Contra-Ataque às Artes das Tre




- Eu pensei – disse uma voz feminina decididamente muito irritada – que você já tivesse cometido todos os tipos de infrações às normas de escola, Potter!
A professora Minerva McGonagal olhava para cada um dos alunos e ex-alunos da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, acuados no fundo da loja. Seus lábios estavam mais crispados que de costume e suas narinas haviam se fechado tanto que era de se imaginar como ela conseguia respirar daquele jeito.
- Professora? – disse Harry surpreso sem conseguir falar mais nada.
Estavam todos espantados. Os olhos arregalados e as bocas semi-abertas, incapazes de pronunciar sequer um muxoxo. Esperavam que Borgin tivesse chamado Comensais da Morte ou, pior, até mesmo o próprio Voldemort para dar cabo deles ali mesmo.
A visão da professora recortada pela iluminação fraca dos archotes acesos à pouco na entrada da loja era, de um modo muito confuso no íntimo de cada um, um alívio e uma preocupação maior do que um ataque de comensais.
Eles já haviam duelado com comensais antes, sabiam como agir. Mas encarar a diretora da Grifinória, numa loja de artefatos de magia negra não era uma coisa que se fazia todos os dias.
De trás da professora outra figura surgiu. Uma figura masculina, mal-vestida, com os cabelos grisalhos e sem brilho. O rosto do ex-professor de Defesa Contra as Artes das Trevas, Remo Lupin, estava estranhamente satisfeito. Apesar da situação, seus olhos refletiam um verdadeiro contentamento com a cena.
O que poderia deixá-lo tão feliz? Pensou Harry. Definitivamente, ele havia cavado a sua expulsão da escola bem no último ano. E para piorar suas crises de culpa, tinha levado vários amigos a fazerem o mesmo.
- Eu sabia – continuou a professora – que aquela história de comprar o livro do Mundungos era balela! Aquele livro só poderia ter saído daqui! O modo como vocês saíram do castelo para consegui-lo é que não estava muito claro.
Lupin continuava quieto, satisfeito com a cara de espanto dos meninos. Harry tremia dos pés à cabeça e procurava alguma coisa para dizer em sua defesa e quem sabe livrar os amigos da expulsão eminente.
- Quando o Borgin me disse que os viu aqui todos reunidos e discutindo, eu fiquei furiosa! Queria ter colocado vocês contra a parede na mesma hora – disse a professora muito mais zangada do que no começo da conversa.
- O Borgin... quero dizer, o Sr. Borgin... O senhor nos viu aqui esse tempo todo? – perguntou harry ao velho parado no canto da loja.
- Lógico que os vi! – respondeu meio ríspido, meio divertido com a ingenuidade do rapaz – A loja pode estar fechada, mas eu ainda moro aqui atrás. Além disso, nada sai da minha loja sem deixar um registro por escrito de quem a pegou.
O pânico começava a tomar conta dos rapazes. Até mesmo os que já estavam fora de Hogwarts e não corriam o risco de serem expulsos, temiam ser condenados pela invasão de uma propriedade privada.
Tudo passou pela cabeça dos garotos como um raio. Como foram tão idiotas de se esquecer do detalhe de que a maioria dos donos de lojas em locais como o Beco Diagonal e a Travessa do Tranco moravam atrás de seus estabelecimentos comerciais?
Mas foi Hermione que, mais uma vez, pensara mais rápido que todos ali e fez uma pergunta que deixou a professora Minerva na posição de acusada.
- Professora, a senhora tem contato com o Borgin? Porque eu escutei quando ele falou pela lareira que já havia dito o que nós fizemos. E falava com certa... intimidade!
A jovem bruxa sustentou o olhar da professora, cujas bochechas ficavam ligeiramente ruborizadas. Ao mesmo tempo, todos os colegas olhavam orgulhosos para Hermione e desafiantes para McGonagal, como se a instigassem a abrir o jogo.
- Ele não falou com Minerva – disse Lupin – falou comigo!
A expressão desapontada no rosto dos meninos revelou que todos adorariam, pelo menos uma vez, ver a professora Minerva “infringindo” o regulamento.
- Como eu disse, - tornou Lupin – Borgin falou comigo através da lareira e eu avisei McGonagal. O que não significa que os dois não tenham se relacionado antes.
A professora lançou um olhar fulminante para o lobisomem, que deu um sorriso zombeteiro, dando a sua face uma expressão mais viva e bonita.
