Capítulo 6
Nesse Natal meu pai me deu de presente o anel que era um dos maiores símbolos da nossa família junto com o colar que ele já tinha me dado, o anel ele usava direto.
− Cuida bem dele, está na família há séculos. − Disse meu pai quando eu abri o embrulhinho. − Reduzi para que coubesse no seu dedo.
− Mas pai...
− Já está na hora. − Disse por fim.
Meu padrinho, às vezes, parecia um morcego velho que aparecia de repente nos lugares. Algumas vezes me parecia que ele ficava pesando os objetos de ouro e prata e avaliando outros, isso não me agradava muito.
Na véspera da volta para Hogwarts nós nos sentamos na sala e ficamos conversando.
− Estou com sede. − Falou meu padrinho levantando-se. − Querem hidromel?
− Eu quero sim, obrigado. − Disse meu pai.
− Eu não quero, ainda tenho cerveja amanteigada. − Expliquei.
Ele foi até o bar e pegou dois copos com hidromel, entregou um ao meu pai e tornou a se sentar, mas antes já havia virado todo o conteúdo do copo, papai, no entanto, deixou-o de lado por um instante.
− Já está tarde, vou-me indo. − Falou meu padrinho levantando-se e pegando a capa de viagem.
− Oh, tudo bem então. − Disse papai também se levantando.
− Tchau. − Disse eu simplesmente.
Ele saiu de casa e dasaparatou. Papai, que o tinha acompanhado até a porta, voltou e tomou um gole do hidromel, mas de repente ele começou a ficar meio estranho, caiu do sofá e não se mexeu mais.
− Pai?! − Levantei-me e fui até ele. − Pai! Para com isso. Levanta! Pai?
Comecei a chorar.
− Pai, por favor.
Comecei a me desesperar. Não podia ser isso. Será que ele... Será mesmo que meu pai...
Dumbledore! Isso, eu tinha que falar com o Dumbledore.
“Caro Dumbledore,
Eu preciso que o senhor venha aqui, meu pai, eu não sei bem, acho que ele está... está morto.
Atenciosamente, Ann Backer.”
Grossas lágrimas cobriam a pequena carta. Eu não consegui sair de perto do corpo do meu pai. Dumbledore só chegou lá pelas três horas da manhã.
Quando ele chegou estava com uma atitude imperativa e parecia que já sabia da maior parte da história, mas mesmo assim me fez contar tudo em detalhes.
− Me parece que seu padrinho tinha interesse no dinheiro de seu pai à bastante tempo. Não se preocupe, poderá fazer um funeral decente a ele. Talvez mais algumas pessoas queiram prestar homenagens.
− Mas eu não quero ter que fazer isso. − Disse eu, chorando.
− Também não gosto de ter que fazer isso, seu pai era um homem incrível.
− Oh, Dumbledore. − Me joguei no colo dele, agora soluçando de tanto chorar.
Minha volta a Hogwarts foi adiada por causa do funeral, eu não tinha conseguido dormir, só queria o meu pai.
E o pior foi que durante o funeral me chamaram num canto e me disseram que o meu adorado e assassino padrinho ainda tinha retirado a maior parte do ouro do cofre dos Backer, para mim só restou uns poucos sicles e alguns nuques. Até a minha casa ele fez o favor de me roubar, pegou a escritura da casa no mesmo dia em que envenenou meu pai.
Eu fiquei tão triste e arrasada como nunca antes, num dia eu tinha pai, uma quantia respeitável de ouro no banco e uma casa e no outro nada mais, nem pai, nem ouro, nem casa. Como eu iria ficar? Será que eu conseguiria ao menos terminar o meu curso em Hogwarts?
Voltei na véspera do meu aniversário, o pior de todos eles. As primeiras pessoas que encontrei foram as minhas amigas, abracei-as longamente e chorando em silêncio.
Não queria ver mais ninguém, mas eu encontrei o Lupin, na verdade parecia que ele estava me esperando.
− Backer, eu... − Assenti antes mesmo dele terminar a frase e saímos andando juntos. − Você está... ahn... bem?
− Não. E sinceramente, Lupin, eu não me importo.
− Com o quê? Como assim não? Você perdeu o seu pai!
− Não, não é sobre isso, é sobre você, eu não me importo com o seu problema.
− Ah, eu já te falei que...
− Eu não me importo de você ser um lobisomem!
Paramos de andar.
