Nova roupagem para a Antiga...
Nova roupagem para a Antiga Cerimônia
***
Draco estava sentado no parapeito da janela em seu pequeno quarto, assistindo o sol nascer por detrás da Floresta Proibida. O céu estava lavado por um pálido madrepérola, chamuscado pelo fogo exatamente acima das copas das árvores; a cristalina atmosfera de inverno estava sem nenhuma nuvem. A luz da aurora fluía através da abóbada da janela, a sombra de sangue e rosas, tocando o seu rosto pálido com uma cor que de outra forma ele não parecia ter.
Havia luz suficiente agora para ler sem precisar ascender uma tocha ou vela. Na sua mão, estava o pergaminho que Rhysenn tinha lhe entregado na noite anterior. Era uma folha de um claro e branco pergaminho, com uma simples palavra escrita com um absoluto preto não familiar.
Venio.
Devagar, ele deixou a carta cair de sua mão e enquanto ela caía se incendiando em chamas, apenas cinzas pousavam no chão de pedra nu e se acumulavam entre as lacunas das pedras. Em alguns instantes, a carta parecia nunca ter existido de fato.
***
Hermione acordou com um solavanco de susto. Suas pálpebras estavam pesadas e seus olhos estavam secos de exaustão. Ela se virou, cuidadosamente para não acordar Harry, que estava dormindo junto dela, por cima da colcha. Ele tinha caído no sono com sua capa vermelha em torno dele e ela tinha desistido de tentar pegá-lo para livrá-lo dela: ela esperava que se o cômodo não estivesse quente o suficiente, ele não congelaria.
Ela se virou assim que deitou do lado dele e olhou para ele. Ele estava dormindo, um tipo de sono pesado e drogado. Um braço estava totalmente esticado, a mão descansada sobre o travesseiro dela e meio-aberta, os dedos meio dobrados. Isto a fazia lembrar de um bebe dormindo: um tipo de gesto confiante e indefeso. Seu outro braço estava dobrado em cima de seu estômago, seu punho fechado, apertado sobre a cicatriz em forma de raio que cortava sua palma direita. Seus cabelos negros se contrastavam brilhantes de encontro ao travesseiro dela; as pálpebras fechadas dos olhos deles estavam azuladas de cansaço e sua mandíbula e seu queixo também estavam azulados, no lugar onde ele não tinha feito a barba.
Uma fagulha de dor atravessou Hermione enquanto ela olhava para ele: medo misturado com superproteção misturado com amor. Através da clara vidraça de seu rosto inconsciente, ela podia ver através da criança que ele tinha sido, o garotinho com roupas muito grandes e cabelos que não cooperavam, agressivo e teimoso e confiante e bravo. Ela se lembrou da primeira vez que tinha colocado seus braços em torno dele. Harry, você é um grande bruxo, você sabe.
Ele tinha balançado sua cabeça negativamente. Eu não sou tão bom quanto você.
Eu? Livros! E inteligência! Existem coisas mais importantes – amizade e coragem – e, oh Harry – tenha cuidado --
Ela se lembrou de vê-lo depois disto, na enfermaria. Ela estivera completamente certa de que ele estava morto, e quando ela o viu com vida de novo, um tipo de terror se apossou dela e a fez abraçá-lo - um terror de que talvez ela não o tinha perdido naquele momento, mas de que ela estava mais uma vez vulnerável de perdê-lo de novo. Ela se moveu cuidadosamente, se aproximando dele, indo em direção a onde ele estava deitado na cama, de forma que a mão dela descansou do lado dele e levantava e descia de acordo com o ritmo da respiração dele enquanto ele respirava. Ele parecia tenso sob o toque dela, e muito devagar suas pálpebras tremeram e se levantaram e ele abriu seus olhos. Sem os óculos, eles eram claras janelas de vidro verde, ladeados por cílios negros.
Ela prendeu sua respiração, esperando. Ele estaria com raiva – ele se lembraria da briga deles – ele se lembraria da noite passada, depois que ela o tinha trazido pelas escadas até o quarto dela? Ainda que tudo o que ele tinha feito era adormecer imediatamente, empurrando as mãos dela enquanto ela tentava ajudá-lo a tirar suas botas, sua jaqueta úmida.
Mas os olhos verdes dele ainda estavam enevoados de sono e ele sorriu para ela de modo cansado mas sem surpresa, como se ele esperasse vê-la ali quando ele acordasse. Ele se virou de forma que ele pudesse esticar seus braços e ela foi até eles e o deixou abraçá-la com força, sentindo o restante de umidade de sua capa sob as mãos dela, o movimento da respiração suave dele nos cabelos da nuca do pescoço dela. Eles ficaram deitados assim por alguns minutos, sem se falar antes que ela sentisse o aperto dele se afrouxar, e ele a libertou, movendo sua mão direita para cima, para tocar o rosto dela.
Muito suavemente, ela disse, “Como você está se sentindo?”.
Ele limpou a garganta dele e recuou. “Eu estou na cama com meus sapatos e estou me sentindo como alguém que tomou limão com dente de alho, carregou duas vezes o seu peso e o deixou cair na minha cabeça. A não ser isto, eu estou bem”. Ele sorriu para ela. “E você está aqui, o que anula o efeito qualquer coisa de ruim”. O sorriso se transformou em um olhar embaraçado. “Nós...fizemos alguma coisa na noite passada?”.
Hermione sorriu para ele com doçura. “O que, você não se lembra da nossa primeira vez?”.
Harry se sentou repentinamente e então segurou com força sua cabeça. “Owwwww,” ele lamentou e olhou para ela de maneira suplicante. “Nós não fizemos! Diga-me que nós não fizemos”.
Hermione cruzou seus braços e olhou para ele com os olhos estreitados. “Por que, seria uma coisa tão ruim?”.
“Se eu não me lembro, seria uma coisa muito ruim,” ele replicou.
Hermione jogou com rapidez seus cachos para trás e deu de ombros. “Você estava muito distante e fora de si para fazer qualquer outra coisa a não ser desmoronar na cama depois de ter vomitado em todos e sobre alguns livros na sala comunal – eu acho que você deve desculpas ao Neville”.
“Eu não vomitei em você, né?”.
Hermione sorriu. “Quê romântico. Não, você não vomitou em mim. Você não vomitou em Draco tampouco, o que é decepcionante. Eu me pergunto como ele teria lidado com isto”.
“Muito mal, eu suspeito”. Harry levou sua mão até suas têmporas. “Eu me lembro muito pouco de alguma coisa da noite passada depois...”. Ele ficou repentinamente muito pálido. “Depois...”. Ela observou enquanto a consciência inundava a expressão dele, seguida pelo choque, seguida pelo horror. “Oh, Deus,” ele disse, soando entorpecido. “Oh, Deus. A noite passada. O que você deve estar pensando de mim. Eu não sei o que deu em mim--".
“Mais ou menos depois da quarta vodka, as coisas mudam”.
“Eu acho que foi gim,” ele replicou de forma distraída. Ele olhou para ela, pálido e cheio de remorsos. “Hermione, eu -".
“Foi a um clube de strip. Eu sei”.
Harry parecia como se tivesse caído da cama. “Você sabe? Como você sabe?”.
“Você,” ela disse e o empurrou com um dedo, “fala enquanto dorme”.
“Oh”. Harry parecia muito embaraçado, o que ela sempre achou ser algo muito fofo - as orelhas dele ficavam vermelhas e ele mordia o lábio dele. “Eu, uh -".
“Quem é Angelique?”.
“Angelique?”. Harry escamoteou. “Ela era, um, a barista”.
“A barista de topless?”.
“S-sim. Bem, ela tinha muito cabelo”.
“Sério”. A voz de Hermione estava cotejada de desdém. “E era realmente Snape que estava tocando o clarinete?”.
“Hermione!”. Harry deixou de lado o travesseiro que estava segurando em um gesto de desespero. “Eu não sei como eu acabei no Sleazy Weasel, simplesmente aconteceu, e eu irei conseguir para você, eu comprarei para você e para Ginny cópias do calendário da Playwitch em roupas de banho -".
“Eu ouvi dizer que Charlie estava no mês de fevereiro,” disse Hermione, fascinada.
“- apenas me perdoe”.
Hermione apenas soltou a respiração em um sinal exasperado. “Oh, Harry, pelo amor de Deus, eu não me importo com isto. Então, você foi tomar uns drinks, então foi ao - uh, Sleazy Weasel, o que é um nome ridículo, eu não me importo, eu sei exatamente onde reside a culpa disto tudo e ela está em Draco. Mas eu até mesmo não o culpo, ele estava simplesmente tentando levantar o seu animo e se funcionou, pelo amor de Deus, eu devo ser a primeira pessoa a agradecê-lo. Eu estava tão preocupada -".
“Eu não estava exatamente me desculpando por isto”. Ele se levantou e a pegou pelos pulsos, a levantando para que ficasse de pé. Ela se levantou junto com ele, e ficou de pé, inclinando sua cabeça para trás, para olhar para ele. Ela se lembrava de quando era mais alta do que ele. Não mais. “Existe também o que aconteceu na sala comunal. Eu estou me desculpando por isto. Eu fui um total idiota, e - me perdoe, por favor”.
Hermione hesitou.
As mãos de Harry estavam apertadas. Ela podia sentir o seu aperto envolvendo os pulsos dela e olhou para cima, procurando seu rosto. Atrás dos olhos coloridos por um absoluto verde, havia preocupação e até mesmo um pânico crescente. Ele estava com medo de que ela não o perdoasse, e por quê? Porque ele sabe que tudo o que estava ele escondeu de mim é alguma coisa séria e se eu soubesse o que era, ficaria com raiva. Com muita raiva.
“É claro que eu perdôo você,” ela disse. Ela escutou sua própria voz como se ao longe: distante e um pouco fria. “Não existe quase nada que você possa fazer que eu não poderia perdoar e você sabe disto”.
Um pouco de medo se apagou da expressão dele, mas alguma ansiedade permanecia, como a imagem atrasada do sol de encontro às pálpebras fechadas. Existia sempre esta escuridão lá, nos olhos dele. Hermione fez uma correspondência com a escuridão deste armário de vassouras debaixo das escadas, a sombra que nunca podia deixar totalmente o lugar. “Então o que...”.
“Eu não sei o que está perturbando você, Harry,” ela disse. “Mas alguma coisa está. Você acha que eu não posso perceber?”. Ela puxou seus pulsos do aperto dele, pegou suas mãos e as girou. Junto com a lateral da mão direita dele, estava uma feia contusão e ambas as palmas eram impressas com uma meia lua sem cor, onde as unhas dele tinham escavado a pele. “Você está se martirizando com alguma coisa, literalmente, e também de modo figurado. E se você não me dizer o que está dilacerando você, então você estará colocando um abismo entre nós. E se um dia eu não conseguir alcançá-lo através dele, então você não terá ninguém para culpar, a não ser você mesmo”.
Ela levantou seus olhos para o rosto dele e por um momento viu a máscara deixar a sua expressão, expondo por um momento o Harry que ela conhecia – vulnerável, confuso, ferozmente amável. Então os olhos dele deslizaram, se afastando do rosto dela. Ele disse, “apenas me dê um pouco mais de tempo”.
Ela suspirou. Ela se sentia muito cansada, pois, de novo, ela quase não tinha descansado na noite anterior. “Faça o que você precisa fazer, Harry”.
“Eu te amo,” ele disse. Seu tom era esperançoso, um pouco defensivo. Mas ela reagiu à declaração mesmo assim, como sempre ela reagia. Ela levantou seu rosto e ele a beijou gentilmente, a sombra dos pêlos eriçados ao longo da mandíbula e do queixo dele roçando a pele dela. Ela colocou sues braços em torno dele então, e ele a segurou, seu rosto se arqueando nos cabelos dela, suas mãos a abraçando, através das costas dela. Mas, mesmo que eles estivessem de pé, muito próximos, aparentemente tão próximos quanto duas pessoas podiam estar, Hermione sentia a distância entre eles e sabia que ela não iria se romper.
***
Café da manhã. Ginny empurrou de maneira mal-humorada o seu prato com ovos e torrada. Ela não estava certa do porque estava com um tamanho mau humor - talvez fosse o nervosismo por conta do jogo desta tarde, ou talvez fosse o fato de que não tinha dormido bem na noite passada. Ela tinha ficado na cama, acordada, lembrando do rosto de Draco enquanto ele dizia, “eu nunca prometi nada a você”. A expressão dele tão vazia, aqueles olhos cinzas tão ilegíveis. Ela pensou que o vazio era pior do que a frieza que ele algumas vezes mostrava. Pelo menos, a frieza era um sentimento. O vazio era apenas – nada. E era irritante. Às vezes, ela se perguntava se pessoas se apaixonavam por ele tão facilmente porque ele podia ser tão ilegível - como uma bela e vazia casa. Você podia sonhar, imaginar haver qualquer coisa dentro dela.
Ela se perguntou se Blaise sabia como lê-lo ou e alguém sabia. Harry, talvez. Quando ele se esforçava.
Argh. Ginny comeu outro fatia de ovos e se privou de olhar para a mesa da Slytherin, o que ela fazia muito bem. Draco era impossível. Totalmente impossível. Existiam muitos outros garotos atraentes na escola. Seamus Finnegan por exemplo. Ali, ele estava de frente para ela, comendo mingau com um garfo. Com seus cabelos louro-escuros, olhos azuis e um sotaque Irlandês, Seamus era certamente interessante. Não era, tampouco, um ruim jogador de Quadribol. Então, porque ela não estava interessada nele?
“Ginny?”. Seamus estava dando a ela um olhar estranho. “Tem alguma coisa no meu rosto?”.
Ginny percebeu que ela o estava encarando. “Oh. Uh. Não”.
“Sim, você tem,” disse Dean, olhando em volta. “Muitas malditas sardas”.
“Eu não tenho,” disse Seamus amigavelmente. Isto era verdade – Ginny, sendo uma Weasley, conhecia muito bem sardas quando as via. Seamus tinha apenas um pouco, em cima do nariz.
“Você tem”.
“Não tenho”.
Ginny deixou Seamus e Dean para lá, na disputa deles. Eles eram capazes de continuar com isto durante muito tempo. Ela olhou ao redor, esperançosa, a mesa mais uma vez, de novo, como se Harry, Hermione ou Ron talvez tivesse aparecido espontaneamente ali desde a última vez que ela olhou, mas não - todos eles continuavam atrasados para o café da manhã. Próximo dela, Lavender e Parvati explodiam em um novo dilúvio de risadas. Ginny era capaz de entender, entre as risadas, as palavras Draco, tão e fofo. Ela jogou seu garfo no prato e olhou para cima, para ver que elas estavam de fato olhando para a mesa da Slytherin, na qual Draco estava ocupado em uma conversa com Malcolm Baddock.
Ginny suspirou. Desde que Hermione tinha, provavelmente de maneira não inteligente, contou a Lavender e Parvati que Draco Malfoy não era tão mal quando você o conhecia, elas se sentiram livres para expressar a atração que tinham por ele desde o começo. Apenas o assistir levantar-se e sentar-se na mesa da Slytherin, na hora das refeições, tornou-se algum tipo de esporte para elas.
