Perdidos no Mapa



Já havia passado uns quatro dias da aventura na Travessa do Tranco. Harry e Gina não conseguiram ficar a sós para conversar e tampouco o tal intruso anônimo havia aparecido novamente.
- Com certeza ele se assustou com a gente – disse Rony.
- É provável. Ele deve estar esperado a gente baixar a guarda para poder voltar aqui – comentou Harry.
Eles tomavam o café da manhã quando o correio chegou. As corujas finalmente conseguiram regularizar o horário das entregas. O frio estava se dissipando quase não chovia mais. Diante disso, os treinos de quadribol foram retomados e a competição entre as casas começaria logo depois do Dia das Bruxas.
Harry recebeu duas cartas. Uma delas era igual a que Mione também acabara de receber. Quando abriram as cartas, descobriram que se tratava apenas do convite do casamento de Gui Fleur, marcado para dali duas semanas. Um bilhete da Srª Weasley anexado dizia que a Professora McGonagal iria com eles, Rony e Gina até A Toca, de onde seguiriam para o local da cerimônia.
O outro bilhete era um comunicado da Ordem, que marcava uma reunião no Cabeça de Javali naquela tarde, após as 18 horas. O bilhete ainda dizia que era para avisar Rony e Mione.
- Ótimo! – exclamou Mione. – Pelo menos vamos ter alguma coisa interessante para fazer, já que você não quer me emprestar o livro.
- Só vou emprestar o livro pra você quando Rony me dizer que você não tem mais pesadelos – falou Harry decidido.
- E como é que ele sabe disso, se já não está mais na ala hospitalar?
- Eu pergunto para a Madame Pomfrey todos os dias – respondeu Ron lançando um olhar a Harry para que confirmasse a desculpa.
Todas as noites, Rony saía do dormitório com a capa do amigo para se certificar de que estava tudo bem com Mione. Ele passava as noites ao lado dela, e sempre que ela tinha um pesadelo, ele segurava as mãos da garota e sussurrava em seu ouvido que tudo ia ficar bem.
- Voltando ao nosso assunto mais importante – chamou Mione – Gina vai com a gente?
Aquela era a oportunidade que Harry esperava para poder falar a sós com a garota. Precisava esclarecer as coisas com ela.
- Pode deixar que eu falo com ela hoje. Temos um horário livre antes do almoço e,pelo que sei, ela também tem. Eu espero por ela na saída da sala e vocês já vão para o salão principal guardar um lugar para gente almoçar.
Assim, pouco antes das 11 horas, Harry se dirigiu para a estufa número cinco, para esperar Gina sair da aula de Herbologia.
A garota saiu toda suja de terra e com os cabelos desgrenhados, assim como todos os colegas que estavam trabalhando numa plantação um tanto difícil de Brotos de Aramuara.
Quando viu Harry ela se assustou, passou as mãos sujas nos cabelos para tentar melhorar um pouco a aparência e falou:
- O que está fazendo aqui?
- Tenho que combinar uma coisa com você. É sobre a Ordem – respondeu o rapaz em voz baixa.
Ela fez um aceno com a cabeça e seguiu o rapaz. Eles caminharam um pouco em silêncio em direção ao campo de quadribol. Quando estavam realmente sozinhos, ela tomou a iniciativa e perguntou:
- Já pode falar agora? O que tem a Ordem?
- Nós vamos nos encontrar hoje a tarde e eu pensei, quer dizer, nós pensamos se talvez você não quisesse vir.
- Nós?
- Sim, eu, Mione e Rony. Já havíamos conversado sobre isso na sua casa, lembra?
- Ah sim! Lógico que eu gostaria de participar. Você vai me emprestar a capa?
- A idéia é essa. Você usa a capa e segue a gente para poder ficar por dentro da reunião e nos ajudar quando formos encontrar a Armada. Aliás, devemos marcar uma reunião com todos antes do casamento do seu irmão.
- Por mim, tudo bem!
Eles andaram mais um pouco e sentaram numa das arquibancadas. Ficaram em silêncio sem saber como tocar no assunto que tanto incomodava os dois.
