Marcando com a caveira e a ser

Marcando com a caveira e a ser



― Mas o que está acontecendo? - era uma voz sibilante e ferina que furiosa tentava descobrir o porquê de nenhum de seus comensais ter chego ainda.
― Desculpe-me, milorde - sussurrou uma mulher -, tomei a liberdade de lançar um feitiço sobre esta propriedade, um feitiço de confusão da mente e, a não ser que o senhor ordene, não posso reverter.
― Minha cara, senhora Pryme, eu sabia que me seria preciosa - e se aproximou dela. A mulher, temerosa pela atenção de Voldemort, deu alguns passos para trás, mas esbarrou na parede.
― Vejo que sua lealdade é igual à de seu... hum... marido! Não importa a causa, se está aliada a alguém é a essa pessoa que servirá sempre - e ele sorriu e acariciou o pescoço dela. - Você merece um presente.
A jovem mulher continuava apreensiva, ainda mais agora, presa a parede pelos braços de Voldemort. No entanto, ele não lhe fez mal algum, apenas acariciou sua testa e sorriu, e em seguida chamou alguém.
― Milorde - balbuciou um homem seguido por uma mulher. Os olhos da jovem se encheram de lágrimas ao ver os dois e ela caiu de joelhos aos pés deles.
― Vou deixá-los a sós, Lestrange - sibilou Voldemort -, têm algum tempo ainda antes de todo chegarem.
Voldemort saiu da sala, mas continuou a observá-los. A senhora Pryme se levantou e foi abraçada pela mulher a sua frente, sua mãe, que estivera presa em Azkaban juntamente com o marido durante 15 anos. O senhor Lestrange tinha o rosto fechado, parecia não mais poder sorrir, mas olhava para a mulher e para a filha com o coração resplandecente por estarem reunidos novamente.
Enquanto isso, muitos comensais chegavam irritadiços à casa de seu mestre, ralhando e resmungando por terem sido confundidos sobre o lugar onde a casa se encontrava. Outros apenas estavam confusos. Não demorou muito para que todos os seguidores de Voldemort estivessem no local, e então, o Lorde tomou a palavra:
― Meus caros comensais, amanhã começaremos nossa luta! - disse Voldemort com intensidade. - Quero que descansem hoje e se preparem para a quinta hora de amanhã, onde cada um executará as instruções que receber através de uma coruja. Quero que cumpram a tarefa e logo após venham a mim! - Houve muxoxos, mas ninguém levantou a voz e todos foram dispensados.