- Não precisamos entrar em detalhes! – ralhou ela.
- Ah, precisamos entrar em detalhes, sim! – retrucou Lupin – Foi exatamente a falta de detalhes que deixou a situação chegar até onde chegou, e você sabe muito bem disso, Minerva!
A professora se assustou com o posicionamento de Lupin, mas ele fingiu que não viu sua cara de descontente surpresa e continuou:
- Vamos apenas esperar mais um pouco. Até o resto vir até aqui.
Resto? Qual resto? Pensou Harry preocupado com o rumo que sua tentativa de fazer as coisas do seu jeito estava tomando. Até aquele momento, nenhuma idéia brilhante surgiu em sua cabeça. Daquela vez ele não escaparia.
Procurou pelos olhos dos amigos e encontrou os de Hermione muito arregalados e viu que ela fazia forças para não chorar; Rony também parecia levemente esverdeado. Gina por sua vez, olhava firme para o namorado, e ele sentiu que ela o apoiaria de qualquer maneira. Luna continuava na sua, como sempre. Neville estava branco, provavelmente imaginando o que sua avó diria quando ele voltasse mais cedo para casa. Assim, cada um deixava transparecer o medo que sentia.
E foi entre esses pensamentos que eles se sobressaltaram quando ouviram vários craques do lado de fora da casa, indicando que muitas outras pessoas haviam aparatado ali.
A porta se abriu sem cerimônia e por ela entraram Quim, que estava de folga da segurança do Primeiro-Ministro dos Trouxas, Tonks, Roxanne, Moody, Jones e os irmãos mais velhos de Gina e Rony, Carlinhos e Gui.
- Ótimo! Ótimo, ótimo! – disse Lupin animado pela primeira vez aquela noite – Agora acho que poderemos realmente começar o que nos interessa.
Harry reparou que Moody não parecia alarmado de entrar naquela loja. Normalmente aquele bruxo se preocupava com um selo mal colado numa carta, o que fez o garoto suspeitar de sua atitude. Será que era outro impostor?
Daquele jeito estranho que Moody tinha de perceber os pensamentos das pessoas, ele respondeu com sua voz rouca e grave:
- Eu não tenho medo de nada que eu conheça, Potter. E esteja certo, cada objeto que você vê aqui passou pelas minhas mãos antes.
- Agora que Moody já começou – disse bruscamente a professora Minerva, que gostava das coisas em doses homeopáticas – acho que podemos todos nos sentar não é mesmo? Teremos uma longa conversa com esses jovens!
Borgin indicou a sala de duelos que fora usada pelos jovens na primeira reunião da Armada. McGonagal conjurou cadeiras simples e sem muito conforto, bem a seu modo, para que todos se sentassem em círculo. Quando todos se acomodaram, ela mesma começou a falar.
- Como meu caro amigo e ex-aluno já fez o favor de informar-lhes – a professora teve o cuidado de frisar bem a posição de Lupin como para lembrar-lhe que ela era mais velha e ele ainda lhe devia respeito – eu me relaciono com o Borgin há algum tempo. Um tempo considerável para dizer a verdade. Nós fomos apresentados por Dumbledore, na década de 70.
- Precisa mesmo contar tudo isso, Minerva? – perguntou Moody.
- Com certeza! – assomou Lupin – Dizia isso agora mesmo à Minerva. Eles precisam saber de tudo para poder aceitar...
- Posso continuar ou vocês preferem falar por mim? – perguntou a professora muito ríspida – Como ia dizendo, Dumbledore me explicou claramente o que Borgin fazia: comerciava artigos das trevas. E havia empregado Tom Riddle quando o jovem saíra da escola. Não posso dizer que foi um prazer tal encontro e durante alguns anos não entendi a finalidade de Dumbledore nos apresentar, até que aquele colar amaldiçoado foi entregue a uma aluna.
A professora deu um longo suspiro, mas sua expressão de pesar não fez com que nenhum dos jovens ali presentes mostrasse compaixão por ela. Pelo contrário, sentiam um interesse fora do comum pelo que ela falava. Ao que ela não teve outra alternativa a não ser continuar o que estava falando.
- Borgin não se negou a dar as devidas informações a Dumbledore quando Harry o informou suas suspeitas sobre Malfoy. Mas Dumbledore não sabia o que o rapaz queria com aquela peça e ainda não imaginava como ela entraria no castelo. Portanto, não pensou que ela quase tiraria a vida da Srta Bell.
