Meu pai está vivo!
― Bom dia, senhora Snape - cumprimentou Lúcio Malfoy arreganhando os grandes dentes brancos quando a ela pisou na sala. A esposa dele, Narcisa, também se manifestou. E tantos outros comensais lhe cumprimentaram.
― Eu ainda me chamo Hanna! - respondeu grosseiramente olhando para Snape ao longe. - Bom dia! É o barulho de crianças o que estou ouvindo? - perguntou virando-se para a senhora Malfoy.
― Sim, trouxemos nossos filhos para reverem o mestre - disse Narcisa. E então um garoto de cabelos castanhos claros e espetados apareceu correndo e puxou a manga do paletó de Avery. - As aulas terminaram, ficarão dois meses de férias. Os traremos aqui quando viermos.
― Pai, vamos lá para fora jogar snap explosivo!
― Que modos, filho. Não cumprimenta os mais velhos? - disse Avery. - Esta é a Hanna Snape, a mãe do seu melhor amigo!
― A m-mãe de Pryme? - gaguejou o menino olhando para ela como se estivesse olhando para um carrasco. - É u-um prazer conhecê-la.
― Pelo jeito Leon deve ter lhe contado sobre suas travessuras - brincou ela passando a mão pelos cabelos do menino, desarrumando-os um pouco mais. Naquele momento, um outro garoto, um pouco mais alto entrou correndo, seguido por outros dois mais gordinhos e se agarrou em Avery.
― Cabeça oca, você nem adivinha quem eu acabei de ver! - suspirou o garoto apoiando-se no amigo para tomar fôlego.
― Quem? - perguntou Avery.
― Leon! - falou Draco.
― Ele está aqui?! - perguntou Avery sorrindo o mais que pôde.
― Sim - disse Draco puxando o amigo. - Venha!
― O QUE? - perguntou Hanna em alto tom, assustando as crianças. - O QUE VOCÊ DISSE; GAROTO? - e puxou Draco pelo braço.
― Que Leon está aqui. Já o encontraram, senhora.
Hanna levantou os olhos e os pousou em Snape que estava próximo agora, a sua esquerda, ao lado Avery. Ele deu um passo à frente intentando explicar com os braços abertos, mas ela ouviu seu nome no fundo da sala, era seu filho chamando-a e correndo em sua direção. Ela se ajoelhou e os dois se abraçaram.
― Filho - sussurrou ela.
― Estava com saudades, mãe.
― O que faz aqui? Você fugiu da escola?
― É uma longa história.
― E acha que não quero ouvi-la? Quando foi que... Por quê?
― Meu pai - murmurou o garoto - Ele está vivo, mãe!
Hanna não soube o que dizer. Como ele foi descobrir aquilo? E o que ele pensava ao fugir da escola quando ela lhe advertira para nunca, em hipótese alguma, deixar o castelo?
― A senhora sabia? - questionou ele.
Agora não era hora de ficar zangada com ele. O menino não tinha culpa. Hanna o abraçou por mais alguns instantes e então se levantou, sua respiração estava pesada, olhou novamente para Snape e procurou por Pryme. Ele caminhava em sua direção.
― Bom dia - disse Pryme entrando na roda. Todos o cumprimentaram, menos Hanna. - Não está feliz, querida? Eu lhe trouxe seu filho!
― Só poderia ter sido você! Eu disse que não o queria aqui!
― E por que não? O que ele tem de tão especial para que não deva se misturar com os outros filhos de Comensais? - questionou Pryme. - Venha, Leon, vou lhe mostrar o jardim, seus amigos estão muito interessados nele! Depois conversaremos sobre o tempo que perdemos!
― Eu... não... você... Pry... - a raiva era tanta que gaguejos foram o máximo que saiu da boca de Hanna. Ela se virou para Snape e lhe deu um soco no peito. Não o feriu, mas demonstrou a raiva que ela sentia por ele. E todos os observaram.
― Hanna, foi tudo tão rápido, nem mesmo Dumbledore notou! Mas ele está bem, não está? - argumentou Snape.
― Como... como... Como pôde?! - enfatizou ofegando pouco antes de sair da sala correndo, parando na cozinha e caindo de joelhos ao lado do elfo que já começava a preparar o almoço.
― Senhora? Qual o problema? - perguntou o elfo fazendo da bandeja um grande leque. Instantes depois, todos os elfos estavam ao redor de Hanna tentando reanimá-la.
― O que está acontecendo aqui?
― Senhor - os elfos reverenciaram a presença de Voldemort.
― A senhora desmaiou! - brandiu um deles.
― Não conseguimos reanimá-la! - choramingou outro.
― Saiam da frente! - disse tomando-a nos braços e seguindo pelo corredor de serviço, Voldemort a levou até a ante-sala, onde a deitou no sofá.