- Escuta, aquela noite.. – começou Harry finalmente depois de uns 10 minutos sem que nenhum dos dois dissesse coisa alguma.
- Eu sei que foi bobeira minha! – disse Gina apressada.
- Não foi bobeira. Foi um mal entendido. Mas eu gostaria muito que você sempre me perguntasse as coisas.
- Mas eu perguntei lá em casa...
- Sim, perguntou com indiretas, e nem esperou para ouvir a resposta inteira.
A menina abaixou a cabeça envergonhada. Era verdade. Só havia tocado no assunto “Harry e Mione” uma única vez. E quando o rapaz começara a responder ela dera uma desculpa esfarrapada para sair de perto.
Mais uma vez o silêncio tomava conta da situação. A hora do almoço se aproximava e eles deveriam voltar para o castelo.
- Devem estar esperando pela gente – falou a moça.
- Sim, é melhor voltarmos. Está na hora do almoço.
Eles se apressaram e logo alcançaram a entrada do castelo. Ron e Mione já estavam sentados num canto mais afastado da Mesa da Grifinória. Neville também se aproximava e chamara Luna para almoçar com eles.
O almoço foi normal, mas Harry tinha uma idéia na cabeça e precisava colocá-la em prática. Assim que se levantaram da mesa, depois de combinar com Neville e Luna de mandarem avisos para os demais membros da Armada para se encontrarem no local combinado dali a dois dias,Harry segurou Mione pelo braço e falou baixo só para ela ouvir:
- Será que você tem um tempo para falar comigo?
- Tenho, a aula é só daqui a 30 minutos. Eu vou à biblioteca agora devolver os jornais, se quiser ir comigo.
Ela acompanhou a amiga até a ala hospitalar para pegar os exemplares do Profeta Diário. Eram duas grandes pilhas e Rony se oferecera para ajudar, mas Harry deu uma olhada ao amigo que logo mudou de idéia e disse ter esquecido no dormitório um dos livros que ia precisar para as aulas da tarde.
Quando saíram da ala hospitalar, Mione já estava curiosa.
- Vai falar logo o que é? Ou vou ter que enfeitiçar você?
- Espera um pouco, vamos logo devolver isso. Lá na biblioteca a gente senta e conversa.
No caminho eles comentaram sobre a reunião da Ordem e o que a Armada poderia fazer dali em diante. Chegaram a biblioteca e Mione devolveu os exemplares, ouvindo a Madame Pince elogiar o trabalho de Harry durante a detenção.
Depois eles procuraram uma mesinha iluminada por uma luminária e se sentaram.
Harry tomou fôlego, criou coragem e perguntou uma coisa que queria saber desde a estada no Largo Grimmauld.
- Mione, lembra quando a gente discutiu lá na sede?
Se a biblioteca não estivesse quase na penumbra como sempre ficava, ele teria percebido o rosto da menina ficar vermelho.
- Não... – disfarçou ela – não me lembro.
- Eu lembro bem, você ficou irritada quando disse que nós éramos como irmãos. E você saiu gritando que as coisas haviam mudado.
- Isso foi há um bom tempo, Harry – disse tentando esconder a vergonha.
- Não faz tanto tempo assim! Mas eu preciso te contar uma coisa.
Ela encarou o amigo com os olhos fixos, mas as mãos tremendo e o coração disparado.
- Penso em voltar com a Gina.
Hermione baixou a cabeça e suspirou. Um suspiro indefinido que poderia significar alívio ou tristeza. Depois, levantou a cabeça e olhando firme para Harry falou:
- É o melhor que você tem a fazer. Até hoje não entendi muito bem por que vocês se separaram. Agora vamos, se não acabaremos atrasados. E não podemos correr o risco de levar uma detenção para hoje.
Ela saiu apressada da biblioteca, sempre mantendo uma distância de um ou dois passos à frente de Harry.
Para o garoto, a reação da amiga só serviu para confundi-lo ainda mais. Mas pelo menos poderia retomar o relacionamento com Gina sem correr riscos de magoar Mione à toa.
