Piedade, ciúmes e tantos outro

Piedade, ciúmes e tantos outro



Voldemort estava defronte a janela da sala de jantar, os elfos a preparavam para o almoço, enquanto ele observava a filha dos Lestrange tomando sol no jardim. Ela mexia nos longos cabelos negros que brilhavam muito e colhia flores vermelhas de hibiscos que enfeitavam os arredores da casa. Aquele lugar era muito diferente da casa em que estavam anteriormente. Tudo ali florescia em vida, o canto das aves convidava para um passeio pelo lago, onde centenárias árvores soltavam folhas que flutuavam pelo ar e pousavam levemente sobre o chão. De repente, Hanna parou com o que estava fazendo e virou-se diretamente para a janela em que estava Voldemort, este desviou o olhar e afastou-se de lá. Hanna então entrou na casa e sentou-se ao lado dele no sofá.
— O senhor queria falar comigo, milorde?
— Não. Estava apenas observando-a.
— Seremos só nós dois no almoço?
— Sim, Hanna e para seu sossego passaremos este dia sozinhos também. Vamos? - perguntou Voldemort indicando a mesa onde o almoço estava servido. Sentaram-se próximos e almoçaram em silencio por algum tempo.
— Milorde...
— Acha que está no direito de me pedir algo, Hanna?
Olhou-o e soltou o garfo e a faca suavemente.
— Peça, Hanna, peça! - sussurrou Voldemort.
— Gostaria de ver meu filho por uma hora apenas. É Natal e ele deve estar com saudades.
— Não há como trazê-lo aqui e eu não ousaria deixá-la ir até ele. Não acredito que voltaria para cá se a deixasse sair!
— É Natal, milorde, e ele é apenas uma criança. Eu lhe prometo que voltarei!
— Para mim é um dia qualquer. E chega desse assunto! - disse Voldemort engrossando a voz.
— Eu não lhe falei sobre os livros porque não achei a hora apropriada. Não havia encontrado ninguém que pudesse tirá-los de lá! Foi um erro não ter lhe contado... mas o senhor também escondeu o jogo. Por que me deixou ficar aqui se sabia que Pryme estava vivo? Se tivesse me dito...
— Eu precisava de seus préstimos.
— Claro - ironizou ela -, acredito que estejamos quites então! - e ela se levantou.
— Não saia da mesa, Hanna - pediu Voldemort segurando-a pelo pulso.
— Ou então o que? - bradou tentando-se libertar, temia estar fazendo aquilo, irritá-lo, subjugá-lo, mas estava tão zangada por tudo que não se importou. Para ela o mundo poderia acabar agora que não faria diferença.
— Eu não... quero ficar só! - foi apenas o que ele respondeu, em seguida soltou o pulso dela e voltou os olhos para o prato de comida.
— Deixe-me escrever uma carta para ele então - murmurou sentindo-se mal, mas querendo muito realizar seu desejo -, Snape pode levá-la.
— Certo - sibilou Voldemort ainda com os olhos no prato. Num milésimo de segundo Hanna conjurara pergaminho e pena e escrevia uma carta para o filho. Assim que terminou, Snape apareceu. Hanna levantou-se com pressa e nem deixou Snape entrar na sala, aproximou-se dele no corredor e o conduziu novamente à porta.
— O que foi? - perguntou Snape aturdido.
— Voldemort me deixou escrever para meu filho. Chamou você aqui para que levasse até Leon minha carta - falou ela. Snape hesitou, mas a voz de Voldemort soou alta da sala de jantar, assentindo com o que ela havia dito. Os dois caminharam até a varanda da casa. Hanna apertou as mãos dele, que já seguravam a carta para o filho. - Diga a Leon que tudo vai ficar bem, Severo e se puder, peça a ele que me responda o mais rápido possível! Você trará a resposta diretamente a mim, não é?!
— Claro - respondeu Snape à suplica. - Não sei como consegue que Voldemort a trate...
— Vá, Severo, o que quer saber será respondido à qualquer hora, mas não agora. Pryme não vai voltar cedo hoje - sussurrou com certa angústia, mas contente por poder dar alguma explicação ao filho. Ele teve vontade de tocar o rosto dela, teve vontade de beijá-la, mas não achou que ela permitisse. Então, desaparatou sem olhar para trás.