− O que você disse?
− Que eu não me importo de você ser lobisomem.
− Como você sabe?
− Ouvi você e seus amigos conversando sobre isso.
− Então você não se importa? Mesmo? Você ainda quer sair comigo, mesmo sabendo o que eu sou?
− Claro que eu não me importo, sei desde o ano passado.
Como parecia que ele tinha ficado sem reação me joguei nos braços dele, mas dessa vez não demorou a retribuir o abraço e ainda me beijou.
Saber que agora eu tinha um namorado me fazia um pouco menos triste.
Mas no fim do dia sete de janeiro eu recebi um pergaminho do Dumbledore que era mais ou menos assim:
“Cara Annie,
Quero que venha ao meu escritório na próxima segunda-feira, preciso lhe falar algumas coisas.
PS.: eu gosto de Delícias Gasosas.
Atenciosamente, prof. Dumbledore.”
Não entendi direito o que ele queria dizer com aquele PS, mas talvez fosse alguma senha.
Então na segunda seguinte fui ao escritório de Dumbledore, na porta haviam duas gárgulas e uma me perguntou: “Senha?”, ao que respondi “Delícias Gasosas” e elas saltaram para o lado revelando uma escada dourada em espiral, subi no primeiro degrau e a escada começou a se movimentar sozinha.
Assim que a escada parou me vi defronte a uma porta, bati e a voz grave do diretor respondeu:
− Entre.
− Com licença, professor.
− Sente-se. − Ele ofereceu a cadeira de frente para ele.
− Professor, não são mais notícias ruins, são?
− Não, não são. − Disse ele com um sorriso bondoso.
− Então...
− Eu vou cumprir uma promessa que fiz ao seu pai.
− Que tipo de promessa?
− Vou te explicar direito. Antes de morrer seu pai me fez prometer que eu ensinaria a você Oclumência.
− O que...?
− É uma arte muito avançada e complexa. − Continuou ele como se eu não tivesse dito nada. − É a defesa da mente, fechar a mente contra ataques externos.
− Como assim?
− Um Legilimente pode entrar na sua mente, pode ver o que você vê e pensa, pode colocar um pensamento externo a você na sua cabeça ou até usar o seu corpo, não como na Maldição Imperius, pior, ele entra no seu corpo. E um Oclumente pode impedir que isso aconteça.
− Mas por que meu pai queria que eu aprendesse isso?
− Para evitar certos problemas. Não me pergunte mais, não sei ao certo o que era. − Acrescentou ele ao ver minha expressão intrigada.
− E como se aprende isso?
− Vou te ensinar tudo o que sei e, modéstia à parte, sou um dos melhores.
Dumbledore me fez prometer que não contaria a ninguém o que estaria fazendo lá, porque se as pessoas soubessem iriam querer também e que ele só estava me ensinando porque meu pai havia pedido. Ficou acertado que toda sexta-feira depois do jantar eu iria ao escritório do diretor para ter as aulas.
Quando voltei para a sala comunal e as meninas me perguntaram o que era tive que responder que era sobre meu pai, ainda ficava triste e chorava quando pensava nele, mas ao mesmo tempo eu estava feliz porque tinha conseguido convencer o Lupin, agora Remus, de que eu realmente não me importava dele ser lobisomem e ainda tinha ficado curiosa com as aulas de Oclumência.
Essa primeira semana sem o meu pai foi muito difícil, eu ficava em Hogwarts sem o meu pai, mas eu sabia que ele estava em casa, me mandava cartas, agora que ele tinha ido eu sentia que tinha um buraco em algum lugar dentro de mim.
Mas pelo menos agora eu podia contar com ajuda extra, eu tinha o Remus que a cada dia que a gente passava junto parecia que eu gostava mais dele.
Finalmente chegou a sexta-feira, acordei como se tivesse alguma prova ou coisa do tipo e o dia parecia que não terminava nunca, de tão distraída que estava acabei matando o animal, que nem me lembro qual era, que estávamos estudando na aula de Trato das Criaturas Mágicas e o prof. Kettleburn tirou vinte e cinco pontos da Gryffindor.
− Annie, aonde você vai com tanta pressa? − me perguntou o Remus depois que me encontrou no fim da aula de Runas Antigas.
− Eu preciso jantar logo. Tenho que encontrar uma pessoa.
− Que pessoa? − Perguntou meio desconfiado.