Não era apenas na presença de Voldemort que as coisas aconteciam. Em Hogwarts, muitas cabeças matutavam.
― Meu pai disse que tudo começará amanhã - murmurava Draco. - Se temos que agir, a hora é essa! - Os garotos sonserinos estavam todos no dormitório do quinto ano, sentados por todos os cantos.
― Malfoy tem toda razão. Se agirmos agora, acharão que alguém de fora fez algo! - incentivou Leon. - Aqui estão as instruções. Todos devem segui-las. Aquele que não seguir terá a mesma morte que os trouxas! - afirmou de forma mórbida. Draco e Leon se olharam e balançaram as cabeças concordando.
Um grito ensurdecedor fez com que toda Hogwarts se levantasse muito cedo naquela manhã de domingo. Entre muita confusão, muita correria, os alunos que acordavam desciam curiosos pelas escadarias, olharam para baixo. Lá estavam os professores e Madame Pomfrey, a enfermeira, estáticos, apontando e olhando para cima. Então os alunos voltaram seus olhares para cima também e tampando a clarabóia do teto, pairando no ar, estava a Marca Negra, o símbolo de Voldemort fora conjurado. Mais gritos foram ouvidos e tantos outros alunos começaram a correr desesperados, alguns tropeçavam, outros caíam e eram pisoteados e dois se jogaram escadaria abaixo, estatelando-se no chão lá embaixo, há mais de quinze metros de altura. Era uma loucura, nada parecia real. Professores levavam alunos feridos encontrados pelos corredores e escadarias da escola para a enfermaria; monitores tentavam acalmar outros alunos fazendo com que voltassem as suas casas, mas eram impedidos por vezes por outros alunos que, muito mais desesperados e assustados, tentavam com violência passar por cima de tudo para saírem do castelo, na tentativa de se afastar ao máximo daquele símbolo diabólico.
Assim que os professores transportaram todos os feridos, partiram para cima do grupo de alunos que ainda estava desesperado. Eles estavam tão fora de si que usavam suas varinhas para se defender, mas não reconheciam ninguém, nem os professores; gritavam feitiços e jogavam-nos uns nos outros, sem fazerem a mínima distinção entre o que os ameaçava e quem tentavam auxiliá-los. Foi preciso que os professores utilizassem feitiços como o Expelliarmus, o Impedimenta, e até o Estupefaça para pará-los. No final, todos estes alunos foram levados para a enfermaria, onde Madame Pomfrey descobriu que todos estavam sob um poderoso feitiço: a maldição Imperio e que todos eram meio trouxas, meio bruxos.
Naquela noite, no salão principal, jantavam pouco mais da metade dos alunos de Hogwarts, e tudo era silêncio, até Dumbledore não se pronunciou, pois estava bastante apreensivo e não sabia explicar com certeza o que acontecera. Mas depois do jantar, ele se reuniu com os professores na sala de troféus.
― Dez famílias foram atacadas. Dez famílias com pais bruxos! - bradou Dumbledore atirando o Profeta Diário sobre a mesa, que rodopiou e parou bem em frente ao professor de Feitiços, Flitwick - Foram dez mães, nenhuma delas sofreu algo grave - ele se sentou -, mas vejam de quem é a culpa.
A manchete do jornal alertava para o pânico causado em uma reunião de amigas na casa de uma família bruxa e acusava Sirius Black, entre outros comensais que haviam fugido de Azkaban, como sendo o suspeito. Porém, nenhuma famílias ou pessoas atacadas confirmou nem negou algo, eram deduções do próprio jornalista, como argumentou Dumbledore.
― Alvo, acha que o que aconteceu em Hogwarts tem a mão de Voldemort? - perguntou a diretora da casa Grifinória, Minerva McGonagall, que também era professora de Transfiguração. - A conjuração da marca, o feitiço imperdoável, pelos céus!
― Não acredito que acharemos o culpado antes que este incidente se espalhe, Minerva... e depois de saber que mães foram atacadas, ninguém guardará segredo de um feitiço que já está desfeito - disse Dumbledore cabisbaixo.
― Não há como negar que o que aconteceu aqui foi provocado por alguém de dentro de Hogwarts - afirmou Snape. - Faço idéia de quem poderia tê-lo planejado!
