Através da prata e do cristal
***
Era dezembro, e estava um frio terrível na masmorra de Poções, mas Snape não se importava. “Alguém pode me dizer o que é isto?” ele perguntou, levantando um frasco transparente de um liquido verde fumegante e inspecionou a classe criticamente. “Longbottom?”.
Neville, que tinha tentado em vão se esquentar a ponta de seus dedos azuis com seu caldeirão, parecia horrorizado. “Eu não sei, Professor”.
“Você não terminou a sua leitura na noite passada, Longbottom? A tarefa era dez paginas do livro Lieber e Stoller”.
“Eu sei, Professor, mas meu sapo, Trevor, se perdeu, e eu –“.
“Dez pontos a menos para a Gryffindor!” gritou Snape, que estava em boa forma. Ele nem ao menos parecia estar com frio, Draco meditou. Talvez, ele tinha misturado para si mesmo uma Poção de Aquecimento antes da aula.
Os olhos negros como tinta de Snape se lançaram como flechas sobre os estudantes. “Potter?” ele inquiriu.
Pelo canto de seu olho, Draco viu Harry empalidecer e parecer assustado. Próximo dele, Hermione ficou vermelha. Toda vez que ela sabia uma resposta e Harry não, Draco tinha a sensação de que talvez ela fosse explodir devido ao esforço de tentar impelir o conhecimento na direção de Harry.
É uma Poção Imperceptus, Draco pensou indolentemente para Harry. Faz você ficar invisível. Harry se sentou ereto. “Uma Poção Imperceptus,” ele disse. “Faz aquele que a bebe ficar invisível”. Snape parecia desapontado. “E os ingredientes?” ele falou entre os dentes. Artemísia, Draco pensou. Osso de dragão triturado, sangue de cobra venenosa em pó, atanásia, hortelã...
“Artemísia,” disse Harry. “Osso de dragão triturado, sangue de cobra venenosa em pó, atanásia, hortelã...”.
E um par de minhas próprias cuecas samba canção,daquelas com um pequeno Pomo de ouro nelas, Draco acrescentou.
“E um par de...” Harry começou, e engasgou. Seu rosto tinha ficado vermelho e então branco enquanto ele sucumbia a um prolongado ataque de tosse. Hermione olhou para ele alarmada. Draco parecia inocente, com sua pena, girando-a em seus dedos.
“Sim Potter?” as sobrancelhas de Snape tinha se levantado até a linha estreita com o seu couro cabeludo. “Um par de quê?”.
Harry continuou a tossir. “Besouros?” ele sugeriu fracamente.
Snape parecia irritado. “Não, Potter,” ele disse. “O sexto ingrediente não é um par de besouros. Entretanto,” ele acrescentou. “cinco dos seis não estão vergonhosamente errados. Eu não tirarei pontos da Gryffindor”. Ele colocou o frasco em cima da escrivaninha em frente a ele com um leve baque. “Agora, alguém deseja ser voluntário para vir até aqui e se tornar invisível?” ele perguntou.
Draco olhou novamente para Harry e sorriu.
Nunca, e até mesmo a voz telepática de Harry soou irritada, mais me ajude de novo.
Hey, Gryffindor não perdeu nenhum ponto.
Não, mas eu acho que eu perdi dez anos de minha vida. Ah, cala boca, Malfoy. Vá ser invisível ou alguma coisa do tipo. Por outro lado, você provavelmente cairia morto se passasse dez minutos sem olhar para o seu próprio reflexo.
Draco deu de ombros modestamente, e então percebeu que Hermione estava olhando dele para Harry e de volta para ele. Ela mordeu o lábio dela de maneira irritada e se virou de volta para o seu bloco de notas enquanto Ron era convocado para ir até a frente da classe e se tornar invisível. Ron olhou para o liquido verde espumante de maneira suspeita, e o bebeu com o ar de alguém que está a ponto de ser assassinado.
