Suspeitas, sussurros e desejos
― Como pôde ser tão estúpido? Como? - bradava Snape batendo as portas do armário, chutando os pés da cama. - Ela não lhe pertence, ela é de outro homem! Tudo já é tão complicado, por que tem que se meter em mais complicações, seu idiota!
Um barulho no corredor o fez parar de resmungar. Esperou por um instante, mas tudo estava quieto, então se apoiou na cômoda com as mãos e olhou-se no espelho, contudo, não era sua imagem que ele via refletida e sim a da Hanna, do corpo dela.
BAM-BAM-BAM!
A batida na porta pregou um baita susto em Snape.
― Sim? - perguntou abrindo a porta e olhando de igual para igual. Não havia ninguém, mas assim que ele baixou os olhos percebeu que Leon Pryme estava ali. O menino não tinha mais do que um metro e vinte de altura. - O que foi, senhor Pryme?
― Eu queria saber se tem notícias de minha mãe.
― De sua mãe? - murmurou Snape. Ah, se o garoto imaginasse! - Não. Infelizmente não tenho.
― Oh! - exclamou desapontado. - É quase maio, as aulas terminam no final desse mês e eu queria saber para onde é que vão me mandar nas férias.
― Não acho que sua mãe possa lhe indicar um lugar. Provavelmente ficará sob a tutela do professor Dumbledore até o próximo ano letivo, senhor Pryme.
― Draco me convidou para ficar na casa dele. Se minha mãe não está aqui para discordar...
― Falarei com Dumbledore a respeito, é dele que vêm as ordens aqui, senhor Pryme! Agora, vá se deitar, ainda tem aula amanhã e nas próximas semanas também!
Naquele mesmo dia, na casa de McNair, Voldemort contava a Pryme seu plano. Não iriam mais raptar os professores der Hogwarts, mas as crianças. Haveria simplicidade, rapidez, calmaria e muita, mas muita poção Polissuco. Como faltava pouco mais de um mês para o término do ano letivo em Hogwarts, eles aguardariam. Seria bem mais fácil raptar as crianças enquanto estas não estivessem sob as longas asas de Dumbledore. Apesar do plano já ter tomado início, os comensais continuariam se encontrando na casa de McNair, agora menos vezes e aos punhados, pois Voldemort não queria levantar suspeita.
Desde o dia do incidente com a foto, Hanna tinha apenas conversado duas vezes com Snape e mesmo assim, não a sós. Naquela noite, um sábado chuvoso e quente, Voldemort havia pedido para os Comensais que eram casados trazerem suas esposas, ele pretendia criar um poderoso feitiço de proteção para aquele lugar, já que passaria a viver ali por mais tempo. A ampla sala de cinco ambientes estava um tanto cheia, copos e risadas se misturavam ao som da harpa encantada sobre a lareira apagada. As janelas estavam todas fechadas e as pesadas cortinas continham por encantamento toda vozearia e a luz dentro da casa. Voldemort esperava apenas por uma pessoa para começar o ritual, era a mulher que vinha descendo a escadaria lentamente, num vestido de veludo vinho colado ao corpo, cujos longos e negros cabelos balançavam conforme o balanço de seu andar: Hanna Pryme.
― Minha cara Hanna, o centro é o seu lugar - disse Voldemort parando atrás dela. Todas as outras pessoas afastaram-se, empurrando os móveis para trás e então, enfileiraram-se ao longo das paredes, formando um círculo.
― Por favor - sussurrou ela indicando a varinha e os demais empunharam cada um a sua, iniciando tudo com um verso. Um grande pentagrama apareceu no teto da sala. Hanna guardou a varinha e continuou entoando o verso até que todos o soubessem de cor. Então ela se ajoelhou no chão, tirou um punhal de dentro de um pedaço de pano e o deitou ao lado da varinha. Acendeu duas velas e as colocou uma de cada lado dos dois objetos e esperou que queimassem até o fim. Enquanto isso, o contingente de vozes trazia o pentagrama para baixo e conforme este foi descendo, Hanna ia pedindo aos homens que parassem de recitar o verso. Chegou ao ponto em que só se ouvia vozes de mulher e então, finalmente, o pentagrama se afirmou no chão, queimando o tapete e marcando, feito um ferrete, as grossas tábuas da madeira de lei cujo chão da casa de McNair era feito. Num impulso Hanna se pôs de pé e assim que ela abriu os braços um forte vento invadiu a sala, revirando cabelos e roupas das pessoas.
