A senhora Snape



Na manhã de primeiro de setembro, Hanna deixou Leon na estação, o Expresso de Hogwarts fumegava impaciente. Despediram-se silenciosamente por minutos. Nenhum dos dois falou coisa alguma quando Leon entrou no trem. Depois de se descontrolar na casa de Voldemort e dizer todas aquelas coisas, confessar-se em frente a tanta gente, Hanna sabia que havia decepcionado o filho, porque decepcionara a si mesma em primeiro lugar. Ela explicou ao filho que dissera aquelas coisas da boca para fora, não poderia querer parecer honesta diante de Voldemort, caso contrário, nem ela nem Leon estariam vivos agora. O garoto pareceu entender, mas calara-se desde então.
O impossível agora era negar a existência da marca no lado interno do antebraço esquerdo, escondida durante anos por um feitiço, que latejava sem que Voldemort precisasse tocá-la. Leon quis ver a marca e Hanna a mostrou, mas muito envergonhada explicou que aquilo fora errado fazer, escolheu aquele caminho num momento de ódio intenso, de rancor, entre tantos outros maus sentimentos. Leon pareceu se conformar novamente, mas o silêncio dele dizia muito. A única pergunta do filho que Hanna não respondeu foi a pior: “A senhora se envolveu mesmo com o Lorde das Trevas?”
Ao início daquele mês, tudo parecia muito calmo no mundo bruxo, apesar da batalha surda entre Voldemort e Dumbledore. Ambos tentando conseguir o máximo de aliados possíveis para se enfrentarem.

Era uma noite muito clara. A lua cheia fazia a noite quase parecer dia. Apenas um dos integrantes da Ordem de Fênix não estava presente, Remo Lupin. Os outros discutiam sobre a futura presença de uma jovem moça na casa, que viria para se juntar a Dumbledore na luta contra Voldemort. Havia tempo que Hanna queria fazer aquilo, queria trocar de lado e se redimir de todo mal que causara a muitos. Snape e ela chegaram à sede da Ordem de Fênix pouco depois da reunião começar. Snape pediu que ela esperasse na sala, precisava preparar o caminho. Ele entrou na cozinha, trancou a porta e lançou a idéia, sem, no entanto, dizer que Hanna se encontrava na casa.
― Ninguém está pensando direito aqui! - alarmou Moody. - Ela é uma Comensal da Morte, como iremos confiar? Já temos um em nosso meio!
― Alastor, isso não é um empecilho, seria bem melhor se todos os comensais se tornassem nossos aliados, não acha? - sugeriu Dumbledore.
Os outros concordaram e durante meia hora discutiram se Hanna Pryme estava apta a freqüentar as reuniões da Ordem. De repente, uma gritaria amalucada soou na sala. Era a velha senhora Black que vivia no quadro na parede do corredor quem gritava.
― FAÇA ALGUMA COISA! FAÇA ALGUMA COISA! VOCÊ VEIO AQUI ACABAR COM ESSES PORCOS NOJENTOS, NÃO VEIO? USE A VARINHA, SUA ESTÚPIDA! MAS NÃO SE JUNTE A ESSE BANDO DE SUJOS! HONRE O NOME DE SUA FAMÍLIA. HONRE!
Todos correram para a sala. E ali de pé com um dedo sobre a boca estava Hanna Pryme tentando acalmar a pintura da mãe de Sirius Black, que a atiçava a atacar as pessoas que, para a velha bruxa, conspiravam na cozinha. Ninguém falou ou sequer respirou até Snape se manifestar.
― Ela veio comigo!
E todos o olharam com indignação.
― Desculpem. Convenci Severo a me trazer. Confesso não ter pensado que seria tão difícil falar com vocês - a voz dela era calma, mas firme. - Eu estava indo bater à porta do aposento em que se reuniam quando essa senhora acordou e...
Mas ninguém falou, todos olhavam dela para Snape e dele para Dumbledore.
― Não posso me demorar muito mais. Voldemort irá desconfiar de algo. Disse a ele que sairia por não mais que uma hora e ele não gosta nem um pouco que eu deixe a casa - ela deu um tempo para que pensassem ou falassem algo. Como ninguém se pronunciou, prosseguiu com a frase, mas antes girou a varinha e, murmurando algo, fez com que o quadro da escandalosa senhora Black se soltasse da parede e virasse a pintura ao contrário. - Assim está melhor - disse, e continuou: - Não quero invadir suas reuniões. Sei que não podem confiar em mim num piscar de olhos, mas não preciso participar para poder lhes informar o que Voldemort pretende, preciso?
Dumbledore abriu um largo sorriso.