O dia passou mais ligeiro do que eles poderiam imaginar e logo chegava a hora de encontrar McGonagal no salão principal e se dirigirem ao Cabeça de Javali. Harry entregou a capa da invisibilidade à Gina antes de saírem da Torre da Grifinória.
Eles desceram as escadas o mais rápido que podiam sem esquecer de tomarem cuidado para que a capa não saísse do lugar. Chegaram ao salão e a Professora Minerva já os esperava.
- Muito bem, vocês sabem que eu aprecio a pontualidade! Ainda mais numa situação como esta. Filch – disse virando-se para o zelador que passava por perto – vou ter que sair na companhia destes alunos por algumas horas. Assuntos particulares da Grifinória, você entende, não é?
Filch concordou com um aceno de cabeça e respondeu que tomaria conta dos outros alunos enquanto isso.
McGonagal precipitou-se para a porta e foi seguida de perto por eles, enquanto dizia:
- Andem, andem. Quanto mais cedo chegarmos, mais cedo resolvemos tudo.
Os quatro seguiam em silêncio, tomando o cuidado de não conversar para não caírem na besteira de falar com Gina e estragar o disfarce da irmã de Rony.
Chegaram em menos de meia hora ao local do encontro, mas antes de se dirigirem para a porta de entrada, a professora os chamou:
- Não, venham por aqui. Vamos entrar pelos fundos, é mais seguro.
Eles deram a volta na casa que abrigava o velho pub e encontraram uma escadinha de madeira apodrecida que ia em direção ao porão.
- Tem certeza que essa escada é segura, professora? – perguntou Mione indecisa.
- Completamente! Eu desceria aí aos pulos se fosse preciso.
McGonagal desceu os seis degraus e logo deu algumas batidinhas numa porta com a mesma aparência decrépita da escada. Eles ouviram um burburinho que vinha de dentro do cômodo. Logo a porta foi aberta e eles avistaram Tonks, com um exuberante cabelo ruivo, mais vermelho até que o dos Weasley.
- Em homenagem a sua família, Rony! – brincou Tonks explicando a cor do cabelo quando eles entraram.
Apesar da brincadeira, Hermione reparou que Tonks não estava no seu melhor humor. A todo instante a auror comprimia os lábios de um jeito muito parecido com o da professora Minerva.
Todos os membros da Ordem já estava presentes. E para espanto dos garotos, havia mais gente ali do que eles esperavam. Abeforth estava lá, sentado a um canto. Era bem parecido com Dumbledore, o mesmo cabelo longo e grisalho, quase branco, e a mesma barba comprida. O que diferenciava os dois era o fato de Abeforth parecer bem mais moço e ter um ar meio “excêntrico”.
E não era só Abeforth que fazia o grupo estar maior. Outra presença nova se destacava entre o grupo. A mesma mulher que salvara Mione. Roxanne Bones estava sentada numa cadeira antiga e conversava animadamente com Lupin.
Quando todos se acomodaram, o Sr° Weasley começou a reunião. Aliás, agora, todas as reuniões da Ordem eram presididas por ele que tinha um dom de deixar todos calmos, mesmo durante as mais sérias discussões.
- Boa noite a todos. Hoje, como sabem, é definitivamente a primeira reunião da Ordem em sua nova formação. Vamos rever certos fatos e acompanhar os trabalhos de nossos companheiros nos últimos dias, para decidir qual o melhor rumo a ser tomado na próxima semana. Abeforth concordou em nos emprestar o porão do Cabeça de Javali sempre que precisarmos e isso vai ser muito útil. Sei que o que vou pedir a vocês agora pode parecer impróprio, mas gostaria de registrar esse encontro com uma foto.
Todos se olharam intrigados. Arthur Weasley não era muito dado a formalidades desse tipo, mas todos concordaram. Ele preparou a máquina enquanto o resto organizava a pose. Logo que registraram o momento, eles começaram a reunião. O primeiro a falar foi Lupin.