― Silêncio - pediu em baixo tom. - Guardem suas varinhas. Milorde - chamou e Voldemort se aproximou, parando diante da senhora, que com sua mão esquerda tomou a mão direita dele. Hanna estendeu a outra mão até o punhal, pegou-o e recomeçou a recitar o verso novamente, mas desta vez de forma rápida. Pegando todos de surpresa, enfiou o punhal na mão esquerda, a qual ainda segurava fortemente a de Voldemort, e este atravessou as mãos dos dois. Por segundos ele ficou introduzido, fazendo suas mãos parecerem uma, mas subitamente ela o puxou. O sangue de ambos começou a gotejar e depois a escorrer. Hanna largou o punhal e começou a recolher seu sangue e o de Voldemort com a mão direita, respingando-o em seguida dentro do pentagrama.
Fez isso por cinco vezes, repetindo as palavras rapidamente. De repente, uma névoa da cor do sangue deles começou a subir pelo ar e se espalhar pelas paredes, pelos outros cômodos e pela escadaria acima, até a casa ficar completamente enevoada. Algumas pessoas pensaram que perderiam o fôlego, mas a tal névoa continha tanto poder que pareceram se inebriar dele. Então, como se nunca tivesse estado ali, o pentagrama e a névoa desapareceram. Hanna soltou a mão de Voldemort e todas as suas forças se esvaíram, fazendo-a cair de joelhos no chão. Voldemort também se sentiu fraco, mas ele se apoiou em Pryme e logo vieram outros Comensais para auxiliá-lo. Snape e Malfoy ajudaram Hanna a ficar de pé e a levaram até o quarto.
― Ajude-me a deitá-la - disse Snape a Malfoy.
― Não é preciso - balbuciou ela apertando forte a mão esquerda que sangrava muito. Snape girou a varinha e pouco depois o sangramento havia estancado. - Obrigada.
― Descanse. Foi um feitiço muito forte - disse Malfoy puxando Snape pelo braço, mas este não queria sair do quarto, queria limpar as mãos da senhora e o rosto dela que estava cheio de sangue, o sangue sujo de Voldemort. Malfoy andou em silêncio ao lado de Snape até a biblioteca, onde estava Voldemort. Pryme era só garbo ao lado do Lorde, vitorioso pelos poderes da esposa.
― Asqueroso - disse Snape em tom baixo, ameaçador, arreganhando os dentes.
― Está com inveja, Snape - cutucou Malfoy.
― Dele? Nem ao menos é um dos nossos, veio bandeado! Homenzinho desprezível! - bradou Snape estalando os dedos e saindo da biblioteca. Jogou-se no sofá, sentando-se, com os braços cruzados. Observou as outras pessoas conversarem ao seu redor e pouco a pouco elas foram indo embora e a casa foi ficando vazia. Não demorou aos elfos entrarem na sala para reorganizarem-na. Snape continuou ali sentado na poltrona e nenhum dos monstrinhos tentou incomodá-lo. Quando se levantou, horas depois, ajeitou o sofá. Pensava apenas em Hanna e nem se deu conta de que ela estava no outro lado da sala, observando-o.
― O que faz ainda aqui, Severo? - perguntou fazendo-o ficar sem palavras, pois era justamente nela que ele pensava. - Passam das três da manhã.
― Os outros estão com Voldemort, na biblioteca - disse Snape olhando naquela direção.
― Obrigada - sussurrou mostrando a ele a palma da mão, na qual havia apenas um leve ferimento. Era surpreendente o poder de um bom bruxo.
― Não foi nada comparado... - mas ele não terminou a frase, os dedos quentes dela lhe tamparam a boca.