O som de um papel sendo rasgado chamou a atenção de Draco. Quando ele se virou para o lado, viu que Hermione estava segurando um bilhete, dobrado para que somente ele pudesse lê-lo. EU FALEI PARA VOCÊ NÃO CONVERSAR COM HARRY DURANTE A AULA!
Draco deu de ombros se desculpando, mas Hermione continuou a olhar para ele até Ron distrair a classe inteira se tornando uma violenta cor púrpura brilhante, por um momento, e desaparecer.
“Este é o melhor Weasley que eu já olhei,” disse uma voz sedosa próxima ao cotovelo de Draco. Era Blaise Zabini, olhando para ele debaixo dos longos cílios negros dela.
“Exatamente o que estava para dizer,” Draco replicou completamente verdadeiro.
Ela colocou dois dedos na manga dele e sorriu para cima, para ele, seu rosto bonito se iluminando. Os olhos dela eram grandes e verdes cinzentos. “Você é esperto, não é?”.
Draco sorriu para ela e se sentou para trás na sua cadeira. Ele estava vagamente consciente, sem de fato olhar para ela, que Hermione tinha lançado para ele um olhar de desgosto. Ele estava acostumado com isto.
Ron tornou-se de novo visível -- "Má sorte,” Draco murmurou em direção a Blaise, e ela e Pansy Parkinson deram um sorriso - e foi refazendo o seu caminho de volta a sua escrivaninha, parecendo verde. Hermione o puxou para baixo para o assento dele pela manga e deu um tapinha em seu ombro.
“E agora nós temos outra poção,” disse Snape. Ele indicou um frasco tampado com um liquido vermelho sobre a escrivaninha. “Este aqui é chamado de Soporus, e faz com que...? Sim, Granger?”.
Hermione abaixou sua mão. “Se você bebê-la, fará você lembrar de seus sonhos”.
Snape nem ao menos perdeu tempo dizendo a classe que isto estava correto. “Muito bem”. Ele limpou sua garganta. “Draco Malfoy, venha até aqui”.
Draco estava surpreso. O Mestre de Poções raramente o chamava para fazer alguma coisa, preferia atormentar os Gryffindors e ser mais suave com os Slytherins. Ele se colocou de pé, entretanto, e fez o seu caminho até a frente do cômodo, onde ele parou, de pé, olhando curiosamente para Snape.
Snape destampou o frasco com o liquido escarlate e o entregou a Draco. Parecia sangue. “Isto me fará lembra de meus sonhos?” Draco perguntou, olhando para Snape de modo suspeitoso.
“Somente aqueles mais recentes,” Snape disse. Sua expressão estava completamente vazia. “Continue, então”.
Draco lhe deu um ultimo olhar de suspeita, e bebeu a poção.
Por um momento, nada aconteceu. Draco olhou para o alto, para a classe, que olhava para ele de volta com expectativas. Hermione estava com sua cabeça de lado, parecendo curiosa, Ron olhava como se estivesse esperando e não esperando que talvez Draco explodisse, e Harry tinha uma sobrancelha levantada. Blaise e Pansy estavam olhando com os lábios entreabertos. Neville parecia perdido em suas próprias ruminações tristes sobre o seu sapo. Draco estava a ponto de se virar em direção ao Mestre de Poções e anunciar que nada tinha acontecido quando percebeu que a parede da parte de trás da sala de aula parecia se enrolar e correr em direção a ele como uma onda. A escuridão o atingiu, e ele se sentiu dentro dela como se estivesse se afogando.
***
O sonho se ergueu como uma feber, o assolando, o cegando. Ele o carregou para frente. Paredes de pedra se ergueram em torno dele e um chão de mármore deslizava debaixo dos seus pés. Ele estava em algum lugar e ao mesmo tempo em lugar nenhum.
