A noite dos Três Conflitos



Aquela noite ficaria conhecida como a Noite dos Três Conflitos. Embora muitos dos bruxos envolvidos nas batalhas não tenham tido a chance de ver seus nomes nos livros de História da Magia.
Enquanto cinco jovens bruxos batalhavam para recuperar a relíquia de Hufflepuff, bruxos muito mais experientes tentavam conter uma invasão sem igual de inferis no castelo de Hogwarts.
A frente de batalha estava formada pelo gigante Grope, sua namorada Freyja e o meio-gigante Hagrid. Enfrentar inferis não era tão simples. Não é possível matar esses seres. Os inferis já são, por sua natureza, mortos.
Toda a área do castelo estava iluminada por grandes tochas, seguindo as instruções que Dumbledore deu ao guarda-caça. Mas nem isso intimidava o exército de mortos do Lorde das Trevas.
Quando um grupo particularmente grande conseguiu furar a barreira dos gigantes, a luta realmente começou. Os feitiços cortavam o ar, apesar da única força capaz de reter os atacantes ser a magia Incendiu.
Outros feitiços apenas retardavam os inferis, enquanto o grupo de professores de Hogwarts reforçava a segurança das portas e janelas. McGonagal liderava o grupo formado pelo professor Flitwick, professora Sprout, Madame Hooch e pela professora Vector.
Atendendo a carta deixada por Rony, o Sr° Weasley convocou todos os membros da Ordem da Fênix e os que ainda não eram da Ordem, mas haviam aceitado lutar contra as forças do Lorde das Trevas para comparecerem ao castelo naquela noite.
Formavam um grupo de quase 150 bruxos, contra 500 inferis e mais 47 comensais. Dentre eles, boa parte era composta pelas crias de Greyback.
A lua cheia brilhava no céu, emprestando à batalha uma aura prateada e épica. Os lupinos, impelidos pela estranha força que o satélite lhes dava, avançavam. Mas não contavam com o fato de Lupin ter conseguido reunir um pequeno exército de lobisomens.
Os poucos que não acreditaram na promessa de cura oferecida por Voldemort aceitaram de pronto lutar contra os outros amaldiçoados. Corriam entre si, desferindo golpes com as patas e os maxilares.
Era uma luta dupla que travavam. Precisavam manter seus níveis de consciência para não se abalarem com o cheiro de sangue ou os uivos dos outros de sua espécie. E conseguir esse equilíbrio era uma luta interna e ainda mais difícil que a que acontecia nos terrenos da escola.
Greyback era sem dúvida o mais feroz combatente, atacando com varinha, patas e dentes tudo o que encontrasse. Não era a toa que Voldemort confiava tanto nele. Sabia que Greyback não era um bruxo sedento por poder e por isso não representava nenhuma ameaça à sua soberania como Senhor das Forças das Trevas. Fenrir era, na verdade, sedento por sangue e destruição. O melhor braço direito que um bruxo das trevas pode ter!
Todos os aurores compareceram em peso à batalha, e quando reconheciam os colegas do Ministério que haviam decidido apoiar Voldemort, tratavam de ser implacáveis. Usavam os piores feitiços que conheciam, dando cabo de muitos comensais.
Ainda assim, era visível a superioridade numérica do exército de Voldemort. Os 500 inferis mostravam suas habilidades com as varinhas e já haviam conseguido abrir uma das portas da lateral do castelo.
Muitos já estavam correndo pelos corredores, sem saber exatamente onde procurar o que Voldemort tanto queria: a espada de Godric Gryffindor. Os quadros do castelo, assustados com a movimentação, começaram primeiro a comentar o que estava acontecendo. Depois passaram a um estado de total histeria, onde gritos e lamúrias se faziam ouvir a distância.
Os bruxos da Ordem que entraram atrás dos inferis tiveram que tapar os ouvidos com as mãos, mas conseguiram descobrir um outro ponto fraco das criaturas enfeitiçadas: a audição.
Quando os quadros gritavam alto demais, os inferis se abaixavam incomodados, dando a impressão de que seus ouvidos eram as únicas partes ainda sensíveis de seus corpos sem vida.