― Não nos precipitemos, Severo. Como sempre as conseqüências não foram pensadas quando executaram esse plano - murmurou Dumbledore.
Snape pediu licença e levantou. Saiu nervoso, mas não foi muito longe, encostou-se na parede pouco mais adiante da sala onde estavam reunidos e levou as mãos à cabeça.
― Não se martirize, Severo! - disse o diretor, que o havia seguido.
― Dumbledore - murmurou Snape -, ele não me deu tal trabalho. Nem fazia idéia de que isso iria acontecer! O ataque...
― Não é sua culpa.
― Ele deve estar desconfiado. Deve...
― Ele precisa de todos os aliados possíveis, Severo. Você teve que vigiar Fugde.
― Grande trabalho... até Pirraça faria melhor! - rosnou Snape.
― Acalme-se. Não faça nada suspeito e aproxime-se de Voldemort. Chegará a hora em que ele mesmo se entregará! Agora volte a sua sala antes que Dolores o veja - e ao terminar a frase, Dumbledore apertou o ombro de Snape e o deixou sozinho, voltando à sala dos troféus. Snape seguiu para as masmorras, muito furioso, o chão parecia tremer por onde passava. Os alunos notaram isso porque o professor seguiu sem olhar para nada, com a boca muito crispada, pisando forte, dava a impressão de que sua cara era deformada. Se alguém ficasse na frente dele certamente seria derrubado porque o professor não tinha jeito de quem fosse desviar do caminho.
Um súbito vento entrou no salão comunal sonserino, com ele, um vulto negro, Snape, que caminhou entre os alunos sentados por toda sala, observando-os.
― QUERO TODOS OS SONSERINOS AQUI! - gritou Snape com todas as forças.
Foi ouvido imediatamente, porque instantes depois, o salão comunal polvilhava em jovens. Snape tinha os braços na cintura, os olhos atentos a qualquer movimento e as sobrancelhas comprimidas, demonstrando toda irritação que sentia.
― Quero parabenizar os organizadores desse... dessa peça que foi pregada hoje em mim... SIM! - bradou num berro que fez o local estremecer, mas logo se acalmou. - Porque quando digo EU, me refiro a todos os professores. Vocês acabaram de sentenciar sua ida mais cedo para casa!
― Como? - perguntaram alguns alunos ao mesmo tempo.
― Sei que nenhum de vocês tem qualquer preocupação em relação às famílias que estão lá fora, pois são de sangue puro e não correm perigo! - continuou Snape, agora andando pela sala. - Esta manhã, dez famílias formadas por pais bruxos e mães trouxas foram atacadas pelos comensais de Voldemort. E todas as mães estão feridas! - Uma balbúrdia geral foi ouvida. Draco e Leon se entreolharam. - E não satisfeitos com isso, vocês bombardeiam a escola com maldições imperdoáveis e com a conjuração de uma coisa da qual nem fazem idéia do que seja... A MARCA DO LORDE DAS TREVAS! - berrou Snape. Muitos alunos taparam os ouvidos e tremeram ao ouvir aquela denominação. - Tenho certeza de que a Alta Inquisitora vai adorar demitir o professor responsável pela casa que fez esse... esse... inominável espetáculo acontecer! Lastimo, não pelo meu emprego, mas pelo professor porcaria que irão colocar no meu lugar! Idiotas! Se é que não perderão seus estudos em um ano!
E dizendo isso, Snape virou-se repentinamente e saiu do salão comunal.
― Voldemort começou a limpar a casa! - bradou Draco em voz alta - Logo seremos somente nós, sangues puros!
― Cala a boca Malfoy! - gritou uma menina.
― Como pode ser tão insensível! - gritou outra.
― Malfoy, ouviu o que o Snape disse? Perderemos um ano! - exclamou Crabbe.
― Não vai fazer diferença alguma para você, seu palerma! - riu Leon. - E o que importa? - exclamou ele em seguida. - Um ano... dois... Mas depois disso, tudo voltará ao normal! O que sempre foi dos bruxos será somente deles outra vez! Chega de trouxas! Chega de idiotas sabe-tudo!
A maioria dos sonserinos concordava com Leon, queriam uma Hogwarts somente de bruxos de sangue puro, os mestiços que criassem sua própria escola! Oras! Aquilo foi um prato cheio para a Alta Inquisitora, que não sabia se sorria ou saltava tamanha sua alegria. Agora, mais do que nunca, o que Fugde queria estava prestes a acontecer: Dumbledore teria que ser demitido por deixar uma coisa dessas acontecer.