Ele levantou sua cabeça e olhou em volta. Era como se ele olhasse através de um vidro de cristal negro. O mundo diante dele parecia fumegante, distante, tocado pela escuridão, como se sua luz tivesse sido sufocada, abafada por pesados tecidos. Ele olhou em volta e viu que estava em uma sala de pedra cilíndrica com janelas estreitas e antigas, como se ele estivesse de pé não topo de uma torre. Uma longa tábua de carvalho corria de um lado a outro de uma das paredes. Estava encarreirado com garrafas e frascos prateados salpicados com o que pareciam caras pedras preciosas. Haviam outros itens espalhados lá: uma chave feita de ossos, uma Mão de Gloria, uma adaga de aparência malévola. Uma tapeçaria cobria a maior parte daquela parede: nela havia o desenho de um circulo, dividido em quatro partes iguais por uma cruz, e em cada quarto da cruz estava um símbolo que Draco não conseguia decifrar. Debaixo disto corria um provérbio em latim que Draco absolutamente não conseguia decifrar, apesar dele acreditar que identificava a palavra em latim para “digno” ou “honrado”.
No centro do cômodo esta uma mesa quadrada, esculpida em ônix. Em cada canto da mesa estava um disco dourado. E próximo à mesa, parados de pé, dois homens.
Aquele à direita era imediatamente familiar. Alto e cabelos pálidos, com olhos cinzas gelados e estreitos, vestido com vestes viridian, suas mãos vestidas com luvas pretas estavam em frente de sua testa. Lucius Malfoy, seu pai.
O outro homem estava vestido com uma capa preta. Seu capuz estava levantado, escondendo seu rosto, ainda que na profundidade dele, Draco fantasiou que pudesse ver a luz tremula de dois olhos feito carvões. Sua mão direita estava nua, e Draco a reconheceu: a pele branca medonha e unhas vermelhas. Uma vez, esta mão tinha esmagado ele próprio até ele gritar de agonia. Quando ele moveu sua mão esquerda um tipo de adereço brilhoso estúpido parecia cintilar ali, capturando a luz, e então mais uma, e mais uma. Ele estava usando uma luva escamosa, como pele de lagarto, e nesta mão, ele segurava alguma coisa se debatia e contorcia. Uma serpente.
“Eu não posso perder minha Nagini,” o Lorde das Trevas disse. “Não existe nada mais como ela”.
“Não,” disse Lucius calmamente. “Mestre...o assunto que eu venho falar com você é sobre...permanece não resolvido”.
O Lorde das Trevas soltou um suspiro ruidoso. “O garoto?”.
Lucius acenou com a cabeça. “O garoto não é confiável, Mestre”.
“Era sua obrigação, Lucius,” disse o Lorde das Trevas, “ver que ele não era”.
“Nós perdemos terreno neste verão,” disse Lucius. “Foi inevitável, considerando o recente desagrado”.
“Então recupere este terreno,” disse o Lorde das Trevas com força. “Você tem mantido contato? Não simplesmente para lhe dizer que você está vivo?”.
“Sim. Contanto quase constante. Ele está ciente, ainda que, é claro, eu não tenha lhe contado tudo”.
“Seja o que for que você tenha que fazer, faça Lucius. Ele é sua responsabilidade”. O Lorde das Trevas fez um movimento repentino, agarrando a cobra exatamente abaixo da cabeça dela e a apertando com força. Quando ele a largou, ela estava frouxa, aparentemente morta. A expressão de Lucius se obscureceu enquanto Voldemort levantava a cobra frouxa e a soltava dentro de um caldeirão. “Você sabe o que acontecerá se você não se sair bem com isto”.
“Ele é uma criança, e crianças não são confiáveis,” disse Lucius. “Um risco de segurança. E lhe disse isto antes quando não quis envolvê-lo”.
Houve um silêncio frio. Lucius empalideceu levemente. Finalmente, o Lorde das Trevas falou. “Não presuma que você saiba o que é melhor, Lucius,” ele disse suavemente. “Eu ensinei tudo o que você sabe. Mas eu não te ensinei tudo que eu sei”.
Lucius umedeceu seus lábios secos. “Sim, Máster. É claro”.
Houve um freme de movimento e a cabeça da cobra apareceu na boca do caldeirão. Não estava, aparentemente, morta apesar de tudo. Voldemort esticou sua mão protegida pela luva, e a cobra se engatinhou nela, envolvendo o pulso dele como um bracelete. “E Rabicho enviou o recado?”.