- Vamos gritar! – falou Moody, que estava tendo certa dificuldade em impedir os inferis de entrar no castelo – Vamos usar Sonorus e provocar o maior barulho possível!
Alguns bruxos que estavam por perto imediatamente fizeram o que o ex-auror indicou e ampliaram suas vozes, gritando estridentes em seguida.
O barulho não destruiu os monstros, apenas foi suficiente para que os bruxos que ofereciam resistência pudessem atacar com mais facilidade. Logo, a Ordem percebeu que o ponto fraco deles era as varinhas sensíveis.
E aí estava a contribuição de Olivaras. A vingança do homem que foi seqüestrado de sua casa durante a noite, sem tempo de reagir ou de deixar qualquer sinal, indicando seu paradeiro.
Forçado a trabalhar dias e noites seguidos, confeccionando varinhas com elementos mágicos roubados de seus verdadeiros donos, Olivaras encontrou seu modo de contribuir para o fim de Voldemort.
Sabia que sua morte era questão de dias, mas queria ter certeza de que seu nome seria lembrado com honra. Assim, produziu uma série de varinhas de vida útil muito curta. Além de terem uma carga de apenas 50 feitiços, elas se partiam facilmente. Qualquer queda ou aperto mais forte fazia com que as varinhas se quebrassem.
O foco da batalha agora era desarmar os inferis. Qualquer feitiço que os fizesse derrubar as varinhas para que fossem pisoteadas era válido.
Aquela noite foi sem dúvida não só a mais sangrenta de todas as batalhas do mundo bruxo até então. Foi também a noite das grandes surpresas.
Ninguém, durante toda a confusão, notou que um membro da Ordem permanecia parado. Encostado à uma parede estava Gui Weasley. O jovem parecia se recusar a lutar. Respirava fundo e tremia, enquanto tentava manter os olhos fechados apesar da curiosidade em ver quem ganhava ou perdia naquela batalha.
Gui só se mexeu quando sentiu quem passou do seu lado, tomando o rumo do interior de Hogwarts. Ele sempre se lembraria daquele cheiro, o suor de Greyback.
Quando o lupino alcançou o interior do castelo, Gui entrou atrás. Manteve uma distância razoável, que impedia Greyback de perceber que estava sendo seguido.
Fenrir correu para a sala que foi de Dumbledore. Era essa a sua missão mais importante. Os inferis apenas foram enviados para confundir os possíveis guardiões de Hogwarts.
A gárgula que ficava na porta do escritório do ex-diretor ainda apresentou alguma resistência, mas o lobisomem a estilhaçou com um feitiço e arrombou a porta em seguida. Entrou ruidoso no aposento, revirando os objetos, derrubando estantes e cadeiras, abrindo armários numa ânsia descontrolada.
Demorou a perceber que havia fracassado. A espada não estava no local onde Voldemort dissera. Virou furioso para a porta, mas estancou quando observou que Gui Weasley estava parado a poucos metros de distância.
Veio me impedir? – pensou Fenrir.
Gui encarava o lobisomem enquanto sentia o coração acelerando. Podia compreender os pensamentos dele. Até se comunicar com qualquer outro lupino ele conseguia.
O que o jovem Weasley não podia entender era a dor que sentia dentro de si a cada Lua Cheia. Sentia-se incompleto e por vezes trancava-se no banheiro, com raiva de sua condição que não permitia que ele fosse nem bruxo, nem lobisomem. Desde que Fenrir o atacara, Gui Weasley era apenas metade.
Fenrir também entendeu a ligação entre eles e provocou o rapaz:
Você não quer me destruir. Você quer ser igual a mim, eu sinto isso. Eu vejo isso no seu olhar. Eu farejo isso no seu suor.
Gui recomeçou a tremer. Não queria que Greyback descobrisse sua maior angústia. Aquela sensação o torturava cada dia mais e o enchia de remorsos sempre que via a mãe agradecer por ele não ter se tornado um lobisomem, ou a mulher falando sobre isso com a família.
Escondia de todos o que sentia de verdade. Mas ali, diante de vários lobisomens completos, acabou invejando a fúria com que se atracavam entre mordidas e patadas ferozes. A lua não o deixava forte. Pelo contrário, fazia com que ele se sentisse fraco, sem ânimo para nada.
