A primeira lição

A primeira lição



Ao longo do corredor principal, que distribuía as salas nas masmorras, estendia-se uma fila formada pelos alunos sonserinos, garotos e garotas, que se mantinham quietos enquanto Snape ia e vinha encarando-os e pensando sem nada falar. Tentava descobrir apenas pelo olhar quem eram os organizadores da brincadeira que aterrorizara a escola.
― Tenho certeza absoluta que veio de algum de vocês - censurava Snape. - O tempo vai dizer quem! Ah, vai! E então...
― Professor Snape, o senhor queria me ver?
― Sim, Filch - respondeu Snape soltando um sorriso sarcástico ao zelador. -Tenho uma pequena tarefa para você. - Os olhos de Filch reviraram nas órbitas e ele esfregou as mãos. - Está na hora do meu almoço - disse Snape -, quero que fique de olho neles e se algum se mexer... ZINK! - foi o barulho de uma longa varinha trançada de madeira e couro, que na ponta tinha uns fiapos soltos.
― Com todo prazer, professor! - riu Filch passando a língua nos lábios e acariciando a varinha com gosto.
― Vejo-o daqui duas horas! - retrucou Snape, que girou nos calcanhares e saiu assobiando, como se nada estivesse acontecendo ali.
― Fala para ele, Malfoy! - sussurrou alguém.
― Cala a boca, idiota! - murmurou Draco nervoso. - Ou quebro seus dentes!
― QUEM FALOU? - gritou o zelador.
Todos que entravam no salão principal para o almoço se perguntavam onde estariam os alunos da Sonserina, pois sua mesa estava completamente vazia.
― Ainda lá, Severo.
― Sim, Dumbledore.
― Tem certeza que alguém irá se entregar? - perguntou o diretor num tom desaprovador. Snape olhou para a comida em seu prato e depois para os alunos presentes e, irônico, concluiu:
― Sem qualquer sombra de dúvida - e Snape começou a comer.
Quase duas horas depois, o professor de Poções reapareceu no corredor que levavam às masmorras. Havia alguns alunos meio tortos para frente e alguns encostados na parede e muitos se lamuriando e chorando.
― Mas que bagunça é essa? - gritou Snape. - Quem é que disse que poderiam escorar-se pelas paredes?
― Professor - era uma menina chorando -, nós não fizemos nada! Os meninos é que andam se encontrando na sala do quinto ano!
― Cala a boca, dedo-duro! - gritou alguém no final da fila.
― Garotas... para seus quartos! E NENHUMA PALAVRA SOBRE O QUE ACONTECEU AQUI! - ordenou Snape e andou até o final da fila, parando em frente a Malfoy, Crabbe e Goyle, mas foi a Leon que lançou o olhar mortal. - Disse algo, senhor Pryme? - Leon encarou o professor como se fosse seu maior inimigo, o menino respirava descompassado, mas tinha nos olhos a mesma expressão que a mãe, olhos ameaçadores. Então, vocês se encontravam secretamente? - indagou Snape se aproximando de cada um deles. - Nem tanto, eu diria, se as garotas os viram! Falem logo! Eu sei que foram vocês, só quero ouvir de suas bocas!
Mas nenhum deles proferiu uma palavra. Snape arrastou uma cadeira até o corredor e se sentou, cruzando as pernas e os braços e recostando a cabeça na parede.
― Eu sou paciente - e fechou os olhos. Draco cutucou Leon e este o empurrou.
― Meu pai mataria Snape por isso! - disse Draco apenas mexendo os lábios. Leon balançou o dedo negativamente e voltaram a ficar imóveis.
Ficaram ali de pé até as cinco horas da tarde, e pelo jeito que iam as coisas, ficariam ali por muito mais do que isso, porém, Dumbledore apareceu caminhando pelo corredor.
― Agora já chega, Severo! - disse Dumbledore baixinho, no ouvido do professor.
― Eles...
― Não, Severo. Se forem os culpados tiveram o dia inteiro para pensar no assunto - advertiu Dumbledore e continuou, agora falando com os alunos: - E se ainda acham que Hogwarts deva ser apenas formada por sangues puros saberemos em breve. Mas devo alertá-los, garotos, continuarei sendo o diretor e se tiver que mandar alunos embora pelos simples fato de terem pais trouxas, esta escola nunca mais reabrirá! - Dumbledore pigarreou, olhou para cada um deles e se retirou.
― Para seus quartos! Troquem-se e vão jantar! - berrou Snape.

A semana se passou calma em Hogwarts, mas muito agitada para os bruxos casados com trouxas. Mais três pessoas foram atacadas, três pais, desta vez e outros tantos ficaram feridos. Mas o Ministério não se mexia, não tomava nenhuma atitude, continuava desacreditando a população bruxa berrando a quem quisesse ouvir que Dumbledore estava gagá, e ligando os ataques a bruxos e trouxas a Sirius Black - pobre coitado, enfurnado numa casa amaldiçoada, que nem permissão para sair tinha.
Dumbledore esperava por mais ataques, sabia que Voldemort não iria se expor tanto e continuava com aquela brincadeira apenas para infernizar a vida de Fugde e do diretor adorador de trouxas. Os tais ataques eram imprevisíveis e mesmo descobrindo onde vinham, o reforço chegava tarde demais porque os aliados de Dumbledore não eram tão numerosos quanto os seguidores de Voldemort. Os ataques dos Comensais eram rápidos e limpos, ninguém os identificava, pois pareciam pessoas normais, vestiam roupas usuais ao invés das velhas capas e dos impenetráveis capuzes pretos.