“Você sabe, de certo modo, é propício que ele esteja na Slytherin,” disse Parvati, um pouco nebulosa. “Verde, realmente, combina com ele”.
“Oh, pelo amor de Deus”. Ginny revirou os seus olhos. “Escutem, vocês dois. ‘Aqui vem Draco Malfoy, vamos todas arremessar as nossas calcinhas para ele, em um arroubo louco de paixão’. Eu quero dizer, realmente. Independente de qualquer coisa, se orgulhem de Gryffindor e --".
“Não existe forma de arremessar nossas calcinhas para ele,” interrompeu Lavender, severamente. “Ele está namorando a Blaise”.
Ginny derrubou o seu leite do seu copo com uma pancada. “Sarcasmo é precisamente o que vocês carecem de ter, não é?”. Ela se perguntou, não pela primeira vez, o que elas iriam dizer se ela lhes contasse que dividiu alguns beijos apaixonados com Draco, no verão passado e que ele não tinha nada de especial. Ela afastou a idéia: primeiro, porque elas podiam não acreditar nela, de qualquer forma, e segundo porque não era exatamente verdade. “De qualquer jeito, desde quando vocês duas estão intimidadas com Blaise?”.
Parvati deu de ombros. “Você não pode infringir o território de outra garota, até mesmo se ela é uma Slytherin. É o Código de Conduta das Garotas”.
Ginny levantou uma sobrancelha. “O Código de Conduta das Garotas”.
“É como o Código de Conduta dos Bruxos,” disse uma voz familiar na orelha dela, “apenas com mais espartilhos”.
Ginny se virou em torno de si para ver seu irmão no processo de se sentar perto dela. “Ron!” ela disse, surpresa. “Você parece horrível”.
Ele parecia horrível, ou pelo menos como se não tivesse dormido toda a noite - seu cabelo estava uma bagunça e tinham círculos de exaustão, quase negros, debaixo dos seus olhos azuis. Mas o seu sorriso irradiava bom humor. “Obrigado, Gin. Eu sei que posso sempre contar com você para levantar o meu ego ferido”. Ele estendeu uma mão. “Ovos,” ele acrescentou.
Ginny lhe entregou o prato com ovos. “Você não pegou no sono, ou o quê?”.
Revolvendo a comida na sua boca, Ron não respondeu. Um minuto depois, Harry e Hermione tinham se juntado a eles, à mesa. Nenhum deles parecia especialmente ter dormido também, ainda que isto pouco surpreendesse Ginny. Da última vez que ela viu Harry, ele estava inconsciente na neve e ela suponha que Hermione provavelmente tinha cuidado dele a noite toda. “Olá!”, ela murmurou alegremente. Harry sobressaltou-se. Hermione, cuja pele parecia quase transparente de cansaço, sorriu para ela palidamente. “Eu estou tão contente por nós termos um jogo contra a Slytherin hoje,” acrescentou Ginny com rapidez. “Harry e Ron parecem exatamente prontos para limpar o campo com eles. Eu tenho uma sugestão, Harry. Quando dê a impressão de que Draco está quase pegando o Pomo, por que você não vomita nele?”.
“Eurgh,” disse Harry, parecendo verde.
“Nós jogaremos bem,” disse Ron, discretamente empurrando um jarro de água na direção de Harry. “Reidratar-se, Harry”.
Enquanto Harry, obedientemente, bebia a água, Hermione olhava para ele ansiosa. “Oh, vá a Madame Pomfrey, sim?”, ela disse finalmente. “Eu sei que ela deve ter poções para ressaca em algum lugar e eu não tenho tempo para fazer uma antes do jogo. Elas levam pelo menos um dia para ser preparada”.
“Tudo bem”. Harry fez um gesto com sua mão, com fraqueza. “Eu irei. Eu irei antes de História da Magia”.
“Isto é bom,” disse Ginny. “Porque, neste momento, você parece que não conseguiria voar nem se eles te atirassem com um canhão”.
“Você está simplesmente irritada porque eu fui beber com Draco e você não gosta dele,” disse Harry, irritavelmente sendo direto.
“Shhh,” sibilou Ginny, quase derramando o copo com leite dela. “O fã clube dele escutará você”.
“Draco tem um fã clube?” disse Harry com um sincero espanto.
Ginny jogou o seu queixo para baixo, em direção à mesa em que estavam Lavender e Parvati, que estavam agora rindo com algumas garotas do sexto ano. “Sim e elas estão tendo uma reunião neste momento”.
Ron bufou. “Existe algum problema com a ponte em que elas normalmente estão?”.
Hermione engasgou com o seu suco de abóbora e então riu. “Ron...”.
“Sim?”.
Hermione deu a ele um olhar inocente. “Nada”. Ela colocou seu copo na mesa e sorriu. “Eu estava para dizer agora mesmo que eu tenho alguma Poção Pepperup no meu baú se você precisar. Você parece um pouco cansado”.
“Eu não estou cansado,” disse Ron e bocejou muito. “Eu estou bem”.
Hermione levantou uma sobrancelha. “Você está se lembrando que nós temos uma reunião de monitores às duas horas não é?”.
“Bem lembrado,” disse Ron. “Nenhuma Poção Pepperup para mim. Seria muito cruel me privar da oportunidade de dormir durante uma daquelas reuniões”.
“E o mistério do por que você foi feito Monitor se aprofunda ainda mais,” disse Hermione, sacudindo sua cabeça. “O que você teria feito - levou uma folha do livro de Fred e George e os chantageou?”.
Harry estendeu uma mão e bateu nas costas de Ron. “O Ron aqui, por acaso, tem muitas e ótimas qualidades de liderança,” ele disse.
“Sim,” concordou Hermione. “Atualmente, ele encheu a Casa de, no mínimo, uma montante de deveres de casa feitos, uma montante de cervejas amanteigadas consumidas e mais um número de cartas recebidas de suspeitosas prostitutas Francesas de nomes idiotas”.
“Certo,” disse Ron,” porque Hermione não é de maneira nenhuma um nome idiota”.
“Isto não é sobre meu nome –“, Hermione começou de forma indignada e então se levantou com um salto. “Ow! Ron!”. Ela olhava para ele. “Eu não posso acreditar que você me chutou por debaixo da mesa. Isto é tão imaturo”.
Ron sorriu para ele, de forma amigável. Ginny se lembrou do tempo em que alguém – Draco, ela secretamente suspeitava – tinha trocado as letras do crachá de Monitor, assim, no lugar de se ler “Ron Weasley, Monitor” se lia “Ron Weasley, Bastardo Convencido”. Ron não tinha se divertido, apesar de que anos atrás, quando Fred e George fizeram exatamente a mesma coisa com Percy, ele achara engraçado.
Talvez, ela meditou, Harry não fôra, de maneira alguma, estúpido por recusar o serviço de Monitor, apesar de tudo.
***
O teto do Salão dos Monitores desaparecia a perder de vista na escuridão acima deles. A mesa redonda que estava no meio do cômodo, em volta da qual gerações de monitores da escola se sentaram, estava marcada pelos sinais dos anos - os cortes das penas, talhando iniciais, manchas de tintas derramadas. No centro da mesa tinha um anel prateado, levemente em relevo, aproximadamente com dez polegadas de diâmetro.
A parede norte do cômodo tinha duas janelas com vidros coloridos, uma dourada, outra azul; a parede sul tinha janelas verdes e azuis. Ron estava de pé na cabeceira da mesa, suas costas para a parede oeste. Havia uma longa, branca e estreita janela clara atrás dele, embaçada por uma geada e através dela, mais brancura era visível – neve depositada nos ramos nus das árvores, as fagulhas de luz do sol, sem cor, sob a massa de neve. Na frente de toda a brancura, os cabelos brilhantes e vermelhos de Ron se destacavam como bandeiras em chamas.
“Este encontro acontecerá para colocar algumas coisas em ordem”. Ele bateu na mesa com uma mão e forçou um sorriso. “Ok pessoal, sentem-se”. Ele jogou o seu queixo em direção a Draco, que ainda estava parado, de pé, perto da porta. “Malfoy, venha aqui e se sente. Você está atrasado”.
Os outros monitores – era permitido a cada casa ter dois monitores, neste ano, a partir do quinto ano, fazendo com que houvesse vinte e quatro no total – viraram e olharam para ele. Pansy Parkinson, a outra monitora da Slytherin, revirou os seus olhos e empurrou uma cadeira próxima dela de forma que ele pudesse se sentar.
As costas de cada cadeira dos monitores da Slytherin estavam incrustadas com uma cobra prateada enrolada. “Sente-se,” ela disse.
Ele não o fez. Seus olhos escaneavam para cima e para baixo a mesa e veio a ficar do lado de Ron. “Onde está a Hermione?”.
Ron parecia irritado. “Ela não conseguiria chegar a tempo. Este será um encontro curto e ela me autorizou a agir junto com os nossos pares”.
“Ótimo”. Draco deu a volta em torno da mesa, devagar, e caiu pesadamente na cadeira próxima a Pansy. Isto o colocou exatamente do lado esquerdo de Ron. Ele fez com que sua voz ficasse em tom baixo, “Você não sabe onde ela está, não é?”.
Ron, embaralhando os pergaminhos, teve a intenção de ignorá-lo.
“Ela simplesmente não perderia um encontro por nada no mundo. Ela ama os encontros mais do que me ama”.
“Ela ama sífilis mais do que ama você, Malfoy,” sibilou Ron.
Justin Finch-Fletchley, sentado mais afastado na mesa, levantou uma sobrancelha. “Alguém disse alguma coisa sobre sífilis?”.
“Eu estava apenas dizendo a Ron que com um pouco de pomada, seus sintomas desapareceriam muito,” disse Draco suavemente.
“Eu acho que dificilmente sífilis seja um tópico apropriado para um encontro de monitores,” disse Pansy, balançando sua cabeça negativamente, de forma que seus brincos tilintaram.
“Isto é verdade,” disse Draco. “Eu acho que nós devíamos discutir assuntos mais importantes, como esta conspiração silenciosa que finge que a Torre de Astronomia é de fato usada para astronomia, quando nós todos realmente sabemos que as pessoas apenas vão lá em cima para dar uns amassos, uns nos outros, sem sentido”.
“Eu tenho usado a Torre de Astronomia para astronomia,” disse Justin, irritado.
“Sim, bem, você é apenas um triste e sem esperança, não é, Finch-Fletchley?”.
“Parabéns, Malfoy,” disse Ron, em voz alta, falando acima do coro de murmúrios irritados que se seguiram a última observação de Draco. “Cinco minutos de encontro e você já perdeu o controle. E você se pergunta porque todos adquirem uma instantânea antipatia de você”.
“Eu estava apenas representando para ganhar tempo,” disse Draco, mas ele levantou sua mão, e deu de ombros, sorrindo tranqüilamente. Era um polido e brando sorriso que não alcançava seus olhos. “Eu estou pronto para falar de negócios”.
“Não, você está pronto para calar a boca e escutar. Diga mais alguma coisa e vinte pontos serão tirados da Slytherin”. Ron levantou sua varinha e a moveu em direção ao centro da mesa, onde o emblema de Hogwarts estava adornado dentro de círculo prateado entalhado. “Ascensus orbis,” ele disse e o círculo prateado se descolou e se levantou no ar, girando indolentemente. Ron o observou até ele parar, girando, aproximadamente umas doze polegadas acima da mesa. Então, ele falou. “Ele encontro está agora em andamento. Tudo bem então, sucessão de negócios…
Moção de ter todos os monitores da escola engajados na procura pelo Trevor, o Sapo --- votos unânimes de não. Desculpe-me, Neville”.
Neville, que não era um monitor mas tinha sido autorizado a se sentar na reunião para ouvir o resultado de seu pedido, parecia resignado.
“Tudo bem, então, o Pub Crawl (uma festa) do Sétimo Ano,” disse Ron, revolvendo mais papéis. “No último ano, foi um desastre, com, pelo menos seis alunos dos primeiros anos tomando Poções para Envelhecer para tentar enganar as barreiras de segurança e dois alunos do sexto ano bebendo uma garrafa inteira de vinho de Gigantes e enfeitiçando um ao outro. Um deles ainda tem vestígios de antenas pregadas na sua cabeça. Nós não podemos permitir que este tipo de coisa aconteça, de novo, este ano”.
“Bem, o que nós podemos fazer quanto a isto?” perguntou Padma Patil. Enquanto ela falava, o círculo giratório se tornou azul para a casa de Ravenclaw.
“Eu acho que nós precisamos de algumas regras mais específicas,” disse Justin e a esfera se tornou dourada. “Como esta, Bebidas Levemente Espumantes só podem ser consumidas dentro da festa”.
Todos deram risadas. Ninguém, na mesa, tinha estado na festa Pub Crawl, no ano passado, mas eles todos tinha ouvido falar de Eric Sorenson, o aluno do sétimo ano que tinha flutuado até o cume da torre espiralada de Hogsmeade e tinha sido resgatado pelos habitantes da cidade montados em vassouras.
“Bem, que estabelecimentos estão envolvidos este ano?” perguntou Padma.
“Fred e George estão transformando a “Logros para Bruxos dos Weasleys” em uma vinícola...” disse Ron.
“Vinícola de Bruxos dos Weasleys?” perguntou Draco enquanto a esfera se tornava verde.
“Uh-huh,” disse Ron imediatamente. “O Três Vassouras, é claro, o Cabeça de Javali e o Lêmure Sagaz (Lêmure = tipo de macaco), mais o Forte Floreado que está trazendo seu sorvete de creme e a variação do sorvete de Cerveja Amanteigada, o Duque Adocicado estará fornecendo doces de graça, o Refúgio do Livro trará chá de ervas para aqueles que desejarem aproveitar o evento de uma maneira não intoxicante -".
“Idiota,” comentou Draco, calmamente.
“- e a loja de frituras estará aberta também. Agora, é realmente um evento muito simples. Todos recebem um pergaminho quando eles saem, explicando quando cada estabelecimento estará oferecendo seus serviços e é claro que os eventos marcados em horas diferentes. Quem quer distribuir os pergaminhos?”.
Todos pareceram incertos, mas, finalmente, Pansy se ofereceu, principalmente, Draco desconfiou, porque ela não teria um namorado para o evento.
“Tudo bem, agora a questão principal que é manter os alunos mais novos longe das tentativas de se enfiar na festa. Os alunos do Sexto Ano, especialmente, acham que estão muito velhos para o Yule Ball,” ele acrescentou, lançando um olhara para os monitores do sexto ano, que resmungavam em voz baixa. “Agora, em termos de resolver este problema...”.
A voz de Ron lentamente desapareceu da consciência de Draco enquanto a exaustão de não ter dormido muito na noite passada, começava a recair sobre ele. Ele estava tendo momentos difíceis para manter suas pálpebras abertas. Colocando as mãos sobre seus olhos, Draco olhou para baixo, para a mesa, tendo esperança de que isto parecesse como se estivesse perdido em pensamentos e fechou seus olhos. O som das outras vozes no cômodo retrocedeu como uma onda puxada para trás e a escuridão do sono o envolveu.
***
“Onde está meu servo?”.
“Ele está no outro cômodo, meu Lord. Ele está trazendo aquilo que nós exigimos dele e ele pede, de novo, o seu perdão”.
