Hier bin ich



Na terça-feira bem cedo, Hanna aparatou em Londres. Hospedou-se em um hotel barato e logo recebeu uma coruja. Dumbledore a esperava logo ali em frente, na praçinha. Ela vestiu-se com roupas trouxas e saiu discutir seu destino com Alvo Dumbledore.
À tarde, algumas das famílias ligadas a Voldemort receberam a visita de uma jovem mulher que dizia ser do comitê de ajuda ao Lorde das Trevas. Ela estava recolhendo objetos de valor ou não que seriam leiloados secretamente e o dinheiro revertido em ajuda ao Lorde. Ela foi tão convincente, que as mulheres dos comensais não pensaram duas vezes em ajudá-la e saíram distribuindo pertences.

Há centenas de milhas de Hogwarts, três dias depois, numa aldeia trouxa da cidade de Basarabeasca, na Moldávia, com pouco mais de cem habitantes, um grupo aparatava. Estavam ali para uma reunião, a noite seria especial para eles, haviam encontrado o paradeiro de um bruxo muito poderoso por executar feitiços, há muito tempo desaparecido. Muitos diziam que ele estava morto, outros diziam que ele havia enlouquecido, mas apenas alguns sabiam da verdade, ele havia saído do meio social por um grave motivo.
— Ionela! Iomela! - chamava uma moça de 18 anos, de estatura baixa, que vinha correndo. - Vamos à casa da senhora Ungur, ela quer nos mostrar os cordeirinhos!
— Sim, vamos, Brãnduşa - respondeu uma mulher mais velha, que deveria ter pouco mais de 30 anos. As duas andavam de braços dados, com suas saiam polacas, cumprimentando os demais moradores por quem passavam. Assim era o vilarejo, sempre calmo e alegre.
— Ionela, olhe! - apontou Brãnduşa na direção da entrada do vilarejo. Era um grupo de homens, mais de dez, todos vestindo longas capas negras, andando quase que em marcha. O peito de Ionela estremeceu conforme os homens se aproximavam, enquanto Brãnduşa agarrou-se à amiga e escondeu o rosto no vestido dela. Os homens passaram por elas como se não existissem. - Não olhe para trás, Brãnduşa - implorou Ionela retomando o passo.
— Senhoras? - chamou uma voz, vinha do grupo de homens. Brãnduşa virou-se rapidamente, Ionela, por sua vez, o fez lentamente. Com a cabeça bem erguida, os cabelos alaranjados intensos ficavam um pouco suspensos sobre os ombros, ela fitou com seus inigualáveis olhos âmbar o homem parado a sua frente. Num primeiro momento todos os outros homens espantaram-se com uma beleza tão pitoresca. - Onde podemos encontrar Gustav Plot? - perguntou Kenneth Pryme.
— Ionela, vamos embora - sussurrou Brãnduşa trêmula.
— Num momento - falou Ionela à amiga e levantando o braço por sobre o ombro do homem, disse: - Dobrando o caminho à esquerda há uma taverna. É bem provável que Gustav esteja lá.
— Obrigado - disse o homem, virando-se para os amigos e seguiu o caminho passando por eles. Ionela também se virou, mas antes observou os homens que estavam mais a frente e um deles continuou a encará-la, enquanto todos os outros retomaram o caminho. As duas apressaram o passo para chegarem à casa da senhora Ungur o quanto antes.
— O que foi, Snape?
— Nada, mestre - respondeu ele recebendo olhares indagadores. - Não sabia que existiam camponesas tão bonitas!
— Eu a vi primeiro, Snape! - adiantou-se Pryme em tom alto lá da frente do grupo.
— Dor de cotovelo ainda, Pryme! - resmungou Snape, fazendo Malfoy dar gargalhada.
A taverna era pequena e quando entraram, os homens que lá estavam se levantaram. Pryme abriu caminho empurrando os moradores sem medo, depois Voldemort entrou.
— Procuro Decebal Popescu - disse Pryme em seco ao homem detrás do balcão.
— Ele está caçando! - respondeu o homem, que secava o copo sem tirar os olhos do pano. Pryme comprimiu os dedos, mas Voldemort aproximou-se.
— Decebal deve um favor a Tom Riddle! - sussurrou Voldemort fazendo o homem observá-lo com atenção. - Vá e diga isso a seu pai!
O homem largou pano e copo e saiu em disparada pela porta dos fundos. Não demorou a voltar com um velhote a segui-lo.
