Snape e Hanna



O vento soprava forte, agitando os longos galhos dos velhos bordos sem folhas, mas cheios de brotos esverdeados. Um mensageiro do vento, preso à ponta do telhado, tilintava melodiosa e incansavelmente, enquanto uma cadeira de balanço desgastada parecia dançar ao balançar para frente e para trás na espaçosa varanda daquela casa enxaimel que pertencia à senhora Pryme.
― Senhora, há um homem que quer vê-la.
― Visita há essa hora, Betsi? - questionou a senhora para a pequena e charmosa elfa doméstica.
― Por aqui, senhor. Minha senhora está na sala.
― Obrigado - respondeu ele parando embaixo de um portal em arco. Pigarreou, chamando a atenção da senhora da casa, que estava sentada em frente a lareira, fazendo-a se levantar impressionada ao vê-lo.
― Senhor Snape? - disse ela envergonhando-se de estar mal vestida. - Desculpe pelos meus trajes... não pensei ser alguém importante!
― Alguém... importante? - repetiu ele.
― Se me der licença por alguns minutos, vou vestir algo.
― Não se incomode por mim...
― Ora, se não pelo senhor, por quem então? Com sua licença.
Ele deu um passo atrás e estendeu o braço para que ela passasse. Snape ficou sozinho na sala, olhou ao redor e percebeu que o lugar era um tanto sombrio, tudo era escuro, as paredes, o chão. Havia apenas um canto iluminado além da lareira, era uma mesa de canto onde três velas mostravam algumas fotos. Snape se aproximou para observá-las. A primeira era a foto de um bebê sorridente no colo da senhora Pryme: Leon. A mulher não havia mudado nada desde aquela época. A Segunda era uma foto de Leon um pouco mais velho, deveria ter uns seis ou sete anos e ele dava vôos rasantes no chão com uma vassoura, rindo de si mesmo. A terceira era recente, onde a senhora Pryme estava sentada segurando firme a mão do filho e às vezes a acariciava, enquanto ele estava firme, parado atrás dela, apoiando uma das mãos no ombro da mãe.
― O senhor aceita? - Snape deu um pulo e se virou bruscamente: era a elfa trazendo uma bebida.
― Sim, obrigado. - respondeu tomando o copo. Assim que o elfo saiu, a atenção de Snape voltou-se para o último porta-retratos, que estava bem atrás dos outros. Naquela foto estavam um homem mais velho, ladeando uma mulher cujo rosto estava completamente virado para trás. Parecia muito com a senhora Pryme, pois tinha longos cabelos escuros, e aquele homem talvez fosse o pai dela.
― Não sei por que guardo esta foto - revelou a senhora Pryme.
― Desculpe, eu...
― Sente-se, senhor Snape - pediu ela sorrindo, sentando-se também. Ela usava um longo vestido azul escuro de mangas. Ao sentar-se, descalçou os sapatos e pôs os pés sobre o sofá. Snape a observou fazer isso.
― Importa-se? - perguntou ela intentando descer os pés do sofá.
― De jeito nenhum, a casa é sua! - falou ele. Observaram-se por alguns segundos.
― Espero que Leon não tenha aprontado nada outra vez.
― Oh, não, ele não aprontou - afirmou Snape franzindo a testa. - Não depois do que a senhora disse a ele.
― Bom, muito bom. Então? - ela quis saber o motivo da visita.
― Vim para falar sobre uma pessoa a quem estamos ligados.
― Certo. E quem seria?
― Percebi que a senhora preza muito as boas companhias e as atitudes honestas - disse Snape.
― Eu tento alertar para....
― Desta vez, sou eu quem vem alertá-la.
― Sobre o que?
― Sobre sua união com o Lorde...
― União? - pigarreou ela, que logo após riu. - Quem lhe disse que me uni a ele, senhor Snape?
― Ninguém. Eu simplesmente sei.
― Sabe mesmo? - riu ela outra vez. - Não, senhor Snape, não compartilho dos atos indecentes dele e muito menos da criação de seus planos retaliadores,. - Ele comprimiu mais ainda as sobrancelhas e seus negros olhos se ressaltaram. - Agradeço sua preocupação, senhor Snape, mas não compreendo sua intenção.
― Senhora Pryme, nem sempre fui o que pareço. Já fiz parte do grupo do Lorde das Trevas e sei que essa ligação ou qualquer outra com ele não se perde com o tempo, ela se aviva a cada dia aqui dentro - falou apertando o dedo contra o peito. - O que quer que a senhora faça ao lado dele... lhe rogo, esqueça-a e se afaste! Ainda mais agora que ele voltou tão forte!
― Não acho que este assunto lhe diga respeito, senhor Snape.
Ele então se levantou de onde estava sentado e se sentou ao lado dela. A senhora Pryme prendeu a respiração.
― A senhora freqüenta a casa dele, bebe do mesmo vinho dele, mas não faz idéia do quão traiçoeiro ele é! Ele não tem compaixão por ninguém, assim que a senhora lhe der o que ele precisa, ele... ele acabará com a senhora!
― Senhor Snape, sinto-me lisonjeada que se importe com minha pessoa, mas qual o motivo disso? Por que vem à minha casa me advertir?
― Há muitos segredos escondidos nesta casa e com eles as respostas que o Lorde precisa para derrotar seus inimigos, meus amigos!
― Entendo - afirmou ela. - Mas o senhor não prestou atenção no que lhe disse. Eu não tenho relação alguma com Voldemort.
― Está protegendo-o.
― Por que diz isso? - perguntou ela e Snape jurou que a viu murmurar logo após. Sim, ela murmurou. Ele se pôs de pé num sobressalto, um leve sentimento de euforia o atingiu. - O senhor já foi Comensal, senhor Snape?
― Não quero falar sobre meu passado...
― Não existe passado, como o senhor disse anteriormente, para quem foi Comensal de Voldemort!
Snape colocou o copo sobre a mesa do centro e numa pequena reverência se despediu. A senhora Pryme se levantou e o seguiu até a porta.
― Desculpe-me incomodá-la, queria apenas alertá-la do quão pérfido ele pode ser. Eu consegui me livrar dele, mas não acredito que outros consigam..
― Obrigada - respondeu abrindo a porta. - Não pense que compartilho com ele o desejo dessa matança indiscriminada para assustar trouxas e bruxos.
― Então, por que o ajuda? - perguntou Snape segurando a porta por sobre a mão dela, voltando a fechá-la. A senhora Pryme respirou fundo mais uma vez.
― O senhor não pode saber se não foi Comensal... do poder único que ele tem sobre... - ela mordeu o lábio e então confessou -, do poder que tem sobre as pessoas.
― Sinto em ouvir isso - disse Snape abrindo novamente a porta. O vento entrou e balançou os longos cabelos negros da senhora Pryme, despenteando-os. Snape observou-os balançarem rebeldes e então sentiu uma das mãos dela em seu peito.
― Por favor, senhor Snape, fique mais um pouco - murmurou ela. - Há muito tempo que não entra um homem como o senhor nesta casa - e então os olhos dela já não tinham mais aquele ar sinistro, pareciam duas pérolas negras, muito brilhantes. - Não sabe como um homem faz falta por aqui - ela se aproximou lentamente e, apoiando-se nele, o beijou. - Fique - sussurrou por fim.
Snape não teve permissão de suas pernas para sair da casa. Quem mandava nele agora, eram as mãos da senhora Pryme, que o conduziram escadaria acima até um quarto muito bonito e perfumado. Assim que fechou a porta, a senhora Pryme, de costas, deixou seu vestido cair e espiando por sobre o ombro, acariciou seu próprio corpo. Snape se aproximou e abraçou-a, sentindo o corpo quente e macio dela esperando para ser saciado.
Estava quase amanhecendo quando acordaram. Primeiro, a senhora Pryme, que se sentou e ficou a observá-lo por um longo tempo antes que ele despertasse.
― O senhor me surpreende, senhor Snape - murmurou deitando-se sobre ele assim que acordou.
― Severo, por favor - disse ele tocando-a nos lábios.
― Está com fome... Severo? - perguntou ela sorrindo. - Porque eu estou.
A senhora Pryme puxou um barbante trançado e dourado e logo em seguida alguém bateu à porta. Ela se levantou, entreabriu a porta e puxou para dentro do quarto uma bandeja flutuante. Em seguida, voltou a se sentar na cama de frente a Snape.
― Suco, chá, bolinhos, pudim - disse ela, que pegou um doce coberto com chocolate e o abocanhou, observando o que ele ia fazer.
― Você me deixa envergonhado desse jeito! - disse ele olhando para a bandeja.
― Por quê?
― Não estou acostumado com pessoas me observando... dessa forma - e Snape perguntou: - Por que me observa tanto?
― Já lhe disse, você me surpreende, Severo - e ela o tocou no bíceps para sentir o quão forte era. Snape respirou fundo, afastou a bandeja para longe da cama e agarrou a senhora Pryme pelo pescoço com certa força, mas com cuidado e a beijou, deitando-se sobre ela em seguida.

