Vai se casar com a minha mulhe
Faltava apenas um mês para as aulas em Hogwarts terminarem. Dumbledore tinha planejado uma forma de proteger as crianças até que estas chegassem as suas casas: ele mesmo viajaria no Expresso de Hogwarts até Londres. Seria uma aventura, uma volta às raízes. Havia tempos que queria voltar a andar naquele velho expresso. Os professores também iriam junto. Todos estavam no salão principal revendo cada detalhe naquela manhã amena de primavera. Aos poucos os alunos começaram a chegar para o almoço, assentaram-se e a balbúrdia começou. Os professores decidiram encerrar a reunião já que era impossível conter a língua afoita das crianças que estavam loucas para que as férias chegassem. Ao meio-dia em ponto, Dumbledore levantou e fez o usual pronunciamento, salientando que o baile de formatura seria realizado para os alunos de último ano e que nada iria mudar sua decisão. E mais, parabenizou todos pelas excelentes notas nos exames e disse que naquela tarde seriam liberados para irem aos jardins do castelo, mas que deveriam preocupar-se em manter constante atenção ao andar pelas redondezas e sempre se movimentando em grupos de cinco pessoas ao mais. Dumbledore bateu palmas e todos começaram a comer, menos Snape, que olhava para a mesa de Sonserina como se houvesse perdido algo, levantou devagar, foi até Dumbledore e lhe cochichou algo ao pé do ouvido, logo em seguida, os dois saíram do salão principal.
― Não. Ele não está na biblioteca - disse Dumbledore.
― E não está nas masmorras - murmurou Snape. - Os pertences dele também não estão no quarto.
― Chame os colegas de quarto dele, Severo - disse Dumbledore.
Snape saiu quase que voando e voltou trazendo Malfoy, Avery e outros dois sonserinos. Um pequeno interrogatório foi feito, mas nada de muito importante foi esclarecido. Apesar de serem os maiores e melhores encrenqueiros de toda Hogwarts, os sonserinos temiam que Voldemort aparecesse. A única coisa que se tirou de um dos garotos e que chamou a atenção do diretor foi a aparição do professor Flitwick nas masmorras.
― Era bem cedo - disse o menino chamado Goyle.
― O quão cedo, senhor Goyle - quis saber Snape.
― Ah, professor, isso ele não pode dizer por que é tão idiota que nem sabe ler - riu Draco.
― Calado, Malfoy! - rosnou Snape - Continue, senhor Goyle.
― Bem, ele me pediu onde o senhor estava e eu disse que estava na sala de Poções. Mas ele não foi para aquele lado, foi para o outro - disse Goyle indicando o corredor oposto à sala de aula.
― E não percebeu que isso era estranho? - perguntou Dumbledore.
― Bem, achei que ele soubesse o que estava fazendo, afinal, ele é professor! - disse Goyle meio abobado.
Dumbledore e Snape se olharam e pensaram o mesmo: o corredor que Flitwick havia seguido naquela manhã levava aos dormitórios dos alunos sonserinos do primeiro e segundo ano. Dumbledore pediu a Snape que avisasse os outros professores do acorrido e que lembrasse a eles de prestarem atenção nos alunos naquela tarde.
Junho trouxe muito mais flores aos jardins da casa de McNair, contrariando a presença de Voldemort na propriedade. Os pássaros teimavam em mostrar àquelas pessoas que lá se encontravam sempre de preto e com caras fechadas, que a vida era muito mais feliz se fosse cantada e brindada e vestida em cores de festa. A casa estava cheia de Comensais naquela manhã e por mais calor que fizesse, todas as janelas, cortinas e portas estavam fechadas. Hanna, no entanto, deixara o sol entrar no quarto, assim que Pryme saiu. A brisa da manhã misturada ao calor do sol tinha um cheiro peculiar que a fazia se lembrar de sua antiga casa na Alemanha. Lá os campos eram floridos, o trigo arfava com o vento e os pássaros pousavam a janela. Se não fosse pela presença sinistra de todas aquelas pessoas na casa, Hanna teria achado estar na Alemanha.