— Fecharemos o bar mais cedo, rapazes! - disse Dănut, o filho de Decebal, saindo de trás do balcão e colocando os moradores para fora. - Amanhã a primeira bebida é por minha conta!
Assim que todos saíram, exceto os comensais, Decebal e Dănut, Voldemort baixou seu capuz.
— Mestre! - disse Decebal ajoelhando lentamente, a idade lhe havia feito muito mal.
— Lund, seu covarde! Por que não veio ter comigo antes? - sibilou Voldemort abaixando-se e falando ao ouvido de Decebal. - Se eu não precisasse tanto de você, juro que arrancaria sua língua e seus olhos agora mesmo!
— Perdoe-me, mestre, é que... voltar... eu teria sido preso... de nada adiantaria ao senhor...
— Cale-se! - disse Voldemort rispidamente.
— Preciso que encontre alguém para mim! É muito importante!
— Por favor, mestre, poupe minha vida... estar velho já é um grande castigo.
— Lund, se falar mais alguma coisa, o resto de sua família vai para o inferno! - bradou Voldemort largando um tapa no rosto de Decebal. - Abram espaço para o grande Bender Lund!
Então, os comensais se afastaram rindo e o velho vestido como um trouxa, que outrora fora muito influente e conhecido no mundo bruxo e agora não passava de um parasita vivendo à custa dos filhos, andou até o meio da taverna.
— O que o senhor deseja?
— Preciso que encontre esta mulher! - Voldemort entregou uma foto a Lund e logo em seguida, Pryme lhe entregou um xale. - Ela é a única que pode me ajudar.
Bender Lund tomou uma bacia de estanho com um pentagrama gravado no fundo e a encheu com um líquido viscoso e prateado - Snape ergueu uma das sobrancelhas, sabia que era sangue de unicórnio. Em seguida, Lund jogou o xale dentro e balbuciou um feitiço. Vapor e cores misturavam-se no ar sobre bacia e então tudo se acalmou, o líquido se paralisou como se não estivesse ali. Lund olhou para dentro do recipiente e depois olhou para Voldemort.
— Qual delas é a mulher? - quis saber Voldemort.
— Diga-me o senhor! - exclamou Lund. - Já não enxergo como antes.
— Nenhuma delas é Hanna, idiota! Não fez certo, faça novamente! - gritou Voldemort. Lund tinha certeza de que fizera o encantamento certo, mas não contrariou Voldemort. Tornou a murmurar o feitiço e as mesmas mulheres apareceram. Elas estavam num estábulo, junto a outras duas e observavam cordeiros recém-nascidos. Uma era morena de cabelos muito cacheados, outra era ruiva de cabelos curtos e as outras duas era louras.
— Aí estão elas - apontou Lund.
— Vamos esperar, talvez ela esteja ali próximo! - disse Voldemort não perdendo a esperança. Ficaram observando as mulheres através da bacia por minutos. Elas saíram do estábulo e entraram dentro de uma casa. Havia alguns homens ali, um deles era alto e forte.
— Este homem estava aqui! - disse Pryme, aproximando-se da bacia. - Estava agora mesmo aqui!
— Quem é ele? - quis saber Voldemort olhando para Lund.
— É... é Vãduva, o chefe da cidade!
— E quem são as mulheres?
— As louras são as filhas dele, a morena é esposa e a ruiva é uma vizinha.
— E ONDE ESTÁ, HANNA, IDIOTA! - gritou Voldemort. - Volte a executar esse feitiço até achar a mulher! - continuou Voldemort atirando a foto na cara de Lund e saindo da taverna. Dois comensais ficaram ali para ter certeza de que o velho Bender Lund não fugiria.
Na manhã do dia seguinte, Snape e Malfoy andavam pelas ruas da cidade. O feitiço de Lund indicava que Hanna estava naquela cidadela, e para ficarem longe da ira de seu mestre, os comensais deram início à uma busca particular.
— Veja lá, Snape. Não é a camponesa do outro dia? - disse Malfoy rindo. Snape olhou para frente e a mulher de intensos cabelos alaranjados vinha em sua direção, ela olhava para uma cesta de compras que estava quase cheia quando passou por eles.
— Hanna! - chamou Snape, pretendendo que ela se virasse para ele, mas a mulher olhou para o lado oposto e andou naquela direção. - Já encontro você, Malfoy!
A mulher continuou andando, só que agora com certa pressa. Snape a seguiu até conseguir fazê-la parar.