Uma respiração aguda, assobiada e aspirada. “Faça-o entrar”.
Era o mesmo cômodo da torre, ainda que as mobílias tivessem se multiplicado. No topo da longa mesa, de encontro a parede, estavam empilhadas, de maneira vertiginosa, uma série de objetos mágicos. Frascos e garrafinhas prateadas, almofariz de jade, alambiques transparentes. Caldeirões cujos conteúdos dourados produziam luz de um assustador verde azulado. Ele via o cômodo de um novo ângulo, encarando os dois homens que estavam de pé, lado a lado, olhando para baixo, para o pentagrama gravado no chão. Atrás disto, ele podia ver uma parede cheia de prateleiras enfileiradas. As prateleiras continham todo tipo de coisas: jarras de pergaminho mumificado, mapas do céu, caçarolas, braseiros em miniatura e urnas, algumas velas de pé e o que parecia ser um athanorum – um forno de alquimia. Uma tapeçaria pendia da parede sul, quase roçando a longa mesa: ele era pintado com um crânio, com flores saindo das chaminés dos seus olhos vazios e palavras bordadas embaixo dele:
Eu sou o assassino contra o qual nenhuma prisão pode me aprisionar.
“Talvez não seja o espelho certo, meu Lord,” disse Lucius Malfoy ansiosamente, olhando para o lado, para seu mestre. Ele estava, hoje, usando vestes carmim escuro, amarradas com uma faixa negra. Ele freqüentemente usava vermelho nos bosques quando ele e Draco iam caçar juntos, anos atrás. “Assim, esconde o sangue,” ele dizia.
“Será,” disse Voldemort, “o espelho certo”.
Uma alta porta entalhada na parede se abriu, deslizando e Rabicho entrou, carregando em sua mão um espelho de tamanho médio. Era uma bonita peça: a superfície refletida feita de prata polida e o corpo e o cabo feito de bronze. O cabo era trançado como um cacho, a borda cheia de desenhos estampados, com motivos de redemoinhos de vento e pássaros. Lembrava Draco, vagamente, do trabalho artesanal feito na bainha da espada de Gryffindor, de Harry.
Rabicho caiu ajoelhado na frente do Lorde das Trevas, sua cabeça arqueada. Voldemort esticou sua pálida, fina mão e pegou o espelho do seu servo. Do seu ponto de vista, atrás do Lorde das Trevas, Draco podia ver Voldemort levantar o espelho com sua mão e olhar, com ponderação, para sua própria expressão malévola.
Então, ele abriu sua mão. O espelho, lentamente, se ergueu alguns palmos no ar e pairou, flutuando, ali, diretamente, na frente do Lorde das Trevas, como se estivesse preso por um forte campo magnético.
A voz do Lorde das Trevas soava divertida. “Encontre o Herdeiro,” ele disse.
O reflexo de seu rosto desapareceu enquanto a superfície do espelho se anuviava, como se uma tempestade de fumaça azul serpenteasse de suas profundezas. Quando as sombras azuis se aclararam, Draco viu, de repente, um corredor estreito e andando ao longo dele – ele mesmo. Era estranho se ver deste ângulo. O Draco-que-não-era-ele virou uma esquina e caminhou através de uma série de portas não familiares, em uma muralha árida, adornada com escultura que pareciam familiares mas que ele não conseguia discernir exatamente que lugar era aquele.
“Meu Lorde,” disse Lucius, finalmente, quebrando o silêncio, “O que você vê?”.
“Eu vejo o seu filho”. A voz de Voldemort soava fria e sinuosa como a de uma cobra. “Eu estou observando seu filho no espelho. Ele foi ajustado para encontrá-lo. Eu o vejo agora. Ele carrega a Arma da Morte Real. Você sabia disto?”.
“Eu sabia disto, sim. Terminus Est. Ele a tem desde o verão”.
Voldemort ergueu o espelho mais alto. “Ele é bonito, seu filho”.
Lucius pareceu desconfortável. “Você pediu que ele fosse feito desta maneira, Mestre”.
“Sim. Pessoas de grande beleza e carisma se tornam excelentes líderes. As pessoas desejam seguí-los. Eu mesmo já fui bonito, em outro tempo”.
Lucius parecia ainda mais desconfortável. “Sim, é claro”.
“E Lúcifer, em si, era o mais bonito anjo de Deus”.
Lucius ficou em silêncio. Rabicho parecia pálido e distraído. Seu olhar estava fixo no chão.
Muito lentamente, Voldemort abaixou o espelho. “Você tem lido a Bíblia, Lucius?”.
Lucius soltou suas mãos, que estavam fixas de encontro a sua veste negra. “Mestre, eu gostaria –“.
“Talvez você não tenha. Era o artigo principal do orfanato Trouxa no qual eu cresci”. O Lorde das Trevas colocou sua mão de encontro ao espelho no qual o rosto de Draco estava claramente refletido, seus dedos estendidos, tocando o rosto do garoto. “E Deus odiando tanto seu próprio filho,” ele disse suavemente, “que ele lhe entregou ao mundo, que o mundo talvez o tenha”.
“Amando,” disse Rabicho, quebrando o silêncio, de modo inesperado.
“O que é?”.
“A citação,” disse Rabicho. Sua voz soava nervosa e irregular. “E Deus amando o mundo --".
“Você ousa me corrigir, Rabicho?”.
“N-não. Não, meu Lorde”.
“Eu acredito que não”.
***
“Malfoy! Hey! Malfoy!”.
Ao som do seu próprio nome, a consciência voltou a Draco como um banho de água fria no seu rosto. Com susto, ele focou seus olhos, vendo o cômodo em volta dele vacilar antes de ficar imóvel. A primeira coisa que entrou em foco foi o rosto de Ron: irritado e nervoso, seus olhos azuis faiscando como gás flamejante em pequenas chamas. “Malfoy, você não está ouvindo?”.
“Você me disse que se eu dissesse qualquer coisa, estaria perdendo vinte pontos para a Slytherin,” disse Draco mansamente.
“Sim, bem, obviamente não quando eu estou me dirigindo diretamente a você!”. Ron parecia pronto para cruzar em disparada a mesa e sacudir Draco estupidamente. “Então, você está disposto ou não?”.
“É claro que eu estou,” disse Draco, sem a menor idéia sobre o que ele tinha acabado de concordar. O cômodo ainda estava levemente girando e sua cabeça estava cheia de ecos de vozes. Havia uma pontada de dor atrás de seus olhos.
Ron parecia surpreso. “Está resolvido, então”. Ele largou os pergaminhos que estava segurando e forçou um sorriso. “Ok, certo, nós parecemos estar indo bem na nossa intenção de fazer a melhor Pub Crawl do Sétimo Ano já vista. E se o novo sistema de acompanhantes funcionar, nós talvez estaremos bem em nossa intenção de ser a primeira classe ao alcançar a imortalidade por não ter que arcar com um bando de alunos do quinto ano, bêbados, nos causando todo o tipo de confusão e problema”. Ron sorriu. “Até mesmo o Malfoy não consegue argumentar contra isto”.
“Bem, isto vai de encontro com o meu plano de alcançar a imortalidade por não ter, de fato, morrido,” disse Draco, e então, pela expressão de Ron, acrescentou de pressa, “Mas...eu posso repensar isto”.
“Alguma coisa mais?” Ron perguntou. Como todos ficaram em silêncio, ele agitou sua varinha de novo e murmurou, “Orbus deceleratus,” e o círculo prateado e torvelinhante retornou para o seu lugar, no centro da mesa e ficou quieto. “Reunião suspensa,” anunciou Ron e abaixou sua varinha.
Enquanto os monitores se enfileiravam para sair pela porta, Draco sentiu um tapa no seu ombro. Era Pansy Parkinson, seu nariz chato e arrebitado balançando de curiosidade. “Eu não posso acreditar que você concordou em ficar para trás, distante do Pub Crawl, para garantir que nenhum aluno mais novo fosse se esquivar para dentro de Hogsmeade,” ela disse, balançando sua cabeça. “Alguma coisa possuiu você, Draco?”.
Draco parou de pé. “Eu fiz o que – eu quero dizer, eu não estou exatamente certo”.
“Blaise achou que você iria com ela - ela ficará furiosa!”. Pansy se mandou, balançando sua cabeça, uma fita brilhante e rosa tremendo em seu cabelo. Draco olhou em seguida para ela, com ponderação.
“Furiosa, eh?” ele disse para si mesmo. “Ah, bem. Sempre existe uma fagulha de esperança, eu suponho”.
***
“Hey, Weasley! Espere aí”.
Ron se virou ao som da voz familiar, um sentimento estúpido de mau presságio se derramando sobre ele. Draco estava caminhando em direção a ele, ao longo do corredor, tendo abandonado os outros monitores a alguns metros para trás. Ron ficou parado de pé onde ele estava, as sobrancelhas erguidas, enquanto o garoto da Slytherin se aproximava dele. Seja o que for que Draco quisesse, ele estava certo de que não seria nada de bom. Até mesmo, as pequenas conversas com Draco eram freqüentemente rallies de sarcasmo. Não importava o quanto suas histórias eram comuns, Ron simplesmente não conseguia parecer e nem ser cordial com Malfoy assim como Harry conseguia, nem mesmo uma sombra de uma confortável camaradagem que aqueles dois compartilhavam quando não estavam em público.
Ron aprumou sua cabeça, tentando definir o que em Malfoy o aborrecia tanto, até mesmo agora - talvez fosse a modo como ele vestia as vestes da escola, como se elas não fossem vestes da escola, pretas e comuns, mas alguma coisa mais fina.
Como sempre e contra as regras, as fivelas das vestes dele estavam desfeitas, exibindo as roupas caras debaixo delas – hoje, um suéter cinza escuro e calças pretas e uma grava onipresente, verde e prateada. Draco mais baixo que Ron, mas sua magreza e alguma coisa em sua atitude o fazia parecer mais alto do que ele era.
“Você não está usando o seu distintivo de monitor,” disse Ron cansadamente. “Tecnicamente, eu posso tirar pontos da Slytherin”.
Draco sorriu com seu mais encantador sorriso e Ron resistiu ao impulso de chutá-lo. “O que você quer, Malfoy? Eu não tenho o dia todo”.
“Eu quero saber onde Hermione está,” disse Draco com admirável objetividade.
“Eu não sei,” disse Ron, firmemente. “Por que você não pergunta ao Harry? Ou você, tampouco, não sabe onde ele está?”.
Os olhos de Draco se desfocaram por um momento. “Ele está na escadaria norte, no quinto andar, indo para cima”.
Ron balançou negativamente sua cabeça. “Não faça isto, é horripilante”. Ele observou enquanto os olhos do outro garoto se voltavam e entravam em foco e Draco olhou para ele, interrogativamente. “Certo, eu esqueci. Você não precisa encontrar Harry para falar com ele, então por que você simplesmente não lhe pergunta...”.
“Porque ele também não sabe,” disse Draco. “Atualmente, ele não sabe nem onde ele está, na maior parte do tempo. De qualquer forma, ele não precisa de uma dose extra de preocupação”.
“E por que eu preciso?”.
“Você consegue lidar com isto,” disse Draco, de novo mostrando sua espetacular habilidade em fazer um elogio soar como um insulto.
Ron suspirou. “Eu não sei onde Hermione está,” ele disse, enunciando claramente. “Ela não me disse que não veria à reunião, ela simplesmente não apareceu e quando e se você a encontrar, você pode lhe dizer, por mim, que eu não apreciei ela ter me deixado colado em você tanto tempo, sozinho. Faz isto?”.
“Eu tornarei um tanto mais forte as palavras do seu recado, a seu favor,” Draco prometeu, solenemente.
Ron olhou para ele. “Você, alguma vez, disse alguma coisa que não fosse sarcástica?”
“Não,” disse Draco, animadamente. “Realmente não”.
“Enfim, por que você quer saber onde Hermione está?”.
“Eu estou preocupado com ele”. A voz de Draco soava sem inflexão, não deixando revelar nada. “Eu queria conversar com ela”.
“Ela estará no jogo, esta tarde, ela vai a todos os jogos de Harry, você sabe disto”.
“Eu não terei chance de conversar com ela então, eu estarei muito ocupado vencendo o jogo”.
“Impossível, Malfoy,” disse Ron, com alguma satisfação. “Você não pode ganhar de nós. Harry está desenvolvendo algumas novas estratégias que farão você cair de sua Firebolt”.
“Sério?”. Draco parecia educadamente interessado. “Bem, então você terá de me fazer uma ressuscitação boca-a-boca, de novo, e nós saberemos o quanto você gosta disto”.
“Shhhh!”. Ron sibilou freneticamente, olhando rapidamente ao redor para ver se alguém tinha ouvido por acaso. “Ok, agora, em qual universo você estava quando eu disse para nunca falar sobre sito de novo?”.
“Oh sim,” disse Draco, com grande indiferença. “Oops”.
Ron jogou suas mãos no ar. “Oh, vá embora, Malfoy. E se você quer tanto encontrar Hermione, procure onde nós sempre a vemos muito. Ela, provavelmente, está na biblioteca”.
***
A biblioteca estava quase deserta: dos poucos estudantes que estavam sentados nas longas mesas, Ginny reconheceu apenas a Slytherin Chaser Malcolm Baddock, Hannah Abbott, escrevendo com letras grandes e legíveis no tomo intitulado As Boas e Precisas Profecias de Agnes Nutter, a Bruxa, e Parvati Patil, profundamente dormindo em um canto. Até mesmo a de aparência predadora, a Madame Pince, não estava em lugar nenhum que pudesse ser vista. Provavelmente, espreitando em um canto entre as estantes de livros, esperando para pegar estudantes inocentes que ousaram fazer orelhas de burros com as páginas dos livros textos deles. Ginny se inclinou para trás, seus olhos se movendo rapidamente em direção ao relógio na parede sul, em cima da porta. A superfície dele mudava diariamente, dependendo de quais eram as atividades escolares programadas.
Hoje, o ponteiro nas quatro horas, as palavras Partida de Quadribol Slytherin versos Gryffindor brilhavam vermelho e verde, combinando com as decorações na árvore de Natal, em um canto. Ginny estava feliz em ver que ela tinha, pelo menos, uma hora e meia antes de precisar começar a se preparar para a partida: muito tempo para ler outro capítulo do último conto da série-novela-romântica chamada Coração de Dragão, que era publicado no Semanário da Bruxa. Ela se tornou viciada neles depois de encontrar um secreto estoque de novelas debaixo da coleção de toalhas de cozinha de sua mãe. Ela sabia que eles eram um lixo mas não conseguiu evitar; o mais novo conto era um intitulado Calças Ardentes e, até agora, ela estava se divertindo muito mesmo.
As ondas se arremessavam no vasto e negro oceano debaixo do castelo, produzindo uma salgada rajada de água que voavam sobre as rochas, liberando gotas de água que caíam sobre a pele nua e alabastrada da bruxa alta e de cabelos vermelhos que estava parada no elevado balcão. Suas lágrimas salgadas se misturavam com as rajadas do mar enquanto ela encarava Tristan de Malcourt, o bruxo que a amara de todas as maneiras que era possível uma mulher ser amada e então a abandonou a um destino cruel.