Quando viu Greyback correndo sozinho, decidiu que aquele seria o melhor momento de resolver seu conflito. Seguiu o lobisomem, desejando travar uma luta com ele, na expectativa de que isso pusesse um ponto final na dor que dominava sua alma.
Se fosse possível decifrar o brilho no olhar de Greyback, ele indicaria triunfo. Fenrir havia conseguido o que tanto desejava. Fazia parte do seu jogo sádico “deixar as coisas pela metade”.
Sabia o sofrimento que provocava deixando suas vítimas divididas entre a condição humana e a lupina. Elas sempre voltavam implorando para que ele terminasse. Os mais covardes davam cabo de suas próprias vidas.
Greyback farejou o ar com vontade. Queria ter a certeza da vontade que movia aquele jovem bruxo antes de atacá-lo. A verdade é que o atacaria de qualquer jeito, mas sentia-se ainda mais motivado quando tinha certeza de sua vitória.
Gui já ia responder quando uma imagem brilhou a sua frente. O escritório de Dumbledore não estava vazio. Uma figura iluminada balançava calmamente pousada no lustre de ferro e cristais.
Fawkes estava ali, quieta, olhando entristecida diretamente para o rapaz. Ela também demonstrava ler a alma do jovem bruxo e não se sentia feliz em perceber nele a vontade de se tornar um lobisomem por completo.
Greyback avistou a ave e uivou furioso. Tentou acertá-la com um pesado livro que estava sobre uma mesa. Mas a fênix não se moveu, tampouco cantou. Apenas soltou um pio agudo e melancólico.
O som que se espalhou pela sala e sumiu rapidamente fez despertar dentro de Gui uma série de lembranças. E a mais forte delas era o sorriso de sua mãe, agradecida por ele não ter que ficar confinado em noites de Lua Cheia. Em seguida, ele se viu aos lados dos irmãos, conversando na sala do Largo Grimmauld, aquecidos pela lareira. Os assuntos sérios tratados com o pai, sobre o futuro da família. E só então se lembrou de Fleur e da notícia que ela havia lhe dado há poucas horas.
Vamos terminar logo com isso! – pensou Greyback – Assim eu resolvo o seu problema de uma vez por todas.
O lobisomem saltou para cima do rapaz, despertando-o de suas lembranças. Gui só teve tempo de sacar a varinha e berrar, desesperado:
- ArgenttiaI!
Um jato de pequenas gotículas de prata saíu da varinha do bruxo, indo direto de encontro ao lobisomem, provocando queimaduras em sua pele. Uma delas acertou-lhe os olhos e ele caiu urrando de dor.
Gui saiu em desabalada carreira pelo corredor, se juntou aos outros membros da Ordem e continuou a guerrear contra os inferis.
Greyback custou a se recuperar do ataque. Não conhecia aquele feitiço e praguejou, intimamente, contra o rapaz que provocou aquelas feridas tão doloridas em sua pele. O olho direito estava totalmente inutilizado, e parte do seu faro também havia sido afetada.
Saiu do escritório que pertenceu a Dumbledore e voltou para fora do castelo. Mantinha firme o pensamento de seguir as ordens de Voldemort a todo custo. E o Lorde das Trevas fora bem claro: se não encontrassem a espada no castelo, que pelo menos devastassem a Floresta Proibida.
O Lorde das Trevas tinha um interesse particular na Floresta desde que prendera Florean Fortescue. O velho sorveteiro era tedioso e Greyback não entendia o que seu senhor poderia querer com alguém como ele.
Como sempre, seguiu as ordens e levou o velhote para a Fortaleza. Nenhum comensal presenciou o interrogatório. Fortescue ficou horas trancado na masmorra e a única coisa que os outros habitantes da Fortaleza ouviam era os berros de dor.
Quando saiu de lá, Voldemort exibia um olhar febril e satisfeito. Fortescue não resistiu às torturas e acabou confessando tudo o que sabia. Agora Voldemort tinha um trunfo nas mãos.
