A segunda lição
Com Snape e Hanna trabalhando como agentes duplos, Voldemort parecia mais confiante. Raptara filhos de muitas famílias bruxas e conseguira novos aliados através do medo. Mas seu objetivo central era Hogsmeade, era o ataque em massa aos aliados de Dumbledore. O dia “D” se aproximava em ritmo acelerado, alvoroçando os Comensais, alimentando vingança aos Gigantes e deixando sedentos os Dementadores. Não havia como fugir ao controle, à ofensiva - era o que todos pensavam -, mas o dia em que Hogsmeade iria tremer se tornou um holocausto aos seguidores das trevas, e os que conseguiram escapar da morte ou da prisão, entocaram-se amedrontados no esconderijo de seu mestre, sabendo que lá jamais seriam atingidos.
Voldemort era a última pessoa que todos queriam encontrar, mas era inevitável já que se escondiam na casa “dele”.
— Alguém pagará por isso. Não serei piedoso! - urrava ele rodeando os aposentos como uma fera selvagem enjaulada.
— Apenas duas pessoas poderiam tê-lo traído, mestre - Pryme incitava a discórdia. - Ou Snape ou Hanna. Eles fazem parte da Ordem do velho Alvo Dumbledore.
Mesmo a contragosto e irado com Pryme, já que o mesmo também perdera muitos homens numa tentativa frustrada de contra atacar a evidente emboscada, Voldemort mandou que todos os Comensais sobreviventes ao ataque se reunissem na casa, logo mais à noite. Alguém pagaria por aquela traição, não importava se seria o culpado ou não.
As notícias corriam rápido, especialmente em se tratando das más, e o círculo de Voldemort era recheado delas e de pessoas que gostavam de se vangloriar. Nem mesmo a emboscada que quase capturou a maioria dos Comensais e o próprio Lorde das Trevas teve tanta repercussão quanto à notícia que se estampava no Profeta diário naquela manhã sexta-feira.
HERDEIRO DAS TREVAS
Especulação ou verdade, não importa, o boato está lançado e aterroriza pais por todos os cantos do mundo bruxo: Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado tem um filho, e ele estuda nada mais, nada menos que na nossa querida Hogwarts. Alguns pais providenciaram, com a ajuda de secretários do Ministério, um abaixo-assinado na intenção de retirar da escola o filho de Lorde das Trevas e acabar de uma vez por todas com qualquer relação do rapaz com o resto das crianças. Há quem diga que o jovem deva ser aprisionado em Askaban. Outros querem que ele seja internado na mais segura ala do Saint Mungus, os menos radicais apenas pedem a expulsão do rapaz. Já Alvo Persivald Wulfric Brian Dumbledore, estimado diretor de Hogwarts, acredita que o menino não deve ser retirado da escola por ser, aquele local, o lugar mais protegido contra o mal em pessoa. Deixamos aqui o nosso parecer, unindo forças aos desesperados pais do mundo mágico, para que o nosso Ministro tome as devidas providências..
Os olhos de Leon Pryme não estavam acreditando no que liam. Instantes depois, não acreditavam no que viam ao seu redor. As outras crianças o encaravam, apontando o dedo, gritando grosserias, como se nunca o tivessem visto na vida, como se não o conhecessem como ele sempre fora: apenas um garoto, um abusado sonserino, mas nada mais do que isso.
Leon correu o mais rápido que pôde para o dormitório, sabia que os companheiros de casa não o tratariam daquela forma, e estava certo. Draco e os outros o receberam com aplausos e assobios, mas ele subiu direto ao seu dormitório, enfiando-se debaixo das cobertas. A vergonha era o único sentimento que havia em seu ser, e apesar dos amigos quererem festejar, Leon os discriminou abertamente até que desistiram da comemoração. O coração disparado tentava fazer com que seu cérebro imaginasse os acontecimentos que se seguiriam. Primeiro imaginava sua mãe indo até o jornal, causando uma confusão, mas resolvendo o assunto, assegurando que jamais tivera qualquer envolvimento com o Lorde das Trevas. E então a concebia indo até o Ministério, enfrentado tudo e todas para por a limpo a deslavada mentira. Num segundo momento, quando caía na real, via sua mãe quieta ao lado do Lorde, aceitando tudo o que os jornais e as pessoas falassem. E seu cérebro pipocou com as duas hipóteses durante a madrugada adentro, até que seus olhos se cansaram e seu corpo amoleceu e pegou no sono de exaustão.