- Como foi combinado, eu me infiltrei entre os lobisomens. Ao que tudo indica, nós estamos levando a pior. A maioria está encantada com a possibilidade de sair do anonimato e viver às claras. Além disso, há outro fato pesando contra nós.
- Outro fato? O que pode estar influenciando ainda mais os lobisomens? – questionou Moody.
- Uma promessa... Uma possibilidade oferecida por Voldemort. Ele prometeu encontrar a cura para aqueles que não agüentam mais a maldição. Assim, mesmo os que não gostam da violência e agressividade que corre no sangue de todo lobisomem, se apoiar Voldemort, terá uma chance de ter uma vida normal.
- Você acredita mesmo nisso? – perguntou Abeforth, falando pela primeira vez, revelando uma voz calma, mas com uma certa energia contida.
- Para ser sincero, não acredito nem um pouco. Consegui convencer alguns lobisomens a lutarem conosco expondo a eles tudo o que pesquisei nos anos que passei viajando.
- Pelo menos conseguimos mais alguns reforços... – suspirou Moody – Mais alguma coisa?
- Não, por enquanto não!
- Então é minha vez – disse Alastor Moody – Primeiro quero dizer que estou muito contente em ter uma ex-colega aqui conosco. Para quem não sabe, Roxanne Audrey Bones foi uma das mais jovens mulheres a se tornarem auror neste século.
Todos olharam para a mulher que não se mostrava nem um pouco encabulada. Ao contrário, pareceu estufar ainda mais o peito e dar o seu melhor sorriso, o que fez Harry se lembrar imediatamente do professor de Defesa Contra as Artes das Trevas que ele teve em seu segundo ano em Hogwarts, Gilderoy Lockhart.
- Da minha parte – retomou Moody – não obtive grandes progressos. Aparentemente o Ministério tem feito tudo o que pode. Mas eu duvido. Apesar de Lucius ter saído do emprego, ainda existem informantes lá dentro.
- Isso não é tudo! A pior parte é que nós já identificamos um dos informantes – disse Tonks olhando pesarosa para Arthur – Sinto dizer isso, Arthur, mas um deles é seu filho Percy.
O Sr° Weasley ficou pálido, mas manteve a calma. Respirou fundo várias vezes, enquanto apertava os braços da cadeira que ocupava. Rony também se sentiu zonzo com a informação.
O que ninguém viu foram as lágrimas que começaram a escorrer pelo rosto de Gina, ali escondida embaixo da capa. Ela adorava o irmão, apesar de tudo. E imaginá-lo do lado oposto ao de toda sua família a machucava por dentro.
Passado o susto da primeira informação, um a um os membros da Ordem informavam aos demais as suas descobertas. No final, apenas Harry, Rony e Hermione não haviam apresentado nenhuma informação.
Muitas coisas passavam pela cabeça de Harry e ele não sabia se devia ou não fazer o que pensou durante todo o trajeto do castelo até o pub. Por fim, decidiu-se. Aquela não era uma informação para ser guardada mais por tanto tempo.
- Eu posso falar o que descobri? – pediu ainda meio indeciso.
Hermione, Rony e até Gina, embora não pudesse vê-la, olharam espamtados para Harry. O que será que ele iria contar? Com certeza não era sobre a Borgins & Burkes. Ele não estragaria o local da reunião da Armada. Tampouco revelaria sobre a sala de Dumbledore e o espírito de Flamel vagando por Hogwarts durante o ano letivo anterior.
Ficando de pé, ele começou a dizer:
- Antes do final do ano letivo, Dumbledore me revelou uma coisa. Era para ser um segredo entre nós a princípio. Mas tendo em vista tudo o que está acontecendo, acredito que vocês devam saber.
Os amigos de Harry ficaram calados. Sabiam o que viria a seguir.
- Dumbledore conseguiu descobrir como Voldemort sobreviveu. Ele tratou de fazer algumas horcruxes e dividiu sua alma em sete pedaços.
Nenhum dos presentes conseguiu segurar uma exclamação de espanto, desaprovação e medo.