“Ele ainda está recolhendo os materiais, Mestre,” disse Lucius, falando de repente muito baixo, de forma que Draco teve que se esforçar para ouvir, “Ele não retornou ainda de-".
Mas não adiantou. As palavras desapareciam do nada, e sua visão acompanhou. O cômodo se fechou como uma flor, o caldeirão e os frascos com pedras preciosas e os dois homens parados, de pé giraram para longe dele em uma correnteza de escuridão, e Draco começou a subir, seu coração correndo e seus olhos voando abertos para se manterem fixos no-
O rosto de Snape. O Mestre de Poções estava olhando para ele com consternação. “Malfoy! Tem algo de errado com você?”.
O cômodo foi lentamente entrando em foco. Draco percebeu que ele devia ter cambaleado para trás, de encontro com a parede. Seus ombros estavam feridos como se ele tivesse batido duramente contra ela, e seus olhos queimando. Ele podia ver a sala inteira olhando para ele em choque. Harry tinha meio que se levantado e Hermione e Ron o estavam puxando para trás, para sua cadeira. Hermione parecia abatida de preocupação.
“Nada”. Draco empurrou para longe as mãos do professor. “Eu estou bem”.
“Aconteceu alguma coisa?” Snape arremessou sua voz para baixo, assim, somente Draco podia ouví-la. “Você viu alguma coisa?”.
A serpente, o caldeirão, o Lorde das Trevas, a torre.
Draco balançou sua cabeça negativamente. “Não. Eu apenas tive uma vertigem”.
Os olhos de Snape se estreitaram. “Você não viu nada?”.
Mais tarde, Draco percebeu que ele deveria ter inventado alguma coisa. Eu deveria ter dito que sonhei que era um limão flutuante em um gim gigante e refrescante. Qualquer coisa.
Em silêncio, ele balançou sua cabeça negativamente. “Não. Nada”.
“Muito bem”. Draco quase podia jurar que Snape parecia desapontado. Até mesmo preocupado. “Volte para o seu lugar, Senhor Malfoy”.
***
“Outra carta de Monique?” Hermione disse com a voz provocante, esticando a mão por sobre a mesa em direção a Ron que estava olhando com expectativas para cima, para a coruja preta que aterrizou no seu ombro esquerdo. O nome dela era Nefertiti e ela tinha sido um presente dos pais dele quando eles descobriram que ele tinha sido nomeado Monitor. (Pigwidgeon tinha ido para Ginny). Neste momento, ela picava a orelha dele e soltou a carta na mo dele: era impressa com um respingado em dourado e branco constante e estava fortemente cheirando a jasmim.
“O que eu posso dizer?” Ron desenrolou o papel e o examinou com um sorriso. “Monique simplesmente não consegue ficar sem mim”.
“Oh, você está apenas a enrolando,” disse Ginny com um sorriso, esticando uma mão para que Ron pegasse o suco de abóbora. “Você não está pensando em ter nada sério com ela”.
“Existem alguns aspectos deste relacionamento que eu estou levando muito a sério,” Ron disse seriamente.
“E ela tem uma linha completa de sutiãs Wonderbra para estes aspectos,” disse Hermione, com sorriso enviesado maldoso.
“Eu acho que ela está apenas atrás de mim pelo meu dinheiro, de qualquer forma,” disse Ron, que tinha colocado como tarefa a si mesmo, transformar a catar azarenta de Monique em uma Firebolt de papel.