Antes mesmo que a reunião tivesse início, os próprios Comensais, na casa de McNair, comentavam a matéria do dito jornal. Era um absurdo que a informação tivesse vazado, mas poderia bem ter sido um dos Comensais aprisionados que, querendo redenção, tivesse confessado tal sigiloso conhecimento. Assim que Voldemort viu a notícia, sua ira redobrou, e quando Snape e Hanna puseram os pés na casa, o Lorde os encurralou.
— Já há muito acontecendo por aqui - Voldemort falou ao receber pessoalmente o casal -, não preciso de mais traidores.
Hanna deu um passo à frente.
— Milorde, não sei como o plano vazou, ficamos em sigilo absoluto...
— O plano, Hanna? O plano é passado. Já puni quem precisava ser punido.
Ela franziu a testa e continuou fitando o mestre, não ousou olhar para Snape, mas esperava que ele pudesse ler sua mente para que soubesse o que estava acontecendo. Snape, porém, não se manifestou até espiar de esgoela o Profeta Diário atirado ao lado dos pés do sofá, próximo ao mestre.
— Gostaria de poder acreditar que você não teve nada com isso, minha cara. Mas não acredito - falou Voldemort dando as costas e se aproximando da lareira. - Sua cara de desentendimento me admira. E me mostra o quão falsa uma mulher pode ser.
— Milorde - ela o chamou na intenção de pedir explicação, mas ele não quis ouvir aquela voz.
— CRUCCIO!
E Hanna caiu de joelhos, com as mãos apertando o abdômen, e gemendo de dor.
— Hanna, Hanna, Hanna - Voldemort se aproximou dela -, acreditei em sua aliança... acreditei que pudesse confiar em você, mas vejo que Bela estava certa. Você não passa de uma traidora de sangue.
— Milorde...
— CRUCCIO!
Snape continha-se a todo custo, mas os músculos de seu rosto mostravam que ele temia pelo que iria acontecer com Hanna.
— Mestre, não creio que Hanna tenha disseminado a notícia - Snape ousou interrompê-lo, e conseguindo a atenção de Voldemort, tornou a falar. - Desde o início ela não quis que o filho freqüentasse o nosso meio, por que iria então divulgar a verdade?
— Responda-me você! - urrou Voldemort. - Com quem a casei e a quem ele deveria respeito!
— Mestre - Snape falou em baixo tom, olhando para os sapatos dele -, estive com ela o tempo todo enquanto fora de seu controle, não havia como ela se aproximar de ninguém ou enviar qualquer tipo de mensagem.
Voldemort estalou os dedos que envolviam a varinha, ele queria punir alguém, ele queria ver sangue manchar o chão claro do aposento.
— CRUCCIO - berrou contra Hanna outra vez, ela se contorcia deitada no chão, sangue saía do canto de sua boca. - Você nunca mais sairá desta casa novamente, Hanna. Nunca! E meu filho... Se ele não estiver intacto dentro do menor tempo possível aqui ao meu lado, irei torturá-la com tanto gosto que vai pedir para Merlin jamais ter me conhecido.
Voldemort deixou a sala sem se preocupar com Hanna ou com quem iria em busca de Leon Pryme. Snape, por outro lado, tomou a esposa nos braços e a levou para o quarto, tratando de curá-la o quanto antes com sua varinha e experiência. Ela tinha desmaiado antes mesmo dele dar início ao tratamento e somente acordou três horas depois.
— Não, não se levante - murmurou Snape, sentado ao lado da cama.
— Leon...
— Ele vai ficar bem. Não se preocupe agora.
— Se algo me acontecer... prometa que vai cuidar dele.
— Nada vai acontecer, mulher. Agora descanse - foi quase uma ordem.
Voldemort não se importava com o filho. Na verdade, nem considerava ter um. Não havia como utilizar a criança a não ser para obrigar a mãe a continuar enfeitiçando o esconderijo. Mas isso somente iria acontecer se ele conseguisse por as mãos no menino, que estava fortemente protegido na fortaleza de Dumbledore.
A Ordem havia vencido outra batalha, Hogsmeade e a emboscada fora um plano de mestre, embora duas pessoas tivessem sido sacrificadas, alguns membros não as contavam como baixa, porque eram Comensais da Morte. Dumbledore, porém, sabia que a verdade sobre Leon Pryme traria maior desgraça se seus dois espiões ainda estivessem vivos. Por isso, tornou expressamente necessário descobrir qual fora a boca responsável por soltar a língua ao Profeta Diário.
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