― Quero vê-lo amanhã no jardim depois das rosáceas, onde os arbustos se misturam com as araucárias, Severo - pediu ainda sussurrando, tocando agora o peito dele. Snape apertou a mão dela e respirou fundo. Hanna sorriu e acariciou o baixo ventre dele com uma das mãos, afastando-se logo em seguida. - Espero que esteja tão preparado quanto agora, Severo - e dizendo isso com um sorriso malicioso nos lábios, o deixou na sala sozinho, indo ao encontro de Voldemort na biblioteca.
Na sala estavam Voldemort, McNair, Malfoy e Pryme.
― Hanna! - exclamou Voldemort tomando a mão dela. - Melhor feitiço impossível!
― Vim apenas ver como o senhor estava e avisar a Malfoy que a esposa dele está deitada na ante-sala junto à esposa de Avery.
Malfoy saiu da biblioteca e McNair também. Hanna ladeou a escrivaninha de Voldemort e parou atrás dele, de costas, observando os livros.
― O mestre está cansado, Hanna, saia por favor.
― Eu sei como fazê-lo relaxar - sussurrou ela virando-se para Pryme.
― Saia Pryme - ordenou Voldemort. Ele saiu, se tivesse ousadia, teria batido os pés de raiva.
― Precisa provocá-lo?
― Não posso pelo menos sentir esse gostinho?
Voldemort pediu que ela se sentasse ao seu lado, sobre o canto da mesa. Não olhou para ela, mirava a pena dentro do frasco de tinta a sua frente.
― Milorde - disse com a voz terna -, não agüento mais viver sob esse regime. Sei que o desapontei, talvez mais do que qualquer um, mas qual de seus Comensais não o repudiou por medo?
― Hum... seus pais?
Ela virou o rosto para o outro lado, onde uma estante se perdia parede acima a mais de seis metros de altura.
― Mas o senhor confia em Pryme, que se fingiu de morto esse tempo todo, e em Malfoy, Snape, Avery, Goyle e tantos outros que disseram terem sido controlados pela maldição Imperio. Por que então não confia em mim? Por que não confia em quem nunca lhe pediu nada em troca para ficar ao seu lado?
― Foi exatamente por tal razão que jamais pensei em você me abandonando.
― O senhor tem razão, milorde, eu nunca deveria ter fugido. Mas os anos que passei ao lado de Pryme me aterrorizaram, eu nunca mereci o que ele me fez!
Voldemort olhou para as coxas de Hanna, que estavam bem de seu lado esquerdo, encostadas em seu antebraço.
― Milorde, o senhor sabe que nunca lhe pedi nada, nunca fiz questão de nada, a não ser de seu... Bem, isso eu sabia que tinha... seu afeto - e ela parou bruscamente de falar, como se tivesse dito um palavrão.
― Quer me pedir o que? Que eu a liberte disso tudo, que a deixe ir embora?
Ela riu alto. Sua gargalhada pôde ser ouvida da sala.
— Milorde, por que acha que eu iria querer partir?
― Por causa de Pryme, acredito.
― Bem, não posso negar que gostaria muito de me livrar dele. Mas fugir não ia me dar muita paz, além de que tenho meu filho em Hogwarts! Nunca deixaria Pryme por as mãos nele!
― Então o que é que quer?
Quero acabar com essa felicidade de Pryme, com essas suas idas e vindas aos meus aposentos. Não o suporto mais, milorde, e sei que não preciso ficar agüentando isso! O senhor também sabe - ela ficou de pé e bradou -, se eu tenho que ser punida, então todos os outros também devem!
― Você tem alguma coisa em mente? Ele é muito fiel a mim e preciso dele!
― Não quero vê-lo morto, milorde. Só não o quero me tocando - murmurou voltando a se sentar onde estava. - Quero me casar.
Voldemort balançou a cabeça, achou não ter ouvido direito.
― Quer se casar? Com quem?
― Com o único solteiro existente, oras... Snape!
― SNAPE?! - exclamou Voldemort pondo-se de pé. - Mas ele...