Ginny levantou uma sobrancelha. “Ela sabe que não existe muito mais?” ela inquiriu. Era verdade. No momento em que a descoberta de tesouros medievais mágicos escondidos debaixo da Toca habitara as manchetes do Profeta Diário, os Weasleys não tinham lucrado com isto, já que a coleção inteira tinha desaparecido misteriosamente pelo Conselho de Auror com o propósito de estudo e pesquisa. De todos os tesouros acumulados, apenas as coisas que eles conseguiram guardar foram o Galeão de Gryffindor, que Ginny deu a Harry no seu aniversario, e umas poucas bugigangas de estanho. E se eles tinha esperando um enorme fruto vindo da nomeação do Senhor Weasley como Ministro da Magia, eles tinham se desapontada com isto também: poucos funcionários do Ministério fazem uma grande fortuna, e o Ministro não era exceção, especialmente quando ele tem sete filhos. Os Weasley permaneceram o que eles tinham sido desde que a loja de Logros de Fred e George fez sucesso: confortavelmente prósperos, mas de nenhuma maneira isto significava ricos.
“Você viu isto?” Hermione interrompeu. Sua coruja tinha acabado de entregar o Profeta Diário do dia, e sua cabeça esta inclinada sobre ele, sua boa virada para baixo de preocupação. “Investigação sobre a morte de Lucius Malfoy foi encerrada,” ela leu alto. “O Ministério averiguou que a causa foi suicídio”.
Ron parecia desgostoso. “O Ministério levou seis meses para compreender que ele se matou? Gênios”.
Harry balançou sua cabeça negativamente. “Ele não se matou. Sirius disse isto”.
“Então ele foi convocado por alguma coisa suja, asquerosa,” disse Ron. “E ela o comeu. Talvez, ele tenha feito isto de propósito. Quem sabe? Eu, eu tenho pena desta alguma coisa suja, asquerosa. Tendo um Malfoy como lance seria suficiente para enlouquecer qualquer um e fazê-lo cuspir as coisas”.
“Ron, seja gentil,” advertiu Hermione.
Ron parecia chocado. “Com respeito a Lucius Malfoy?”.
“Bem, mais ou menos - pense em como Draco deve se sentir”.
“Certooo,” disse Ron lentamente. “Porque ele parece tão preocupado, angustiado”.
Contrariando a melhor capacidade de julgamento dela, Ginny olhou para o outro lado, para a mesa da Slytherin. Como sempre, a gesto em direção a esta mesa se restringia a contemplar Draco; ele era inevitavelmente o seu foco principal. Não mais ladeado por Crabbe e Goyle (que tinha saído da escola depois de passarem em apenas um O.W.L cada um) ele cercado ao invés disto por Dex Flint, o Goleiro da Slytherin, e Malcolm Baddock, garoto magro e de cabelos escuros que tinha substituído Goyle como um Artilheiro. Ele estava inclinado sobre Blaise Zabini, seu queixo no cabelo dela. Em uma faixa brilhante em torno do pescoço dela, um amuleto na forma de uma cobra prateada, um presente de Draco. Seus brilhantes cabelos vermelhos dourados escorriam por sobre os ombros dela.
Era o cabelo vermelho, Ginny se lembrou de Draco dizendo a ela na festa de aniversário de Harry, eu não posso resistir a isto.
Vagamente, Ginny escutou Hermione dizer defensivamente, “Bem, então, talvez ele esteja escondendo o quanto infeliz ele está”.
Ron a ignorou, e gentilmente puxou a manga de Ginny. “Não olhe para lá,” ele disse. “Isto irá apenas perturbar você”.
“Eu não estou perturbada”. Ela movimentou seus olhos pesadamente para longe de Draco e agarrou como força o seu garfo. “Eu estou bem”. Ela enviou cegamente o garfo no prato em frente dela, dificilmente sendo capaz de ver qualquer coisa.
“Talvez isto seja o motivo pelo qual ele estava assim na aula de Poção,” Hermione acresentou.
“Não”. Harry descansou seu garfo no prato. “Eu não acho que tenha sido por isto”.
À menção de Poções, Ginny olhou instintivamente para o outro lado, para a mesa dos professores, mas Snape não estava lá. Nem Dumbledore estava. Em vez disto, seus olhos caíram sobre o seu irmão, Charlie, que estava ocupado em uma conversa vigorosa com o Professor Lupin, usando seu garfo para pontuar suas observações. A visão de Charlie fez ela sorrir. Ela tinha estimulado que ele aceitasse o emprego como Professor de Trato de Criaturas Mágicas. Como se ele sentisse seus olhos nele, ele olhou para cima e ascenou.