Dumbledore conversou com Leon Pryme depois que Snape já o tinha feito e o alertou sobre o porquê dele não deixar Hogwarts. Contou que a mãe tinha ido ficar com uns amigos, indicados por ele, até que a poeira de toda essa história de Azkaban baixasse. Sentia dizer aquilo, pois o menino precisava do carinho da mãe, mas não havia nada que se pudesse fazer. Não no momento.
Aquele dia de Natal estava sendo o pior dos dias da vida de Leon. Sua cabeça girava tentando decifrar tudo o que Dumbledore havia lhe dito e tudo o que havia lido nos jornais. Ela ainda não conseguia acreditar que a mãe tinha ligações com o mal. Ele poderia jurar que ela nunca faria parte da ordem de Voldemort. Não, ela sempre fora tão explícita quanto ao não envolvimento de Leon em nada de ilegal, em nada que pudesse prejudicá-lo, mas ele imaginava o quanto o ex-auror Moody poderia ter sido verdadeiro. Um solavanco na porta da biblioteca fez Leon erguer a cabeça deitada sobre um livro de feitiços. Era o professor de Poções.
— Senhor Pryme, venha comigo - disse o professor logo saindo da biblioteca e caminhando compassada e ligeiramente na direção das masmorras. Leon o seguiu correndo, curioso para saber o porquê daquela exaltação toda. Entraram na sala de Poções e, com um agito da varinha, Snape trancou portas e janelas. - Isto é para o senhor - disse Snape esticando um pedaço de pergaminho bem dobrado ao menino, que tremeu ao abri-lo, era a letra da mãe. Havia muito tempo que não tinha notícias dela.
“Querido Leon, não sei o que andam lhe falando sobre mim, mas não acredite no que ouve. Eu sou sua mãe e nunca menti para você, assim como sempre exigi que não mentisse para mim! Não posso lhe dizer o que está acontecendo, é tudo muito complicado, filho, mas saiba que há uma explicação plausível. Meu coração está morrendo por não poder vê-lo. Dói saber que você tem de ficar sozinho na escola, mas Dumbledore e Snape podem ser grandes amigos, converse com eles, querido, não se deixe abater. Mande-me alguma resposta, mas não minta. Eu sei que você não está bem, sei que sua cabeça deve estar a mil. Lembre-se que eu te amo e que nunca o decepcionarei.”
Beijos, Hanna.
— É da minha mãe - gaguejou.
— Eu sei, senhor Pryme. Ela me pediu que você respondesse com brevidade - completou Snape encostando-se na parede ao lado da lareira. - E me pediu para lhe dizer que tudo ficará bem.
— Onde ela está, professor? - perguntou o garoto puxando a barra do casaco de Snape. - Se o senhor falou com ela deve saber!
— Desculpe, garoto - murmurou Snape virando de costas e balançando a cabeça negativamente.
— Vou responder - disse tencionando sair da sala.
— Não saia! Ninguém pode saber que você recebeu uma carta dela! Tenho papel e pena aqui, use-as.
— Mas tem algo que quero mandar a ela, para ela ver como estou mudado!
Snape observou o garoto deitar a carta sobre sua mesa e sair da sala, voltando pouco depois com uma fotografia dele e de dois amigos. Então, o garoto se sentou e pôs-se a escrever lentamente, queria fazer letras perfeitas para orgulhar a mãe. Snape sorriu por dentro, lembrou-se de quando era criança e de como gostava de impressionar os pais com tudo o que aprendia. Mas algo no menino lhe chamava a atenção, era muito parecido com a mãe, mas lhe lembrava outra pessoa, certas expressões, certas posições, atitudes diferentes faziam Snape se lembrar de outra pessoa que não a mãe, a senhora Pryme e sim o pai, Keneth Pryme, que depois de conhecê-lo, achou-o um crápula. Na fisionomia Leon não se parecia nada com Pryme, que era muito alto, reforçado, tinha olhos claros e cabelos louro-escuros e espetados, ao contrário, Leon era mirrado, tinha os profundos olhos da mãe e cabelos igualmente escuros como os dela, no entanto, não eram lisos e grossos como os de Hanna e sim cacheados e finos.
— Aqui está, professor Snape. É isso que responderei a ela - disse Leon esticando a ele o pergaminho dobrado da mesma forma que a mãe havia dobrado o que ele recebeu. Se fosse em qualquer outra situação, Snape teria repudiado ser mensageiro, mas o que Hanna representava a ele transformava sentimentos negativos em bons.