― Muito bem, aproximem-se! - disse Voldemort em um tom estranho a todos. - Quero lhes comunicar uma decisão que tomei. Acredito haver duas pessoas que podem me trazer grandes benefícios se unidas. Pensei muito sobre isso e claro, achei que precisávamos de uma distração que não fosse Alvo Dumbledore - Voldemort andou por entre as pessoas e parou ao lado de Snape. - Algumas informações podem me ser muito úteis se duplicadas. E estas duas pessoas podem me pôr muito mais rápido diante de meus inimigos - O Lorde das Trevas então colocou sua mão sobre o ombro de Snape. - Haverá um casamento! - Murmúrios correram pela casa e depois vozes apoiando. - A mais jovem mulher que se tornou minha comensal - e Voldemort estendeu o braço na direção de Hanna -, e um dos meus mais preciosos Comensais - ele apertou mais uma vez o ombro de Snape e olhou para ele -, irão se unir no décimo dia deste mês! - Os olhos de Snape pousaram arregalados nos de Hanna. Ele baixou os dela.
Muitos ficaram impressionados e estáticos com a decisão. Como ela se casaria se já era casa? Como Voldemort ousava anunciar tal assunto na presença do marido daquela mulher? Mas era certo que somente Voldemort e os seguidores dele conheciam a verdade, que Pryme estava vivo. E mais ninguém. Hanna Pryme era viúva e poderia fazer o que quisesse da vida.
― Vamos brindar! - exclamou Voldemort erguendo uma taça de vinho e fazendo surgir tantas outras que pairavam no ar a espera de que seus comensais as pegassem.
“Vivas!”, soaram depois de Voldemort.
― Estou prestes a lhe dar o maior voto de confiança de todos, Snape. Se fizer isto para mim, saberei que você está realmente do meu lado - murmurou Voldemort ao pé do ouvido do Comensal. - Eu confio plenamente em Hanna, apesar de saber que ela se escondeu de mim por temer que o filho se tornasse um de nós. Mas ela se ofereceu a me ajudar prontamente quando pedi e nunca me pediu nada em troca. Sei que ela não me teme como o resto vocês. Acredito que por não ter muito o que perder ou por ter perdido demais - mas ele não terminou a frase. Ficou observando Snape como se fosse ler seus pensamentos.
Hanna cruzou a sala e juntou-se aos dois. Snape continuava olhando para ela, mas ela tinha os olhos nas pessoas que vinham cumprimentá-los. Quando Malfoy aproximou-se para cumprimentá-los, perguntou se eles estavam felizes. Principalmente ela, porque iria se livrar de Pryme. Por um breve momento Snape pensou tê-la visto balançar negativamente a cabeça, como que não gostando daquele destino. Também pudera: outra vez teria que aturar um homem a contragosto, sem o direito a escolha. Ele quis não concordar com o que Voldemort sugeria, não queria causar mais transtornos à vida dela. Todavia, fazendo isso, teria de explicar o porquê e seria massacrado na hora.
O décimo dia de junho amanheceu muito frio e nublado. Mas a cerimônia seria realizada de qualquer forma, no jardim atrás da casa de McNair, num quiosque totalmente decorado com flores. Todos os Comensais estavam reunidos e não faltaram motivos para comemorarem, apesar de Pryme não ter ficado nem um pouco satisfeito com o rumo que os caminhos tomaram - ele nem mesmo saiu da casa durante a cerimônia, permaneceu sentado no quarto que ocupou ao lado de Hanna durante sua estadia na casa. A festa foi até altas horas da noite à base de muita bebida, comida e muito sarcasmo. Mas durante todo o tempo, apesar de Hanna parecer se divertir, Snape não conseguir fingir tão bem. Um mau humor sem precedentes o atingiu. Ele andava de braços dados à esposa, mas mal falava com quem lhe aparecia na frente. Os dois morariam por algum tempo na casa de McNair, pois Hanna tinha mais um ritual de proteção a realizar. Por isso, ela deveria se concentrar ao máximo, toda sua magia deveria ser dirigida àquele lugar para protegê-lo, torná-lo inatingível.
Quase amanhecia quando as últimas pessoas se recolheram. A noite de núpcias era eminente.
― Não consigo acreditar nisso - rosnava Snape andando de um lado a outro já no quarto. - Como pôde concordar com...
― E o que sugere que eu deveria ter feito? - perguntou Hanna sentada à beirada da cama, o vestido de noiva já guardado dentro do armário.
― Não ter consentido seria um bom começo - ralhou ele.
― Qual é o motivo de tanta indignação? Acredito que terá sua compensação, tanto para mim, quanto para você. Mais para você, eu diria. Voldemort o tem visto com novos olhos!
― E acredita nele? Não aprendeu nada nesses anos todos? - bradou com os braços na cintura, encarando-a com raiva.