“Você está comendo do meu prato, Ginny?” disse uma voz a sua esquerda. Era Neville. Ginny olhou para baixo e percebeu que ela tinha, na realidade, enfiado seu garfo no peru assado de Neville, e não no dela própria.
“Ai meu Deus - me desculpe -" ela balbuciou.
“Se você quiser um pouco, você devia ter simplesmente me pedido,” disse Nevile, parecendo ofendido.
“Não está perturbada, einh?” disse Ron na sua orelha.
Ginny deixou o seu garfo cair. “Nós não temos que treinar agora?” ela disse esperançosa, na direção de Harry, tão envergonhada para olhar para Neville, e suspeitando, irracionalmente, que de alguma forma Draco a estava observando do outro lado do cômodo.
Harry olhou novamente para ela e sorriu. “Sin, nós temos,” ele disse, e Ginny se colocou de pé, agarrando com força sua vassoura, grata por qualquer desculpa que a fizesse partir. “Eu verei vocês todos lá embaixo,” ela disse, e fugiu.
***
Harry, Ron e Hermione andaram em grupo para baixo, para onde o resto do time esperava, na entrada do campo de Quadribol. Seamus, que tinha se tornado um Artilheiro exatamente neste ano, já estava lá, de pé, próximo a Ginny e a terceira Artilheira, Elizabeth Thomas, a irmã mais nova de Dean. Há uma pequena distância, estavam os irmãos Creevey, quem, Hermione suspeitava, tinham se tornado Rebatedores, antes de mais nada, devido ao fato de serem irmãos, e havia uma certa supertição com respeito ao sucesso de se ter irmãos trabalhando como Rebatedores. Eles cumprimentaram Harry e os outros com um aceno animado de vassouras.
Hermione se deixou cair para trás, em direção as arquibancadas, contente por estar a mão com sua cópia de Quadribol Através dos Séculos, para o caso de Harry precisar dela como material de referência. Não que ele fosse precisar dela. Ele tinha estado nervoso com o fato de ser capitão do time, mas ele não precisa ter estado: ele se concentrou em ser tão bom em estratégias quanto ele era voando. Hermione desconfiava que ele mantinha um mapa mental elaborado do campo de Quadribol em sua cabeça e se recordava dele segundo a sua vontade.
“Tudo bem,” ele estava dizendo agora, consultando algumas notas que tinha rabiscado em um pedaço de pergaminho, “eu acho que desta vez, nós devemos trabalhar em uma coordenação melhor, e telegrafar nossos menores movimentos. Seamus, você precisa ser mais rápido nas curvas. Elizabeth, eu tive uma idéia -".
“Na verdade, eu tive uma idéia,” interrompeu uma voz lenta. “Por que vocês todos simplesmente não vão embora, já que vocês não têm nenhum assunto para tratar aqui, em primeiro lugar?”.
Era Draco, é claro, nas vestes verdes de Quadribol, cercado pelo resto de seu time. Ele estava ladeado pelos seus Artilheiros: Blaise Zabini, Malcolm Baddock, e Graham Pritchard. Atrás dele, parecendo ameaçadores, estavam as Batedores: Tess Hammond e Milicent Bulstrode, as maiores e mais feias garotas da escola. Na retaguarda estava Dex Flint, com um rosto pontudo mas um bonito garoto do quinto ano que jogava como Goleiro.
Draco estendeu uma mão preguiçosa, pegou o pergaminho da mão de Harry, olhando para ele com suave desinteresse, e o deixou cair na neve. “Nós reservamos o campo de Quadribol para praticar para este momento,” ele disse, com uma voz como um xarope derramado sobre vidro quebrado. “Eu sei que vocês, Gryffindors, não são os tipos mais brilhantes, mas eu pensei que pelo menos vocês soubessem contar o tempo corretamente”.
Harry não mudou a expressão. “Nós fizemos reserva para esta prática de hoje desde semana passada,” ele disse sem rodeios. “Vá e cheque o livro”.