“Assim, eu finalmente pude entender a utilidade da relação travada entre Dumbledore e Borgin. Borgin mantinha Dumbledore informado sobre os artefatos potencialmente perigosos que vendia e listava toda semana, o nome das pessoas que visitavam a loja. Em troca, Alvo fazia com que ninguém do Ministério tivesse interesse em fechar a Borgin & Burkes.”
- Dumbledore nunca impediu o senhor de vender essas coisas? – perguntou Hermione aterrorizada.
- Oras, menina, ele não tinha como me impedir. Uma boa parte dessas tralhas são falsificações que eu faço dos objetos verdadeiramente perigosos. Só vendo uma coisa ou outra verdadeira, para ninguém desconfiar.
- Mas você vendeu inúmeras coisas reais para os Malfoy – acusou Harry.
- Vendi sim – retrucou bruscamente o Sr. Borgin – e não me vanglorio por isso. Mas os Malfoy já nasceram com as trevas entranhadas no sangue. Saberiam reconhecer uma falsificação imediatamente e eu não podia por em risco o meu sustento. Todos perderiam muito com isso, não acha? Inclusive a Ordem.
- Você sabe sobre a Ordem? – espantou-se Gina e Rony ao mesmo tempo.
- Lógico que sei. Precisava saber quem deveria procurar sempre que descobrisse algo importante!
- Mas eu vi você comprando coisas de Lucios e o tratando como se fosse um homem maravilhoso – tornou Harry com a voz amarga.
- Você é mesmo lento para entender, né rapaz? Lógico que eu tinha que adular o Malfoy. Ou você pensa que se eu enxotasse o maior contrabandista de artigos das trevas de uma loja como esta eu não estaria dando bandeira?
- Malfoy? Contrabandista de artigos das trevas? – repetiu Rony para fazer as palavras se assentarem em sua mente.
- Sim, como o pai dele foi. E o avô dele e todos os Malfoy foram até hoje – replicou Borgin.
- Depois o Borgin conta tudo dos Malfoy para vocês. Agora a história da Minerva – disse Moody cortando o assunto.
- Obrigada, Alastor! Bem, não tem mais tanto assim para contar. A não ser que quando o livro sobre inferis apareceu nas mãos do Potter e ele contou uma mentira deslavada sobre ter comprado o livro do Mundungus, eu achei que deveria averiguar. Potter tem o mesmo dom do pai para se meter em confusões. Embora as confusões de Tiago o mandassem mais para detenções do que para a ala hospitalar.
Lupin abafou um riso, olhando de esguelha para Harry. A professora continuou:
- Eu verifiquei com o Dunga se ele encontrou mesmo o Harry do jeito que o rapaz falou. Obviamente – disse olhando com um certo desdém que fez Harry se lembrar de Snape – Potter esqueceu que Mundungus era um membro da Ordem. E logicamente, nunca conseguiu mentir para mim ou para Dumbledore.
Os rostos de Harry e Gina assumiram uma cor extremamente pálida. A garota sentiu suas mãos suarem frias enquanto o rapaz mordia nervosamente o lábio inferior.
- Então, lembrando do conteúdo do livro, entrei em contato com Borgin. Ele seria a pessoa mais indicada para me dizer onde encontrar um livro daquele tipo. Não deu outra, ele disse que tinha um livro assim e quando procurou na prateleira não encontrou. Em seu caderno de anotações anti-furtos, o nome de Harry e da Srta Weasley estavam gravados.
“Achei que seria uma tentativa desesperada de ajudar a amiga que até então se recuperava de um ataque em massa por inferis. Mas depois Borgin me disse que uma grande quantidade de alunos ‘visitara’ a loja. E mais, disse que tinham feito uma verdadeira pesquisa nos arquivos mais antigos do lugar. E no meio dessa pesquisa, um livro sobre antiguidades mágicas e seu diário de bolso haviam sumido.”
“Coincidentemente, poucas horas antes do comunicado sobre o sumiço de mais livros, o Sr. Weasley ali – apontou para Rony – me procurou com uma pergunta pouco comum. Ele queria saber se Orwen Potter, um ex-sócio do Borgin, era de alguma forma, parente do seu melhor amigo.”
