Vamos ver?



Um calor insuportável queimava o braço de Snape, era tão insuportável que tinha vontade de amputá-lo, mas sabia que não poderia fazê-lo, sabia que era preciso continuar com o plano que Dumbledore criara, portanto levantou, trocou de vestes e saiu do castelo rumando para a saída de Hogwarts. Era uma fria madrugada de janeiro, o inverno estava rígido naquele ano, até mesmo pisar na neve com grossas botas parecia congelar a alma. Muitas pessoas chegavam a um grande chalé no meio da mata, todas encapuzadas, assim não se reconheceriam. Mas uma delas era Snape e ele sabia por que todas estavam ali. Por causa do calor em seu braço, do calor sobre a marca que havia nele, que quando era tocado pelo Lorde das Trevas, o autor de tal marca, todos que a possuíam, todos os súditos de Voldemort, deveriam vir ao seu encontro, todos aqueles a quem ele nomeara seu Comensal da Morte.
O lugar era muito sombrio, pareceria abandonado se não fosse pela luz que saía das pequenas janelas quadriculadas. Lá dentro havia uma grande sala onde as pessoas se aglomeravam a espera do mestre. Pequenos e grotescos elfos serviam chá e petiscos, mas quase ninguém os aceitava. Na verdade, era estranho tomar chá àquela hora, a não ser por uma pessoa que sentara diante da lareira, cuja identidade ninguém sabia, mas Snape pôde perceber, pelas pernas, que era uma mulher. E parecia a pessoa mais calma, pois era a única sentada, de pernas cruzadas e bebendo o dito chá.
― Meus Comensais! Aproximem-se! - era uma voz singular e mórbida que se ouvia. - Bem-vindos! - e todos se aproximaram. - Acredito que devam estar muito surpresos por me verem tão bem, não? Muitos aqui não acreditaram que eu voltaria! Muitos aqui me traíram... muitos aqui me renegaram - e ele respirou fundo -, mas hoje não é um dia de vingança! Hoje é dia de união, dia no qual todos os que se unirem a mim serão lembrados! Hoje, iniciarei minha caminhada contra aqueles que não percebem o quanto os trouxas podem nos destruir... Sim, porque eles não são como nós! Não são unidos! Nem obedecem às regras feitas por eles mesmos. Impregnam a terra com seus sórdidos atos, devastam a cabeça das crianças com suas manipulações e acabam com seus semelhantes de pior forma possível! Eu proponho que nos unamos! Os que estão comigo há tempos - disse ele estendendo a mão para um grupo de pessoas a sua frente -, e os que acabam de chegar! - e ele apontou para a mulher que estava sentada no sofá. Então, Voldemort bateu palmas e uma mesa comprida e estreita, que havia ali, se encheu de copos com vinho.
― Tome cada um de vocês um copo e bebam em meu nome, corroborando nossa caminhada ao poder absoluto do mundo bruxo pelos bruxos!
Porém, nenhum dos presentes se mexeu. Os olhos de Voldemort se tornaram mais rubros e seus dedos estalaram quando ele cerrou os punhos.
― Ora vamos! Acham que o milorde envenenaria a bebida? - perguntou uma mulher que se aproximou, pegou um copo e bebeu todo o seu conteúdo de uma vez, era a mulher que estava sentada no sofá defronte a lareira. - Que morte mais desprezível para se vangloriar esta, não, milorde?
Voldemort soltou uma gargalhada estridente e em seguida tomou um copo e bebeu, e o resto dos presentes fez o mesmo, rindo de sua hesitação.