— Não fale sobre isso com ninguém, garoto! - advertiu Snape saindo sala.
Eram seis horas da tarde. Hanna estava sentada na sala de estar diante do Lorde das Trevas, que examinava as informações no Profeta Diário daquele dia, quando ele baixou o jornal, amassando-o e olhando para trás; ela se levantou apreensiva, apertando a almofada que acariciava a pouco.
— É Snape - acalmou Voldemort. Ela olhou para a porta e o comensal entrou pigarreando.
— Seu filho quase me expulsou de Hogwarts agora a pouco - brincou com sarcasmo, entregando a ela um grosso pergaminho, sorrindo ao ver que os olhos dela sorriam para a carta. Hanna abriu-a de qualquer jeito e reconfortou-se com a letra torneada do filho. Começou a ler de pé mesmo:
“Mãe, não quero que se preocupe com o que estou pensando, porque nada que digam pode fazer mudar o que sinto. É certo que não consigo entender o porquê da senhora estar ao lado de Voldemort, mas convenhamos, se estiver do lado dele, todas aquelas brincadeiras que eu fiz aqui devem tê-la feito se orgulhar de mim, apesar do sermão que me deu!”
Aquele pequeno trecho deixou os nervos dela à flor da pele, então seu filho achava que ela estava do lado de Voldemort! Ela largou a carta no chão e correu para a cozinha desatando num choro compulsivo. Snape se aproximou do sofá, abaixou-se, pegou a carta, olhou-a sem a ler, e dobrando-a no meio, depositou-a sobre a mesa de centro, em seguida olhou para Hanna, que escondia o rosto metros dali e depois para seu mestre, e este tinha os olhos nos longos e macilentos dedos das mãos, onde um anel em forma de caveira chamava a atenção.
— Precisa de mim ainda, mestre? Caso contrário voltarei a Hogwarts.
— Vá, Snape - sibilou Voldemort sem olhá-lo. Snape saiu da sala, mas ainda lançou um último olhar à cozinha, desejando confortá-la, contudo, baixou a cabeça e bateu levemente a porta ao sair. Pouco depois, ela se recompôs e voltou a sentar perto de Voldemort, mas não tomou a carta logo, algo parecia afastá-la dela.
— Quer que a leia para você, Hanna?
— Não, milorde - respondeu quase sem voz, pegando então a carta e abrindo-a novamente.
“Também sinto sua falta, os Natais e feriados deveriam ser nossos, apenas nós dois, mas, fazer o quê se não? Estou indo muito bem com meu aprendizado, apesar dos professores estarem indo com calma por causa de tudo que vem acontecendo. Sabia que sou o primeiro da classe! Tenho passado muito tempo na biblioteca, como você sempre disse, mente parada é mente ociosa e dela não saem boas coisas! Bem, não sei se vai poder me escrever novamente, então estou lhe enviando uma foto, não fique zangada, nela estão Malfoy e Avery, são meus amigos... Com muito amor, Leon.”
Ela tirou a foto de dentro do envelope e a observou. Leon e os dois amigos acenavam sorridentes para ela. Colocou a foto sobre a mesa e tomou a carta e o envelope, levantou-se, foi até perto da lareira e os atirou ao fogo, queimaram em segundos.
— É seu filho na foto? - indagou Voldemort.
— Sim.
— Posso? - indicou a foto e ao receber o consentimento, tomou-a e a observou. - Muito parecido com Pryme!
— Quem, meu filho?
— É claro! - respondeu ele irônico.
— Leon é o menino a sua esquerda, milorde - afirmou ela de longe.
— À esquerda?
— Sim, é Leon, no meio Draco Malfoy e o outro é o filho de Avery, não lembro seu nome agora - disse a senhora Pryme, sentando-se ao lado de Voldemort, apontando para o filho. O Lorde das Trevas arregalou os olhos e observou atentamente o menino a sua esquerda. Era impressionante o quanto ele o lembrava de si mesmo!
— Onde está Snape? - quis saber ela.
— Já foi! - respondeu Voldemort ainda analisando a foto. Hanna andou até a varanda da casa e olhou o jardim a sua volta na tentativa de encontrar Snape ainda ali, mas não o viu. Voldemort virou a foto e leu o que estava escrito.