Gui e Carlinhos lançaram um olhar a Rony que poderia significar tanto um insulto, dizendo que ele fora irresponsável demais, quanto um elogio, à coragem de entrar na loja e revirar tudo ali.
- O que me trouxe aqui hoje foi um trato com Borgin. Depois que o sr. Weasley ali me procurou, eu escrevi a ele para que me avisasse caso os senhores voltassem a invadir deliberadamente a loja. Ele me respondeu dizendo que avisaria e foi o que fez. Ele avisou Lupin, que imediatamente entrou em contato comigo e com os outros. Eu demorei algum tempo porque tive que deixar a escola e ir até um local “aparatável”.
Ela respirou fundo, indicando que havia acabado de contar a história. Agora, os jovens pensavam o que eles iriam fazer. Quais as conseqüências os esperaria. A presença de todos aqueles membros da Ordem dava a impressão de que passariam por um terrível julgamento.
- Posso? – perguntou Lupin à professora Minerva.
- Pode, lógico. Se não tem outro jeito – respondeu em tom de azedume.
Lupin se levantou, arrumou as vestes sem que isso fizesse efeito algum tamanho era o desgaste delas, e encarou os jovens.
- Ao contrário da professora Minerva – começou ele – eu me sinto muito feliz em vê-los aqui. Isso demonstra que não estão interessados em ficar confortáveis sob a segurança oferecida no castelo.
As palavras de incentivo de Lupin serviram para deixá-los ainda mais nervosos. Se não respirassem tão alto, para afugentar os pensamentos ruins, seria possível ouvir a distância os corações disparados de todos os membros da Armada de Dumbledore.
- Ao ser informado da movimentação de vocês pensei que isso só poderia significar uma coisa. Por mais que tentássemos, vocês sempre apareciam no meio das batalhas. Harry enfrentou o Lorde das Trevas quando tinha apenas um ano, apesar de não ter consciência disso na época. Rony e Hermione enfrentam os perigos de lutarem contra as forças das trevas desde o primeiro ano na escola. Mesmo sem agir diretamente, os dois trabalhavam mais como um segundo cérebro, ajudando Harry a desvendar os mistérios e a tomar as melhores decisões.
“Assim foi com cada um de vocês. Quando fundaram a Armada de Dumbledore e lutaram bravamente no Ministério contra Comensais no mínimo 20 anos mais velhos que cada um. E depois, quando se mostraram grandes bruxos no duelo que tivemos dentro do próprio castelo.”
As palavras entravam na cabeça de cada um, hora os deixando alegres pelo reconhecimento, hora os deixando triste pelo sentimento de culpa e remorso por terem invadido a loja do Sr. Borgin.
- O que quero dizer é que vocês merecem, mais que ninguém, a nossa total confiança e, sem dúvida alguma, o nosso apoio em tudo o que quiserem fazer para nos ajudar – finalizou Lupin.
Eles ainda demoraram uns segundos para entender o que o ex-professor havia acabado de falar.
- Nos apoiar? – perguntou um inseguro Neville, com o rosto reassumindo a cor natural – Vocês querem dizer... nos apoiar? Em tudo?
Os rostos dos jovens revelava um alívio muito grande e uma expressão de excitação diante da possibilidade de agirem livremente. Eles cochichavam entre si animados. Lendo o sorriso de cada um, Moody interrompeu:
- Calma aí! Se vocês estão pensando que vamos deixá-los sair por aí lançando feitiços em qualquer pessoa que use máscara estão completamente enganados.
Eles se viraram imediatamente para o auror que tinha ficado de pé.
- Não somos loucos de jogar vocês assim de cabeça numa luta dessas. Tenho certeza que vocês não leram o Profeta Diário de hoje. O primeiro ataque em massa já aconteceu e revelou o que nós mais temíamos, o Lorde das Trevas está preparado para realizar um verdadeiro holocausto.
A voz do auror era um misto de prazer com a luta que se aproximava e uma seriedade sobre o assunto a ser tratado. Encarava os alunos com o olho bom enquanto o outro rodava avaliando a sala.
- O que vamos poder fazer, então? – perguntou Harry.
- Vocês poderão estudar! – disse a professora Minerva ficando de pé ao lado de Moody.
Houve um muxoxo de descontentamento entre eles e antes que pudessem protestar de qualquer maneira, ela acrescentou:
- Vocês estudarão, sim! Mas fiquem sabendo que o tipo de estudo que terão será muito diferente. E já que gostaram tanto assim da Travessa do Tranco, todas as suas noites serão dedicadas, com exclusividade, a uma nova disciplina lecionada pelos professores mais competentes.