- Para os que não sabem o que é uma horcruxe, a explicação é simples: o bruxo faz um ritual em que separa uma parte de sua alma e a confina num objeto. Isso permite que ele viva até que sua horcruxe seja destruída. Voldemort fez seis no total.
Todos prestavam atenção a cada palavra, imaginando o quanto Voldemort era imprevisível.
- Dumbledore e eu conseguimos descobrir alguns detalhes referentes às horcruxes e eu posso afirmar que duas delas já foram destruídas. Uma terceira já foi identificada, mas quando fomos buscá-la, ela já havia sumido. E ainda restam outras três.
Como ninguém falou nada, Harry continuou:
- Eu prometi a Dumbledore que continuaria a procurar as outras horcruxes e me certificar que todas fossem destruídas. Até que isso aconteça, nada feito contra Voldemort terá algum efeito definitivo. Mas sei que sozinho, ou mesmo com a ajuda dos meus amigos, temos poucas chances de encontrar os objetos em questão. Por isso, gostaria de contar com a ajuda de vocês.
Ele sentou novamente na cadeira ao lado de Rony e esperou a reação dos demais.
- Ei, harry. O que precisar de mim, eu topo, viu? – disse Tonks, sendo a primeira a sair do estado de choque.
- Lógico que vamos ajudar – afirmou Moody, excitado com a possibilidade de fazer algo significativo além de vigiar os membros do Ministério.
- Só precisamos – falou a professora McGonagal – de mais algumas informações. Como descobriram sobre isso, quais foram os objetos destruídos e como eles foram destruídos.
O resto da reunião girou em torno das informações extras que Harry deu sobre as horcruxes. Cada um procurava tomar nota ou guardar mentalmente tudo o que era informado. No final, todos estavam a par de tudo sobre as horcruxes e esquematizavam um modo de ajudar na busca.
- Olhem a hora! – exclamou McGonagal – precisamos nos apressar e voltar a Hogwarts. Já está bastante escuro.
- Não se preocupe, Minerva, Quim, Tonks e eu vamos escoltá-los – disse Moody.
- Menos mal. Então vamos logo!
A professora se adiantou para a porta e já havia saído, quando Moody parou atrás de Gina e disse baixinho
- Sinto muito pelo seu irmão, senhorita!
A garota virou-se muito assustada para o auror.
- Fique quieta e eu não conto para ninguém que você esteve aqui. Já esperava que vocês fizessem isso.
Eles continuaram andando e logo Lupin veio atrás, acompanhado de Roxanne. Tonks torceu o nariz e correu para perto de Hermione. Logo as duas conversavam animadas enquanto Tonks brincava com o cabelo.
A pequena comitiva chegou ao castelo e Minerva providenciou um rápido café para todos. Foram servidos chá, chocolate quente, broinhas de baunilha e torradas com geléia. Todos comeram animados, enquanto Gina saía sorrateira do salão e voltava pouco depois fingindo um descontentamento seguido da frase: “Puxa, como vocês demoraram!”
Ela comeu com os meninos alegando, diante de um olhar desconfiado de McGonagal, que esperou por eles para saber das novidades.
Logo eles se despediram de todos e subiram para a Torre. Queriam conversar entre eles. Assim que chegaram, foram para um canto desocupado e afastado dos demais alunos e começaram a discutir.
- Por que você resolveu falar das horcruxes para eles? – perguntou Hermione.
- É, sempre pensei que nós é que iríamos procurá-las! – falou Rony contrariado.
- Eu também pensei! – respondeu Harry – Mas olha só, ia ser estupidez, ta? Afinal, querendo ou não a gente nem tanto conhecimento assim ou tantos contatos para conseguir descobrir alguma coisa.
- Faz sentido. Aliás, faz bem mais sentido que nós correndo pelo mundo desconfiados de qualquer colarzinho, botão de camiseta ou livro que encontrarmos em cavernas por aí! – disse Hermione.
- Olha, eu to pregado! – falou Rony – vou lá pra cima. Você vem, Harry?
- Daqui a pouco... Ainda estou muito agitado para subir.
- Tudo bem! Noite para vocês.