Rhiannon riu sem felicidade enquanto ela o encarava agora. “Tristan,” ela disse. “Eu suponho que você acreditava que eu não te encontraria”.
“Ao contrário”. Seus firmes olhos cinzas brilharam. “Vossa Senhoria é uma bruxa muito determinada”.
Ela levantou seu queixo. “Sim, eu sou”.
Ele se virou para ir embora. “Isto não te ajuda, Rhiannon. Vossa Senhoria deve encontrar uma outra pessoa, eu não posso te amar”.
“Não!”. Ela se jogou na direção dele e quase se chocou contra o peito musculoso e largo dele, de tão largo e musculoso que era. “É você e apenas você com quem eu devo estar!”.
“O que Vossa Senhoria está dizendo?”. Ele se virou para encará-la, as vestes dele giraram em torno de sua panturrilha robusta e musculosa. “Vossa Senhoria sabe que eu preciso do meu espaço!”
“É muito tarde, Tristan! Pois – eu estou grávida!”.
Ele arregalou os olhos para ela.
“Sim,” ela repetiu. “Grávida!”.
As palavras ficaram suspensas no ar salgado como pêssegos maduros. Ela olhava para ele, seus olhos negros arregalados cheios de lágrimas – e então, ele se jogou na direção dela e a puxou para o seu peito largo e másculo, esparramando beijos ardentes nos seus lábios cheios e floridos. “Rhiannon!” ele gritou. “Isto muda tudo! Minha querida! Meu anjo! Minha luz! Minha vida!”.
Descuidadosamente, ela se abandonou as suas caricias que seus longos, elegantes e másculos dedos distribuíam sobre os botões do espartilho dela, mais veloz do que um experiente Feitiço Convocatório. Ela se inclinou para trás de encontro a balaustrada e o deixou fazer com ela o que ele desejava, sua respiração se tornando ofegante e faminta enquanto ele empurrava a saia dela para cima, em volta de suas coxas, as mãos dele acariciando sua pele suave e ela tentou expulsar os pensamentos atormentantes de que talvez ela devesse lhe contar que a criança que ela carregava, não era dele,apesar de tudo, mas o filho do malvado Bruxo das Trevas, Morgan, o inimigo mais odiado de Tristan...
“Ela provavelmente devia contar a ele,” disse uma voz atrás dela. “De outra forma, eu antevejo que as coisas ficarão muito difíceis entre eles mais à frente”.
Ginny girou tão rapidamente que o volume de Calças Ardestes caiu batendo no chão, perto de seu pé. Ela se sentiu ficar vermelha. Ela nunca tinha inteiramente percebido antes o quão berrante era de fato a capa do conto – “Da série Coração de Dragão! Onde o coração, de fato, se eleva!” proclamava em letras brilhantes, exatamente acima da ilustração de uma bruxa desmaiada sendo reanimada com o que parecia ser CPR feita por um bruxo louro e sem camisa com calças de veludo alarmantes. Enquanto ela observava, o bruxo olhou para cima, tirando os seus olhos do que estava fazendo, piscou os olhos e soprou para ela um beijo. Isto teria sido embaraçoso de qualquer maneira, mas era duas vezes mais com Draco Malfoy parado, de pé, perto dela, parecendo alto, louro e imaculadamente controlado. Enquanto ela olhava do livro para ele, a boca dele estremeceu em um sorriso vagaroso, seus olhos cinzas se iluminaram.
“Oh,” ela disse sem jeito. “Você”.
Ele se curvou e apanhou o exemplar de Calças Ardentes, se para olhá-lo ou para lhe entregar, ela não sabia ou não se importava. Ela esticou sua mão e puxou com força o livro da mão dele, o empurrando para debaixo do seu livro-texto de Astronomia.
“Eu estava me divertindo com isto,” ele disse, parecendo magoado. “Especialmente a parte onde ela podia sentir a prova da paixão desenfreada dele de encontro a ela –“.
“Porco,” ela sibilou para ele, em voz baixa.
“Não, eu estou muito certo de que não é isto. Rhiannon não parece ser deste tipo de bruxa que teria um porco ou muito menos um diálogo com animais de curral de nenhum tipo”.
“A menos que você esteja levando em consideração Tristan,” disse Ginny irritada.
“Agora, eu particularmente gostei de Tristan,” disse Draco. Ele jogou o livro que ele estava segurando, da mão direita para a sua esquerda e gesticulou expansivamente com ele. “Ele parece ser um bruxo com um tipo certo de idéias”.
Ginny torceu o nariz. “Ele, cruelmente, abandonou Rhiannon e a deixou a mercê das garras do seu tio malvado, Rodrigo!”.
“Bem,” Draco pontuou, “ele não sabia que Rodrigo era mau. Ele acreditou que estava fazendo o que era melhor para ela, já que ele não podia lhe contar que estava fugindo do Conselho dos Bruxos”.
“Isto não era o melhor para ela!”. Ginny disse calorosamente. Ela podia sentir o sangue subindo para seu rosto e sabia que estava provavelmente ficando vermelha de raiva. “Ela o amava e sem ele, sua vida era sem sentido”.
“Melhor do que não ter vida,” disse Draco, particularmente frio. “Melhor do que ter sua alma absorvida pelos servos do mal”.
“E o que você sabe sobre isto, Draco Malfoy?”.
“Escute, Weasley-“.
“Quanto tempo você ficou de pé, aí, lendo sobre o meu ombro, de qualquer forma?”.
“Eu-“.
Uma voz aguda os interrompeu. “Senhorita Weasley! Senhor Malfoy! O que é esta pertubação?”. Era Madame Pince, parecendo venenosa. “Eu não posso acreditar que vocês estão gritando em minha biblioteca”.
Ginny ruborizou-se. “Desculpe-me, Madame Pince”.
“O que poderia ser de tal urgente importância que vocês têm que ficar gritando?”.
“Era apenas uma discussão particular,” disse Draco, arregalando seus olhos e parecendo angelical. Madame Pince ficou impassível. “Bem, tenha sua pequena discussão de amor para outro lugar, de agora em diante”.
Ginny arfou. “Discussões de amor?”.
Madame Pince ergueu seus olhos. “Sim, Senhorita Weasley?”.
“Isto não era uma discussão de amor,” Ginny protestou firmemente. “Era, completamente, uma discussão sobre amor livre”.
Madame Pince balançou sua cabeça negativamente.
Draco parecia se divertir.
“Eu nem mesmo gosto dele,” Ginny acrescentou, indicando Draco com um gesto.
“Eu realmente não me importo,” disse Madame Pince. “Dez pontos a menos de Gryffindor, dez pontos a menos de Slytherin”. Ela lançou um olhar para Draco. “E você, um monitor também,” ela disse, torceu o nariz e foi embora.
“Blaise ficará tão desapontada com você,” disse Ginny, com grande sarcasmo, dando as costas para Draco. Mas ele já tinha ido – já estava a meio caminho, cruzando a biblioteca, em direção a porta. Ela observou, com uma mistura de irritação e desapontamento enquanto ele desaparecia pela porta e foi apenas quando ele já tinha totalmente ido embora e ela se voltou para os seus livros, que percebeu que ele tinha levado consigo a cópia dela de Calças Ardentes.
***
Entrando no pequeno cômodo que servia de sala de aula para a Defesa Contra as Artes das Trevas, nível NEWT, Draco se surpreendeu ao ver que Hermione já estava lá, sentada à mesa, aparentemente absorvida no livro intitulado Um Alfabeto Rúnico. Visto que era uma sala pequena, ostentada apenas por sete estudantes (Harry, Hermione, Eloise Midgen, Terry Boot, Neville Longbottom, Padma Patil e ele mesmo, Draco), era conduzida por uma mesa de madeira velha e gasta, com o Professor Lupin conversando com eles e os consultando como se fossem todos velhos amigos.
Draco deslizou até o assento próximo de Hermione e falou em voz baixa. “Eu não posso acreditar que você se esquivou da reunião dos monitores”.
Ela não olhou para ele, mas suas bochechas se tornaram muito vermelhas. “Eu sei. Eu esqueci”.
“Você esqueceu? Como você poderia ter esquecido? Você vive para este tipo de coisa”.
“Eu apenas esqueci”.
“Eu fiquei preocupado com você”.
Agora, ela olhou para cima. “Preocupado? O que você achou que tinha acontecido comigo?”.
Os olhos dela estavam muito escuros e curiosos. Ela tinha seu cabelo amarrado para trás em um desarrumado coque preso com uma pena que o segurava no lugar. Ele hesitou por um momento, incerto de como explicar que o que o tinha assolado era uma vaga e terrível sensação de apreensão, sem motivo e inexplicável. Ela pareceu ver a hesitação nos olhos dele ou, talvez, ela viu outra coisa lá, pois, quando ela falou, foi rápido e com algum nervosismo. “Por que você estava me procurando?”.
“Porque você fala Latim,” disse Draco.
Hermione levantou uma sobrancelha. “Assim como todos os professores”.
“Eu sei”. Draco se inclinou para trás e colocou seus pés sobre a mesa. Ele podia dizer que Hermione estava lutando para se conter, querendo lhe dizer para não fazer isto, ainda que ele não conseguisse ver problema nisto -- seus sapatos eram encantadores, botas de couro marrom escuras, de pele, tão macias que você podia tirar um cochilo em cima deles. Hermione simplesmente não apreciava as coisas agradáveis da vida. “Hermione, o que você iria dizer se eu lhe dissesse ‘Venio’?
“Eu perguntaria se você quer fazer a reserva de um quarto”.
“O quê?”.
Hermione sorriu. “Quer dizer ‘eu venho’ ou ‘eu estou vindo’ com o sentido sendo este, independente de quem seja, está para chegar logo”.
“Oh”. Draco examinava as pontas de suas botas. “Quer dizer isto tudo?”.
“Sim”.
“Quê pomposo”.
Hermione pestanejou para ele. “Sobre o que você quer saber?”.
Draco acenou uma mão indiferente. “Nada”.
“Vamos, me conte”.
“Não até você me dizer por que se esquivou da reunião”.
Hermione pareceu culpada. “Ron ficou com muita raiva?”.
“Raiva? Nem tanto, de fato. Mais...irritado e atrapalhado”. Draco deu de ombros. “O Weasley tem agido estranho ultimamente, se você me permite dizer”.
Hermione colocou seu livro na mesa. “Sim. Eu entendo o que você quer dizer. Às vezes, eu me pergunto se...”.
“Se o quê?”.
“Se ele tem se encontrado com uma garota”.
“Apenas se ele fechou seus olhos e se concentrou, eu imaginaria,” disse Draco.
Hermione olhou para ele irritada. “Eu sei que você acha isto, mas Ron é realmente...”.
Uma voz falou atrás deles. “Ron é realmente o quê?”.
Draco olhou para cima, já sabendo quem era; se ele não tivesse voltando tanto a sua atenção para Hermione, ele teria escutado Harry entrar no cômodo. Ele estava olhando para baixo, para Hermione e havia esta estranheza entre eles que tinha se tornado tão expressiva ultimamente. Draco sabia agora o que estava fazendo Harry se retrair com Hermione e suspeitou que pudesse imaginar que ela estaria se retraindo em resposta. Mas era uma coisa difícil observar isto tudo acontecer sem ser capaz de fazer alguma coisa a respeito.
Hermione desviou seus olhos. “Realmente ocupado,” ela disse. Ron está realmente ocupado”.
“Oh”. Harry se sentou próximo de Hermione, de forma que ele estava encarando Draco através da mesa. “Bem, ele é Monitor”.
“Eu sei”. Hermione olhou para Harry com mais atenção. “Você parece melhor. Você foi a enfermaria?”.
Harry confirmou com a cabeça mas foi impedido de falar qualquer coisa pela entrada do professor Lupin, seguido por Padma e Eloise. Um instante depois, Terry e Neville se juntaram a eles e a classe estava completa.
Lupin se sentou. “Chegou a hora de vocês falarem sobre o seus projetos de fim de ano,” ele disse, remexendo rapidamente nos seus livros e selecionando uma pilha de pergaminhos. Um suave e pequeno gemido correu em torno da mesa e Lupin olhou para cima com um sorriso em seus olhos cinzas escuros. “Não será tão ruim assim. Antes de tudo, eu dividirei vocês em equipes”. Ele consultou um pergaminho, seus olhos perpassando rapidamente a lista, de cima para baixo. “Neville e Terry, Padma e Eloise. Harry e Draco. Hermione, você ficará por conta própria”.
Hermione acenou em concordância e Draco se perguntou se ela tinha resolvido isto como Lupin antes da hora da aula. Ele estava ligeiramente surpreso que tenha sido colocado com Harry mas suspeitou que era porque Lupin sabia que ele, pouco provavelmente, se entenderia com qualquer outra pessoa.
“Cada equipe terá o resto do ano para trabalhar nos seus projetos,” Lupin continuou. “Agora, eu tentei fazer com que os projetos fossem flexíveis para permitir que vocês usem suas próprias criatividades – uma grande parte de ser um Auror de sucesso está em ter rapidez e adaptabilidade de pensamento. Isto também requer criatividade-“.
“Eu planejo fazer um diorama (quadro que cria a impressão de três dimensões),” disse Draco solenemente.
“Não,” disse Lupin, pacientemente, “não este tipo de criatividade”.
“Mas será um diorama do mal. E então Harry poderá destruí-lo”.
A voz de Lupin continha um tom de advertência. “Draco”.
Draco afundou na cadeira, ainda que próximo dele, os ombros de Harry estavam balançando em um riso silencioso. Hermione revirou seus olhos.
“As tarefas,” Lupin continuou, “serão divididas em três categorias: pesquisa pura, quebra de maldiçoes e criaturas das Trevas”. Ele começou distribuindo pergaminhos, que os estudantes passavam adiante, uns para os outros. Draco pegou o seu e olhou para ele rapidamente. Descreva um método que você possa usar para quebrar a Maldição da Medusa. Com êxito, treine a si mesmo para resistir a Maldição Imperius. (Não você, Harry). Pesquise a história de Azkaban. Descreva como você pode evitar uma Maldição de Rastreamento. Escreva uma história dos Fundadores de Hogwarts; por favor, inclua a Guerra dos Dez Anos e a fundação da Associação dos Aurores. A próxima tarefa fez Draco sorrir. Conceba um plano com o qual uma Manticore possa ser derrotada. (Não você, Harry ou Draco tampouco!)
“São trinta no total,” Lupin acrescentou. “Cada dupla de estudantes, por favor, selecione três projetos para fazer, um de cada categoria – Hermione, já que você está sozinha, você precisa fazer apenas dois. Em primeiro de maio, nós começaremos as apresentações dos projetos finais, dos quais suas notas finais dependerão. Alguma questão?”.
Neville levantou sua mão, lentamente. “O que acontece se nós quisermos pesquisar uma maldição que não está nesta lista?”.
Os olhos de Lupin se escureceram. “Então converse comigo depois da aula”.
“Nós teremos a possibilidade de ter acesso aos livros da Sessão Restrita?” perguntou Padma.
Lupin acenou confirmando. “Apenas me dê uma lista do que vocês precisarão e eu a endossarei para vocês”.
