Esse era o plano
Quando os aurores emboscaram Voldemort e seus comensais no esconderijo que a senhora Snape havia conseguido descobrir, acharam que acabariam com as Trevas, mas Voldemort era cheio de artimanhas e preferia ele mesmo matar seus comensais a se entregar. Lançando um feitiço de paralisação, Voldemort conseguiu escapar juntamente com seus comensais.
— Será impossível vencermos sem a proteção dela! Os gigantes estão ficando nervosos, os dementadores indomáveis - retrucou Goyle a Malfoy.
— O mestre não vai gostar de ouvir isso! - murmurou Avery. - Precisamos encontrar a mulher de Snape!
Aqueles eram três dos comensais que haviam conseguido escapar do ataque direto a Voldemort executado pelos aurores, haviam se passados dois meses desde aquele dia. Voldemort e seus comensais estavam percorrendo toda a Europa em busca de simpatizantes. Até mesmo nos lugares mais distantes, como o que visitavam agora, a Polônia. Conversavam enquanto caminhavam seguindo o mestre, que acabara de entrar em um estabelecimento rústico, um tanto velho. Tudo era muito escuro, pequenos archotes iluminavam mesas encostadas na parede e apenas um lampião clareava o balcão onde um empurra-empurra e muitos olhos sovinas e avarentos denunciavam que o local era um portal para uma isolada cidade bruxa entre um mundo trouxa execrável por sua pobreza. O local era conhecido por ser um local de troca de dinheiro e outros objetos de valor, aquela era a Taverna de Jannick, um dinamarquês que fazia muitos negócios ilegais.
Uma velha senhora encapuzada também tentava ganhar um espaço ao balcão e sem nenhum respeito a mandavam sempre ao final da fila desorganizada, porque a desordenação reinava no local apinhado de bruxos. Quando Voldemort se aproximou todos lhe deram espaço, abrindo o aglomero como se fosse fatiado por uma faca de pão. A velha aproveitou para chegar perto de Jannick.
— Troque por dinheiro trouxa, sim, meu rapaz - disse a velha com a voz falhando.
Naquele momento, Pryme encostou-se no balcão empurrando a pobre mulher que tremia muito devido à idade.
— Saia do caminho, velhota, isso aqui não é lugar para você! - imperou Pryme. A velha afastou-se um pouco e logo Jannick lhe estendeu o dinheiro trouxa.
A velha não agradeceu, virou-se e tomou a direção da porta. Mas então ela sentiu estar sendo observada e levantou um tanto os olhos. Achou que fosse o homem que acabara de empurrá-la, mas não, era outro, magro, alto e de olhos intensamente vermelhos, que vinha em sua direção. A velha guardou o dinheiro trouxa dentro de sua sacola o mais rápido que pôde e tocara no trinco da porta quando o homem de olhos vermelhos parou ao seu lado e a encarou.
— O que foi, mestre? - pediu Pryme, parando ao lado de seu mestre.
— Cale-se, idiota - sibilou Voldemort olhando para a velha. - Você sabe dela, não sabe? - A velha balançou a cabeça negando. - Sabe de Hanna, sim! Como ela está? Onde ela está?
— Se nem ela mesma sabe - murmurou a velha com voz fina e arrastada -, quem sou eu para lhe dizer!
— Você a viu? - quis saber o Lorde. - Não seja im,pertinente, não sabe com quem está lidando. Via Hanna por aqui?
— Nem por aqui ou por ali, porque ela não está entre nós! - e dizendo isso a velha saiu lentamente, meio mancando.
— Sigam aquela mulher! - ordenou Voldemort.
— Sim, mestre - responderam Malfoy e Pryme já saindo da taverna. Andaram apressadamente atrás da velha e encontraram-na andando sozinha num beco. Ela carrega dinheiro trouxa, certamente fora Hanna quem pediu que trocasse, deveria estar morando com trouxas por aqueles arredores, uma velha como aquela não poderia ir muito longe.
— Ela não faria isso! - arfou Pryme. - Hanna jamais moraria entre trouxas, eu a conheço.
— Você a conhecia, meu caro, mas realmente espero que não. Olhe lá! - falou Malfoy.
A velha parou repentinamente, os dois também, escondendo-se atrás de algumas pessoas, mas ela apenas olhava a vitrina próxima, e logo em seguida, continuou andando. Minutos depois, a velha entrava numa viela mais estreita e ali conversou com outras pessoas, todas bruxas. Os comensais passaram pelas mesmas pessoas e as observaram cuidadosamente, procurando qualquer indicação da presença de Hanna por ali. Então, depois de muita paciência, a velha entregou a bolsa, na qual colocara o dinheiro bruxo, a um homem maltrapilho e este saiu correndo em disparada. Os comensais correram atrás dele viela abaixo e sumiram. A velha entrou num beco e se encostou na parede de uma casa; suspirou e apertou o peito, todo o dinheiro trouxa que trocara na taverna estava dentro de sua blusa. Quando a velha senhora percebeu que havia despistados os homens encapuzados, deu o primeiro passo se assustou, pensara que um deles estivesse a sua frente, mas não passava de sua imagem refletida na janela de uma casa. Respirando aliviada, ela suspirou.