Rony subiu para o dormitório enquanto os três continuaram ali conversando. Demorou um pouco até Hermione perceber que estava “sobrando” e saiu sem nem dar boa noite aos amigos.
Harry ficou sentado ao lado de Gina.
- Ah, tome! – disse a garota entregando a capa toda enrolada para Harry.
- Você ficou bem? Digo, deu para participar de tudo?
- Sim, eu ouvi até mais do que queria – respondeu Gina com uma tristeza na voz que Harry sabia ser pelo que falaram de Percy.
- Eu sinto muito!
Foi a única coisa que Harry conseguiu dizer. Mas Gina logo se recompôs. Ela não era do tipo que se deixava abater facilmente.
Ela mencionou qualquer coisa sobre ir dormir e Harry aproveitou a oportunidade. Quando os dois se levantaram ele fingiu um desequilíbrio e caiu abraçado a garota. Olhou para ela e deu um selinho rápido.
- Um beijo de boa noite – brincou depois.
Ela riu e respondeu:
- Da próxima vez você não precisa fingir. Você é um péssimo ator.
Harry ainda a viu subindo pelas escadarias que levavam ao dormitório feminino. Deu meia volta e foi para seu dormitório. Mas Rony estava dormindo e ele não pode contar ao amigo que tinha se reconciliado com Gina.
Antes de descerem para o café no dia seguinte, Harry contou a Rony o que aconteceu e antes que o amigo pudesse falar qualquer coisa a respeito de Hermione, ele se justificou:
- Eu conversei com ela. Ela disse que não entendia por que nós estávamos separados.
Eles encontraram as garotas no salão comunal esperando para descer com eles. Gina deu um beijo rápido de bom dia em Harry causando constrangimento em Mione e Rony. Os dois formavam um belo casal, mas o irmão da garota já havia desacostumado com imagem de vê-la namorando.
Hermione também não se mostrou muito a vontade, mas disfarçou bem conversando com Neville sobre a nova estufa que seria construída na escola para abrigar uma espécie especial de plantas que se alimentam de neve.
O dia seria inteiramente tranqüilo. As aulas terminariam as 16 horas e eles estariam livres para fazer o que quiserem. Combinaram de procurar Hagrid, mas o guarda-caças não estava em sua cabana e nem havia sinal de que estivera lá nos últimos dias.
- É mesmo, - falou Mione – ele não foi à reunião da Ordem. Onde terá ido?
- Para falar a verdade, tenho notado a ausência dele já faz alguns dias. Mas não me preocupei, mesmo porque estávamos tão ocupados com a Ordem e a Armada – justificou Harry.
Todos concordaram. Do jeito que as coisas iam na escola, era bem provável que eles nem notassem se um trasgo tomasse o lugar do professor Flitiwick.
Voltaram para o castelo e combinaram de se reunir num lugar em que todos, inclusive Luna, pudessem ficar a vontade. E o único lugar confortável e discreto do castelo era a Sala que fora de Dumbledore.
Eles deram muitas voltas no castelo para se certificarem que ninguém os veria e tomaram o rumo da sala do ex-diretor. Disseram a senha para a gárgula que logo saiu do caminho dando passagem a eles. Eles subiram os lances de escada de dois em dois degraus e entraram.
Logo arrumaram almofadas, acenderam a lareira e começaram a conversar animados. Gina sentou-se junto de Harry e assumiu para os amigos que eles haviam retomado o namoro.
- Isso vai dar em casamento – brincou Neville.
- Nossa, e por falar em casamento – lembrou-se Mione – nós ainda não compramos o presente do Gui e da Fleur.
- Verdade! – concordou Harry – Aliás, nós não temos nenhuma idéia do que se dá para um casal de bruxos.
- Ah, vocês nem deviam se preocupar com isso – respondeu Gina.
- É – assomou Rony – iss de presente é bobeira!
- Eu daria um vaso de glômberas – disse Luna – São muito úteis! Elas acabam com os insetos indesejáveis. E quando é noite de lua minguante ela canta e solta um perfume delicioso. Se vocês quiserem, meu pai tem umas mudas dessa na nossa estufa.