― Tom - murmurou ela tocando o rosto dele, mas era gelado.
― Seu filho está bem, Hanna. Deixe-o se divertir, ele pertence a esse meio! - falou Voldemort levantando-se e saindo. Ela fechou os olhos e sentiu seu peito apertar tanto que quase desmaiou outra vez. Levantou e voltou para o quarto, sentando-se na varanda, dali podia ver Leon e outras crianças brincarem. Ficou observando o filho, mas nenhum pensamento realmente parava em sua mente, queria tanto poder livrar-se de tudo, mudar o rumo da vida, dar outro sentido a vida do filho.
Os dias passavam e todas as manhãs, os Comensais apareciam com suas famílias, como que festejando algo, saudando o Lorde das Trevas por existir. Hanna tentava ao máximo afastar o filho do pai, mas Pryme se aproximava de Leon, quando este brincava com os amigos. Ele e o filho conversavam bastante e Leon parecia interessado no que o pai tinha a lhe dizer. No entanto, nada contava a mãe, que, em toda oportunidade que conseguia, tentava arrancar algo sobre suas conversas. À noite, as reuniões eram longas e por esse motivo as mulheres e crianças iam embora depois do jantar. Hanna não tinha ânimo para continuar com toda aquela hipocrisia, não com o filho ali, vendo-a agir daquela forma. Leon não era um menino estúpido como tantos outros, compreendia muita coisa e era muito observador, saberia se ela estivesse sendo falsa, a conhecia muito bem.
TOC-TOC-TOC!
As batidas na porta ecoaram pelo quarto, que se tornava escuro conforme a penumbra do anoitecer se acentuava.
― Sim? - perguntou ela.
― Vão servir o jantar! - era Pryme abrindo um tanto a porta. - Você não vem?
― A comida vai me fazer mal - disse fechando as janelas e as cortinas.
― Desça em consideração ao mestre - argumentou Pryme, mas ela não moveu um dedo. - Se não por ele, então por Leon, que está louco atrás de você!
Hanna olhou para a porta e Pryme ainda estava lá, esperando-a. Baixou a cabeça e seguiu até ele.
Hanna! - chamou-a, segurava-a pelo braço. - Esqueça esse casamento idiota com Snape. Eu sou seu verdadeiro marido, quero recomeçar tudo!
― Tudo o quê? - perguntou com os olhos cheios d’água. - Tudo o quê? - repetiu enfatizando cada sílaba. - Para mim nunca houve nada entre nós!
Seguiram até a sala de jantar em silêncio, sentaram-se ao redor da grande mesa. Numa mesa menor, atrás deles, estava seu filho e as outras crianças.
Havia se passado mais de um mês desde a vinda de Leon a casa de McNair. O jantar daquela noite seria especial, brindava algo especial, mas fazia tanto tempo que ela não participava das reuniões que não fazia a mínima idéia. Contudo, eram sempre iguais, homens falando alto, zombando, rindo, se gabando. Ouviu algo sobre datas de execução de um plano, mas logo se perdeu em seus pensamentos outra vez.
Passavam das onze horas da noite quando a casa começou a ficar vazia. Apenas Malfoy, Avery, McNair, Pryme e Snape ainda estavam ali. Snape lançou seus dados à sorte quando contou a Voldemort que, no próximo ano, Hogsmeade estaria mais preparada para receber os alunos de Hogwarts. Voldemort caíra direto na isca de Snape quando quis saber mais detalhes sobre a nova Hogsmeade, e Snape lhe detalhou a reestruturação da cidade, de certa forma fictícia, já que ele não tinha acesso aos projetos. Voldemort gabou-se e riu alto quase lambendo os beiços, quase saboreando a vitória. Hanna tinha adormecido no sofá, observando o filho jogar xadrez bruxo com um elfo, Voldemort ainda tinha a atenção presa às palavras de Snape, contudo, as altas gargalhadas dos outros comensais a acordaram. Ela levantou um tanto tonta, amparando-se no encosto do móvel e uma forte fisgada no peito a fez tropeçar e cair sobre um dos joelhos.
― Mãe? - chamou Leon acocorando ao lado dela. - A senhora está bem?
― Estou - ela disse pondo-se de pé.
Pryme olhou para ela com desdém e assim que ela passou, largou com sarcasmo:
― A consciência pesa, Hanna?
Ela não lhe deu ouvidos.
― Sempre escondendo coisas importantes. Esconde-as do mestre também?
Hanna continuou andando.
― Como escondeu deles os meus livros?
― Não fale assim com minha mãe! - vociferou Leon, surpreendendo as pessoas que estavam na sala.
― Leon, cale-se. Vá para seu quarto - murmurou Hanna.
― Não, garoto, vem cá! - disse Pryme puxando-o pela gola da camisa, trazendo Leon para perto de si. - Você acha que conhece sua mãe tão bem assim?