− Oh, não é nada disso. Eu tenho que falar com o Dumbledore, sabe, sobre a minha situação.
− Ah, entendo. Mas você vai demorar?
− Eu não sei, talvez. − Ele me olhou com uma carinha triste. − Por quê?
− Eu só queria ficar com você. − Murmurou ele.
− Oh, que bonitinho. − Disse eu dando um beijinho nele e me sentando à mesa e puxando uma travessa de comida para perto.
Comi tudo em cinco minutos no máximo.
− Já vou indo. − Disse dando outro beijo nele.
− OK.
Subi até o dormitório para deixar o material e saí correndo para a sala do Dumbledore. Bati a porta e entrei. As coisas da sala estavam afastadas de modo que a fazia parecer maior.
− Boa noite. − Falou o diretor. − Pegue sua varinha, por favor. Como já lhe expliquei o que é a Oclumência hoje já vamos começar. Vou-lhe lançar o feitiço e terá que se proteger com outro qualquer, entendeu?
Assenti.
− OK. Legilimens!
Não tive tempo de pensar em feitiço algum, muito menos de pronunciá-lo, então vi flashes de coisas que eu já tinha vivido, como o dia em que minha “mãe” nos deixou, o dia em que fiz minha primeira mágica e, tão de repente como começou, parou.
− O senhor também viu isso?
− Vi sim, mas devia ter reagido.
− Como? O senhor não me deu tempo.
− Pois tem agora.
− Tudo bem.
Pensei por uns instantes e o primeiro que me veio à cabeça foi o Feitiço Convocatório, que eu fui a primeira da turma a fazer totalmente perfeito, mas como esse iria me ajudar? Não, tinha que ser outro...
− Pronto?
− Sim. − Menti.
Não podia dizer que ainda não, mas de qualquer forma eu não teria tempo para dizer nada, então de novo vieram flashes na frente dos meus olhos.
Voltei mais tarde para a sala comunal sem diferença alguma nas tentativas seguintes. Fiquei um tempo com o Remus antes de ir dormir.
Estava cansada no dia seguinte e ainda estava com uma dor de cabeça irritante e as meninas ainda ficavam me perguntando o que eu e Dumbledore estávamos conversando por tanto tempo.
O sábado foi um tanto cansativo, pois eu tive que fazer alguns deveres atrasados e ainda tinha um extra de Trato porque eu era a pior da turma.
Quando eu ia descendo as escadas para tomar banho, passei por um Black furioso, talvez tenha pegado outra detenção, pensei, não dei muita atenção, não era da minha conta.
Mas eu estava enganada, quando cheguei na sala comunal vi que o Remus estava com o rosto vermelho e brincava com uma bolinha de papel.
− O que foi? − Perguntei a ele.
− Nada. − Respondeu fingindo calma.
− Sei. − Disse eu sarcasticamente. − Me diz logo.
− Briguei com o Sirius.
− Ah, por isso que ele estava com tanta raiva. Qual foi o motivo?
Ele respondeu alguma coisa inaudível.
− O que?
− Você! A gente brigou por sua causa, ‘tá legal?!
− Não, não está! O motivo da briga fui eu, mas por quê?
− Porque ele é um imbecil!
− Disso eu sempre soube. − Interrompi e ele ignorou.
− Ele acha que eu traí a amizade quando comecei a sair com você, só porque ele pediu para sair com você antes e você não aceitou.
− Que coisa estúpida. Mesmo se ele me pedisse por dez anos eu não aceitaria.
Ele ficou calado e pensando em sabe-se lá o que, mas sem olhar para mim. Até que, com a mesma cara emburrada, olhou para mim e disse:
− Por que eu? Por que de todos os garotos da escola você me escolheu?
− Não sei direito, eu não olhei para você e falei “vou escolher esse”, acho que deve ser porque eu te achei diferente dos outros e você não ficava me olhando com cara de bobo.
Ele não disse nada, só ficou ali me olhando.
− Acho que se você fosse qualquer outra garota eu não arriscaria meus amigos por você.
Não consegui dormir direito aquela noite, muitas garotas iriam adorar ouvir o namorado dizer o que o Remus disse, mas eu não, eu era só namorada dele, e se alguma coisa acontecesse e nós terminássemos? Será que ele faria as pazes com os amigos?
Em minha opinião, a semana passou muito rápida e a sexta com a aula de Oclumência que eu não evoluía nada fez ficar pior, além de estar com uma terrível dor de cabeça.