― Ele está sempre rodeando Dumbledore e deve saber muita coisa sobre...
― E o que sabe relata a mim.
― Claro que sim, milorde. Mas pense comigo, se ele se casar, a esposa poderia compartilhar com ele de muitas coisas, dentre elas ter certa relação com as pessoas que vivem em Hogwarts; ser convidada para os eventos dentro do castelo; morar numa casa em que estas pessoas freqüentam...
― Entendo. E o que quer de mim se você pode muito bem conseguir isso sozinha?
― Ora, milorde. Se o senhor pedir a Snape para se casar comigo ele terá de aceitar.
― Se você pedir ele também aceitará.
― Sim, claro, mas não quero casar no ano que vem, milorde. Quero casar no próximo mês.
E então foi a vez de Voldemort soltar uma alta gargalhada. Não de zombaria, mas por achar que ela estava sendo muito perspicaz.
Na manhã do dia seguinte, Snape se surpreendeu ao chegar à casa de McNair, alguns Comensais e suas esposas estavam lá. Mas Snape não foi até eles, andou pela orla dos pinheiros e seguiu até o lugar combinado na noite passada. Encontrou Hanna sentada no chão abraçada aos joelhos. Os longos cabelos dela pareciam uma capa, eram sedosos, brilhantes e grossos, muito uniformes.
― Severo - exclamou ao vê-lo e num pulo se pôs de pé.
― Bom dia - disse ele sorrindo.
― Venha - sussurrou ela puxando-o pelas mãos. - Vamos por aqui!
― Hanna - hesitou ele.
― Acha que Voldemort não sabe que está aqui? Disse a ele que você viria conversar comigo.
― Di-disse?
― Claro. Venha, Severo - e o puxou para dentro da mata. - Não iria querer esconder nada dele, iria?
Snape balançou negativamente a cabeça e a seguiu. Ela estava muito diferente naquele dia, seus lábios eram somente sorrisos e ternura, conversaram sobre toda aquela paisagem magnífica e sobre o quanto ela gostaria de viver num lugar quente, sem a neve caindo e queimando a beleza da mãe terra. Sentaram-se à beira de um pequeno lago e conforme a conversa dela esquentava, o clima também. Hanna era uma mulher poderosa, irradiava esse poder transformando tudo em belo. E depois da discussão com Pryme, ela voltou a andar pela casa com seu ar imponente, mostrando a todos o que era ser verdadeiramente um bruxo de poder, assim como Voldemort.
― Está quente não acha? - perguntou ela sentada defronte a ele. - Vamos?!
― Aonde? - ele quis saber ao vê-la tirar o casaco, desabotoar o vestido e então ficar de pé e deixar o vestido cair.
Hanna, pare já com isso.
― Ora, Severo - balbuciou com os braços na cintura, nua -, venha tomar um banho comigo! Que mal há nisso? - e então ela caminhou para o lago e mergulhou, levantando apenas algumas ondas na água calma. - Vamos! - repetiu lá de dentro. Snape ficou de pé, olhou para os lados e muito indeciso desabotoou a camisa, já que o paletó havia tirado há algum tempo atrás. Depois de tirar a camisa ele ameaçou abrir o fecho da calça, mas os olhos dela não o deixaram terminar o que havia começado. - O que foi? - quis saber ela.
― Bem... você... você me olhando assim...
― Assim como? Nada que eu já não tenha visto - riu ela.
Snape soltou um gritinho de frio quando entrou no lago e então ela se voltou, observando a parte do corpo dele que ainda não havia sumido sob a água. Snape tinha a pele tão alva quanto a dela e isso a fez sorrir e mergulhar. Por baixo da água, ela segurou as pernas dele e subiu por elas até emergir colada ao corpo dele. Os dois se encararam e Snape estava pronto para beijá-la, mas ela rapidamente mergulhou para longe rindo. Ele mergulhou atrás dela e brincaram daquilo por algum tempo. Rindo, atirando água um no outro e beijando-se.