Mesmo com as ameaças de Voldemort sobre as famílias trouxas que tinham filhos estudando em Hogwarts, as aulas continuavam. Muitos pais tentavam tirar seus filhos da escola, mas Dumbledore sempre os convencia a não fazer dizendo que as crianças estariam protegidas em Hogwarts. O diretor não acreditava que Voldemort sairia pelo mundo afora matando todos os trouxas. Esperava mais daquela tudo descobrir o máximo que podia sobre Voldemort e também buscando mais pessoas para se unirem a eles.
Black era o único que participava das reuniões da Ordem e nada podia fazer, por causa de sua condição de foragido, contudo ele continuava a ir ao tal pub todas as noites na esperança de encontrar a misteriosa mulher. Quando a encontrou, cinco dias depois, não a esperou no bar, esperou do lado de fora, uns cem metros adiante, debaixo de um poste cuja luz estava queimada. Não demorou muito para a mulher aparecer e assim que passou por ele, sem lhe dar atenção, Black deu início a sua “perseguição”, que não demorou mais do que alguns minutos.
― O que é que você quer? - perguntou a mulher fazendo voz grossa. Coberta de panos daquela forma, o corpo dela realmente parecia ao de um homem muito musculoso.
― Sou... sou eu! O homem sem dinheiro... o do táxi - gaguejou ele envergonhado, que foi medido por minutos.
― Vamos andar! - disse ela rispidamente. Fizeram isso durante pouco mais de cinco minutos e então, perto de um jardim, ela tirou os panos que cobriam a cabeça, aproximando-se de Black. Observou-o atentamente sem falar.
― Você está... muito... diferente! - foi a vez dela em gaguejar. Parecia admirada.
― Tome! - disse ele estendendo notas de dinheiro, as mesmas que ela lhe entregara para pegar o táxi há algumas noites atrás. A mulher o encarou por mais algum tempo antes de pegar o dinheiro. Black sentiu, ao tocar sem querer sua mão, que ela tremia quando pegou o dinheiro. Será que ela o havia reconhecido. Por que, diabos, ele foi tirar a barba e pentear os cabelos?
― Fica melhor assim - murmurou ela fingindo contar o dinheiro.
― Assim? Assim... como?
― Ora, de banho tomado! - respondeu rindo. - Vai me acompanhar novamente até em casa?
Black, que tinha se divertido com a risada dela, arregalou os olhos e fechou a boca após ouvir a segunda frase.
― Claro! Se... quiser - ele emendou, tentando consertar a frase que saiu muito rápido da boca.
― Qual mulher não gostaria de uma companhia numa madrugada para voltar para casa? Ainda mais numa cidade como esta?
Black sorriu.
― Eu me chamo Hanna! - disse ela andando e estendendo a mão. Black parou e a cumprimentou.
― É um imenso prazer conhecê-la, Hanna! Eu sou Tiago!
Os dois sorriram e continuaram a andar. Conversaram sobre o tempo e sobre Londres. Black não pediu nada de pessoal, não queria dar a entender que ela poderia lhe perguntar sobre a vida pessoal. Não tinha muitas esperanças no que sua mente esperava que acontecesse, porque talvez a situação deles não fosse muito longe, porém, era bom conversar com alguém diferente para variar e se fosse só para conversar, mesmo assim, continuaria a encontrá-la. Chegaram a um prédio abandonado, cuja entrada era ladeada por duas largas e altas colunas fechadas por grandes portões enferrujados presos por uma corrente. Ela se despediu, girou a varinha e os portões se abriram.
― Tem certeza de que não tem medo?
― Venho fazendo isso há tempos, Tiago! - afirmou ela com convicção. - Nos vemos novamente, não?
― Sim - respondeu Black um pouco desapontado, o brilho em seus olhos quase desaparecendo.
― Se quiser me acompanhar por mais alguns minutos - disse ela, voltando pelos portões, como se adivinhasse o pensamento dele -, mas não vai haver táxis depois!
Black correu a subir e adentrar os portões, ela os fechou magicamente e ladearam uma encosta na escuridão.
― É aqui - respondeu ela, olhando para uma árvore.
― Aqui? - perguntou olhando para os lados, mas então viu uma velha garrafa de conhaque jogada no chão. - Chave de portal?
― É - respondeu com o largo sorriso. - Obrigada pela companhia.
Ele queria dar várias desculpas, queria que ela o ouvisse, não queria deixá-la ir, mas nada que pensasse soava razoável para fazê-la ficar ali por mais um minuto.
― Bem - disse ela, tentando se despedir.
― Gostaria-de-ver-você-de-novo! - falou atropelando as palavras. Ela riu, mas tinha entendido.
― Então - disse ela, ficando na ponta dos pés, porque ele era realmente alto, beijou-o na bochecha e disse: - Nos vemos depois de amanhã!

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