Eles se olharam perplexos.
- As aulas – continuou a professora falando de um modo inflamado pouco comum – terão o caráter exclusivo de prepará-los para os combates. Já que não podemos afastar vocês de toda confusão e perigo, que pelo menos não sejamos como trasgos míopes e burros a ponto de deixá-los lutar sem o mínimo de preparação necessária. Infelizmente, Hogwarts nunca teve permissão de ensinar o suficiente para essa tarefa.
“De modo que vocês aprenderão os maiores feitiços contra todo tipo de criatura, incluindo gigantes, dementadores, dragões e outros monstros abissais, que só Alastor Moody é capaz de deter. Portanto ele será seu professor nessa parte da matéria.”
Os jovens olharam admirados para Moody. Sabiam que ele fora o melhor auror que já passou pelo Ministério da Magia e aprender o que ele tinha para ensinar era um privilégio.
- Por sua vez, ninguém conhece melhor a natureza de certos tipos de criaturas quanto Remo Lupin!
- Pode dizer que eu vou dar aulas sobre mestiços perigosas, Minerva – disse Lupin sem rodeios.
A professora comprimiu os lábios e concordou com a cabeça.
- Pois bem, já sabem o que Lupin irá ensinar. Além de lobisomens, obviamente, ele entende e muito de vampiros e irá ensiná-los a detectá-los e combatê-los, fugindo claro das banalidades envolvendo alhos ou crucifixos. É preciso muito mais que isso para mandar um vampiro ir... para matar um vampiro. – disse por fim depois de conter uma expressão pouco digna.
“Ninfadora Tonks irá ensiná-los tudo o que um bom treinamento para aurores pode oferecer, incluindo fugas velozes em vassouras, aparatação de emergência, camuflagem e transfiguração entre outras atividades. E será auxiliada de perto por Kingsley Shackelbolt.”
“Vocês ainda terão uma aula completa sobre tudo o que se pode saber a respeito do Ministério da Magia e serão auxiliados nessa tarefa por Hestia Jones. Isso nos colocará a par de tudo o que o inimigo sabe. Afinal, se ele tem seus informante, nós também vamos ter os nossos.”
Era uma ação assim que Harry esperava para realmente sentir que a guerra tinha começado. Os ataques esporádicos e a calma súbita ao final do período letivo passado davam a sensação de uma rebelião fácil de ser controlada. Mas agora, ouvindo tudo aquilo da boca da professora mais rígida de Hogwarts, ele pode sentir o que estava acontecendo de verdade. Eles precisavam de um exército bem preparado e não de amadores que contaram com a sorte nos últimos confrontos.
Parecia que todos pensavam como Harry. Olhavam confiantes para cada professor e já imaginavam o que poderiam esperar de cada um. No que dependesse da cada um ali, haveria o máximo de dedicação às novas disciplinas.
- Professora? – chamou Hermione levantando o braço do mesmo modo que sempre fez em sala de aula – Outros alunos da escola também vão participar?
- Creio que não, Srta Granger! – respondeu McGonagal – A amioria dos alunos tem uma base bem menor do que a de vocês. Mas não fiquem preocupados com eles. Já dei um jeito de mudar o conteúdo programático de cada disciplina. Os professores ensinarão o básico da defesa sem chamar a atenção do Ministério, que insiste em não se manifestar de todo.
- E o que vocês vão fazer? – perguntou Rony se dirigindo a Gui e Carlinhos, sem contar um olhar ofendido ao irmão mais velho.
- Em relação a vocês? Nada de muito prático. Eu vim mesmo para acompanhar o Gui e trazer um livro para Hermione – respondeu Carlinhos deixando Rony com as orelhas vermelhas de raiva.
- Mas eu até que gostaria de receber umas aulas sobre os lobisomens com o Lupin – brincou Gui.
- Deixa de bobagem e conta logo o que é que você veio fazer, Gui! – pediu Gina impaciente.
- A verdade é que vim informar aos outros uma mudança repentina de posição. Os duendes se mostraram favoráveis ao nosso lado – respondeu Gui.
- Isso é realmente uma ótima notícia! – exclamou Moody – Essas criaturinhas perversas estavam quase nos traindo. Sabe como é, eles são como moscas que vão direto para o lado que brilha mais.