― Vamos descansar? - perguntou apoiada nele, algum tempo depois, ainda dentro do lago, apontando para a beirada. Snape assentiu e nadaram até a margem. Sentaram-se sorridentes lado a lado e o magnetismo entre eles triplicou de força no momento em que seus olhos se cruzaram. Snape estava extasiado com a nova pessoa que tinha a sua frente. E Hanna com o homem que ela imaginou não existir nem mesmo em seus sonhos. Entregaram-se completamente. Desta vez, Snape não perdeu tempo vigiando os arredores, mostrou o quanto ela poderia ser amada por um homem.
Algum tempo depois, os dois descansavam ainda deitados lado a lado. Snape estava apoiado no braço esquerdo e com a mão direita mexia nos cabelos úmidos Hanna, que tinha os olhos fechados e o rosto encostado no peito dele.
― Você está sendo muito bom para mim, Severo.
― Faço o possível - brincou ele. Ela o beijou no rosto por várias vezes.
― Não me sinto assim há séculos! Nem mesmo depois da morte de Pryme - murmurou ela tocando o rosto dele com a ponta dos dedos. - Como pode ser tão fácil amar alguém? - continuou a falar sorrindo. Mas aquela pergunta não soou tão bem quanto o esperado, ela própria se esquivou logo após se dar conta do que havia dito e depois de perceber que a expressão no rosto de Snape mudara. Hanna se pôs de pé e num passe de varinha vestiu as roupas. - É melhor voltarmos. Todos estão se reunindo para o almoço.
― O que foi que disse? - perguntou Snape se levantando naquele momento.
― Psiu! Tem algum ali! - ela indicou sussurrando à moita ao lado deles. Snape vestiu a roupa enquanto olhava naquela direção. - Vamos!
― Hanna!
― Vamos, Snape, vamos! - ela apressou, interrompendo qualquer tentativa de voltar ao assunto. Entraram na casa pela porta dos fundos e Snape sacudiu a varinha, era preciso secarem os cabelos ou então todos saberiam o que tinha acontecido. Ela agradeceu e entrou no salão sorrindo, sentando-se ao lado direito de Voldemort, depois de Pryme. Snape sentou-se ao lado esquerdo, bem mais longe.
O almoço foi como todos os outros na roda das Trevas: cheio de sarcasmo, escarninho e humor negro. No entanto, nada daquilo entrava nos ouvidos de Hanna, cujos pensamentos percorriam o corpo do homem de intensos olhos negros iguais aos seus, que se sentava a metros dela: Severo Snape.
Naquela noite, as agruras de Pryme não fariam nenhum mal a ela, pois sua mente, seu espírito estava além daquela vida terrestre. Ela havia tomado um demorado banho e estava sentada na cama, perfumando-se quando a porta do quarto abriu lentamente. Ela parou o que estava fazendo e respirou fundo.
― Ainda estou acordada, Pryme - murmurou ela.
― Sou eu - e a voz áspera de Voldemort entrou no quarto.
― Mi-milorde? - exclamou ela puxando o lençol para tampar o corpo ainda nu. - Aconteceu algo?
― Gostaria de lhe falar - disse ele lá fora, ainda não se mostrando.
― Entre.
Então a figura magra e macilenta entrou no quarto, mas sua imponência era tamanha que ela baixou os olhos. Voldemort se sentou na poltrona, um metro à frente.
― Continue com o estava fazendo - sibilou ele. Ela atendeu ao pedido, deixou aparecer uma das pernas por entre o lençol e continuou a perfumá-la.
― O que é isso?
― Ervas, leite e mel, uma loção.
― Muito bem feita - disse ele tomando o pote do perfume. - Você quem fez?
― Ah... é...
― Foi Snape? Isto tem a cara dele - retrucou olhando do pote para ela, esperando por uma resposta.
― Sim, foi Snape, milorde - murmurou ela olhando para a perna.
― Você gosta dele? - perguntou Voldemort recebendo um balanço de ombros dela. - É por isso que pediu meu consentimento para que casassem?
― Não, milorde.
― Hanna, não precisa esconder a verdade!
― Gosto da companhia dele, é um homem muito correto.