Draco estava apenas meio escutando isto, sua atenção tinha começado a se perder. Ele olhou para cima, por debaixo da extremidade dos seus cílios abaixados, primeiro para Harry, que tinha recuperado sua seriedade e estava ocupado estudando a lista de projetos. Ele parecia sério e nem um pouco cansado. O que, provavelmente, era bom, Draco pensou, já que, naquela tarde, ele estaria voando contra Harry, ambos teriam também que estar exaustos ou seria uma partida desigual. Harry, exausto, era ainda um Apanhador quase invencível. Nada quebrava sua concentração: nem a dor, nem o medo, nem a raiva, nem o cansaço. Nem qualquer coisa.
Draco moveu seu olhar para Hermione. Ela estava tomando notas. Típico. Ela tinha seu lábio inferior preso entre seus dentes como freqüentemente fazia quando ela estava pensando. Ele desviou seu olhar. Ele o deslizou para Padma (bonita o suficiente mas não o seu tipo), para Neville (parecia muito tenso), para Terry (totalmente entediado; Draco nunca tinha falado com ele), para Eloise (ela tinha tido um breve encontro com Crabbe, no quinto ano, e todas as opiniões eram de ela o beijou, o que sempre assolou Draco como uma impossibilidade biológica), para Lupin, que para a sua surpresa estava olhando de volta para ele. “Draco,” ele disse. “Você parece estar em outro lugar”.
“Apenas excitado com o meu projeto que está por vir, Professor,” disse Draco, inocentemente.
Lupin lhe deu um olhar de quem tenta ser agradável com uma criança. “Encontre-me depois da aula, Senhor Malfoy”.
Bem feito! A voz de Harry soou alta dentro da cabeça de Draco. Ele lançou um olhar irritado para o seu mais novo irmão adotivo, mas a expressão de Harry era absolutamente inocente. Ele se lembrou de quando era quase impossível para Harry esconder qualquer coisa que estava sentindo. Não mais. Ele resolveu tentar impedir Harry de adquirir mais algum de seus maus hábitos no futuro.
A aula terminou cinco minutos mais cedo para permitir que os estudantes tivessem tempo para descer para a partida de Quadribol. Harry saiu com Hermione, seu braço em torno dela, o pergaminho com a tarefa deles enfiado na sua mochila. Eu verei você na partida, ele disse, a meia volta da saída.
Draco concordou levemente com a cabeça em resposta. Quando ele se virou de volta para Lupin, ele encontrou o professor de DaDT dobrando seus pergaminhos, os colocando em uma pasta de couro com fivelas douradas que Draco não agradavam Draco - dourado era tão afetado. Por outro lado, eles não gostariam muito se fosse prateado, não é? “Foi muito reconfortante escutar que você está ansioso em executar sua tarefa, Draco, especialmente, visto que os esboços do projeto escolhido por vocês acontecerão depois das férias de Natal”. Ele sorriu. “Isto foi o porque eu coloquei você e Harry no mesmo time, visto que eu sei que vocês passarão o feriado de vocês, juntos, quebrando a cabeça”.
“Ele ficará com Hermione também. Você não precisava colocá-lo comigo”.
“Ela pode trabalhar sozinha. Você não”.
“Eu posso -".
“Você trabalhará melhor com Harry,” disse Lupin, com determinação. “Isto é um problema?”.
“Não...uh, não”. Draco ficou um pouco com o pé atrás diante do seu próprio comportamento. Ele queria trabalhar com Harry. Ele particularmente suspeitava que tinha acabado de pescar a informação sobre o projeto privado de Hermione. Draco mau, ele falou para si mesmo, de maneira experimental, mas nada aconteceu -- auto-crítica não era o seu forte. “Eu não me importo em trabalhar com Harry”.
“Bom, pois Dumbledore e eu discutimos isto e nós queríamos que vocês trabalhassem juntos”.
“Vocês conversam sobre nós?”.
“Nós freqüentemente conversamos”. Lupin sorriu e levantou sua maleta. “Surpreso?”.
“Eu suponho que não”. Draco segurou a porta, a abrindo para Lupin sair da sala e eles começaram a descer o corredor juntos. “Eu imagino que não seja uma boa coisa perguntar o que vocês conversam?”.
“De forma alguma,” disse Lupin agradavelmente.
“Alguma razão para me manter depois do fim da aula?”.
Lupin parou de andar e o encarou, seus olhos pensativos. “Simplesmente para lhe dizer que se você e Harry se depararem com algum problema, eu quero que você venha diretamente a mim. Eu também estarei na Mansão no Natal e disponível para vocês então também”.
“Oh. Ok”. Draco não sabia o que mais dizer -- ele nunca tinha pedido, em sua vida, um auxílio extra e ele sabia exatamente como Harry se sentia a respeito de pedir aos professores qualquer coisa que fosse. Era um pouco uma mania de Harry, fazer as coisas do seu próprio jeito; por outro lado, Draco supunha que ele mesmo era do mesmo jeito. “Nós iremos”.
“E você tem uma vaga idéia de qual tipo de material vocês podem precisar?”.
Draco concordou com a cabeça. “Nós estamos selecionando, obrigado”.
Lupin concordou com a cabeça. “Tudo bem. Boa sorte no jogo, então,” ele acrescentou e surpreendeu Draco com um aperto de mãos. “Que o melhor time vença”.
“Eu pensei que você era um fã da Gryffindor, professor,” disse Draco, curiosamente. “Eu pensei que vocês todos estavam na Gryffindor, você e o pai do Harry e Sirius e...”.
“Isto é o que você pensou?” disse Lupin suavemente e se afastou. Draco olhou por um momento para ele com grande curiosidade -- o que ele quis dizer com isto? -- antes que ele virasse e escapulisse para o campo de Quadribol, preocupado em não se atrasar.
***
Ginny tentou reprimir um bocejo. Ela estava sentada entre Elizabeth e Seamus nos bancos de madeira desconfortáveis do vestiário da Gryffindor, escutando Harry fazer sua conversa estimulante pré-jogo. Todos pareciam estar prestando atenção profundamente, até mesmo Ron, que brincava com a armação de suas joelheiras. Harry era excelente em conversas estimulantes, que sempre surpreendia Ginny visto que ele era tão pouco entusiasmado, geralmente, em fazer discursos em público. Mas Quadribol, como Hermione, era um assunto que promovia a paixão nele - ele gesticulava com suas mãos enquanto falava, seus cabelos pretos dançavam, os olhos verdes emitiam fagulhas animadamente. Ele também, ela pensou, mostrava o melhor de si em seu uniforme de Quadribol - o suéter listrado de vinho e dourado, de um claro veludo e protetores de joelho, de couro, tudo isto combinava com ele. Harry tinha a tendência a não usar as cotoveleiras, de acordo com a regra, pois ele reclamava que elas reduziam a sua capacidade de pegar o pomo e o tornava menos eficaz, mas ele usava as luvas de couro preta, sem os dedos, pelo menos, no inverno. Antes, quando ela era apaixonada por ele, o uniforme tinha a tendência de levá-la a mudez; até mesmo agora, fazia o estômago dela dar uma amistosa e pequena remexida. É claro, ele não era o único garoto que ela conhecia que ficava bem no uniforme de Quadribol. Não existia nenhum mal em sua apreciação silenciosa.
Ela pestanejou enquanto todo mundo ao seu redor começava a se levantar - aparentemente, a conversa estimulante tinha acabado e ela não escutou uma palavra dela. Seamus, Colin, Elizabethe e Dennis fizeram fila atrás dela; Ron meio em pé, então amaldiçoava em silencio quando o acessório de sua joelheira quebrou. Harry olhou para trás, mas Ron acenou para que ele fosse embora. “Continue,” ele disse e agarrou com força sua varinha. Harry concordou com a cabeça e estendeu uma mão para a sua Firebolt; Ginny fez o mesmo e foi atrás dele, descendo o corredor que levava ao campo de Quadribol. Eles se juntaram ao resto do time que já estava ali e um instante depois, Ron os alcançou.
Era uma tarde clara e refrescante de inverno, um frio tão severo que os olhos de Ginny doeram. Ela levantou sua cabeça, sentindo o ar frio tacar a ponta do seu nariz, suas orelhas descobertas. Seu cabelo estava enrolado debaixo de uma touca de lã e as luvas sem dedos nas suas mãos estavam banhadas com um mini Encantamento de Aquecimento, mas o frio ainda penetrava na sua pele.
Ela olhou em volta. O chão do campo abaixo estava limpo e capinado, como uma lisa e gelada pista de patinação. A luz do sol diminuindo listrava o campo com faixas douradas. Atrás do campo se erguia a Floresta Proibida, as arvores imensas e negras e invernosas. Desnudas de folhas e encobertas por neve, elas tinha uma simetria medieval e espinhosa.
O público gritava e torcia nas arquibancadas, muitos deles agarravam com força as Batatas Quentes laranja-brilhante, um novo produto da Loja de Logros dos Weasleys que explodia em cores depois do fim do jogo. Ginny viu Hermione sentada na frente das arquibancadas, um gorro branco e tricotado cobrindo seus cabelos encaracolados marrons. Ela estava ladeada por George, no seu lado esquerdo, e pela namorada dele, Jana, que tinham vindo de Hogsmeade para o jogo. Ambos os gêmeos gostavam de assistir sua irmãzinha e seu irmão voando e aproveitavam para comercializar produtos durante os jogos quando a loja de logros não estava muito cheia.
Ginny levantou sua cabeça e acenou e Hermione acenou de volta. Suas bochechas estavam vermelhas com dourado e juntas com o gorro branco e os cachos de seu cabelo escuro, fazia a sua aparência ficar muito bonita. Próximo dela, George fez um rude gesto. Ginny ficou surpresa, até que ela percebeu que ele estava olhando para atrás dela, para o time da Slytherin, que tinha acabado de sair, entrando no campo do lado oposto a eles.
Ela se sentiu ficar tensa. Os jogos entre Gryffindor e Slytherin eram sempre as piores, por uma multiplicidade de razões. Ela odiava o quão feroz e combatente eles sempre eram e o quão tenso eles faziam Harry ficar - ela soube, desde que ele tinha lhe dito em setembro passado, que ele e Draco tinha feito um pacto de nunca usar sua telepatia durante o jogo, pois ambos podiam se distrair e isto poderia ser considerado trapaça. Ela sabia que Draco era o melhor piloto da escola, depois de Harry, e o único que podia realmente desafiar Harry em seu próprio terreno; ela também sabia que Harry não gostava de ter de voar contra ele, ainda que ele nunca deixasse isto afetar o jogo. Harry não era nada menos do que completamente profissional quando se tratava de Quadribol.
Como se ele soubesse que Ginny estivesse pensando nele, neste momento Harry bateu no ombro dela. “Você está bem?” ele perguntou.
Ela sabia o que ele queria dizer; todos eles estavam sempre perguntando a ela se estava tudo bem quando Draco estava por perto. Ela examinou o não mencionado sujeito da questão, que estava de pé como ele sempre fazia ante do jogo, braços cruzados, a vassoura aos seus pés, seu time se estendendo atrás dele como se eles estivessem se colocando em posição no palco. Tudo era um drama para ele, ela pensou irritada. Tudo era encenação. Ele, provavelmente, calculava por horas quando ficar de pé para que a luz do sol o atingisse exatamente assim, iluminando seus cabelos claros, os tornando prateados e de novo os clareando e as tiras prateadas ao logo de seu suéter verde listrado brilhavam como um metal novo.
Sua capa verde-árvore de Quadribol estava amarada no seu pescoço, fazendo uma perfeita linha sobre seus ombros, caindo até suas botas bem polidas. Como Harry, ele se abstinha das cotovelheiras e usava luvas de couro sem os dedos, ainda que suas estivessem mais limpas e brilhantes como se fossem novas. Na realidade, todo o time de Quadribol da Slytherin brilhava como se eles tivessem sido exatamente polidos, começando pela nova vassoura Asteroid 2000 de Malcolm Baddock até o cabelo vermelho dourado de Blaise, que não estava, como o cabelo de Ginny, enfiado debaixo de um boné de lã, mas, em vez disto, fluía como um rio de fogo pelas suas costas até sua cintura. Eles tinham feito algumas alterações não regulamentadas em seus uniformes – eles vestiam preto ao invés do usual tecido de veludo negro brilhante e todos eles estavam usando botas de couro amarradas ao invés de tênis. Fivelas de prata polida prendiam suas vestes esmeraldas em cima dos seus ombros. Todo este efeito lembrava Ginny do grupo de cavalos que puxavam a carruagem das Beauxbatons: polidos, adequados, de raça pura, maus como o inferno.
“Eu estou bem,” Ginny disse para Harry, que acenou. Era quase inteiramente verdade.
Madame Hooch soprou o seu apito. “Capitães, se cumprimentem!” ela gritou e os dois capitães saíram de seu lugar, Draco primeiro e depois Harry. Eles se encontraram no meio do campo e cada um estendeu sua mão para ser apertada. As bochechas de Harry estavam vermelhas de frio, Draco parecia pálido e controlado e intocado pelo clima e Ginny foi golpeada, como sempre, pela similaridade do comportamento e constituição física de ambos, a despeito das superficiais diferenças da cor e do uniforme. Ambos eram altos e delgados sem ser magros, com a constituição física esguia, o que era perfeito para os Apanhadores. Cada um arqueou sua cabeça quando suas mãos se tocaram e enquanto a luz do sol poente brilhava e desbotava atrás deles, ela se maravilhou diante da incompatibilidade disto -- Harry Potter e Draco Malfoy apertando as mãos. Um ano atrás, ela teria pesando que isto era impossível; agora, ela se perguntava como eles conseguiam se manter um com o outro deste jeito tão frio e reservado em público. Eles se encararam mortalmente, ombro a ombro e assim que eles quebraram o aperto de mãos, se viraram e voltaram para os seus respectivos times, eles talvez nem ao menos tinham percebido um ao outro, de qualquer maneira.
Enquanto o público acima deles urrava e torcia, Blaise ficou de pé nas pontas dos pés e beijo Draco levemente na boca, como ela sempre fazia antes dos jogos, “para dar sorte”. Ele se moveu muito pouco ou reconheceu o gesto, parecendo aceitá-lo como sendo sua obrigação, o que irritava Ginny a despeito do fato de que ela sabia que ele estava, de certa forma, atuando. Mas, por outro lado, ele estava sempre, de certa forma, atuando. “Algumas pessoas fazem cena,” harry disse para ela, uma vez. “Draco faz cena em três atos”.
Madame Hooch soprou o apito, tirando Ginny de seus devaneios. Ela agarrou sua vassoura e se empurrou para cima junto com o resto do time. Quatorze jogadores subiram em direção ao céu prateado e escurecido.
Harry imediatamente subiu mais alto, acima do resto do time, se jogando em direção ao Pomo. Draco se projetou como um raio também, um borrão de verde e prata no canto do olho de Ginny. Ela voltou sua atenção para longe dos garotos enquanto alguma coisa grande e negra era atirada em direção a ela- um Balaço, arremessado por Tess Hammond. Ginny abaixou a cabeça enquanto Colin voava na frente dela, batendo no balaço, o mandando na direção de Blaise com um forte golpe.