― É apenas um casamento por conveniência, Snape, nada mais! - ela disse sem rodeios, colocando um ponto final na conversa. Hanna enfiou-se debaixo das cobertas, fechou os olhos e apagou as velas de seu lado da cama. Snape, no entanto, ficou observando-a. Deveria estar zangada agora, o chamou pelo sobrenome, o que não fazia nunca. Mas a culpa não era sua! Não, definitivamente, não! E não ia gastar seu tempo pensando nisso. Tirou a roupa e deitou também.
A princípio, a notícia do casamento ficou entre eles, mas Snape foi encarregado de levá-la a Dumbledore e seus seguidores assim que Voldemort desse a ordem. E contou antes a Dumbledore, tinha de contar. Não seria nada chocante para o resto do mundo mágico, já que todos conheciam Hanna Pryme, mas para a Ordem, faria grande diferença com certeza.
Em Hogwarts, o professor Flitwick era incansavelmente interrogado sobre os dias que fora a Hogsmeade, sobre as pessoas com quem falara, sobre as pessoas que estivera ao seu redor. Mas ele não lembrava de tantos detalhes. Tinha estado com muitos conhecidos e amigos, todos aliados de Dumbledore, afirmava veemente. Não fazia idéia alguma de quem poderia ter tirado alguns fios de seu cabelo para posterior utilização em uma Poção Polissuco. Mas quem quer que fosse o executante do tal plano fora brilhante e agora tinha o jovem Leon Pryme como refém.
Snape temia ter que ser ele a pessoa quem iria contar à mãe do garoto que ele havia desaparecido da escola sem deixar vestígios, justamente porque Hanna e ele já não estavam tão chegados quanto antes, na verdade, mal se falavam. Parecia que aquela situação havia desestabilizado sua amizade. Nem mesmo permaneciam no mesmo aposento por mais de meia, a não ser que estivessem dormindo.
Em Londres, um alto homem saía do Ministério de mãos dadas a um garoto que não tinha mais de onze anos. Seguiram pelas ruas abarrotadas de gente até um hotel luxuoso no coração da cidade. Subiram quietos pelo elevador até o vigésimo andar e entraram no apartamento de número 613. O garoto jogou a mochila sobre a lustrosa mesa de jantar e atirou-se sobre o sofá, admirando pela porta-janela de três metros de largura, o pôr-do-sol sobre os prédios. O homem parou diante de uma estante de madeira trabalhada e estreita, abriu uma das portas de vidro e pegou uma garrafa de bebida. Serviu em um copo de tamanho médio, tomou a bebida e foi se sentar em frente ao menino.
― Tudo o que o senhor falou sobre o meu pai...
― O que tem?
― Bem, andei pensando. Minha mãe me falou exatamente a mesma coisa.
― Falou? - disse o homem surpreso.
― A única diferença é que ela me mostrou quem ele era, a pessoa que foi. Queria que eu não seguisse os passos dele.
― Entendo - disse o homem surpreso pelo garoto falar. Havia dias que queria ouvi-lo, mas ele era monossilábico, dizia apenas sim e não.
― Ela sempre foi muito clara quanto ao caminho que queria que eu seguisse. O senhor disse que meu pai me amava... Como pode se ele mal me viu? Ele foi morto um ano depois que nasci! Por que o senhor vem me dizer essas coisas agora?
― Olhe, garoto. Não tenho permissão para discutir tal assunto, mas vou lhe confessar uma coisa, se prometer ficar de bico bem calado!
Os olhos do menino estancaram na boca do homem a sua frente.
― Seu pai não morreu de verdade!
O garoto continuou estancado.
― Ele foi obrigado a fugir. Você sabe, como todos os outros fugiram! Todos ficaram com medo e muito mais já que era duplamente envolvido - o homem parou, desejando que o assomo de quietude que ocupava o garoto agora não o fizesse parar de falar novamente. - Escute. Ele não podia voltar para te ver, era perigoso.
― Ele não morreu? Onde ele está? Por que não vem me ver? Por que mandou o senhor?
― Ei! Calma, garoto! Você acha que ele não desejou vir? Era o que mais queria, mas tinha medo que você... bem, que você não o aceitasse! Que você não quisesse vê-lo!
― E por quê? Por que eu não iria querer vê-lo?
― Ele temia ter sido mal falado pela sua mãe e temia ver ódio em seus olhos!
― Já não sei o que pensar - disse o garoto olhando para o chão -, meu pai vivo!
― Ele me mandou sondar o caminho. Pediu para te tirar de Hogwarts. Sabia que sua mãe nunca deixaria que ele o visse!
― Eu quero ver meu pai! - disse o garoto.
― Ótimo - respondeu o homem sorrindo. - Ótimo!
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