De volta à taverna, Pryme recriminava Malfoy por ter perdido a velha de vista. Eles resolveram ficar no vilarejo por alguns dias e tentar descobrir quem era a mulher e se ela estava mesmo ajudando Hanna, no entanto, uma semana se passou e ninguém sabia muito sobre a tal velha que vinha a taverna regularmente trocar dinheiro.
As manchetes do Profeta Diário cada vez mais alegravam a Voldemort. Cornélio Fudge renunciara ao cargo de Ministro por conta da pressão surgida quando em conflito com um dos maiores magos de todos os tempos, Alvo Dumbledore, que vinha afirmando por dois anos sobre o retorno do Lorde das Trevas. Mas apesar de tudo, o jornal tentava abafar qualquer ataque que Voldemort ou seus comensais faziam sobre bruxos e trouxas. E abafavam qualquer notícia sobre o alarmante número de simpatizantes e o aumento das atividades das trevas.
Em Hogwarts, as crianças haviam sido liberadas para saírem do castelo e para irem a Hogsmeade, já que a cidade fora toda reestruturada. Era certo que muitos perderam entes queridos, mas a vida continuava e, assim como todo o ensinamento ali repassado, as experiências positivas e negativas também serviriam posteriormente. O professor de Poções continuava garantindo seu primeiro lugar no ranking de pior professor. Mas desta vez com um complemento, até mesmo os sonserinos estavam se lamuriando dele. Snape parecia estar possuído, tamanha sua ferocidade em classe ninguém atrevia abrir a boca nem mesmo para tossir, com medo de perder pontos, receber um olhar ameaçador do professor ou o pior: uma detenção.
Era março. Mais um ano estava começando. Leon estava com treze anos agora. Hanna havia mandado para ele um pequeno porta-retratos feito pelos habitantes do povoado; junto com ele ia um bilhete advertindo: Colocar a foto de alguém que se deseja nesta moldura acarretará no seu envolvimento amoroso incondicional!, escreveu ela. Leon adorou e colocou nele uma foto onde os dois estavam juntos.
Apesar de estar passando o tempo com Danut Popescu, que era uma pessoa maravilhosa, Hanna estava cansada de viver escondida, queria poder voltar a viver a antiga vida, mas tinha medo tanto dos seguidores de Voldemort quanto dos aurores, que agora estava a sua caça, como a carta que recebera de Alvo Dumbledore dizia. Aquela notícia não saía da cabeça dela, tanto que Danut desconfiou.
— Trouxe algo - disse ele abrindo uma sacola.
Comeram em silêncio, mas Danut hesitava, queria lhe perguntar algo.
— Pode perguntar - disse ela lendo os pensamentos dele.
— O que há com você, Ionela? Está tão diferente.
— Eu mudei, apenas isso.
— Você não é mais a mesma desde que chegou.
— Escrevi a um amigo, que deixei para trás...
— Alguém importante - pediu baixando os olhos.
— Danut - ela murmurou tocando no peito dele.
Era um jovem alto, tinha sido namorado de Ionela antes dela partir. E ele estava certíssimo, Ionela não era mais a mesma. Ela caminhou para longe dele, indo pentear os longos cabelos.
— Eu não me importo que tenha mudado, mas você parece ter segredos para tudo.
— Você não tem segredos, Danut? Nenhum? - ela perguntou com sarcasmo.
Ele não respondeu, apenas baixou a cabeça e saiu da casa. Ela caminhou até a porta e fechou-a, depois caminhou até a janela e fechou as cortinas. Sentou-se no braço da poltrona e tirou do bolso um pedaço de pergaminho, enrolado e lacrado, endereçado a Alvo Dumbledore.
Dois dias se passaram. Era uma tarde de Sexta-feira, o céu estava deslumbrantemente limpo e o sol reinava majestoso. Ionela estava sentada com outras mulheres ao redor de uma grande mesa, costuravam e bordavam juntas, três vezes por semana. Era o ganha pão de muitos. Comemorariam o aniversário do chefe da aldeia logo mais à noite, as mulheres cantavam e chamavam boas vibrações.
— Ionela - era Danut de pé em meio às mulheres. - Chegou isto para você!
Ela saltou da cadeira, pegou a carta e correndo para casa, sem esperar por ele. Todos olharam desconfiados para Danut, que não soube responder às perguntas que lhe foram jogadas naquele momento. Ionela, no entanto, parou em frente à mesa e ficou olhando para a carta, temia abri-la, como se ela fosse lhe morder. Danut entrou e a viu estática, apenas as mãos dela se mexiam, estalavam os dedos e os olhos dela fitavam o papel enrolado, amarrado com um laço vermelho e selado com um estranho símbolo.
— Não vai ler? - balbuciou sarcástico.
Ela o encarou, sentia pena por ele, estava tão alienado de tudo que acontecia. Então tomou a carta, abrindo-a e em silêncio começou a ler.