Na manhã da segunda-feira, dois dias depois ao agitado dia em Hogwarts, Draco Malfoy voltava ao salão comunal sonserino aos risinhos.
― Meu pai acabou de sair daqui! - disse Draco - Ele escutou o blá-blá-blá de Dumbledore e me deu um sermão na frente do velhote, mas assim que ficamos sozinhos, ele me deu os parabéns - sussurrou rindo a Leon.
― O meu pai também veio! - disse Crabbe. E tantos outros garotos confirmaram a vinda de seus pais.
― O que foi, Pryme? - perguntou Draco ao ver uma expressão de angústia no rosto de Leon.
― Que bom que você não tem pai! - riu Goyle. Mas o grupinho se calou assim que um vulto assombroso parou diante deles com um sorriso muito macabro.
― Senhor Pryme? Sua mãe veio vê-lo! - era a voz arrastada de Snape e ela soava muito feliz. Os olhos de Leon estavam tão arregalados que assustaram seus amigos. Leon caminhou até a sala onde estava sua mãe, como quem ia para a forca ao lado do carrasco, que ali era Snape.
― Entre, Leon - convidou Dumbledore. O garoto parou à porta com os olhos atentos e a respiração pesada. Viu o diretor e viu uma sombra longilínea a um canto da sala. Sentiu Snape empurrando-o para dentro e depois fechando a porta atrás deles. O professor o conduziu até uma das três cadeiras em frente à mesa onde estava Dumbledore. Snape sentou à direita de Leon.
― Senhora Pryme, por favor - Dumbledore indicou a terceira cadeira.
― Não, obrigada. É melhor não me sentar ao lado dele por um algum tempo! - disse ela num tom firme, olhando para fora da janela.
― Mãe... - sussurrou Leon. A senhora Pryme virou lentamente o corpo todo de uma só vez e não se podia ver sua expressão, o sol que entrava pela janela atrapalhava.
― Tem certeza de que sabe com o que está querendo lidar, menino? - repreendeu com calma. O garoto balbuciou algo, mas foi interrompido. - Se tivesse consciência do como é andar amarrado a um ser vil como Voldemort, não estaria fazendo papel de bobo.
― Mas... eu...
― Sim, se você continuar assim sairá igual a seu pai! No início um bom homem, mas o tempo mostrou o quão fraco ele era!
― Senhora Pryme, acalme-se! - pediu Dumbledore. - Tenho certeza que foi tudo coincidência e que os garotos apenas quiseram assustar...
― Com feitiços imperdoáveis? Duvido muito! Por que é que não me mata logo com o Avada? - disse a senhora Pryme repentinamente apoiando-se sobre os braços da cadeira em que estava o filho. Ele se recostou o máximo que pôde no encosto. - Ao invés de me fazer vir até aqui, perante seus professores... e me envergonhar dessa forma?
― Des... desculpe - balbuciou com os olhos cheios de água. Ela não se comoveu, se endireitou, recompondo-se, balançou os longos cabelos e fechou os olhos.
― Será que poderiam me deixar a sós com meu filho, por favor?
Dumbledore se levantou e saiu logo atrás de Snape, este hesitante, deixou a porta entreaberta caso precisasse entrar na sala depressa.
― Leon - disse a senhora Pryme abaixando em frente a ele -, eu lhe contei a verdade sobre seu pai porque quis que soubesse o que ele era! Não quis que você ouvisse pelos outros. Deixei que você lesse todas aquelas... anotações macabras dele para que você não seguisse o mesmo caminho. Mas, filho, existe tanta coisa que você não sabe, que você não entenderia. Se tudo se resumisse à morte seria tão fácil - e ela baixou os olhos, mostrando certo alívio. - Matar é fácil! Acabar tudo é muito fácil, mas não é assim que Vold... que ele trabalha. Todas aquelas mães e pais que foram feridos há poucos dias... ninguém faz idéia do que é que elas passaram - e a senhora Pryme se levantou e ficou de costas. - Gostaria que eu fosse uma delas?
― Não! - exclamou o garoto pálido e logo soltou: - Desculpe, mãe!
― Afaste-se do menino Malfoy. Não importa o quanto ele significa para você!
― Eu vou ser excluído - murmurou ele.
― Mas você ainda estará estudando e estará se mantendo fora de problemas.
A senhora Pryme mexia freneticamente os dedos, estava visivelmente nervosa.
― Em seis anos você sairá de Hogwarts como um homem. Pode seguir o exemplo de seu diretor ou então de seu pai. Você é quem decide. Mas o segundo me faria morrer de desgosto - ao dizer isso ela tocou levemente o rosto do filho e pediu que ele saísse da sala. Leon passou por Snape e Dumbledore sem levantar a cabeça e foi direto para seu quarto. - Têm algo mais a discutir comigo, senhores? - perguntou a senhora Pryme de dentro da sala.
― Não, senhora Pryme - respondeu Dumbledore abrindo a porta e estendendo a mão para despedir-se dela.

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