Mais sério que nunca, Harry — confirmou Lupin dirigindo-se a um armário e retirando de uma prateleira um prato de sopa.
- Fico muito feliz por o saber — Disse Harry. – Todos ficarão entusiasmados por saber, foi o melhor professor que tivemos – acrescentou.
- Tenho a leve impressão que já me disseste isso uma vez – riu-se Lupin deitando uma concha de sopa no prato.
Enquanto conversavam, Harry ouviu um estrondo vindo do corredor, mais precisamente do local para onde Sirius tinha ido. Um resmungar seguiu-se ao estrondo e sucessivas pancadas.
- Raios! Esta porcaria não abre! — gritava o seu padrinho.
- Professor…
- Não te preocupes, é sempre a mesma coisa, a porta não gosta muito dele — Riu-se Lupin ao ver o ar aflito de Harry.
- Onde está o raios da varinha?!?! Eu pego fogo a isto!!! — Explodiu Sirius furioso. — AH! Cá está ela! Alohomora!
E ao proferir estas palavras foi cuspido de dentro da sala.
- Remus, agora andas a criar portas assassinas? — Perguntou Sirius, do corredor. — Aquilo é um monstro! Está sempre a trancar-me lá dentro.
- É porque gosta de ti. — troçou Lupin. – Ou então é porque estás sempre a falar mal da casa. Também tem sentimentos.
- Que engraçadinho! — ironizou Sirius insinuantemente. — Obrigado pela varinha Harry, é muito útil.
Harry tinha-lhe mandado a varinha que encomendara no Senhor Olivander ao princípio de Julho. O facto de saber que o seu padrinho tinha fugido e andava desarmado alarmava-o. Se algum dementor aparecesse subitamente Sirius correria graves riscos.
- De nada — Respondeu Harry.
- Estive a contar ao Harry que ia ser o seu novo professor de Defesa Contra as Artes Negras. — Informou Lupin – E íamos agora comer uma espécie de lanche, porque a estas horas é o único nome que lhe posso dar. És servido?
- Eu sei, ouvi quando estava lá dentro a chamar uma data de nomes à tua portinha devoradora de homens — Resmungou Sirius. — Então? Vamos embora Harry?
- Ah… eu ia comer…
- Ah, claro! Os pratos especiais de Remus Lupin. Vamos lá ver como ficou este. Se estiver como o último bem que posso dispensar.
Harry ia levar uma colher à boca mais parou a meio do caminho.
- Estava tão bom que nem deveria ser comido! Devia tê-lo levado directamente para um concurso de gastronomia – disse Sirius maldosamente. – O que pensavam que era? Bem, és um bocadinho distraído… podia ter caído uma poção venenosa lá para dentro… mas é improvável.
- Que simpático que és, Sirius – observou Lupin sarcasticamente.
Harry acabou de comer a sua pequena refeição que estava realmente deliciosa. Lupin tinha que dar umas receitas aos elfos domésticos de Hogwarts!
- Bem, é agora que vamos, certo? – perguntou Sirius. – É que ainda tenho que falar umas coisas com o Arthur.
- Sim, sim. Então até Setembro, professor. E obrigado.
- De nada, vê se não irritas muito a Molly, que já lhe basta o Fred, o George… e o Sirius…
- Essa não teve graça! – protestou o padrinho de Harry encenando um ar ultrajado.
- Sim, não o farei, esteja descansado. Adeus, foi bom voltar a vê-lo — Despediu-se Harry.
- Até logo Remus.
- Cuidem-se. — Avisou Lupin guiando-os até à porta.
Saíram e Harry ainda deitou os olhos à fachada principal da casa. Realmente era sombria, mas depois de se habituar era como se fizesse parte de si. Antiga, bela, etérea.
E desapareceram os dois ao tocarem na meia botão de transporte.
Vai, vai comigo,
Deixa-me aqui contigo,
És a parte desapartada,
Sou a peça encontrada.
Tudo o que o vento levou
Só de mim ficou
A recordação, a lembrança,
A lágrima que entrança
Pensamentos, sentimentos,
Mais que tormentos!
Ficaste tu melancólico,
Fiquei eu diabólico.
E não te esqueças mortal
Tens de vendaval
A brisa que ficou
E que nada levou.
Ou seja, tens o Ser,
Aquele que, no morrer,
Deixou em ti
O pouco puro de mim.
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Autora: E cá fica mais um capítulo... nada de extraordinário devem estar a pensar... se calhar têm razão... mas prontos...
Vá minhas almas caridosas, que gastam os vossos preciosos tempos a ler isto, podem sempre fazer um comentáriozinho também =) e obrigada a todos os que já comentaram! São um grande incentivo =D
bjx**
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