- Lobo – disse Voldemort na mesma noite em que Fortescue foi torturado e morto, há mais de um ano – Eu preciso encontrar um lugar em Hogwarts. Um cemitério, conhecido como O Jardim dos Mortos. É lá que os malditos Morlans enterraram os fundadores e é lá que está o Livro dos Segredos.
Diante da expressão de desentendimento de Greyback, Voldemort, estranhamente paciente, achou por bem lhe explicar toda história. Afinal, depositaria no lupino a responsabilidade por encontrar o lugar e trazer-lhe o livro em questão.
Voldemort seguiu para a Sala do Trono e indicou a Greyback que o seguisse. Lá chegando, ocupou sua elegante cadeira e indicou um banco mais simples para que o lobisomem se sentasse.
- Ouça com atenção, Lobo! Não são todas as pessoas que têm o privilégio de conhecer essa história. Você sabe bem que os fundadores de Hogwarts foram Godric Griffyndor, Helga Hufflepff, Rowena Ravenclaw e meu antepassado, Salazar Slytherin. No entanto, poucos sabem que não foram eles que construíram o castelo.
“Os quatro fundadores eram ótimos bruxos, mas não tinham a habilidade necessária para esse tipo de serviço. Buscaram por todas as terras mágicas por um povo que tivesse a arte da construção como um dom natural. E assim eles chegaram aos Morlans.”
“Os Morlans aceitaram a tarefa. Deixaram o oriente, onde haviam ganhado fama depois de comandar a construção de grandes monumentos conhecidos até mesmo pelos trouxas, e vieram para a Bretanha.”
“A magia usada no castelo é única, e nenhum outro povo do mundo pode construir um castelo como Hogwarts, sem que um Morlan faça a estrutura.”
“Quando o castelo ficou pronto, alguns Morlans não quiseram retornar para o oriente e se estabeleceram aqui. Aos poucos, a bruxidade foi banida do convívio com os trouxas e os Morlans tiveram que abandonar seu ofício de construtores.”
“Mas quando os fundadores morreram, um deles foi novamente chamado. A tarefa agora era construir um cemitério digno dos grandes bruxos que fundaram a escola de magia e bruxaria de Hogwarts.”
“O local escolhido foi o próprio terreno da escola, dentro da Floresta Mágica, que até então não era proibida. O Morlan chamado foi Autran Cramble. Ele realizou os enterros dos três bruxos. E sobre a catacumba que abriga os corpos incorruptíveis deles, ergueu estátuas em suas homenagens.”
- E o que umas estátuas velhas têm de tão importante? – perguntou Greyback entediado com a narração maçante.
- Lobo, acalme-se, já vou lhe explicar! – respondeu Voldemort entre o calmo e o irritado com a interrupção.
“Acontece, que aos Morlans também ficou incumbida a tarefa de esconder para sempre o Livro dos Segredos. Um livro que contém toda a magia do castelo e dos fundadores. Todos os feitiços que apenas eles conheciam e toda a sabedoria que possuíam está descrita nas páginas desse livro.”
“O Livro foi transformado em pedra e colocado junto aos seus donos, assim que a morte de Salazar foi confirmada. Ele está lá, no Jardim dos Mortos.”
- Mas se o livro virou pedra, como o senhor vai conseguir ler?
Voldemort soltou uma risada sinistra. A pergunta não o incomodava. Ao contrário, ele esperava por ela para poder demonstrar mais uma vez o quanto era superior.
- Tenho duas alternativas, Lobo. A primeira, e mais óbvia, é recuperar o livro da maneira que os Morlans estabeleceram: depositando as relíquias de cada fundador no lugar específico do altar e libertando o livro do encantamento. E a segunda é o meu método preferido: sacrificando uma alma inocente sobre o livro. Isso vai macular a aura sagrada da magia dos nobres Morlans – concluiu com voz irônica.
Vendo a expressão de dúvida que ainda insistia em provocar rugas na testa de Greyback, Voldemort ordenou:
- Pergunte, Lobo! Tirarei todas as suas dúvidas antes de lhe dizer o que quero de você!
- Não tenho grandes dúvidas, meu Lorde! Só não entendo como sabe de histórias tão antigas!