Blaise, elegantemente, desviou do Balaço, lançando a Colin um olhar cruel enquanto ela fazia isto. Colin parecia surpreso e levemente assustado – Blaise era uma especialista em olhares desagradáveis.
“Ginny! Aqui!” Era Elizabeth Thomas, a Quaffle com sua perspicácia. Ela atirou a bola em direção a Ginny, que a agarrou, se virou e voou em direção ao outro fim do campo. O ar frio cortou o rosto dela, fazendo seus olhos doerem. Quando ela se aproximou das traves dos gols da Slytherin, três figuras negras entraram disparadas na frente dela -- Blaise, Graham e Malcolm. Como artilheiros (Chasers), eles não podiam tocá-la, mas eles podiam, certamente, bloquear o seu caminho. Colin os despistou com um bem-direcionado balaço, mas preciosos segundo se passaram e quando Ginny voltou a ir para frente, Tess e Milicent desceram, furiosamente, arremessando balaços na direção dela e ela foi forçada a atirar o Quaffle para Seamus. Blaise interceptou o arremeso, passou para Malcolm e os Slytherins marcaram pontos com Malcolm arremessando a bola através das traves do gol, tão fortemente que quase arrancou do lugar a cabeça de Ron quando ele tentou bloqueá-la.
Houve um rugido descontente vindo da arquibancada. Ninguém gostava da vitória da Slytherin, exceto, é claro, os próprios Slytherins.
Ginny mordeu seu lábio e quando o balaço voltou para o jogo, desta vez, ela o agarrou ferozmente. Ela o tinha perdido para Blaise (o que não lhe deu nenhuma pequena soma de prazer) e se moveu rapidamente, cruzando o campo, arremessando a bola para Seamus. Ele a agarrou, levando-a consigo e, enquanto ela olhava para as costas dele, ela viu alguma coisa cintilar debaixo dela –
O Pomo.
Ele disparou debaixo dos pés dela e Harry e Draco passaram como foguetes atrás dele, lado a lado, dois borrões de verde e vermelho. Enquanto Ginny se virava para olhar para baixo, para a bola dourada voadora e seus perseguidores, alguma coisa relampejou atrás dela, cruzando o campo. Era um flash repentino de luz que penetrou nos seus olhos, mas não era luz, era escuridão - uma forte e agonizante e dolorosa escuridão, espetando em um ponto e se dirigindo exatamente por entre os olhos delas. Ela sentiu suas pernas e braços se endurecerem, rasgos frios nas laterais de seu corpo como facas. Seus dedos se tornaram gelados e sem vida, ela não podia mais segurar sua vassoura. O mundo ficou de cabeça para baixo, o céu sob os seus pés, o mundo brilhante, coberto de gelo corria de encontro a ela. Ela gritou uma vez, antes de tudo se tornar negro.
***
Correndo atrás de Harry e do Pomo, o mundo de Draco se reduzia a apenas ele e o seu objetivo – o pequeno objeto dourado há apenas alguns passos dele. Ele escutava o barulho do vento em suas orelhas, o pulsar do seu coração – e então, cortando através de tudo mais, um grito.
Um grito de Ginny.
Ele fez sua vassoura girar no meio do ar, quase deslocando seu ombro enquanto a Firbolt sacudia de lado. Vagamente em algum lugar a sua esquerda, ele ouviu Harry xingar ferozmente, mas ele não estava prestando atenção. Seus olhos estavam fixos na figura de vestes vermelhas se inclinando de maneira embriagada sobre a vassoura – ele viu Ginny lutar para controlar sua Nimbus 2000, perder o controle e cair de lado. Ela caiu sem outro grito, bateu no chão e ficou imóvel.
Gritos se ergueram vindos do público nas arquibancadas. Charlie e George ficaram de pé, abrindo caminho por entre a massa de pessoas comprimidas. Em algum lugar, a Professora McGonagall estava gritando. Os times da Gryffindor e da Slytherin estavam uma bagunça; Harry estava gritando e Draco supôs que ele devia reunir seu próprio time também, mas parecia uma coisa pequena e de qualquer jeito, já era muito tarde – ele estava apontando sua vassoura em direção ao chão, em um ângulo quase vertical, fazendo com que ele se movimentasse para baixo com uma velocidade que teria feito inveja até em Wronski.
O vento frio cantou nas suas orelhas como música. Ele imaginou que nunca tinha voado tão rápido ou tão violentamente. Ele atingiu o chão com suas mãos e joelhos, com força suficiente para quebrar os ossos e se colocou de pé. Todos ao redor dele, os outros jogadores de Quadribol, estavam voando para baixo, como uma chuva de estrelas cadentes, em vermelho e verde. Ele correu em direção a mancha vermelha de encontro a neve branca que era Ginny. Ele estava um pouco consciente do caos ao seu redor, do som das vozes gritando e então ele a alcançou e se ajoelhou próximo dela, na neve e pode ver que nem todo o vermelho que estava nela vinha das vestes de Quadribol. Havia Sangue.
Enquanto ele estendia uma mão em direção a ela, os olhos escuros dela se abriram, oscilando, e ela olhou para cima, para ele. Havia um tipo de admiração não confessável no olhar dela, como se ela estivesse, ao mesmo tempo, surpresa em vê-lo ali e tivesse aceitado isto como inevitável. “Draco?” ela disse, sua voz surpreendentemente firme.
“Sim”. Sua voz saiu em um murmúrio. “Sou eu”.
Ele esticou sua mão na direção dela e então alguma coisa o agarrou violentamente pelas costas de sua veste e o puxou, o colocando de pé e ele girou e viu que era Seamus Finnegan.
O Chaser da Gryffindor estava branco de fúria. “O que você acha que está fazendo, Slytherin?” ele cuspiu como se fosse o pior insulto que ele pudesse se lembrar. “Fique longe dela”.
O reto do time da Gryffindor tinha aterrissado. Draco viu os irmãos Creevey se aproximando, apoiando Seamus, Elizabeth correndo em direção a eles, Ron, branco e parecendo chocado, empurrando os outros para chegar até a sua irmã. Tess e Dex estavam ainda no ar, mas os outros Slytherins estavam no chão, em pé, guardando uma certa distancia, olhando surpresos. Ele podia sentir os olhos de Blaise nele, mas ele não se importava.
Ele se virou de volta para Seamus. “Saia,” ele disse, enunciando cada palavra com clareza, “do meu caminho”.
“Por quê? Para você poder olhar? Qual é o seu problema, Malfoy? Nós não queremos você aqui”.
“Saia do meu caminho,” Draco repetiu. Ele escutou sua própria voz como se ela viesse de um lugar muito distante. “Saia do meu caminho ou eu irei matar você. Eu quebrarei cada osso de seu maldito corpo, Finnegan. Não ache que eu não vou”.
Seamus empalideceu consideravelmente mas ficou no lugar. “Eu não vou a lugar nenhum”.
Draco puxou seu braço para trás. Mais tarde, ele nunca tivera certeza do que queria fazer – acertar Seamus ou lançar um feitiço nele. Isto não importava. Enquanto seu braço foi para trás, uma firme mão agarrou seu pulso e o agarrou, com força.
Ele se virou, já sabendo de quem era a mão que segurava seu pulso. Harry. Ele estava pálido mas controlado, seus olhos verdes escuros e sérios.
Eu não posso deixar você fazer isto, Malfoy.
***
Draco parecia como se Harry o tivesse acertado. O quê?
Harry aumento a pressão do seu aperto no pulso de Harry até que ele sentisse o pulso batendo ali, rápido e regular. Ele sabia que isto devia estar doendo mas o outro garoto não deu nenhum sinal de dor, nenhum sinal de que ele estivesse realmente sabendo o que estava acontecendo ao seu redor. Vagamente, pelo canto de seu olho, Harry podia ver Seamus se afastando, parecendo perturbado mas aliviado e foi se ajoelhar com o resto do time próximo de Ginny. Atrás do estreito nó de Gryffindors, Harry podia ver Madame Pomfrey se aproximando rapidamente, uma maca mágica do lado dela. Na beira do campo estavam de pé Charlie e George, sendo segurados por vários professores, incluindo Snape.
Deixe-me, Potter. Havia um tom de serenidade na voz de Draco que chegava a ser quase amedrontadora. Você não tem o direito --
Eu tenho todo o direito. Este é o meu time, a minha colega de time. Cuide de sua própria equipe.
Alguma coisa brilhou atrás dos olhos de Draco por um momento, alguma coisa selvagem e furiosa. Você não pode me dizer o que fazer, Potter.
Ah sim, eu posso. Nós fizemos uma promessa, Malfoy. Cada segundo que nós permanecermos aqui é outro segundo que fará alguém suspeitar. E já que - você não pode fazer nada por ela –
Você não sabe disto!
Se você tentar chegar perto dela, o resto do meu time tentará matar você.
Não se você os impedir.
Se você não me escuta, eu não poderei te ajudar. Eu não os afastarei.
Harry –
Não. Eu não posso ajudar você se você não se ajudar.
Draco empalideceu. Deixe-me ir -- seu próximo pensamento veio com um golpe forte e agudo, açoitando como um chicote o lado da cabeça de Harry. Deixe-me ir, Potter. Deixe-me ir!
Com preocupação, Harry largou o pulso de Draco e o outro garoto deu um passo meio tropeçado para trás e então outro. Ele encarou Harry, seu peito levantando e descendo tão rápido como se ele tivesse corrido; seus olhos estavam quase negros de fúria e alguma coisa a mais. Harry já o tinha visto assim antes e isto o atingiu como um flecha e o feriu como sempre fazia, mas não havia nada que ele pudesse fazer.
Eu te contarei o que aconteceu, Harry pensou. Simplesmente – vá. Por favor, vá.
Os olhos de Draco se estreitaram em fenda e ele parecia como se estivesse a ponto de dizer alguma coisa; então, tão repentinamente quanto ele parou no meio do ar, ele girou nos calcanhares e correu para fora do campo, caminhando em direção ao pátio da escola coberto de neve, suas botas batendo contra o gelo com o som de ossos se quebrando.
Harry o assistiu ir, então se virou e por hábito procurou por Hermione nas arquibancadas. Ele a viu imediatamente - ela estava de pé, suas mãos sobre sua boca. Enquanto ele olhava para ela, ela deu um passo para trás, se virou e se lançou para longe do campo, indo em direção ao pátio da escola, atrás de Draco.
***
Os pés de Hermione escorregavam e deslizavam sobre o gelo enquanto ela corria, subindo as escadas de pedra da fachada de Hogwarts. Ela correu sem realmente olhar para onde estava indo e sem pensar no porque ela estava correndo. Ela tinha visto o olhar no rosto de Draco antes dele fugir do campo - feroz, furioso, desesperado - e isto a assustou. Ela correu atrás dele e em direção a ele, sem pensar no porque.
O hall de entrada estava frio e deserto. Ela dobrou a esquerda, desceu o corredor que levava a masmorra da Slytherin. Os tapetes naquelas paredes eram verdes, exatamente como os tapetes vermelhos que levavam às escadas da torre da Gryffindor. Eles eram bordados com dourado e prateado, desbotados pelos muitos anos de maus tratos dos estudantes. Fantasmas pareciam estender suas mãos, saindo das paredes e a tocavam enquanto ela corria. Ela passou por um tapete que sustentava o lema de Hogwarts e parou por um momento para olhá-lo, cravado com cores arrojadas e com símbolos. Quase parecia para ela que a cobra de Slytherin estava dando o bote no leão da Gryffindor, o corvo de Ravenclaw se aprumando para se colocar entre eles. Hermione parou – era esta uma voz? Estava vindo de mais longe, do fundo do corredor e era uma voz diferente e grave. Ela foi mais devagar e virou uma esquina. Um lance de escadas de pedra levava para baixo e as vozes estavam vindo lá debaixo. Ela estava na metade do caminho, descendo as escadas quando reconheceu uma das vozes: a de Draco. E a outra era de uma garota.
Ela se inclinou para frente sobre o corrimão esculpido em pedra. Abaixo, em um lugar sob a luz das tochas, ela podia ver Draco, de pé, e o encarando, parecendo furiosa, estava Blaise Zabini. “Não se afaste de mim, Draco Malfoy,” ela estava dizendo isto com a voz fria. “Não pense nem por um minuto nisto”. O luz ondulante brilhava sobre as jóias que ela usava – mais do que a maioria das garotas em Hogwarts. Ela tinha múltiplos brincos em suas orelhas e vários anéis em seus dedos delgados e grampos cravejados de pedras preciosos brilhavam nos seus cabelos cor de morango. Os olhos dela estavam arregalados sobre a luz fosca, tão verdes lustrosos e escuros quanto folhas sob a água. “Eu quero uma explicação”.
“Uma explicação?” a voz de Draco estava em tom fino como o fio de aço de uma adaga. Hermione podia ver as manchas escuras nos joelhos do seu jeans, os cotovelos de sua veste de Quadribol, onde ele tinha aterrissado na neve. As mechas de seu cabelo, com neve derretida nelas, escorriam pálidas sobre seus olhos; ele as empurrou para trás com uma mão impaciente fazendo com que o anel com o selo dos Malfoys brilhasse como um olho malévolo. “Blaise, querida,” ele cuspiu a palavra como se ela fosse um insulto. “Você veio correndo atrás de mim para me exigir uma explicação?”. Ele colocou suas mãos nos ombros dela e a empurrou gentilmente de encontro a parede, a mantendo ali com seus braços. “Você devia me conhecer melhor”.
Hermione tinha que dar crédito a Blaise, ela não voltou atrás. Ela ergueu seu queixo, se equilibrou e olhou furiosa. “Como se não fosse ruim o suficiente você estar sempre de olho na namorada de Harry Potter, agora isto,” ela cuspiu. “O que existe entre você e as Gryffindors?”.
“Você está com ciúmes,” disse Draco. “Isto não é engraçadinho”. Ele não parecia como se pensasse que fosse. Sua expressão estava calma, até mesmo desinteressada, mas seus olhos estavam atroadores. Suas mãos, onde elas estavam descansadas sobre a parede, estavam cerradas. Hermione se perguntou o quanto isto tinha a ver com Blaise e o quanto isto tinha a ver com sua expulsão sumária do campo de Quadribol.
“É meu direito estar com ciúmes,” disse Blaise, friamente. “Eu sou sua namorada. Você não ouse tentar me dizer que eu não posso estar com ciúmes”. Ela levantou uma mão e empurrou os braços dele para longe, o encarando de igual para igual. “O que está acontecendo com você, Draco?” sua voz estava fria como gelo. “Eu quero saber”.
“Não há nada acontecendo comigo,” Draco disse, sem rodeios.
“Então, o que você está fazendo?”.
“O que pareceu que eu estava fazendo?”.
“Pareceu que você estava tendo uma – uma explosão com algum Gryffindor, simplesmente porque uma idiotinha não conseguiu se segurar em cima de sua vassoura. E você deixou Harry Potter te tirar do campo. Desde quando nós o escutamos?”.
Draco deu de ombros. “Eu só estava sendo correto. Nós não podemos continuar jogando quando o time oponente está caindo de suas vassouras”.
“Draco, nós somos Slytherins. Nós continuamos jogando mesmo que os outros times sejam fulminados por relâmpagos e se tornem uma magnífica pilinha de cinzas”.