Era meio cansativo ficar inventando estórias toda vez que eu ia para a aula de Oclumência, mas eu conseguia me virar. O Remus ficava meio desconfiado, mas nada falava.
Quanto mais o tempo passava mais deveres eram passados e mais cansada eu ficava, porque, finalmente, eu conseguia evoluir na Oclumência, mas às vezes parecia que eu ia enlouquecer, teve uma vez particularmente constrangedora, foi mais ou menos assim: eu estava indo para a aula de feitiços quando todo o barulho ao redor desapareceu, mas tão de repente como se acabou voltou, mas não normalmente, voltou muito mais alto e algumas coisas que eu estava ouvindo me pareceu que eram coisas que não precisavam ser ditas, mas aquilo tudo não parava de aumentar o volume e cada pessoa que passava do meu lado parecia berrar no meu ouvido, até que eu não agüentei mais e gritei:
− Parem de gritar!!
Por um momento parou, mas depois continuou.
− Annie − disse a voz distante da Mary − vem comigo.
Percebi que estava agachada perto da parede e que fui levada para a ala hospitalar, no entanto, ao pisar na soleira da ala hospitalar tudo aquilo passou, na hora não entendi o que podia ser, mas depois percebi que podia ser por causa da Oclumência.
As semanas de lua cheia eram, sem dúvida, as piores, eu e o Remus combinamos que o dia nós passaríamos com os amigos e as noites e fins de semana alternados nós ficaríamos juntos, mas quando tinha a lua cheia ficava meio parado, eu começava a pensar mais no meu pai e na minha situação, não era nada legal.
Já agora eu conseguia controlar a minha mente, não tinha mais ataques no meio do corredor e já tinha conseguido bloquear quatro vezes o Dumbledore.
Ah, as detenções, bom, com tantas coisas ruins e estranhas acontecendo comigo eu meio que me acalmei.
Logo chegou a semana das provas que, na minha opinião, estavam muito fáceis.
Dumbledore me chamou para uma última aula depois da prova de Herbologia que era a última do ano.
− Até hoje você tem que ir? − Perguntou Remus.
− Desculpa, mas eu tenho que ir! − Disse eu.
− Para onde você vai?
− Não posso te dizer. − Com a cara de desconfiança que ele fez, acrescentei: − É sério. Se eu pudesse já tinha te falado. Já está na hora, me deixaeu ir logo.
Foi uma ótima aula, consegui bloquear uma vez e quase mais outra, mas me distraí e não deu certo.
Voltei tarde, mas feliz com o meu progresso. Quando estava no pé da escada ouvi a voz do Remus numa poltrona na frente da lareira:
− Annie. Tão tarde?
− Remus? O que você está fazendo aqui sozinho há essa hora? − Disse eu voltando e me sentando na poltrona ao lado.
− Estava te esperando.
− Oh, não precisava.
− Onde você estava? − Perguntou ele chegando mais perto.
− Remus, eu já...
− Eu te falei que vou para a Casa dos Gritos toda lua cheia, por que você não pode confiar esse segredo a mim?
−Você tem que entender que eu jurei que não contaria a ninguém, eu dei minha palavra.
− Sabe que as pessoas já repararam? Todo mundo me pergunta para onde você vaiou falam que você está me traindo.
− Que ridículo! Você não acredita nisso não é?
− Depois de um tempo, Annie, fica difícil não pensar nisso.
− Mas que besteira! Você acha que não me enchem a cabeça com perguntas de onde você vai, qual é o seu problema e coisas do tipo?!
− É, mas você sabe qual é o meu problema. − Nessa altura da conversa ele começou a ficar nervoso, e eu também.
− Você realmente acha, não é? Que eu estou saindo com outra pessoa?
− Acho, acho sim. E eu não vou mais aceitar isso. Quem é?
− Não tem ninguém! Você prefere acreditar nas outras pessoas do que em mim?
− Eu só quero que você confesse.
− Confessar o que? Uma coisa que eu não estou fazendo? Não, eu não vou fazer isso.
− Então está bom. A gente termina por aqui, OK?
− Não, mas se é o que você quer...
E saí andando com raiva para o meu dormitório.
Na manhã seguinte chegou a confirmação de que eu poderia passar as férias de verão na casa da Lily, a Mary iria para a Turquia e a Shelli iria para o País de Gales de novo.
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