- Espere um momento, Moody. Eu disse que se mostraram favoráveis. Não afirmei que estavam nos apoiando de corpo e alma – explicou-se Gui.
- Mas o que aconteceu? – perguntou Lupin entrando na conversa.
- Aparentemente os comensais usaram a pior arma que poderiam em se tratando de lidar com os duendes. Tentaram ameaçá-los.
- Eles foram burros o bastante para isso? Aposto como foi o Goyle ou o Crabbe, eles nunca tiveram cérebro mesmo – comentou Moody divertido.
- Mas eles não estavam presos? – perguntou Neville.
Desde o ataque ao Ministério da Magia uma boa parte dos comensais que tentaram roubar a profecia sobre Harry e Voldemort havia sido capturada.
- Ah, mas você acha que nós conseguiríamos detê-los sem dementadores? De jeito nenhum. Fugiram há pelo menos cinco meses. O Ministério, é claro, não quis comentar – falou Moody.
- Mas desta vez – defendeu Tonks – o ministro não quis comentar para não atrapalhar as nossas investigações.
- Achei que só o Malfoy tinha fugido – comentou Harry.
- Ele foi o primeiro. Voldemort foi buscá-lo pessoalmente e acabou com quase todos os guardas. Ninguém entende é por que não acabou com todos de uma vez e libertou os outros – respondeu Tonks que estava encarregada diretamente dessa investigação.
- Mas continue a história dos duendes – pediu McGonagal.
- É como eu disse. Os comensais ameaçaram os duendes, dizendo que provocariam alguma catástrofe que engoliria os cofres mais antigos e profundos que, como todos sabem, abrigam as riquezas dos próprios duendes. A questão é que eles agora não confiam nos comensais e já fizeram seus truques para impedir a catástrofe.
- E se simpatizaram conosco?
- Sim, a princípio eles querem se ver livres de qualquer pressão. Comentaram sobre nos apoiar. Isso quer dizer investimentos, professora – disse Gui.
- Isso não é assunto para tratarmos aqui – respondeu rapidamente a professora de Transfiguração – Vamos para Hogsmeade e de lá para minha sala em Hogwarts. Quanto a vocês, podem ficar para a primeira aula. Alastor, não se esqueça de enviá-los pelo Armário Sumidouro às 23h em ponto.
Ela aparatou seguida por Gui, Tonks e os demais. Carlinhos falou qualquer coisa com Hermione, tirou um livro do bolso e se despediu com um beijo rápido na bochecha da garota, aparatando em seguida. Ficaram ali apenas os jovens, Alastor Moody e o Sr. Borgin. Agora, eles teriam a primeira aula de combate.
- Finalmente – disse Moody mancando pela sala – vou poder ensinar o que sempre achei que todos deveriam aprender. Pro diabo essa história que se você ensinar a atacar todo mundo vai matar por qualquer bobagem. Eu mesmo, não devo ter matado mais que dois comensais durante a primeira guerra. E acreditem, me orgulho muito disso! Mas é bobagem esperar que se use apenas impedimentos quando alguém está tentando te matar. Por isso, vou ensinar o primeiro princípio de um bom combatente, uma frase que ouvi de um trouxa amigo meu: a melhor defesa é o ataque! Agora, vamos praticar!
Os alunos se levantaram das cadeiras que sumiram ao menos gesto do ex-auror. Em seus lugares, sugiram diversas figuras de aparência humana e feitas de uma substância gelatinosa.
- Esses vão ser nossos primeiros alvos. O objetivo é fazer a figura derreter. Qualquer feitiço que vocês se lembrem. Feitiços de ataque, não se esqueçam disso! Preciso ver o nível de ataque de vocês.
Assim que ele deu o sinal, muitos jatos de luzes coloridas irromperam pela sala. As substâncias se inflamavam facilmente, mas poucas continuaram a se incendiar. Moody andou pela sala, observando cada figura e avaliando o atacante.
- Vamos ver, Longbotton. Pelo estado da sua figura, você tentou estuporá-la. É um bom ataque, mas com comensais bem treinados não lhe dá nem 3 minutos para correr. Você, Srta Weasley. Gostei do que fez, se não me engano é um incediu certo?
Gina concordou com a cabeça.