“Sim, e quão bem funcionou esta estratégia de trabalho para nós no passado né? Blaise, nós perdemos os últimos cinco taças de Quadribol para a Gryffindor e você sabe disto. E metade da razão disto é que os professores e os outros times não conseguem torcer para nós. Ravenclaw e Hufflepuff perderão seus jogos deliberadamente para a Gryffindor apenas para assegurar que nós perdêssemos a taça-“.
“E você acha que se jogar todo simpaticuzinho, isto talvez mude?”.
Draco cruzou seus braços e se reclinou de encontro a parede, parecendo estar de saco cheio. “Sim, eu acho”.
Blaise parou para ponderar por um momento. Havia um nítido rubor avermelhado sobre suas bochechas pálidas, mas Hermione podia sentir que a raiva dela estava se esvaindo. Ela era, apesar de tudo, uma Slytherin, sangue-frio correndo no seu âmago e guiada pela praticidade ao invés da paixão. “Você mudou,” ela disse finalmente, levantando seus olhos verdes para Draco. “Eu não sei se gosto disto”.
“Nós todos mudamos,” ele disse. Ele descruzou os seus braços e ficou de pé, olhando para ela, sua cabeça tombada para o lado. Cada linha do seu corpo expressava a tensão e a raiva a flor da pele que ele contera, mas sua boca estava sorrindo. Era um sorriso tenso e frio, radiando a promessa de coisas que podiam ou não ser agradáveis, mas que uma não podia existir sem a outra, de qualquer forma. “Você mudou desde do dia em que nós jogamos juntos, quando nós estávamos em cinco. Não foi?”.
“Talvez”. A garota Slytherin arqueou sua cabeça para trás, um pequeno sorriso dançando em seus lábios. Suas mãos estavam nas suas coxas, seus ombros para trás, seu peito empurrado para frente. A pose provocativa podia ter sido copiada das páginas do Semanário Teen Bruxa, mas em Blaise, ela não parecia idiota. “Você gosta disto?”.
“Isto depende”. Draco esticou uma mão e gentilmente tocou o cabelo dela. “Você está com raiva de mim?”.
Blaise abaixou seus cílios. “Eu não sei”.
“Isto é realmente uma coisa bem simples,” disse Draco e tocou seu rosto levemente, correndo as dobras dos dedos dele ao longo da curva da bochecha dela, sobre os seus lábios, para baixo na sua clavícula. “Ou você está,” ele disse e deixou sua mão cair em direção a cintura dela, a puxando para mais perto, “ou você não está”.
Em resposta, ela levantou seu rosto, os olhos fechados e os lábios entreabertos e ele a beijou. Foi um beijo preguiçoso, controlado e lento; ele a beijara exatamente assim antes. Exatamente como ela gostava; ela foi se tornando dócil sobre as mãos dele e os braços dela deslizaram ao redor da cintura dele.
Hermione se sentiu ruborizar, se tornando escarlate. Agora, ela sentia como se estivesse espionando alguma coisa que não era da sua conta; ou, até mesmo coisa pior, ela se lembrou de como foi ser beijada por Draco e era algo parecido com isto. Ela nunca tinha antes prestado muita atenção no relacionamento dele com Blaise, agora ela achava que estava prestando atenção, muita atenção, e se sentiu envergonhada por isto.
Ela comprimiu seus olhos fechados. Quando ela os abriu de novo, Blaise e Draco tinham se separado, ainda que não estivessem muito longe; Blaise estava sorrindo para cima, para ele, e na escuridão do corredor, o cabelo pálido dele e o escarlate dela brilhavam como faróis. Eles podiam ser Ginny e Draco. Mas Ginny nunca teria sorrido para ele assim.
“Eu suponho que você não esteja,” Draco disse, com uma voz que fez até mesmo Hermione sentir uma pequena instabilidade ao redor dos seus joelhos. Ai meu Deus! “Raiva não é mais, não é?”.
“Não agora, mas se eu pegar você ao ponto de beijar uma outra garota, Draco Malfoy-“ Blaise disse, sua voz abafada.
Draco a interrompeu com uma risada, curta e melancólica. “Isto não acontecerá”.
Blaise olhou para ele languidamente. Sob os cílios negros dela, seus olhos se moviam verdes como os de um gato. De alguma forma, ela conseguiu fazer com que as vestes de Quadribol dela escorregassem por um dos ombros, revelando uma alça da camisola lavanda dela. Hermione não tinha idéia de como ela tinha conseguido fazer isto sem nem ao menos parecer se mover. Foi uma façanha arquitetada. “Às vezes, eu acho que não conheço você totalmente,” ela disse.
“Às vezes, eu acho a mesma coisa”.
Ele deixou Blaise ir e ela caminhou para longe dele, ajeitando suas roupas. “Eu acho que nós terminamos por aqui, Draco,” ela disse e acrescentou: “eu estarei na sala comunal se você me quiser,” conseguindo fazer com que este som parecesse um convite para uma rodada de insípida mas de agradáveis atividades. Maldita garota. Hermione a observou enquanto ela se afastava, o balanço de suas coxas hipnotizando debaixo das vestes verde escuras que ela usava. Como ela conseguia caminhar assim? Não era de forma alguma justo. Blaise desapareceu, descendo o corredor serpenteado de verde e vermelho, e enquanto ela fazia isto, Hermione olhou de novo para baixo e viu Draco olhando para cima, para ela.
Seus olhos se encontraram e ela se sentiu ruborecer de novo. Ele estava de pé onde tinha estado, sem se mover, a luz da toca reluzindo e desbotando o cabelo claro dele. Sob os seus olhos dançavam sombras escuras e feridas e sua boca parecia machucada também, possivelmente pelo beijo. Ele tinha perdido a magreza que tinha adquirido no verão e ela pôde ver a musculatura delgada dos ombros e os braços delineados debaixo de suas roupas quando ele deu um passo para trás, inclinando sua cabeça para cima, para olhar para ela e a luz instável projetava suas sombras sobre o seu rosto e o seu cabelo. Por um momento, ela viu um rosto diferente se sobrepor sobre o dele.
“Draco,” ela disse.
Ele sorriu. O sorriso não perpassava os seus olhos. Havia uma outra coisa neles, alguma coisa sombria e desesperada e primitiva. “O quê?”.
“Você a ama?” ela perguntou. Não era, de maneira nenhuma, o que ela tinha a intenção de dizer.
“O que você acha?”.
“Eu acho que você não sabe”.
“Então, você está me dando muito crédito,” ele disse. “Entretanto - se eu te der algo, você daria à Ginny por mim?”.
Ela balançou sua cabeça negativamente. “Dê a ela você mesmo”.
“Você não precisa dizer que fui eu quem deu”.
“Draco”. A palavra saiu meio que como um lamento, meio que como uma acusação. “Por que você está representando deste modo?”.
“Eu não estou representando,” ele disse. “Este é o meu jeito de ser”.
Ele levantou seu queixo para frente, tão arrogante e orgulhoso quanto ela já o tinha visto antes e a luz da tocha reluziu nos seus cabelos brilhantes e então desapareceu, como se uma sombra se interpusesse entre eles e a luz. Na meia escuridão, ela viu seus olhos frios como água em cima dela, seu peito ainda levantando e descendo rapidamente de raiva e talvez pelo beijo e ela soube o que o tinha levado a este beijo: toda a ferocidade e a fúria e a paixão que ele sentia por alguém, alguém outro que não era Blaise.
“Você pode amar mais de uma pessoa de cada vez, você sabe,” ela disse.
Os olhos dele brilharam. “Não me nutre com superficialidades, Hermione,” ele disse. “Você acha que eu não sei disto?”.
“Você não a ama,” disse Hermione, agora com certeza disto. “Você a beijou como que para tentar obter vingança”.
“Vingança contra quem?” Draco disse, sua voz estreita de irritação ou talvez fosse outra coisa.
Hermione balançou sua cabeça negativamente. “Eu não sei”.
“Bem,” disse Draco e deu de ombros. “Me envie uma coruja quando você descobrir, ok? Talvez exista um livro na biblioteca sobre isto”.
“Se você acha-“.
“Apenas me deixe sozinho,” Draco disse e se virou sobre seus calcanhares e foi embora. Hermione o assistiu ir, a tensão no seu peito quase insuportável. Tudo isto tornou todas as coisas piores. E não existe ninguém com que ela pudesse conversar a respeito. Nem Harry. Nem Draco. Nem Ron. Ninguém. Todos pareciam estar perdidos. E ela suspeitava de que Hermione Granger, a bruxa mais inteligente de Hogwarts, era a mais perdida entre todos eles.
***
Exausto, Harry desceu devagar o longo corredor que leva ao armário abandonado. Uma vez por semana, ele fazia este caminho, sempre às seis da tarde, uma hora antes do jantar. No primeiro dia de escola, Dumbledore o mostrou o caminho. Para ele e Draco.
As paredes dali eram sujas e sem decorações ou tapeçarias. Os pés de Harry estavam ecoando no chão de pedra e o som o fazia se sentir estranhamente só. Ele tinha estado na enfermaria por meia hora antes que Madame Pomfrey o enxotasse de lá, ele e o resto do time da Gryffindor, pela porta a fora. Ele tinha feito uma busca apressada pelo castelo mas não tinha sido capaz de encontrar Hermione e então já estava na hora do seu encontro com Draco e ele tinha que ir. Ele se sentia mal, um tipo de dor maçante, por não ter sido capaz de encontrá-la . Ele não queria ficar sem ela, especialmente não depois dos eventos traumáticos do jogo. Mas ele também saiba que não tinha o direito de requerer sua companhia, não depois do modo como ele vinha agindo ultimamente. Ele queria fazer alguma coisa para mostrar a ela o quanto ela significava para ele, mas ele não conseguia, não podia. Ele sentia que ela estava se afastando dele e não havia nada, ao que parece, que ele pudesse ou não pudesse fazer quanto a isto. Uma sensação maçante de inevitável perda o imobilizou.
Ele tinha alcançado o fim do corredor. A porta, em frente a ele, era velha, arranhada, de madeira vermelha escura com lâminas de bronze. Ele empurrou a maçaneta para baixo e a porta se abriu com um solavanco. Ele entrou e a fechou cuidadosamente atrás dele.
Ele estava de pé em um cômodo grande e de forma oval com janelas altas, pelo menos 20 pés acima da cabeça de Harry, que estavam fechadas com grades de ferro. O cômodo estava vazio, sem móveis, salvo uma longa mesa que corria ao longo de uma das paredes; as paredes estavam sem ornamentações. Em vez disto, elas estavam cheias de prateleiras com recipientes de vidro transparente que outrora tinham guardado espadas e escudos, machados e flechas, armas enfeitiçadas de todos dos tipos. Agora, eles não eram mais usados. Partículas de poeira flutuava através do fraco raio do crepúsculo inverno que incendiava através das grades das janelas.
Em um dos raios azulados de luz, Draco estava sentado, suas costas de encontro a mesa, sua cabeça para baixo como se ele estivesse ou pensando muito seriamente ou apenas estivesse muito cansado. Terminus Est estava gravado no aço prateado da espada deixada em cima da mesa atrás dele, a não-luz alcançando os entalhes ao longo dela e os fazendo brilhar como letras em fogo. A fragilidade da luz também jorrava sobre o pálido cabelo, o deixando com um tipo de brilho sem cor, como madre-pérola. Ele ainda estava vestindo suas vestes de Quadribol cor de esmeralda, ainda que na escuridão, elas parecessem quase negras.
“Olá, Malfoy,” disse Harry, com o objetivo de anunciar sua presença.
Draco levantou sua cabeça. Tinham sombras marcando as laterais de sua boca, seus olhos estavam tão escuros que pareciam polidos.
Harry deu outro passo para dentro do cômodo. “Ela está bem,” ele disse, “já que era isto que você queria saber”.
“Ela está acordada?”.
“Não. Não ainda”. Harry estava no centro do cômodo agora. “Olhe, sobre o que aconteceu no campo de Quadribol-“.
“Sim,” disse Draco com uma voz sem tom. “Me desculpe por aquilo”.
Harry suspirou. “Malfoy...” ele esticou uma mão e as pontas de seus dedos roçaram o ombro do outro garoto. “Eu estivesse pensando que é melhor que nós paremos”.
“O quê?” Harry sentiu os olhos de Draco se lançarem em direção a espada que estava sobre a mesa atrás dele. “Parar de praticar esgrima? Por quê?”.
“Não, não isto”. Harry deixou sua mão cair e a descansou por um momento no punho da espada que estava na sua cintura. Tinha, como sempre, um peso confortável. “Parar a rixa. Parar de fingir que nós nos odiamos. Se as coisas não tivessem acontecido como se deram hoje no campo, se eu tivesse mandado você embora e você tivesse se recusado a ir, eu não sei se eu conseguiria continuar fingindo esta farsa”.
“Nós não podemos,” disse Draco, “parar com a rixa - lembre-se do que Dumbledore disse”.
“Eu sei, mas nós podemos ir e explicar para ele-“.
“Explicar o quê? Que não está mais divertido?” a voz de Draco estava amarga. “Que não tem mais importância aquilo que nós devemos supostamente fazer. Ele disse: a aqueles que recebem mais, mais é esperado. Ou qualquer coisa parecida com isto”.
“Eu não sinto como se estivesse recebendo tanto assim,” disse Harry, em um raro instante de amargura e Draco olhou para cima, para ele, pela primeira vez. Seus olhos pareciam muito escuros, feitos de vidro cor de aço cinza ladeados por cílios negros. Ele parecia quase com raiva.
Harry se conteve. “Eu sei, é verdade. Eu tenho recebido muito. Hermione e Ron e Sirius –“.
“Eu estava pensando em riqueza, fama e glória”.
“Estas são as suas aspirações”.
Draco sorriu. Era um sorriso discreto, mas genuíno. “Oh, que bom, insultos. Você sempre sabe quando usá-los”.
Harry deu de ombros. “Você não quer praticar ou quer fazer esta tarefa-dever-de-casa passada por Lupin? A escolha é sua”.
“Eu quero praticar”. Draco levantou uma mão para trás dele e pegou a espada da mesa. O brilho fraco irradiou passando pela lâmina até o punho dourado, cravejado com pedras negras como vidro. A luz bateu nas palavras entalhadas ao logo do punho: Terminus Est.
Esta é a Linha de Divisão.
Separando o que do que? Harry se perguntou, não pela primeira vez. Dividindo o bem do mal, a luz da escuridão, a escolha do destino? Ou talvez ele estivesse apenas exagerando na análise e meramente significava que a espada tinha um raro fio cortante e afiado. Um fio que brilhava na direção dele agora e ele levantou sua própria lâmina para bloquear o golpe, dando um passo para frente como Draco o ensinara. Caminhe em direção ao golpe, não fuja dele; a vontade tolhe o alcance do oponente.