― Se me permitirem, virei de tempos em tempos, acompanhada por Severo.
― Eu não acredito que ousou mostrar a ela a sede - rosnou uma voz lá atrás -, sabendo que ela era uma Comensal da Morte! Ninguém acreditou, não é?
― Somente eu poderia ter mostrado o caminho a ela! - alertou Dumbledore em voz alta.
― Mas Snape a trouxe, como então...
― Cale-se, Sirius! - disse Dumbledore num tom severo e o homem subiu a escadaria e não voltou mais.
Aquele nome fez Hanna se precipitar. Dumbledore deu um passo à frente. Ele e Hanna se olharam por alguns instantes, nada dizendo, mas pareceu nitidamente que conversavam.
― Eu soube no momento em que chegou a Hogwarts que você não era como deles - murmurou Dumbledore -, mas confesso que temi esses tempos!
― Todos cometemos erros. Algumas pessoas mais do que outras.
Assim, Hanna Pryme juntou-se à Ordem de Fênix. Mas foi avisada a nunca aparecer na sede quando menos de dez dos integrantes se reuniam. Dumbledore e ela não queriam dar motivo algum para duvidarem de sua lealdade. Ela somente apareceria quando a presença de Snape também fosse solicitada.

Apesar de aparentemente estarem bem, Hanna e Snape continuavam sem se falar, exceto o essencial, durante as reuniões. Snape estava sempre cansado, havia que participar de sarcásticas reuniões com os Comensais e Voldemort, o que tolerava, mas o que não agüentava era presenciar sua esposa e o Lorde das Trevas confraternizarem bebendo vinho, sozinhos na sala de lareira, o que acontecia com freqüência. Era muito para Snape. Sentimentos conflitantes chocavam-se dentro de seu peito e só o que podia fazer era se retirar do lugar. Não fora diferente naquela noite, tinha ido cedo para seu quarto descansar. Depois de um banho demorado - e durante este pensou ter ouvido Hanna entrar no quarto, mas fora apenas o vento batendo na janela -, jogou-se na cama e adormeceu quase que instantaneamente. Porém, seu sono estava muito leve naquela noite. Estava preso em pensamentos e acordava assustado a cada barulho, mesmo sabendo que eram os elfos que entravam e saíam do quarto para cuidar da lareira acesa. Até que Hanna entrou no quarto. Ele abriu os olhos e reconheceu a silhueta dela que tremia conforme a luz das velas. Ela quase não fez barulho, mas Snape podia sentir seu perfume. Ela trocou o vestido pela camisola, andou até a janela e ficou lá parada por um momento. Ele podia jurar que ela o estava observando, mas estava muito escuro. Então ela se virou bruscamente, fazendo Snape perceber que até agora ela admirava o luar. Sentiu a cama balançar e seus corpos se tocaram por um instante. Respirou fundo e teve vontade de falar o que estava sentido, mas não sabia se ela iria ouvir. Hanna vinha agindo de forma hostil ultimamente e era provável que a causa disso fora o casamento arranjado. Snape fechou os olhos e adormeceu tentando pensar em outro assunto que não sua esposa.
Ter forças para evocar os feitiços de proteção na casa de McNair e para que continuassem impenetráveis era um serviço muito desgastante. Isto porque eram muitas pessoas e muita magia entrando e saindo, o que consumia de Hanna demasiada energia, e que por inúmeras vezes a fazia passar as manhãs reclusa, revigorando-se.
Depois da confusão na sede, Snape decidiu finalmente contar a Dumbledore que ele havia se casado com Hanna Pryme. Por uma semana procurou o diretor e tentou lhe dizer aquilo, mas sua coragem pareceu lhe deixar inteiramente só. Um nó na garganta impedia que as palavras saíssem e no sábado depois da décima primeira tentativa, conseguiu falar com Dumbledore em particular, na sede da Ordem de Fênix. Não sabia se teria nervos para agüentar mais desaforos do que os que já ouvira até ali. Porém, sabia que o diretor nunca os diria, ele era um homem justo e sábio, não era como as outras pessoas. Não julgava por um simples acontecimento.
— Voldemort pensou estrategicamente ao querer que você se casasse com Hanna, mas não faz idéia de que estamos na frente dele, e talvez por tal razão ela não tenha se manifestado contra o casamento - disse Dumbledore sentado em frente à Snape, no seu escritório. - Por isso tem passado muito mais tempo lá - murmurou.
— Eu não sei o que fazer! Hanna... bem, ela acha que Voldemort vai querer que eu tenha maiores relações com os outros professores para que ela se aproxime...