— Algum problema, senhor? - perguntou espantada enquanto Snape a encarava com seriedade, como se pudesse ver dentro dos olhos dela. - Tenho muito que fazer, se quiser ficar me olhando tudo bem, mas me deixe fazer as compras! - e ela continuou a caminhar. Snape ficou para trás e pouco depois Malfoy parou ao lado dele.
— O que deu em você?
— Nada, Malfoy. Vamos continuar olhando!
À noite, a comunidade se reuniu para conversar sobre os estranhos homens, fizeram isso em silêncio, no estábulo da casa do chefe da cidade, queriam descobrir quem eram e o que faziam em ali em Basarabeasca. Depois de discutirem, decidiram que alguém iria até a taverna de Decebal Popescu tirar satisfações. Ninguém tinha nada contra estranhos na cidade, mas aqueles em particular eram muito suspeitos. Ficou decidido que quatro homens iriam até lá, enquanto isso, o resto dos adultos ficaria no estábulo esperando pela resposta. Contudo, antes que os homens saíssem, Ionela se levantou.
— Eu sei o que eles querem - disse ela andando até o centro da roda, parando ao lado de Vãduva, mas antes que ela pudesse explicar, soltou um forte gemido e caiu de joelhos na palha. Ela apertou o estômago, fechou os olhos e tossiu, cuspindo sangue no chão a sua frente.
— Ionela! - gritou a senhora Ungur, ajoelhando-se ao lado dela. Então, os cabelos alaranjados dela tornaram-se negros e cresceram até quase sua cintura. Suas feições se tornaram muito diferentes e as sardas nas bochechas desapareceram. Ela continuou a tossir e a cuspir sangue, mas para o espanto de todos, levantou-se com dificuldade e andou até a janela.
— Eu não sou Ionela Vasilescu, eu a conheci na Eslovênia, onde morreu há cerca de um ano... tomei o lugar dela aqui porque estava fugindo... fugindo de meu marido - e a mulher tossiu mais ainda. - E ele está aqui... - sussurrou quase perdendo as forças. - VÃO PARA SUAS CASAS E NÃO SAIAM! - gritou, mas ninguém se mexeu. A mulher se levantou penosamente e andou até a porta do estábulo, dava para ver a taverna dali. - Aqueles lá fora são... os seguidores do Lorde das Trevas, uma maníaco sem piedade... - ela ofegou. - Peço que voltem para suas casas e não saiam até que eu lhes disser. Por favor - implorou cuspindo um pouco mais de sangue.
Os moradores se levantaram, agitados, não conheciam Voldemort, e não faziam idéia de quem era a mulher diante deles, mas a magia da transformação dela os havia assustado. Aquela mulher os havia enganado por tanto tempo, como poderiam confiar nela agora? E se ela estivesse mentindo, fingindo ser boa e os tais homens fosses seus cúmplices e esse Lorde das Trevas destruísse a cidade? Brãnduşa foi a primeira a obedecer.
— Pegue sua mãe, seu pai e sua irmã, Brãnduşa, e não saia de sua casa, por favor.
Então, movidos pela confiança de Brãnduşa, todos os moradores da aldeia saíram pela porta de trás do estábulo. Ao ficar completamente sozinha, a mulher correu até a taverna, abrindo a porta com toda força.
— Eu estou aqui! - disse ela fazendo a atenção de todos se voltar para a porta. Voldemort abriu a boca para falar, mas Pryme foi mais rápido.
— Que ironia, não Hanna? Escondeu-se justamente onde morava a única pessoa que poderia achá-la!
— Não chegue perto! - advertiu ela com a mão aberta na direção de Pryme e um forte vento o empurrou contra o balcão. Ela fechou os olhos, murmurou algumas palavras e suspirou. Havia lançado um feitiço de proteção sobre as casas dos trouxas. - Eu não vou ajudá-lo - falou encarando Voldemort.
— Se você tivesse me procurado, me encontrado depois que Potter...
— Você foi egoísta! Eu havia lhe avisado sobre os Potter, mas você estava obcecado por eles! Toda vez que tentei lhe falar você mal me ouviu!
Voldemort não respondeu.
—Eu não vou ajudá-lo! Não quero mais saber de você e desses seus bonequinhos! Vocês me afastaram da minha vida... Eu não sou ninguém! Ninguém! Tenho que viver pelos cantos, me misturando com trouxas... isso não é vida! Agora é tarde! - disse ela, de repente sorrindo - Fiz meu último feitiço.

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