As palavras ecoavam umas contra as outras e tocavam como sinos no silêncio do cômodo. Harry golpeou Draco; Draco retornou e eles se moveram em uma dança de esgrima lenta e não ensaiada ao redor do cômodo, nem apresando nem diminuindo seus movimentos. Harry gostava das horas de treino; permitia-o um espaço no qual ele não tinha que pensar em nada; ele meramente deixava seu corpo seguir os movimentos parecendo saber guiá-lo pelo instinto. Ele golpeava, desviava, respondia e retrocedia enquanto as lâminas eram projetadas uma contra a outra, produzindo fagulhas prateadas com o movimento. Ele deixava Draco guiá-lo de novo, seis passos, sete, até suas costas tocarem a parede. Ele deixava o próximo golpe vir e abaixava a cabeça, empurrando a parede para ganhar força extra. Sua lâmina retinia contra a lâmina dura de Draco, produzindo um nevoeiro de fagulhas que pairava e clareava o ar entre eles.
Draco retrocedeu. “Bom,” ele disse. “Bom uso da parede”.
Harry não respondeu, apenas balançou sua espada de novo, atacando. Draco desviou do golpe e respondeu; Harry fitou, se desviando do golpe e atacou de novo. Ele deu um longo passa para trás, se movendo para girar, então abaixou para poder ultrapassar a guarda de Draco e atacou. Sua espada cavalgou alto e conseguiu pegar o desvio de Draco, o golpeando, atacando o ombro do outro garoto. Houve um pequeno som de um tecido se rasgando e um rasgo se abriu na manga da camisa de Draco.
Harry parou imediatamente. “Me desculpe,” ele disse rapidamente.
Draco, que também tinha parado, parecia surpreso. “Tudo bem”.
Harry sentiu seus dedos embranquecerem enquanto ele segurava o punho da espada de Gryffindor. “Eu podia ter machucado você”.
Draco balançou sua cabeça negativamente. “Não ao menos que eu deixasse que você o fizesse. Foi um bom truque, mas você ainda está telegrafando seus movimentos. Qual é o problema, Potter?”.
“Eu acho que minha mente está em outro lugar”.
“Hermione?” Draco disse e Harry se percebeu acenando com a cabeça. “Olhe, por que você não pode simplesmente contar a ela o que você me disse na noite passada? Ela irá entender”.
Harry olhou para baixo, para sua mão que, molhada com uma película de suor, segurava o punho da espada de Gryffindor. “Existe apenas um problema nisto”.
“O quê?”.
“Eu não me lembro o que eu te contei na noite passada”.
A boca de Draco estremeceu. “Eu presumo que você não acredita que eu lembre a você o que você me contou, que você está de fato tendo um louco romance secreto com a Professora Sprout e você tem trocado fotografias com ela nas quais você está vestido como um gigante marmota?”.
“Besteira,” disse Harry.
“É claro que não”.
“Eu nunca me vestiria como um marmota”.
“Naturalmente”.
“Talvez, como um macaco. Ou, quem sabe, um mico. Mas um marmota? Com estes dentes?”.
“Agora você está me assustando”.
Harry riu. Foi a primeira vez que ele ria alta por estes dias. “De qualquer jeito, isto é Hogwarts. Todo mundo sabe sobre os assuntos de todo mundo. Quem poderia ter um louco romance secreto aqui?”.
***
“Eu acho que ouvi alguém se aproximar,” ela disse. Ela girou no abraço de Ron e se levantou. Ele inclinou sua cabeça para trás e ela podia sentir os olhos azuis dele na sua costas enquanto ela cruzava o cômodo e parecia ansiosa em sair, através da alta janela com grades que servia de porta. Lá fora, ela podia ver a extensão do corredor vazio se esticando em duas direções. Não havia ninguém lá.
“Você se preocupa demais,” disse Ron. Ele estava sentado no chão, sem camisa, de jeans e tênis. Suas vestes da Gryffindor de Quadribol estavam amontoadas em uma pilha atrás dele, onde os dois tinham estado deitados. Seus olhos estavam sombreados. “Talvez eu devesse ir,” ele disse. “Ginny-“.
“Você me disse que eles não permitiram nem mesmo você de entrar na enfermaria,” ela disse. “Eu achei que ela estava bem?”.
“Eu sei. Mas eu me sinto responsável”.
“Bem, você não é”. Ela voltou a cruzar o cômodo e se sentou perto dele, colocando seus braços em volta dele. “E você diz que eu me preocupo demais”.
Ele girou em volta dela, a abraçou e olhou para ela. “Se nós fossemos pegos,” ele disse com firmemente. “Se alguém nos achasse – o que você faria?”.
“Ron, eu-“.
“O que você escolheria?”.
“Seria exatamente tão ruim para você se nós fossemos pegos,” ela disse em um tom comedido, “quanto seria para mim”.
“Pior,” ele disse. Sua voz estava um pouco dura. Ela sentiu que ele estava provavelmente tentando ferí-la, ferindo-se.
Ela levantou uma mão e virou seu rosto sob suas mãos. “Eu te amo,” ela disse.
Ele pestanejou. Ela nunca tinha dito disto para ele antes. “Você me ama?”.
Ela indicou com a cabeça. “Eu pensei que você soubesse”.
Por um momento, ele ainda pareceu assustado; então seu rosto se iluminou e ele a alcançou, a puxando para mais perto. “Eu pensei que você nunca-“.
“Shh”. Ela o beijou.
“Eu-“.
“Eu sei”. Ela colocou seus dedos sobre os lábios dele. “Você não precisa me dizer. Eu sei que você me ama”.
***
“Hmm,” disse Draco. “Eu suponho que você esteja certo. A não ser que você esteja querendo ficar na fila na Torre de Astronomia todo noite de Sábado, realmente não existe um outro lugar melhor para se dar uns amassos do que vir até aqui, neste lugar privativo”.
“Do que você está se queixando, Malfoy? Você tem o seu próprio quarto, não tem? Você é um Monitor”.
“E espaçosos também. Eu apenas chamo aquilo de quarto porque estou muito preguiçoso para chamá-lo de “um armário de vassouras com candeeiros””.
“Nós podíamos vender ingressos para este lugar,” disse Harry, olhando ao redor do quarto quase vazio. Ele forçou um sorriso. “Especialmente considerando que as paredes fazem as vozes ficarem mais altas”.
“Ótimo pensamento, Potter. Estou contente de ver que Hermione não tem sido todo o cérebro no relacionamento”. Draco mexeu sua cabeça para o lado. “Diga-se de passagem, você parece mais alegre”.
“Sim”. Harry levantou sua espada e fez uma meia saudação em direção a Draco. “Obrigado pelo treino. Me ajudou”.
“Quê bom”. Draco parou e olhou para Harry seriamente. “Potter, eu nunca te perguntei isto antes, mas...”.
“Mas o quê?”.
Draco hesitou, e então perguntou a sua próxima questão como se estivesse dando um passo para dentro de um abismo: “Onde os seus pais estão enterrados?”.
Harry ficou por um momento muito tranqüilo. Havia um estranho tipo de dor zunindo atrás de seus olhos. Finalmente, ele disse devagar. “Eu não tenho idéia”.
Draco pestanejou mas de qualquer forma não mostrou sua surpresa. Sua voz estava cautelosa. Isto era obviamente algo que ele deveria ter perguntado antes para Harry, mas não o fez. “Bem, alguém deve saber”.
Harry acenou com a cabeça, distante. “Alguém deve...”. Por que ninguém mencionou isto para ele ante ou até mesmo se ofereceu para levá-lo lá? Dumbledore, Sirius, Lupin, eles nunca – e eu – por que eu não perguntei?
“Potter”. A voz de Draco estava aguda. “Fique firme. Está tudo bem com você?”.
“Uh-huh”. A visão de Harry voltou bruscamente a entrar em foco; ele viu Draco, de pé em frente a ele, parecendo preocupado. “Sirius deve saber”.
“Ou Lupin,” disse Draco.
“Eu prefiro perguntar ao Sirius. Eu devo falar com ele esta noite, de qualquer forma”.
“Ok”. Draco deu de ombros elegantemente. “Eu apenas pensei...que isto pudesse ajudar. Você sabe. Diminuir a distância. Talvez ajudasse você a se sentir, uh, um pouco mais próximo deles”.
“Mais próximo?”.
“Às vezes, você tem que ver as coisas,” Draco disse calmamente. “Vê-las você mesmo – para saber que elas são reais”.
“Eu sei que eles estão mortos,” replicou Harry sem rodeios. “Eu sempre soube que eles estavam mortos”.
“Eu sei,” Draco disse. “Mas, ultimamente, às vezes, eu me pergunto se você sabe que você continua vivo”.
Harry olhou para baixo. Ele se sentiu desconectado, como freqüentemente ele se sentia por estes dias; desconectado do cômodo ao seu redor, desconectado de Draco, desconectado de seu próprio eu, como se o corpo que ele olhava, magro e vestido com um jeans e um suéter azul, fosse o de outra pessoa e não o dele próprio. Um cadarço do seu sapato esquerdo estava desamarrado; ele não tinha lembranças de tê-lo amarrado. “Eu tinha a possibilidade de ir até o Espelho de Osejed para ver meus pais,” ele disse. “Eu não posso mais fazer isto”.
Uma leve linha de confusão apareceu entre os olhos de Draco. “Porque você não sabe onde ele está?”.
“Porque eu não quero olhar para ele,” disse Harry. “Eu tenho medo do que eu possa ver”.
***
Os números rosa do relógio brilhavam junto da cama mostrando a Ginny que eram duas da manhã. Ela estava deitada onde tinha sido deixada, abrindo seus olhos e deixando que eles se ajustassem a meia escuridão do quarto. Seu corpo estava todo dolorido, mas seu braço, que ela tinha escutado Madame Pomfrey descrever como “quebrado no meio”, parecia estar funcionando de novo e não estava particularmente doendo.
Tinham pessoas no quarto, mais cedo, muitas pessoas. Ela se lembrou de Madame Pomfrey enxotando o time da Gryffindor porta a fora, harry colocando os braços ao redor dos ombros de Ron enquanto eles saiam – Ron parecia totalmente destroçado, Ginny o teria reconfortado se não tivesse maus lençóis e sob o efeito de Encantamentos Ante-Dor. Ela se lembrou de Charlie entrando mais tarde, sentando na cama e segurando a mão dela, e alguns flocos de neve caíram dele e derreteram no seu pulso. Outras pessoas tinham estado no quarto junto com ele, mas ela se lembrou principalmente de Charlie. “O que aconteceu?” ele disse. “O que aconteceu com ela lá em cima?”.
E outra voz respondeu:
“Nós não sabemos. Nós estamos investigando. Ninguém tinha tido um acidente assim com uma vassoura há anos, nem mesmo Harry Potter quando caiu da sua vassoura no seu terceiro ano-“.
“Mas foi por causa dos Dementadores. Ginny é um bom piloto, ela sempre foi. Ela não perderia simplesmente o controle da vassoura dela, desta forma”.
“A vassoura estava sendo controlada por maldiçoes e bruxarias, Professor Weasley. Por favor, não se exalte”.
“Ela é minha irmã,” disse Charlie com força. Alguma coisa em sua voz lembrava Ginny da sua mais tenra infância, quando Charlie tinha sido, de longe, o seu irmão favorito. Ela se lembrou dele chegando em casa vindo de Hogwarts para o Natal, se apressando até ela enquanto ele corria entrando pela porta com suas vestes negras da escola, a erguendo no ar e a balançando de cabeça para baixo até ela gritar e gargalhar. Charlie tinha sido seu favorito então, ainda que mais recentemente ela percebera que sua lealdade tinha mudado um pouco e ela estava agora mais próxima de Ron. Ela supunha que não era possível passar pela experiência que ambos passaram durante o verão e não se tornarem mais próximos. “Minha única irmã,” Charlie acrescentou, com ênfase.
“Sim, eu sei que ela é sua irmã. Nós todos gostamos dela, Charlie. Nós descobriremos o que aconteceu...e você, você deveria descansar”.
Uma vertigem de dor mostrou que os Encantamentos para o alivio da dor estava acabando e Ginny deslizou para dentro de um estado confuso no qual o quarto parecia cheio de formas turvas. Ela voltou sua mente para os acontecimentos anteriores: ela pensara ter escutado George e Fred falando sobre ela e então ela pensara ter escutado Ron, ou talvez pudera ser Harry, e ela até mesmo escutou Snape e Dumbledore e ela definitivamente escutara Madame Pmfrey gritando com alguém, mas não antes que alguém se curvara sobre ela e a beijara na bochecha.
Ela esperava que não tivesse sido o Snape.
Ela girou na cama agora e olhou para o relógio de novo. O número caminhava sobre a sua superfície agora dizendo que eram duas e meia e ela sentia que não conseguiria dormir mais. Havia um número de livros empilhados em cima da mês – Hermione os tinha indubitavelmente deixado de forma que ela não perdesse suas tarefas escolares. Ela se perguntou se tinha alguma coisa no Uma pequena História da Maldição (Harry tinha ficado muito excitado com este livro no segundo ano, ela recordou, até ele descobrir que ele não continha nada mais do que bruxarias e coisas do tipo) que pudesse explicar o porque dela ter caído da sua vassoura. Ela estendeu a mão com o braço não ferido e percebeu o que tinha no meio da pilha dos livros, pulou de surpresa quando livro brochura meio leve caiu com a capa para cima. Era a sua cópia de Calças Ardentes.
***
Hermione caminhava devagar, descendo o corredor, enrolada na Capa de Invisibilidade de Harry, tentando esconder seus passos, andando devagar. Ela estava bem consciente da ironia de toda situação – ela, Monitora, responsável em garantir que os estudantes não quebrariam as regras, se esgueirando pelos arredores da escola muito tempo depois do horário de recolher. Ela estava consciente disto, mas ela não se importava. Isto era página virada.
Ela encontrou a porta na parede onde a planta baixa lhe mostrara que estaria. Ela colocou sua mão na porta e a empurrou; ela girou totalmente e ela entrou.
O cômodo estava escuro. Tinha apenas uma janela colocada como uma jóia fria na parede norte, dando vista para os terrenos da escola. Ela podia ver a ponta das árvores da Floresta Proibida coberta de neve e uma meia lua tipo diamante derramando sua luz leitosa sobre o mundo inferior negro e gelado.
A parede na frente dela, do lado da que tinha a janela, tinha um tremular visível, como a luz do sol sobre a água. Ela se virou e caminhou em direção ao brilho, que se aglutinava enquanto ela se aproximava. Ela sabia realmente o que ele era: um espelho emoldurado com ouro.
Eu mostro a você o desejo do seu coração.
O desejo do seu coração.
Eu suponho, a voz de Harry disse no fundo de sua mente, que o desejo do coração de uma pessoa possa mudar.
Ela se lembrou da sua voz quando ele lhe falou isto, o olhar no seu rosto – esperança e horror misturados.
Não, ela dissera de volta para ele, firmemente. Eu nunca mudei. Eu sempre fui a mesma. Eu sempre amei você. Eu sempre quis você. Tudo o que eu tenha feito, ou dito, foi sempre e sempre será por você.
Com um só movimento, ela deixou a capa cair e levantou sua cabeça e olhou para o espelho. Um batimento cardíaco passou enquanto ela olhava e então, o segundo e o terceiro. Um quinto batimento e seus joelhos cederam. Ela se sentou muito repentinamente no meio do cômodo, no chão frio de mármore e colocou seu rosto entre suas mãos.
***
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