— E está certa. Ela conhece Voldemort e está pensando como ele. Gostaria de conversar com ela juntamente com os outros membros da Ordem - Snape baixou os olhos e depois deixou o escritório do diretor.
Dumbledore passara quase uma hora explicando aos integrantes da Ordem, na mesma noite em que Snape revelara-se um homem casado, o que Voldemort pensara com tal união, e reforçou o que ele próprio pensava. Para o diretor era uma forte aliança e uma forma de Hanna poder participar da Ordem e ajudá-los a combater Voldemort, porque ela o conhecia melhor do que qualquer comensal, apesar de, ainda, algumas pessoas serem contra isso.
— Mas o que você está dizendo? - gaguejou Moody enquanto os outros integrantes da Ordem estavam estupefatos. - Se casaram?
— Por ordem de Voldemort - balbuciou Snape olhando para a mesa e mexendo ligeiramente os dedos. Foram as únicas palavras que se ouviram, apesar das elucidadas explicações de Dumbledore, Moody estava atônito, assim como Sirius Black, que recebera a notícia da pior forma: Hanna Pryme era a mulher que conhecera no chulo pub de Londres. Hanna Pryme era sua prima em terceiro grau. Hanna agora não era mais uma Pryme, e sim, Snape.

Em Hogwarts o clima era de calmaria. Leon, por sua vez, apesar de concentrado em seus estudos, não parava de pensar no homem que fez sua vida dar uma grande guinada, o pai. Não queria ter que encará-lo depois de ter defendido veemente a mãe, sem saber se ela era inocente ou não. Mas não poderia ser culpada. Ou poderia? Ela o havia enganado, havia mentido de forma deslavada e ele caíra como um bobo. Só que era sua mãe, devia confiar nela, ela foi sua fonte de conhecimento, de aprendizado, de inspiração, de amor e agora... agora tudo aquilo não passava de um borrão em sua mente, uma lembrança que às vezes lhe parecia a história da vida de outra pessoa que alguém lhe contava. Todas aquelas revelações fizeram-no crescer interiormente, fizeram-no perder a confiança nas pessoas. Tanto que ele continuava calado, não se dirigindo a ninguém, apenas respondendo quando era chamado.
No meio do outono, enquanto os dias ainda eram claros e com um pouco de sol, os alunos de Hogwarts sentavam-se debaixo das árvores para ler e estudar, fofocando sobre as novidades surgidas nas férias e sobre assuntos ligados as suas vidas escolares. Os alunos da Sonserina pareciam um pouco mais animados do que o resto. Ninguém sabia, além deles mesmos, qual era o motivo: Voldemort estava preparando seu ataque. Apenas Leon Pryme não se vangloriava. Ele lia mais uma carta que sua mãe escrevera, mais uma à qual não mandaria resposta. Não por não querer, mas por não ter palavras e coragem de enfrentá-la, mesmo diante de um pedaço de papel, temia o que ela poderia vir a lhe escrever!

“Meu Querido Leon, sei que tem pensado nas coisas que eu disse naquela noite. Seu silêncio me mostra que não quer falar comigo. Eu o decepcionei, está certo! Há tanta coisa que poderia lhe escrever, mas você não entenderia. Você é jovem e não faz idéia de como uma escolha pode mudar uma vida toda. Perdoe-me, querido. Sei que deveria ter-lhe contado sobre mim, como lhe contei sobre seu pai, mas temia o que está acontecendo agora! Eu temia que as lições que lhe dei fossem por água abaixo! Por que você faria o bem se sua mãe fez o mal? Por que ter que seguir passos diferentes daqueles a quem você ama? Porque é o certo a fazer, filho! O bem sempre é o melhor caminho, mesmo que por vezes não nos seja dado mérito algum pelos nossos atos e que por outras vezes nunca ninguém descubra o bem que se fez... mas eu lhe digo, se fizer o bem, mesmo que ninguém saiba, seu coração vai se satisfazer por tê-lo feito!
Eu te amo, querido. Nada vai mudar o que sinto por você, mesmo que você já não sinta o mesmo por mim!
Hanna.”

Leon dobrou a carta, enfiou-a na mochila e cruzou o jardim em direção à cabana de Hagrid, onde teria a próxima aula.