- Você tem uma estufa em casa? – perguntou Neville surpreso.
O sonho do garoto era ter sua própria estufa e poder trabalhar a vontade na única coisa que ele acreditava ser bom.
- Sim, temos uma estufa. Fica entre o lago e o celeiro.
- Sua casa deve ser enorme! – comentou Rony admirado.
- Ah, a casa mesmo é pequena. São cinco quartos com banheiro, uma cozinha, uma sala de música e uma pequena biblioteca. Mas o jardim é imenso, tem a estufa, temos alguns cavalos, dois testrálios e o lago.
Todos na sala ficaram boquiabertos. Nenhum deles imaginava que aquela menina tão simples e excêntrica era rica.
- Não sabia que a revista dava tanto dinheiro assim! – falou Rony novamente.
- E nem dá. Quero dizer, meu pai faz aquilo por diversão. Ele gosta de contar a verdade às pessoas, embora seja muito mal interpretado na maioria das vezes. Tudo o que a gente tem é herança da minha mãe. Ela era filha de fazendeiros, sabe? Meus avós criam pégasus no sul.
Luna era sem dúvida surpreendente, pensaram os amigos. Logo Neville tomara conta da garota por completo, querendo saber as espécies de plantas que ela tinha na estufa e parecia extasiado de saber que a maioria era tão exótica quanto a dona do local.
Harry deitou-se o mais que pode na almofada e jogou a cabeça no colo de Gina. Ela começou a passar as mãos nos cabelos atrapalhados do rapaz e eles continuaram a conversa sobre o presente de Gui.
- Tive uma idéia! – falou Rony.
- Qual? Não é besteira, né? – replicou Gina.
- Claro que não! Logo que as férias começaram eu ouvi a Fleur dizendo para minha mãe que queria um relógio como o dela. Assim, ela poderia saber tudo o que o Gui precisava.
- Mas onde vamos encontrar um relógio como aqueles? – perguntou Mione.
- No Beco Diagonal tem um bruxo velho que encanta relógios. Você só precisa levar um relógio comum, as fotos das pessoas e os dizeres. – respondeu Gina.
- Então, vocês vão ter que conseguir uma foto de cada um para nós. Aí poderíamos conseguir uma permissão especial da McGonagal para ir comprar o presente – sugeriu Harry.
Eles ficaram fazendo planos um bom tempo. Até que Harry disse que seu pescoço estava doendo e se levantou. Alongou os braços e virando de lado observou uma coisa que o deixou intrigado.
Vendo a cara do rapaz, Mione perguntou:
- Algum problema, Harry?
- Não sei... quer dizer... Tem uma coisa aqui que eu não me lembro de ter visto antes.
- O que é? – perguntou Neville que após combinar de passar as férias na casa de Luna, se interessava pela conversa.
Harry correu até a mesa de Dumbledore, que ele cuidava de sempre deixar do mesmo jeito, sem mexer em nada e pegou um grande anel de ouro, com uma pedra negra engastada e uma profunda rachadura.
- Isto aqui!
- Que anel é esse? – perguntou Luna curiosa.
- Uma das horcruxes. A que Dumbledore destruiu!
Os amigos correram para ver de perto o anel que pertenceu à família bruxa de Voldemort. Era realmente bem pesado, o que indicava a pureza do ouro. Trazia a mesma serpente marcada na torneira do banheiro da Murta e na bandeira da sonserina.
- Então o lendário anel de Slytherin existe mesmo –disse Luna parecendo admirada com alguma coisa pela primeira vez na vida.
- Do que você está falando? – perguntou Harry.
Ele não se lembrava de Dumbledore chamar aquela peça de lendária. Nem lembrava de ouvir Marvolo dizer que o anel era de Slytherin. Parecia ser do outro lado da família e era apenas o único objeto de valor daquela família arruinada.
- Meus avós me contaram, quando eu vim pra cá naquele ano que a câmara foi aberta, que para saber quem era o herdeiro, bastava procurar o anel. Ele disse alguma coisa sobre como o anel funcionava, mas eu não lembro muito bem.