A Ordem não parava de ir e vir da casa dos Black. Todos estavam ouriçados, preocupados com o caminho que os acontecimentos tomavam. Até mesmo Dumbledore estava apreensivo, apesar de ter apresentado ao ministro uma desculpa para o que havia ocorrido na escola, ainda havia a Alta Inquisitora que escavava até a alma, sem piedade, de cada aluno suspeito, tentando encontrar ou mesmo inventar um culpado.

Naquela noite, Dumbledore dava as instruções aos seus seguidores na sede da Ordem, enquanto um deles se mantinha quieto e absorto a tudo ao seu redor, como se não fizesse parte daquilo. Bem, de certa forma, não fazia mesmo, o pensamento de Black voava além das paredes mofadas da velha casa de seus pais, que lhe traziam sempre más recordações. Pensava em Hanna, a misteriosa e encantadora mulher que conheceram em uma das suas escapadelas noturnas. Encontravam-se quase diariamente e até tinham um lugar específico para isso: a casa dela, que ele realmente não sabia onde ficava, porque chegava lá através da chave de portal. Mas não estava interessado em saber, queria apenas estar com ela, conversar com ela sobre banalidades, tocá-la.
Fazia mais de dois meses que se encontravam e ele ainda não sabia o nome completo dela. Não sentia vontade alguma em perguntar. Não mostrava que sentia, pois queria muito saber, mas como ela também não perguntava nada sobre sua vida, ele não estava disposto a estragar tudo o que construíra. Black se sentia um tanto envergonhado em iniciar aquele assunto porque não contara a ela muitas verdades, mentira sobre seu nome e sobre o que fazia. Havia dito que trabalhava no Ministério, com assuntos sigilosos e como explicação para não falar sobre o trabalho, disse a ela que não gostava de misturar trabalho e vida pessoal. Hanna não se manifestou quanto a isso. Pareceu indiferente, mas Black sentia que ela estava gostando de ficar com ele. Os dois se davam bem. Conversavam e riam muito. Passeavam pelos arredores da casa dela, que era cheio de árvores e flores. Às vezes, ele se perdia no tempo e esquecia que tinha de estar em sua casa esperando pelos integrantes da Ordem de Fênix.
E lá estava ele, sentado mais uma vez em torno da longa e antiga mesa de madeira de lei, presenciando uma importantíssima reunião sobre o destino de Dumbledore, ao qual nenhuma assistência poderia dar. Então, por que não pensar nela? No que mais poderia pensar? Não podia sair para nada. Mas pensar... Ninguém poderia impedi-lo de fazer isso! A única coisa que fazia era ralhar com Molly, a senhora Weasley, também integrante da Ordem, que passava muito tempo na casa ajudando. Ela o irritava constantemente, não tinham gênios muito diferentes e talvez isso justificasse o oscilante mau humor entre os dois. Molly estava sempre pedindo que ele fizesse coisas banais como limpar uma cortina infestada de fadinhas ou se livrar de Monstro, o elfo doméstico que trabalhava para a família há séculos e que, obviamente, estava meio biruta por ter passado tanto tempo sozinho naquela casa. Black odiava aquele lugar, quanto mais ficar enclausurado lá e trabalhar para que tudo ficasse mais aceitável. Era só isso, só isso que ele podia fazer?
― Você concorda, Sirius? - disse Remo Lupin, amigo de Black desde a escola, que também fora professor em Hogwarts há alguns anos. Black estava em transe.
― Sirius? - chamaram o senhor Weasley e Olho-Tonto Moody, ex-auror do Ministério e um homem inteligentíssimo, mas muito preocupado, alucinado, com tudo o que acontecia ao redor.
― SIRIUS! - gritou a senhora Weasley fazendo com que ele olhasse para frente e notasse que todos o observavam, mas... CATAPLAN! A cadeira de Black caiu e ele foi junto com ela.
― O que? - resmungou Black massageando o cocuruto e sentando-se novamente com os olhos ferozes em Molly.
― Você concorda? - perguntou ela irônica, abrindo os braços.
― E por que querem que eu concorde? O que eu posso fazer? No que posso interferir? É claro que concordo, droga! - disse nervoso, se levantando e saindo da cozinha batendo a porta.

O crepitar da lareira em frente ao Lorde das Trevas se tornava aos poucos menos audível. Ele estava adormecido e não se dera conta de que o frio invadia a grande sala.
― Rabicho, você não está cuidando do mestre direito! - sussurrou alguém.
― Ãh?! - era Rabicho sonolento levantando-se do chão. – Senhora, me desculpe...
― Fique quieto e vá preparar algo para beber! - murmurou ela colocando lenha na lareira. Então se virou e ficou observando aquele homem dormir. Ele já não era o mesmo. Não era nada parecido com o homem de dezessete anos atrás.
― O que faz aqui?
― Mi... milorde, que susto me deu! - murmurou a mulher. - Achei que estivesse dormindo.
― E estava, mas Rabicho ronca como um porco! - disse sentando. - E então, o que faz aqui?
― Bem...
― Sentia-se sozinha, suponho!
― Sim - respondeu ela.
― A solidão sempre foi minha melhor amiga! Enquanto estive só, ninguém pôde me fazer mal - ele então ajeitou o cobertor abrindo espaço e indicando-o para que a mulher se sentasse ali. Ela o fez lentamente e cruzou as mãos sobre as pernas. - Está com medo? - perguntou Voldemort.
― Eu... - e voltou seu olhar longe dele.
― Não sou o mesmo. Depois dos Potter me tornei isto que está vendo! Sei como se lembra de mim. Era uma garotinha quando me conheceu. Eu costumava gostar das crianças, afinal, seriam minhas futuras seguidoras... - ele se deu conta do devaneio. - Volte para casa. Descanse! Logo terei um serviço para você! - Voldemort se levantou e deixou a sala subindo as escadas.

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