Era final de Outubro. Hanna participaria de sua primeira reunião da Ordem naquela noite. A pedido de Dumbledore, Snape e ela chegaram à sede quatro horas antes. Dumbledore queria que Snape lhe fizesse um pequeno favor enquanto Hanna ficava na casa se acostumando com o ambiente e sendo supervisionada pela senhora Weasley, ainda muito desconfiada do que a Comensal poderia vir a fazer. Assim que Snape saiu, ela o seguiu até a porta. Não se despediram, apenas lançaram-se olhares, ela respirou fundo e então ele se foi. Hanna deu meia volta e ia voltar para a cozinha para ficar com Molly - não queria dar motivos para que pensassem que ela iria traí-los -, quando viu Black sentado no sofá da sala. Encararam-se e o silêncio pareceu absorver tudo ao redor. Ela quis desviar o olhar, quis correr da sala, se esconder, mas ele a encarava estranhamente e isso a fez querer saber por quê.
— Então se casou com o Ranhoso! - perguntou Black rindo, desmerecendo Snape. - Não achou partido melhor entre os Comensais? Nem mesmo Pryme pode ser tão mal.
— Acredito que Dumbledore já tenha expl...
— Sim, mas não engoli - interrompeu sem pompa. - Você gosta do morcegão, não é? Pena que ele não sinta o mesmo - e riu mais alto. Sim, era certo o que Black falara. Snape saíra dali, há poucos minutos, sem nem ao menos se despedir.
— Desculpe - murmurou ela baixando os olhos e dando-lhe as costas.
— O que disse? - perguntou Black ainda sentado. - Está se desculpando? Pelo que?
— Eu nunca tive intenção de usar você.
Era naquilo mesmo que ele pensava.
— Pare já com isso! - ele alertou ficando de pé. Os braços do lado do corpo, um pouco dobrados. - Você não tem permissão para fazer isso! Já sabe tudo sobre mim...
— Sirius, eu...
― Você - ironizou ele, mas quase que de imediato voltou a se sentar e calar-se. Ela lhe deu as costas novamente e deu o primeiro passo na direção do hall que levava à cozinha quando ele a chamou. - Aonde vai? Será que não tenho o direito a uma explicação?
— Ex-explicação?
— Sim. Achei que nós dois... que tínhamos... que nós dois... - e depois de tanta gagueira, ele fez uma longa pausa. Pensou, respirou fundo e disse: - Eu gosto de você.
Hanna o fitou por uns instantes e em seguida se aproximou, sentando-se ao lado dele. Os olhos dela transbordavam.
— Nos afastamos, foi inevitável devido aos acontecimentos.
— Ah! - exclamou ele rindo sarcástico. - E não poderia ter avisado? Não poderia ter deixado uma pista ou algo do tipo? - murmurou. Black esfregou uma das mãos no rosto e depois voltou a encará-la. - Eu estava na palma da sua mão. Vulnerável!
— Você também mentiu para mim. Quem é Tiago, afinal?
— Um nome... O que isso importa?
— Eu não lhe fiz mal algum, fiz? Eu usei o que sabia sobre você para te fazer mal?! Não. Eu não poderia. Eu queria apenas ajuda e sabia que você era influente com Dumbledore...
— E agora aparece casada com... ele... - e Black fechou a cara, sem ouvir a explicação que ela tentava dar. Hanna não sabia sobre a grande diferença existente entre Snape e Black, por isso não entendia onde ele queria chegar. - Você o ama?
— Casei-me porque Voldemort...
— Ama ou não? - perguntou decidido.
Os olhos dele brilhavam. Por um momento ela sorriu ao vê-lo em sua frente, fazia tempo que queria conversar com ele, queria lhe explicar tanta coisa. Agora era sua chance, estava provando ao entrar para a Ordem, ao ter a confiança de Dumbledore, que iria se redimir daquela vida que levara ao lado de Voldemort.
— Está rindo do que? - perguntou ele ferozmente quando viu a expressão dela se abrir em um sorriso amável.
— Achei que nunca mais nos falaríamos. E aqui está você - ela sorriu mais. - Senti sua falta.
Hanna cruzou as mãos sobre os joelhos e fixou seus olhos nelas. Black engoliu em seco e se assustou com o barulho que sua garganta fez, que pareceu ecoar pela sala.
— Eu fiquei...
— ...assustado?! Claro que ficou. Por que não ficaria? A filha dos Lestrange dormia ao seu lado. Queria ter lhe contado antes, fiquei com medo. E me arrependi de ter lhe dito. Ficar sem ver você foi ruim. Saber que eu estava com alguém que não do círculo de Voldemort me fazia regozijar.
— Hanna...
Ela sorriu ao olhar para Black, aproximou-se dele e acariciou-o no maxilar. Black se endireitou no sofá e segurou a mão dela.
— Você o ama? - perguntou pela terceira vez.
— Não posso negar que ele me ajudou muito. Gosto dele sim. E fiquei aliviada por ser ele o homem que Voldemort escolheu.
— Você não faz idéia de como o Snape pode ser.