“Eu, o mestre; Malfoy, o penteado, e Avery, o cabeça oca. Sabe, mãe, quando eu era pequeno e dizia que as pessoas falavam comigo sem mexer os lábio? É verdade... bem, elas não falam, sou eu quem lê a mente delas! Mas acredito que a senhora já soubesse disso, só não queria que eu descobrisse!”
— Você sabia que seu filho é legilimente?, Hanna? - perguntou Voldemort assim que ela sentou-se ao lado dele para apreciar a foto. Ela ficou espantada com a pergunta dele. - É o que escreveu isso atrás da fotografia - indicou Voldemort entregando a ela a foto. Ela leu e suspirou. - De quem ele herdou isso? Você é?
— N... não. Muito menos Pryme! Ele nem oclumente é!
— Então de quem ele herdou?
— Não sei dizer, milorde, nunca procurei me informar sobre a genealogia da família!
Aquela resposta não saciou Voldemort, mas não quis discutir sobre o assunto, preferiu ponderar antes de argumentar com ela, que provavelmente sabia muito mais do que dia.
Na madrugada do dia seguinte, Pryme aparatou na casa onde estava Voldemort. Tudo estava quieto, todos estavam dormindo. Ele subiu a escadaria e entrou no quarto onde Hanna estava e como fazia todas as vezes que chegava, depois de dias combatendo os aliados de Dumbledore, deleitava-se com os encantos dela. Na verdade, usurpava-os, porque não tinha consideração alguma com ela. Saciava-se achando-se no direito de fazer o que fazia, afinal, era para aquela finalidade que existiam as mulheres. Hanna aceitava tudo passivamente, se não fizesse assim apanharia e já estava cansada disso. Foram longos quatro meses ao lado de Pryme, que renascera do nada.
Na manhã seguinte, quando se levantou, ela sentia dores pelo corpo todo. Ouvindo um vozerio no térreo, desceu a escadaria lentamente, gemendo de dor quando apoiava com a perna direita no chão.
— Precisa de ajuda, senhora Pryme? - era Malfoy vindo em sua direção.
— Não, obrigada. O que está acontecendo? - quis saber segurando-se no corrimão, mas tentando disfarçar como se apenas estivesse se encostando.
— Pryme encontrou um esconderijo melhor.
— Oh - exclamou ela apenas.
— Iremos para lá depois da reunião - disse Malfoy olhando para trás, observando Snape chegar acompanhado por outro Comensal. - Se me dá licença - pediu Malfoy indo na direção de Snape e puxando-o para um canto da varanda. Ela olhou em volta e a pequena casa estava repleta de Comensais, Voldemort estava sentado em frente a lareira e Pryme de pé, ao lado do mestre, cochichando algo no ouvido dele. Ela foi para a cozinha, sentou-se e tomou uma xícara de chá quente, que por um momento pareceu aliviar todas as dores que sentia, principalmente as psicológicas.
— Olá! - era Snape, parado defronte a mesa com um pequeno pote nas mãos. - Teve boas notícias de seu filho?
— No geral, sim - respondeu encarando-o sem sorrir. Snape girou o pote em suas mãos e depois colocou-o sobre a mesa. - É para você!
— Para mim? Foi Leon quem mandou? - perguntou tomando o pote, observando seu conteúdo com cuidado e em seguida abrindo-o. - Hum! Que cheiro bom! - e soltou um sorriso encantador fazendo Snape sorrir com um dos cantos da boca. - E então?
— E... então o que?
— É de Leon?
— Bem, na verdade é... meu. É uma essência relaxante de mel e leite, entre outros ingredientes - murmurou embaraçado.
— Se-seu?
— Sim. Achei que gostaria.
— Obrigada! - respondeu levantando, sorrindo e dando a volta na mesa, aproximando-se dele. - É muito gentileza de sua parte me agradar.
— Você tem passado por maus bocados - disse, mas corrigiu-se assim que se deu conta do que falou. - Desculpe, não tenho nada que...
— Você está certo. Pelo menos alguém aqui tem consideração - então ela ficou na ponta dos pés e o beijou suavemente nos lábios.
— Hanna, se alguém vir...
— Estão todos na sala.
— Então é melhor eu ir para lá também - retrucou deixando a cozinha. Ela sorriu, achando engraçada a atitude dele, que notava em todos naquela casa: ela era propriedade de Pryme e ninguém discutia!

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