- E seus avós ainda estão vivos? – perguntou Harry interessado.
- Sim, são os mesmo que criam pégasus no sul.
- E eles não aceitariam passar uma temporada aqui, com a gente? Para nos contar a história inteira? – indagou Mione, que entendera perfeitamente onde Harry queria chegar.
- Posso mandar uma coruja para eles amanhã – respondeu feliz – Vai ser divertido. Meus avós são ótimos!
Antes de sair da sala, Gina cochichou no ouvido de Harry:
- Vai olhar a outra sala?
Ele só fez que não com a cabeça e chamou o pessoal para jantar. Já estava quase na hora e todos precisavam se lavar antes de descer para não chamarem atenção de ninguém.
Só na volta para a Torre da Grifinória que eles encontraram problemas. Todos os alunos subiam sonolentos, após um jantar maravilhoso e uma semana corrida de muitas aulas. Quando um dos alunos do terceiro ano subiu o primeiro degrau da última escada e parou assustado é que todos se deram conta de que o retrato da Mulher Gorda estava aberto.
Normalmente, a Mulher Gorda abria passagem e tornava a fechar em seguida. Mione tomou a frente da situação, afinal ainda era monitora.
- Calma, todos vocês! Winster – disse para uma garota loira do quarto ano - procure Filch e peça a ele que traga a professora Minerva aqui imediatamente. Enquanto isso, o resto de vocês vai descer para o corredor abaixo e esperar lá sentado. Rony, você também é monitor, então ajude a vigiar a turma toda.
Em menos de 5 minutos Winster voltava dizendo que Filch foi informado e fora buscar a professora. Logo, McGonagal apontava no corredor e abria caminho entre os alunos.
- Muito bem, Srta Granger! Qual o problema?
Hermione apontou o retrato ainda imóvel e aberto da Mulher Gorda. McGonagal se mostrou estupefata. Nunca, em toda a vida passada na escola ela jamais ouvira qualquer coisa a respeito disso.
Ela logo chamou Filch mais uma vez e pediu que acionasse outros professores para que examinassem o retrato e vasculhassem a torre. Os alunos continuaram no corredor, á espera de que tudo fosse resolvido.
Os dormitórios foram revistados, mas não encontraram ninguém lá dentro. Quanto ao quadro, para surpresa de todos, ele foi removido da entrada e levado para a ala hospitalar até que encontrassem um bruxo-restaurador, pois a Mulher Gorda teve sua imagem completamente paralisada.
O quadro de um bruxo baixinho e careca, que tentava montar um pônei foi colocado no lugar até que a Mulher Gorda pudesse voltar a cumprir sua função. Antes de deixar os alunos entrarem, McGonagal falou:
- Vocês estarão seguros lá dentro. Não se preocupem, tudo foi devidamente revistado. Só peço que tomem cuidado. O feitiço utilizado para paralisar a dama do retrato poderia matar uma pessoa de verdade.
Houve um burburinho muito grande entre os presentes.
- Acalmem-se! Para garantir que todos fiquem bem, eu mesma irei passar a noite aqui, no Salão Comunal, junto com o Sr. Samuel Homes e o Dr. Fredric Polchan, membros do conselho educacional e conhecedores de muitas magias avançadas.
Assim, um a um entrou na Torre e foi direto para o quarto. A idéia de ter professores no salão comunal tirava a vontade dos amigos conversarem ao pé da lareira. Cada um tratou de ir para seu dormitório e discutir o acontecimento com os colegas de quarto.
E quem mais teve o que pensar e discutir foi Harry, já que suas coisas estavam levemente mais bagunçadas que o normal.
- Veja se levaram alguma coisa – falou Rony aflito.
Harry correu, revirou as coisas e deu por falta de uma única coisa.
- Não me diga que foi a capa da invisibilidade – pediu Rony cada vez mais angustiado.
- Não, não foi a capa! Foi o Mapa do Maroto! – respondeu caindo sentado na cama.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.