― O Snape? Ah! - gargalhou Voldemort achando muita graça daquela palavra, mas então, ajeitando-se na cadeira e mudando o tom de voz, perguntou: - É só da companhia dele que você gosta?
― É.
― Eu sei o que têm feito, Hanna - disse olhando-a nos olhos. - O lago é um ótimo refúgio. Não preciso ver para saber o que se passa debaixo do meu nariz. Mas se Pryme - e Voldemort olhou para a porta -, descobrir...
― Achei que tivesse concordado com meu pedido!
Ele apenas sorriu.
― Pensei que...
― Você pensa muita coisa sobre a qual nem faço idéia!
― Eu não... não...
― Você ama Snape? - ele inquiriu. - Porque o amor dele por você está explícito, se é que ainda não o viu. Posso senti-lo. É repugnante!
― Milorde - murmurou temendo por Snape. Voldemort se levantou, andou até ela, que ainda estava sentada na cama e abaixou-se em sua frente.
― Não olhe para mim, Hanna - disse Voldemort empurrando-a pelo peito, fazendo-a se deitar, depois disso começou a beijar os pés, as pernas, as coxas dela, até chegar à virilha e então extinguiu qualquer desejo do corpo dela, fazendo-a saciar de uma forma que nunca havia feito antes.
― Tom - murmurou ela levantando, e assim que o fez se deu conta de que acabara de desfrutar do toque do homem que mais havia amado em sua vida, porém, ele não estava no quarto. Imaginou se aquela situação teria sido um sonho ou uma visão, mas sentia-se relaxada, sentia-se completa. Com raiva e vergonha por não saber se tudo havia sido um sonho, ela se atirou na cama e pôs-se a chorar.
Pryme, que havia visto o final da cena por entre a fresta da porta aberta do quarto, não conseguia acreditar que procurara incansavelmente por toda a vida pelo homem ao qual pertencia o coração dela. E esse homem estava todo o tempo ao seu lado, era nada mais nada menos que Voldemort, ou melhor, Tom Riddle.
Hanna apareceu na sala do café tarde da manhã. Pryme, McNair e Voldemort ainda estavam sentados lá.
― Bom dia, Hanna - cumprimentou Voldemort de costas.
― Bom dia, milorde - respondeu sentando ao lado de Pryme, que a cumprimentou também, mas de olhos no Profeta Diário. Um elfo veio correndo trazer uma xícara de chá para ela. - Não traga mais nada, por favor - disse ao elfo que parecia muito eufórico e deixou cair um pano manchado aos seus pés. Hanna o ajuntou, devolveria mais tarde, já que ao som da voz de Voldemort ele escapuliu para a cozinha.
― Passou bem a noite, Hanna? - a pergunta de Voldemort fez os olhos de Pryme pousarem sobre ela, que o olhou estranhamente.
Bem, obrigada, milorde. - respondeu ela ainda olhando para Pryme. Mas este voltou a olhar para o jornal quase que imediatamente. McNair levantou e foi se encontrar com um comprador trouxa que acabara de chegar num caminhão.
― Hanna - chamou Pryme num tom suave, nada usual. - Poderia me deixar ver a foto de meu filho?
Surpresa com a delicadeza dele, ela tirou lentamente do bolso a foto e lhe entregou, Pryme a tomou com cuidado e a observou por alguns instantes antes de fazer a esperada pergunta:
― Qual deles é Leon? - indagou Pryme olhando-a nos olhos.
― É o primeiro a sua esquerda. Depois o filho de Malfoy e o de Avery.
― Ah! O primeiro. Nenhum traço meu - ressaltou olhando a foto.
― Não - ela sussurrou lançando um olhar a Voldemort, que ergueu uma das sobrancelhas e se recostou na cadeira.
― Como ele é?
― Genioso! - ela respondeu com os olhos na xícara de chá.
― Gostaria de falar com ele - disse Pryme se levantando e deixando a foto sobre a mesa. Naquele momento, Hanna sentiu pena dele, sentiu que talvez se não tivesse relutado pelo amor de Tom as coisas teriam sido diferentes... mas só talvez.
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