Exquirus Immortalitas
Severo Snape parou abismado quando Argo Filch relatou o que vira: primeiro fora Dumbledore, andando vagarosamente por aquele corredor, entrando naquela porta, todas as noites, e em algumas manhãs; depois, Leon Pryme, no mesmo corredor, na mesma porta, e quando o garoto saiu, Filch viu, aterrorrizado, a figura de uma mulher.
— O que é que está me dizendo, Filch? - berrou Snape na sala de Poções. - Você tem certeza do que viu?
— Sim, professor Snape. Eu não queria contrariar as ordens de Dumbledore, mas acho que é um perigo essa mulher ficar aqui!
— E de que feitiço eles falavam?
— Isso eu não sei, professor, foi impossível ouvir o que falavam...
— Se seguiu Dumbledore, sabe onde ela está.
— Eu não segui o diretor, professor, apenas fazia a ronda - explicou Filch não querendo levar culpa alguma se Dumbledore descobrisse que Snape sabia da existência de Hanna no castelo.
Snape andou de um lado para o outro, agradeceu ao zelador por lhe dar aquela informação e pediu que ele saísse da sala.
— Então ela estava aqui esse tempo todo! Por que não quis que eu soubesse? - murmurou Snape a si mesmo.
— Com licença, Severo - Dumbledore pediu a permissão batendo na porta. Snape arregalou os olhos e encarou o diretor, era justamente com o velho diretor que desejava conversar. - Preciso lhe falar - e fechou a porta -, é sobre Hanna.
— O que tem ela? - perguntou Snape sarcástico, erguendo uma das sobrancelhas e colocando as mãos na cintura.
— Preciso que a leve para longe de Hogwarts.
— Para longe de Hogwarts? - ironizou ele. - Ela está aqui por acaso?
— Está no último aposento das masmorras, antes do salão dos materiais de quadribol.
— COMO? - perguntou Snape surpreso, alteando a voz. - Desde quando?
— Desde o final do ano letivo passado - respondeu Dumbledore não lhe dando muita atenção e logo expondo sua vontade. - Ela precisa sair de Hogwarts o quanto antes, todos corremos perigo com ela aqui. Quero que você a leve até este lugar - e Dumbledore estendeu um papel a Snape.
— Eu? E por quê? O que tenho haver com tudo isso? Se o senhor não me contou antes que ela estava aqui é por que não confiava em mim! Por que confia agora?
— Não era uma questão de confiança, Severo.
— Desculpe, Dumbledore, mas eu não a levarei a lugar algum! - disse Snape dando as costas ao diretor e voltando a organizar seus papéis. Dumbledore se impressionou com a recusa, mas não insistiu. Saiu da sala sem falar nada. O que ele queria era dar uma chance para eles se reconciliarem antes que ela partisse sem destino.
Hanna esperou com certa impaciência a hora do jantar passar. Não estava ansiosa para ir embora, mas queria muito ensinar a Alvo Dumbledore o feitiço de busca para que ele e todos os seus aliados soubessem do paradeiro do Lorde das Trevas.
TOC-TOC-TOC.
— Entre - disse Hanna a Dumbledore, esperançosa por saber o lugar onde ela encontraria ajuda. Mas ao olhar para a porta, a pessoa ali parada não era o diretor. - Severo... - ela suspirou,
— Senhora Snape - relembrou ele grosseiramente. Ela se levantou e andou rápido até ele, tocando-o no peito. Mas ele a repeliu.
— O que aconteceu?
— Diga-me a senhora - indagou ele.
— Você simplesmente não falou mais comigo...
— Porque sirvo ao Lorde das Trevas e não à senhora.
— Você faz de conta que serve a ele, Severo, não precisava ter me ignorado. Sei que ficou impressionado com a minha confissão...
— Sim, fiquei. Mas quem não ficou?
— Desculpe.
Os dois se encararam e então Snape vacilou.
— Eu não pude mais falar com você. Fui proibido - ao dizer a frase, deu as costas, fechando a porta. - Não havia como avisá-la, depois, era arriscado tentar me comunicar porque o Lorde poderia desconfiar.
— Ele estava muito desconfiado. Tentou ler minha mente algumas vezes.
Snape pareceu impressionado, e alterou completamente seu temperamento.
— Você me enganou direitinho com aquele seu jeito de menina, se mostrando carinhosa e...
— Jeito de menina?
— Compreendo que foi um grande erro nos casarmos, mas admito que não pensei que as coisas mudariam entre nós.
— Mudaram porque você quis que mudassem, Severo. Eu era a mesma. Ia tratá-lo como sempre tratei... com meu jeito de menina.
— Você passou a me ignorar!
— Porque você se afastou.
— Você poderia ter conversado comigo... sobre o que sentia... eu teria entendido - Snape rosnou indignado, como se a culpa de tudo fosse somente de Hanna. Então, por outra vez, mudou o tom de voz, tornando-se ameaçador. - Nada do que acontecer daqui para frente me dirá respeito, apenas vim me despedir de você e dizer que Hagrid a levará até o lugar combinado.
— Severo?! - chamou ela espantada pelo tratamento que ele estava lhe dando, contudo ele saiu da vista dela, deixando-a parada em frente à porta semi-aberta. Ela não o seguiu ou sequer espiou para fora, mas seu pensamento ficou em Snape; o que quer que tivesse acontecido não era para fazê-lo mudar daquela forma era justificável e nada lhe tirava a certeza de que ele tivera a cabeça revirado pelas palavras de Pryme. Entretanto, Snape não parecia ser tão fraco a ponto de se deixar levar por outra pessoa, então, certa culpa ele tinha sim. Hanna fechou a porta e esperou por Dumbledore. Segundos depois, alguém abriu a porta, era ele.