- Isso é muito útil. Fica difícil conjurar um contra-feitiço quando se é atingido direto na cara. Muito bem! Agora, Granger, você foi capaz de lançar um petrificus totatlus com muita precisão. Vejam – disse chamando a atenção dos demais – o feitiço dela foi tão forte que acho que terei que substituir essa figura. Parece feita de vidro agora.
Ele despachou a figura com um gesto e logo outra assumiu o lugar da primeira.
- O bruxo que fosse acertado com um feitiço simples, mas com essa intensidade, não teria chances de se recuperar sem uma boa poção de mandrágoras.
Ele deu um sorriso imenso para Hermione que deixou o rosto, marcado por anos de lutas, ainda mais deformado. Foi até perto de onde estava Luna e olhou espantado para a figura que a garota deveria atacar.
No lugar do ser gelatinoso estava agora uma montanha de objetos pequenos, feitos de plástico retorcido. Moddy pegou alguns deles e sem entender o que era aquilo encarou a garota com os dois olhos.
- Transfiguração Múltipla – explicou Luna – Sabe, sempre achei um desperdício transfigurar os objetos em apenas uma coisa. Nunca consegui me decidir sobre o que eu queria transfigurar. Aí minha avó me ensinou a fazer isso.
Moody soltou uma sonora gargalhada. E quando viu que não conseguiria desfazer o feitiço usando reverdi, riu mais alto ainda.
- Menina, você é um perigo! Olhem só para isso, se forem capazes de transfigurar uma pessoa em várias partes separadas, nada vai conseguir uni-las de imediato. E se não me engano – disse com o olho mágico voltado para Luna – se um dos objetos se perder, será impossível reverter o feitiço. Estou certo?
Ela concordou com um gesto vago e sorriu para os amigos que a encaravam com admiração e um leve temor.
- Depois se quiserem eu ensino – disse alegre.
- Com certeza vamos querer! É tão perigoso quanto uma maldição imperdoável e pode ser feito em tom de brincadeira. – falou Moody enquanto se dirigia para onde o “adversário” de Rony estava, agora dividido em duas partes.
Parou olhando a figura repartida com um corte transversal e olhou para o rapaz.
- Isto é um feitiço pouco comum, rapaz!
- Eu sei. Foi o Harry que me ensinou!
- É, parece bem com ele. Mas acho que você usou raiva demais. O resultado correto seria um corte profundo e não a divisão completa da figura.
Rony realmente estava muito zangado, mas não falou nada nem se sentiu “especial” quando Moody lê lançou um olhar de aprovação.
Assim, a aula continuou com novos feitiços. Sempre feitiços de ataque. Treinaram feitiços silenciosos. Depois, Moody conjurou algumas vendas. Levou os alunos para fora da sala e explicou:
- Vamos treinar duelo às cegas antes de ir embora. Cada um vai entrar vendado na sala e tentar atacar as figuras em movimento. É preciso ter coragem de enfrentar o desconhecido para passar pelo teste. Enquanto fazem isso, o resto da turma vai assistir daqui, devidamente protegido por um escudo.
Um imenso escudo transparente surgiu protegendo a porta e quem estava atrás dela. Um a um eles foram entrando na sala, tentando atacar, com pouco sucesso, as figuras que se mexiam e investiam contra eles.
Quando chegaram ao castelo, por voltas das 23h15min, todos estavam exaustos e famintos. Sabiam que já passava e muito da hora do jantar então foram direto para suas salas comunais.
Na sala da Grifinória uma surpresa alegre os esperava, Dobby, o elfo doméstico que Harry libertara há 5 anos estava a espera dos garotos para oferecer xícaras fumegantes de chocolate quente, panquecas com geléia e manteiga e sanduíches de carne defumada.
Todos comeram satisfeitos e foram direto para a cama. Não dava tempo de discutir. Precisavam descansar para os três turnos de aulas que teriam no dia seguinte.
Se o treinamento em feitiços com Moody tinha sido puxado, o treinamento básico para auror que Tonks daria deveria ser 10 vezes pior.
Harry mal tirou os sapatos e caiu na cama. A cabeça rodava de cansaço e ele sentia os olhos pesarem. Mas não queria dormir sem entender tudo o que tinha passado. Fez algum esforço, mas era como se cada pensamento fluísse para fora de sua mente e ela ficou vazia, relaxada e em paz.
Ele sentiu os músculos amolecerem em contato com o colchão macio e as cobertas quentes e aconchegantes. Respirou fundo e adormeceu.

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