― Conheço melhor do que você! - respondeu o menino com fúria.
― Não tem respeito pelos mais velhos? O que tem aprendido em Hogwarts?
― Muita coisa - Leon ousou responder em tom irônico -, que provavelmente você não aprendeu!
― Ora, seu pestinha! - disse Pryme pronto para esbofetear o filho.
― LARGUE O GAROTO! - gritou Hanna. Sua voz soou tão alto que assustou Pryme, fazendo soltar um pouco a gola da camisa de Leon e com isso dando ao menino tempo de se desvencilhar e correr para os braços da mãe. Os outros comensais se levantaram. Avery segurou Pryme pelos ombros, Snape colocou-se ao lado de Hanna.
― Bem se vê que você o mimou, Hanna! Um homem não deve ser criado assim!
― E como deveria criá-lo? Há vários exemplos nesta sala! Indique-me um que seja bom o bastante para que eu me baseie e crie meu filho!
― Isso não é uma coisa boa para se dizer! - salientou Malfoy dando um passo à frente.
― Não basta me ofender? Agora ataca a todos? - rosnou Pryme.
Leon postou-se diante da mãe como que tentando defendê-la.
― Bem, pelo menos coragem ele tem, não é? Deve ter puxado de mim! - alfinetou Pryme.
― Não há nada em Leon que precise ser mudado além de suas companhias.
― Desprezando seu milorde? - ironizou Pryme, que foi puxado por Avery e agora por McNair para mais longe dali. Ela olhou para Voldemort, que ainda não tinha tirado os olhos da lareira e depois olhou para Snape.
― Vá com Snape até o quarto, Leon! - disse ela ajeitando o vestido. - Acho que teremos que resolver de uma vez por toda essa situação!
Aquelas palavras chamaram a atenção de Voldemort e este se levantou.
― Vamos nos acalmar! - disse Avery.
― Não, deixe-a continuar! - interrompeu Pryme. - Depois de alguns dias as coisas vão mudar drasticamente e não haverá perdão àqueles que desafiarem o mestre! Acha que está a salvo só porque foi namoradinha dele?
― PRYME! - advertiu Voldemort em tom alto, sua voz reboou causando arrepios nas espinhas. Mas a frase já tinha saído e um silêncio mórbido adentrou os ouvidos dos presentes. Um olhava para o outro.
― Você é minha e aquele é meu filho! Devem obediência a mim e ao mestre! Se você não está contente vá embora, mas o garoto fica! - riu Pryme soberbo.
― Nunca deixaria meu filho aos seus cuidados! - murmurou ela rangendo os dentes, os olhos vidrados em Pryme.
― É MEU FILHO TAMBÉM! - berrou ele.
― Cale a boca, Pryme! Você não sabe de nada!
Pryme correu até ela e a esbofeteou por duas vezes. A raiva dentro de Hanna cresceu de forma assustadora e ela largou uma verdade que deixou os presentes atônitos.
— Eu me escondi de tudo e de todos! Não queria voltar para cá! Eu sabia que tudo ia se repetir quando o Profeta Diário trouxe aquela matéria sobre Harry Potter estar pirado... As pessoas não acreditam o suficiente no que sentem e por isso ficam cegas ao que acontece ao seu redor - disse Hanna ainda com os olhos em Pryme. - Algumas delas acreditam somente naquilo que querem acreditar, mas quando se venera alguém do jeito que eu venero, o medo não é empecilho! - de súbito ela se levantou e vociferou: - Eu sou Comensal sim! E mereço tanto respeito quanto você ou qualquer outro nesta sala! Mas eu mereço muito mais respeito porque meu filho não tem seu sangue, Pryme. O sangue que corre nas veias dele é o sangue dos Riddle! - seu rosto estava vermelho de raiva. Aquelas palavras fizeram muitas cabeças ficarem tontas. Os olhos de Leon estavam vidrados na mãe. Os de Snape fitavam o infinito, o nada, estava tão longe dali que havia se esquecido de que o garoto continuava na sala.
― Esse encantamento que o mestre jogou em mim - e ela olhou para Voldemort -, um terrível medo de você Pryme, que golpe baixo! - riu-se ela. - Que tola fui! Um encantamento de medo! - e respirou fundo. - Mas que genialidade! Acontece que já não tenho medo porque descobri que era isso que me prendia a você!
Pryme lançou um último tapa no rosto dela que a empurrou para trás.
― Eu sou muito mais fiel do que você! Entreguei-me a Voldemort sem ter lhe pedido nada em troca! Eu o amava! SIM! ISSO MESMO! - berrou ela. - Eu o amava! - E batendo os pés com fúria, ela saiu da sala. Leon a seguiu. Os dois foram se deitar calados naquela noite, mas apenas Leon dormiu, Hanna ficou imaginando o que suas palavras haviam causado.
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