— Não pode ser pior do que Pryme - balbuciou ela sorrindo. - Ele nem sequer me tocou!
Black não entendeu o que ela quis dizer com aquilo. Ele espremeu os olhos e ergueu uma das sobrancelhas. Hanna percebeu.
— Quero dizer que o casamento não foi consumado.
— O que? - respondeu instantaneamente. - O... ele... Não... não acredito!
— Mas afinal, é um casamento por conveniência.
— Homem maluco. E Dumbledore ainda confia nele.
— Eu confio nele! Ele é evidentemente do bem.
— Hanna, Snape sempre foi do mal, desde o tempo da escola. Ele é Comensal!
— Eu sei do que falo - bradou ela.
Black baixou os olhos e pouco depois balançou a cabeça soltando um suspiro e um sorriso.
— Não acredito que ele... ele nem te beijou?
— Bem, beijou. Na hora que o padre pediu.
Os dois se olharam, sorriram e ele puxou Hanna para perto de si e a beijou. Ela se sentou no colo dele e abriu lentamente os botões de seu vestido, para que ele descobrisse seu corpo com muita atenção e cuidado, como se não o tivesse conhecido antes.
Às dez horas, a campainha da sede da Ordem tocou insistente. A senhora Weasley veio xingando da cozinha, muito nervosa.
— Por que não abre a porta se está aqui perto? - gritou ela para Black, que continuava sentado ao lado de Hanna, só que agora mais afastado dela. Os dois conversavam e riam alto.
— Ora, deve ser seu marido apertando essa campainha idiota! Sabe como ele gosta de ficar mexendo nessas coisas trouxas. Deve estar experimentando... - mas Black não terminou a frase, pois viu os olhos de Hanna se arregalarem quando Molly abriu a porta. Eram Snape e Dumbledore.
Hanna ficou de pé e os cumprimentou. Dumbledore era só sorrisos, mas Snape quase fulminou Black com o olhar. Todos seguiram para a cozinha e logo a campainha não parou de tocar, mais e mais integrantes da Ordem chegavam a casa.
— É melhor ir descansar. Você está acordada há muito tempo - sugeriu Snape à esposa, mas sem lançar o olhar a ela. - A reunião vai demorar um pouco, Moody e Quincy vão se atrasar.
— Não estou cansada - respondeu ela.
— Mas parece. E até as duas horas vai estar. Suba e deite-se!
Hanna não discutiu. Subiu as escadarias e entrou em um dos quartos, sentou-se numa poltrona e fechou os olhos. Por um breve momento pensou que ia adormecer, mas então sentiu-se mais acordada do que nunca. Voltou a ficar de pé e andou até a porta do quarto. Expiou para fora e viu luz debaixo da porta do quarto à frente. Bem, pelo menos alguém ia conseguir descansar.
— SAI DAQUI, ELFO MALUCO, EU NÃO QUERO NADA! - berrou alguém de dentro do quarto e quase que imediatamente a porta se abriu e um velho e feioso elfo correu para fora do aposento resmungando com uma bandeja encardida às mãos; assustando-se com Hanna parada a sua frente, xingou mais ainda e saiu deixando a porta do quarto semi-aberta. Passos se aproximaram da porta, que se abriu bruscamente. - E NÃO VOLTE AQUI, CASO CONTRÁR... Hanna?
— Também está tentando descansar, Sirius? - perguntou com uma ponta de riso nos lábios.
— Ah, eu a acordei? Desculpe, é que esse elfo.
— Eu não consigo dormir. Não estou cansada.
Os dois riram e começaram a conversar. Enquanto isso, Dumbledore e os outros esperavam na cozinha, onde Molly servia o jantar atrasado, mas muito saboroso.
— Parece que Sirius mudou de idéia quanto à filha dos Lestrange - disse Molly por trás de uma coxa de frango.
— Acredito que ele tenha visto nela seu irmão, que quis desistir da união com Voldemort, mas que morreu na tentativa - disse Dumbledore olhando para Remo Lupin. - Ainda está em tempo de a ajudarmos. E, afinal, ela é sua prima e Sirius sabe que mesmo dentro de uma família que esteve ao lado de Voldemort podem surgir pessoas que não tenham essa intenção. Ele é um bom exemplo.
— Passaram a noite conversando na sala - continuou Molly. - São muito parecidos, se querem saber. Mas isso não quer dizer que eu confie nela! Nem em Sirius eu confio muito, apesar de saber que ele nunca trairia a Ordem. Só que ele é um pouco... afobado!
Snape ouvia tudo muito sério, não demonstrava qualquer oscilação de sentimentos, mas por dentro a amargura o corroia.

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