Hanna e Dumbledore caminharam pelas masmorras por alguns minutos e então subiram por uma grande escada de mármore. Passava da meia-noite, ninguém mais andava pelos corredores porque Argo Filch, o zelador, estava de prontidão para mandar alunos que não obedeciam regras para a detenção. Subiram mais um lance de escadas e ao virarem à direita, estava Filch. Passaram por ele quietos, mas Dumbledore foi obrigado a voltar, porque Filch tinha se engasgado com a própria língua ao ver quem acompanhava o diretor.
— Argo, você não viu nada! - repreendeu o diretor e depois de dar alguns tapinhas nas costas do zelador, Dumbledore seguiu caminho.
Alcançaram o gramado fofo e úmido em poucos segundos e caminharam com certa pressa até a orla da floresta, onde Hagrid tinha deixado um vasilhame de barro deitado sob um grande carvalho. Dumbledore o pegou e continuaram a andar até uma pequena clareia, não muito próxima a orla nem muito profunda, não queriam que os centauros se ouriçassem. Dumbledore sabia que era magia antiga o que Hanna executaria e sabia que os centauros não apreciavam feitiços em sua floresta.
Hanna riscou um pequeno círculo com um athame afiado e de cabo negro, porque assim ele conteria qualquer feitiço maligno; dispôs um pentáculo semi-raso no centro do círculo, simbolizando o corpo, os cinco sentidos de quem realizaria o feitiço, e pediu a Dumbledore que derramasse o conteúdo do vasilhame dentro dele. O sangue de unicórnio desceu estranhamente em espiral pelo canto do pentáculo até formar um único conteúdo prateado no centro do prato com desenho de estrela. De dentro da capa, Hanna tirou uma taça de madeira, antes embrulhada num pedaço de pano vermelho, que não continha água ou servia para beber algo, em seu interior havia alguns fios dos cabelos de Snape, os quais Hanna atirou dentro do pentáculo. Por fim, Hanna tomou sua varinha e agitou-a entorno do círculo feito com o athame, murmurando:
— Exquirus Homo.
Mas nada aconteceu. Nem ao menos o vento que soprava mexeu o líquido prateado que quase transbordava o pentáculo. Hanna encarou Dumbledore e, de súdito, pronunciou:
— Exquirus Immortalitas!
O sangue de unicórnio ondulou, como se algo pingasse sobre ele e pouco depois, tornou a ficar imóvel, como se fosse a superfície de um espelho. Pessoas começaram a aparecer dentro do pentáculo, e finalmente Snape se materializou. Os cabelos atirados dentro do sangue eram de Snape, que fora enviado até lá naquele momento com o propósito de encontrar o esconderijo de Voldemort. Para descobrir o local, precisavam de algum pertence de alguém que freqüentasse a roda de seguidores de Voldemort e que com certeza estivesse com ele naquela noite, logo os cabelos. Snape andava de um lado a outro, contornando o ambiente, mostrando a Hanna e Dumbledore, a figura magra de Voldemort sentada ao lado da lareira em chamas. Cada vez que Hanna sussurrava o feitiço, o ambiente afastava-se mais e mais, aparecendo toda a sala, depois a casa, a paisagem em volta. Porém, um olho gigante materializou-se na superfície, fazendo Hanna enfiar a ponta afiada do athame dentro do pentáculo, quebrando o feitiço.
— Você está bem? - pediu Dumbledore.
— Estou - murmurou Hanna. - O senhor o viu?
— Sim - respondeu Dumbledore coçando a barba. - Voldemort é poderoso, e nós o subestimamos, ele pressentiu ser observado. Mas ele sabe que fomos nós?
— Não faço idéia, mas se nos viu, já sabe que deverá me procurar em Hogwarts.
— É melhor você partir - e dizendo isso, Dumbledore enviou um patrono até o castelo.
Em seguida, ele e Hanna rumaram para uma saída próxima à floresta, onde encontraram Hagrid armado até os dentes com Canino ao seu lado.
— Hagrid a acompanhará, Hanna, mas tenha cuidado.
— Sim, senhor Dumbledore - ela respondeu.
Despediram-se e Dumbledore viu o gigante e a jovem mulher desaparecerem madrugada adentro.
— Vocês conversaram? - pediu Dumbledore ao homem que acabara de chegar.
— Resolvemos tudo - afirmou Snape.
— Bom. E Voldemort?
— Sabe que Hanna executou um feitiço contra ele. Ele viu vocês.
— Que pena. Espero que ela consiga escapar sem que a vejam.
— Vim para Hogwarts a pedido dele para saber se Hanna ainda estava aqui. Tenho que voltar e dizer que ela fugiu.
— Não tenha pressa. Ele vai achar que você nem ao menos a procurou.
Snape continuou fitando o horizonte. Queria ter dito a Hanna tanto, tudo o que sentia e o quanto sentia pelos enganos que aconteceram. No entanto, mantivera a costumeira calma, o costumeiro sangue frio. Somente restava a ele agora fitar ao longe uma mulher jogando o capuz sobre a cabeça e aparatando, ladeada por Hagrid.
— Vamos voltar para o castelo, tem muito serviço nos esperando - lembrou Dumbledore e os dois seguiram para lá.
Snape separou-se do diretor no hall de entrada, descendo para as masmorras. Tinha os punhos cerrados, suas mãos estavam quase transparentes tamanha fora a força do aperto. Ele entrou em sua sala e bateu a porta atrás de si. Encostou as mãos e a cabeça na parede e se perdeu em pensamentos.
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