- Isso não é nenhum mistério, Lobo. Você só precisa saber onde encontrar as pessoas certas. O tal Autran Cramble casou-se com uma bruxa comum e teve uma filha. A jovem Eleanor se casou com Lewis Fortescue. Bisavô de Oliiver Fortescue, ex-diretor de Hogwarts e antepassado do nosso tão simpático sorveteiro.
Depois de todas as explicações, os comensais foram instruídos a sempre buscarem o tal Jardim e as últimas relíquias dos fundadores. Voldemort sabia que a espada estava na escola, desde que Harry a usara para matar o seu basilisco. A taça estava com ele e o medalhão ele cuidou de guardá-lo bem há muito anos.
Greyback abandonou as lembranças assim que alcançou o salão principal. Uivou chamando os outros lobisomens e convocou os inferis para marcharem em direção à Floresta.
Como eles falharam na tentativa de encontrar a relíquia de Corvinal, e agora ele via que a espada havia sido retirada do colégio, só lhe restou varrer a floresta em busca do Jardim dos Mortos.
A proteção sobre o muro que foi colocado nos terrenos do castelo na ocasião do início do ano letivo ainda existia. Muitos inferis foram lançados longe com os feitiços que cobriam o muro.
A batalha agora estava ainda mais feroz. O exército de Voldemort estava encurralado entre os membros da Ordem e o muro mágico de Hogwarts. O número de guerreiros de ambos os lados diminuía gradativamente e era impossível dizer quem estava levando a melhor.
Um comensal finalmente conseguiu quebrar a barreira mágica e chamou os outros para invadirem a floresta junto com ele. Os seguidores de Voldemort iam aos poucos saindo do campo de batalha e se embrenhando pelas árvores.
Não corriam juntos, o objetivo era vasculhar cada centímetro daquele lugar e encontrar o Jardim dos Mortos. Quem entrasse no caminho, humano ou não, deveria ser eliminado sem remorso!
A Ordem não seguiu os comensais pela Floresta. Reuniram-se no Salão Principal do castelo, para tratar os feridos, recolher os corpos dos companheiros mortos em batalha e decidir o que fazer.
-A Floresta está bem protegida – falou Hagrid muito machucado – Eu mesmo cuidei de preparar algumas armadilhas. Além disso, nós vamos contar com a ajuda de algumas criaturas que vivem lá. Os testrálios foram treinados para atacar qualquer um que estiver cheirando a sangue. Os centauros não tomaram partido, mas com certeza vão fazer um bom estrago quando esses monstros invadirem o território dele.
- Então – disse McGonagal que exibia os cabelos desgrenhados e o rosto coberto de suor – só nos resta deixar que a própria Floresta cuide deles. Os feridos precisam de tratamento e os que não conseguiram, precisam ser retirados daqui.
Rapidamente, eles saíram do castelo, trancaram novamente as portas e alcançaram os portões, aparatando em seguida para diversos pontos da Inglaterra. Vez ou outra, um bruxo aparatava de volta, trazendo mais alguém para ajudar na remoção dos feridos em batalha.
Os comensais seguiam pela floresta achando cada vez mais difícil se locomoverem entre os visgos do diabo plantados pelo meio-gigante. Alguns caíam em armadilhas simples, como buracos cobertos de folhas e cheios de explosivins.
Os testrálios, atraídos pelo cheiro de sangue dos comensais machucados investiam famintos sobre eles. Sua ascendência dracônica, normalmente vista nas feições e nas asas, agora era sentida na força de suas mandíbulas.
Os comensais que não conseguiam enxergar os animais, viam-se tomados de pânico ao sentir a dor de suas carnes sendo rasgadas, e os pedaços suspensos no ar até serem triturados e devorados por completo.
Os inferis também eram atacados pelos animais que puxavam as carruagens de Hogwarts. Seus corpos apodrecidos eram o prato preferido daquelas criaturas, que viam na invasão um verdadeiro banquete.
Hagrid, quando soube por Draco que Voldemort pretendia atacar o castelo utilizando o exército de inferis, cuidou de prender os testrálios e alimentá-los apenas com o mínimo necessário para não enfraquecê-los. Naquela noite, antes de atravessar o muro, ele soltou os animais e os mandou para várias partes da Floresta.