O rendimento dos alunos em Hogwarts havia caído, os professores tinham certeza de que era culpa do pânico que estava assolando suas almas. Até mesmo pronunciar a palavra “trouxa” fazia qualquer um se arrepiar. Ninguém queria se lembrar que tinha ligação com um ou pior, ninguém queria ser um! Contudo, os que mais se preocupavam com isso eram os sonserinos. Eles recusavam-se a sentar perto ou mesmo a estudarem junto com alguém com sangue trouxa. Isso deixava o clima ainda mais instável e desagradável, pois os sonserinos não cansavam de soltar piadinhas de mau gosto sobre as famílias que foram atacadas. No entanto, nenhuma outra brincadeira aterrorizante foi aplicada no castelo. Não que Draco não tenha tentado, mas ele não contava mais com a ajuda de Leon, que havia se afastado de todos e só queria saber de estudar.
― Não sei o que deu naquele idiota! Ele nem fala mais comigo! - rosnava Malfoy para seus dois companheiros Crabbe e Goyle.
― Vai ver ele virou adorador de trouxas.
Mas Draco não acreditou naquilo, era a afirmação mais falsa que já ouvira e iria provar. Naquela mesma noite, véspera de um importante jogo de quadribol, sete sonserinos esgueiraram-se pelos corredores e entraram no dormitório dos novatos. Agarraram Leon Pryme pelo colarinho, tapando-lhe a boca, e o arrastaram para o salão comunal sonserino.
― Agora, me diga, Pryme, por que está agindo estranhamente?
Draco não fazia idéia do medo que Leon sentia pela mãe, mas principalmente respeito, não queria desobedecê-la, no entanto, não morava mais em casa e sim em Hogwarts, e o ano todo! Não poderia deixar simplesmente de falar com Malfoy. Tentando remediar as coisas, Leon inventou uma parte da história.
― Draco, você ainda não se tocou? Eu estou disfarçando. Ultimamente exagerei por, se você não notou, Snape e Dumbledore estão na minha cola, e qualquer passo em falso que eu der vão correndo chamar minha mãe... e por mais que eu goste de vocês não quero ela outra vez aqui em Hogwarts!
Draco soltou uma alta gargalhada e abraçou o amigo mais novo. Leon suspirou aliviado quando Draco disse que eles poderiam jogar aquele joguinho de esconde-esconde com os diretores, seria divertido afinal.

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