"Cara Hanna,
Recebi sua correspondência esta tarde e me surpreendi. Sei que você tem seus princípios e que eles são conservadores e corretos, mas confesso que não esperava que pudesse enfrentar essa situação de forma tão pacífica, de cabeça erguida. É preciso mesmo temer os atos dos aurores, eles são um tanto radicais, ainda mais agora que Voldemort está mais poderoso. No entanto, eu acredito que conversando se possa chegar a algum lugar. Já marquei uma hora para conversar com cinco deles, mais novos no ofício, penso que eles sejam um pouco mais compreensivos. Será neste sábado pela manhã e logo que souber o que eles acham lhe escreverei. Fiquei feliz em ter notícias de sua.
Atenciosamente, Alvo Dumbledore."
Ao findar a leitura, ela se deu conta de que Danut não estava mais no aposento, ele tinha de jogado na rede, na sala adiante. Estava nervoso e insegura, e ela, apesarde conhecê-lo a pouco tempo, sabia que ele desconfiava que ela fosse partir a qualquer momento. Talvez fosse por que ele jamais a deixava sozinha.
O Sábado chegou e passou. Hanna não parava de andar de um lado para o outro, estava nervosa e mal dormiu naquela noite. No Domingo, depois do meio-dia, uma coruja arranhava o vidro da casa. Ela deixou o animal entrar e já foi arrancando o pergaminho da pata. Abriu rápido e sentou-se na cama para ler.
"Cara Hanna - começou ela, mas foi interrompida por Danut que entrou ofegante. - Falar com os jovens aurores e ouvir o que ouvi deles me surpreendeu mais uma vez. Isso indica que nunca saberemos das coisas se não tentarmos. Eles estão dispostos a ouvi-la e se acharem seus argumentos bons prometem reduzir sua pena, mas continuam achando que deva ir a Azkhaban. Falei sobre o feitiço de Descoberta e eles acharam-no interessante, mas duvidaram quando eu disse que você entregaria os comensais. Eles querem que você prove, Hanna, que você mostre a eles que irá entregar todos!
Estarei esperando você em Londres na Terça-feira pela manhã, para conversarmos antes de se encontrar com os aurores. Saberá onde estou quando chegar na cidade.
Sem mais delongas, Alvo Dumbledore."
— Está aí tudo o que você queria? - indagou Danut com os braços cruzados, olhando para as botas velhas.
— Se não mudar o tom de voz é melhor calar essa droga de boca! - disse ela num tom grosso, saindo da casa. Danut respirou fundo e se jogou de bruços na cama. Adormeceu pensando em como sofreria novamente se aquela mulher partisse novamente.
Às quatro horas da manhã ele acordou, se virou na cama, queria abraçar sua mulher e lhe pedir desculpas, mas ela não estava ali. E pelo jeito que a cama estava, ela nem havia se deitado. Danut sentiu um calafrio e levantou da cama num pulo, saindo porta afora a procura dela. Estava tão desesperado que acordou metade do povoado para que ajudassem a procurar por ela. Percorreram toda a cidade e nem sinal dela, Danut estava visivelmente abalado, somente o haviam visto daquele jeito quando Ionela partira de Basarabeasca. Então, quando voltavam da inútil busca, uma mulher veio correndo até ele.
— Encontrei-a, encontrei-a! - disse ela quase sem respirar e depois de retomar o fôlego, levou-o até a canoa que estava amarrada à beira do lago. Ionela estava deitada lá dentro, encolhida. Danut passou a mão pela cabeça, aliviado e sentou-se por um momento na margem do lago, observando-a dormir. Depois, entrou na água, a tomou nos braços e a levou para casa. Assim que a deitou na cama, ela acordou. Os dois se encararam, ele sorriu e a abraçou.
— Não é que não quero que volte à cidade grande, mas há duas coisas que irão acontecer se tudo der certo para você: irá voltar a morar lá e poderá freqüentar todos aqueles lugares, mas, eu ficarei aqui, porque preciso sustentar minhas irmãs e mãe.
— Danut - ela o abraçou. Eles se beijaram, e o que ela fez a seguir a deixou com um certo peso na consciência - mas ela queria ir embora dali, queria voltar a viver a antiga vida, nem que para isso precisasse passar algum tempo em Azkhaban -, ela saciou os desejos de Danut murmurando um pequeno feitiço de desembaraço contra ele.
Dormiram até tarde naquela Segunda-feira. Quando ela acordou, Danut já estava de pé.
— Passei a noite pensando - Danut disse fitando-a. - Eu não posso impedi-la de seguir seus sonhos, porque eu também gostaria de seguir os meus... E os meus estão aqui em Basarabeasca. Eu quero uma mulher que me dê filhos e que me ajude...
— Eu não sou essa mulher.
— Não, não é - ele murmurou, baixando os olhos.
— Então estamos bem? Cada um aceita o destino do outro?
Ele sorriu um meio sorriso, concordando com ela. Abraçaram-se e se despediram.
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