Greyback escapava ileso das “surpresas” deixadas na Floresta pelo guarda-caça. As feridas provocadas pela chuva de prata ainda ardiam. O olho atingido agora se enchia de pus, que escorria empapado-lhe os pelos do focinho.
Ao longe, o lobisomem avistou dois inferis sendo presos por uma planta muito mais agressiva que o Salgueiro Lutador. O arbusto em questão parecia ter tentáculos repletos de ferrões e estraçalhava os dois inferis com muita facilidade.
Seres estúpidos! – pensou Greyback.
Longe dali, numa caverna a beira mar, outra pessoa praguejava contra os inferis. Voldemort havia chegado até sua caverna, onde escondeu o medalhão de Slytherin. O local onde Dumbledore pingou seu sangue não ficou marcado e Voldemort acreditou que tudo estava como ele deixou há quase duas décadas.
Desfez todos os encantamentos, ordenou aos inferis que saíssem do caminho e abriu passagem entre as águas do lago, caminhando sobre uma plataforma invisível até chegar ao centro da ilha.
Seus olhos se detiveram, a princípio, à taça de cristal caída no chão. Aquilo não deveria estar ali. Ele não deixou nenhuma taça ali. Deu mais um passo em direção à formação rochosa que sustentava a bacia e seus lábios se crisparam de ódio.
Um clarão invadiu a caverna anunciando que uma tempestade estava se formando no céu. Os trovões logo começaram a ecoar não só ali, a beira-mar, mas por toda a Inglaterra.
A ira do Lorde das Trevas se espalhava com a mesma intensidade que os raios que agora riscavam o céu enegrecido. Ele não tirava os olhos do centro da bacia vazia e suas mãos começaram a tremer. Já perdera Nagini e agora seu medalhão havia sumido.
Fechou os olhos para tentar entender o que estava acontecendo. Mexeu a cabeça lentamente, como se procurasse alongar todos os músculos do pescoço e das costas e então, abriu os olhos novamente.
Ninguém poderia saber do seu segredo. As únicas pessoas para quem ele mencionou a palavra horcrux foram Horácio Slughorn, seu antigo professor, e Bellatrix Lestrange, sua mais fiel comensal.
O professor era tolo o suficiente para não imaginar que ele teria coragem para tanto. E Bellatrix, ela era a que mais desejava que seu senhor se tornasse imortal. Quando lhe contou o que havia feito, ela pareceu encantada. Elogiou-lhee a mente aguda e jurou, sob voto perpétuo, que não contaria a ninguém. Mas o primo da comensal, Régulus, ouviu a conversa. E quando o Lorde das Trevas descobriu, assassinou-o imediatamente pela ousadia de ouvir os assuntos que não diziam respeito a ele.
Voldemort recuperou a calma, apesar de sentir o coração ainda mais repleto de ódio do que em toda sua vida. Precisaria do medalhão apenas para libertar o livro da maneira ortodoxa. Sem ele, teria que sacrificar alguém sobre o altar.
Seria até mais prazeroso. Poderia assim pisotear sobre os restos mortais dos fundadores daquela escola que não lhe deu seu devido valor.
Aparatou dali para a Fortaleza Negra, sem se preparar para a cena que iria encontrar em seu tão protegido esconderijo. A Sala do Trono revirada, a caixa que continha a Taça aberta sobre a mesinha e vários comensais caídos. Muitos deles mortos.
A raiva que sentiu na caverna reavivou com toda força. A chuva agora caía por toda a Inglaterra e despertava o medo até nas almas mais corajosas. O barulho que a tempestade provocava, caindo torrencialmente sobre o telhado e batendo nos vidros das janelas, abafou o grito de Voldemort.
O Lorde das Trevas descontou nos que restaram toda sua frustração. Torturou, não só com a maldição Cruciatus, mas com toda a sorte de feitiços que conhecia, aprendidos nos anos de exílio.
Vários comensais foram virados pelo avesso, deixou outros completamente sem pele para que sentissem muita dor e fez com que tantos outros torturassem a si mesmos, amaldiçoando-os com Imperius.
No final da noite, nem mesmo toda a água que caiu do céu, servia para afastar do país o cheiro de morte que indicava que a batalha mais sangrenta daquela guerra havia sido travada.

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