“Sim, eu vi isto,” disse Draco, preguiçosamente girando sua vassoura. Se ele tivesse um bigode, Hermione tinha certeza de que ele o estaria girando também. “Quando Charlie me entregou o livro. Veja, Madame Hooch nunca teria confiado em mim para escrever nele, eu mesmo, mas seu amigo Weasley, bem, ele não ficou perto do livro durante muito tempo, ele não percebeu. Ele nem ao menos percebeu que eu escrevi exatamente sobre o seu nome. Você sabe, você tem uma assinatura muito feminina, Potter. Você devia trabalhar nela”.
“Seu desonesto rastejante,” disse Elizabeth, com seus dois rabos de cavalo tremendo de raiva.
“Eu sou um Slytherin,” disse Draco, dando a ela um sorriso que teria derretido aço sólido, no entanto, ele não teve muito efeito em Elizabeth. “Isto está na lista de atribuições para o cargo”.
“Este truque não funcionará mais de uma vez, Malfoy,” disse Harry, seus olhos verdes se estreitando. “Charlie não confiará em você de novo”.
“Precisa apenas funcionar uma vez”. Draco balançou sua cabeça negativamente. “Às vezes, eu me surpreendo com você, Potter. Onde você estava quando estavam distribuindo cérebros?”.
“Eu não sei,” disse Harry, sua voz pingando acidez. “Eu receio que ao invés disto, acidentalmente eu tenha entrado na fila para ‘fragmentos de decência moral’”.
“Deve ter sido no mínimo uma fila longa,” disse Draco. “Aparentemente, você também se atrasou para as filas de ‘boa aparência’, ‘bom senso para moda’ e ‘resposta inteligentes e brilhantes’”.
Ron começou a avançar. Harry puxou para trás pelo colarinho de sua veste. “Eu acho que você tem passado tempo demais nesta masmorra, Malfoy,” Ron cuspiu, se esforçando para se libertar da contenção de Harry. “A falta de luz natural deve ter apodrecido o seu cérebro”.
“Ah, certo, porque você tem vida na torre,” disse Draco, sua voz cheia de um sarcasmo pesado. “Uma torre imensa, grande, pontuda e na parte da frente. Exatamente o lugar certo para garotos pequenos que talvez se sintam um pouco...inadequados? Compensados em demasia, você estão?”.
Harry o bateu. Draco balançou de forma particularmente teatral para trás, em direção aos braços dos membros de seu time, então se endireitou e olhou para Harry, arregaçando sua mangas até o seus cotovelos enquanto ele caminhava.
Hermione fechou o livro dela e suspirou, entediada e irritada. Oh, pelo amor de Deus, ela pensou. Isto de novo não.
***
A porta do escritório de Dumbledore estava fechada. Charlie suspirou. Ele correu com o almoço na tentativa de pegar o Diretor ainda lá, mas tudo dava a impressão de que ele tinha perdido seu tempo. Ele estava tentando encontrar Dumbledore há alguns dias na esperança de conseguir do Diretor um consentimento para a sua sugestão de que um pequeno grupo de estudantes, com permissão dos pais, é claro, tivesse permissão para estudar dragões. Além do mais, Charlie pensou irritado, qual era o objetivo de contratar alguém como professor, com uma especialidade em dragões , se vocês não o deixarão ensinar nada sobre dragões?
“Dragões são cruéis,” Snape tinha dito na última reunião de professores. “Eles são volúveis. Eles gostam de colocar fogo nas coisas”.
“Mas é isto justamente o que há de tão incrível neles,” Charlie replicou animadamente.
“Eu não vejo nada de “incrível” em alunos pegando fogo,” McGonagall disse, em um tom frio.
“Dependeria do estudante,” intrometeu-se na conversa a Professora Sinistra, que ensinava Astronomia. Charlie, de maneira particular e especial, achava que a Professora Sinistra estava a fim dele. Ela andava ao lado dele nos corredores, admirando suas calças de couro de dragão.
Lupin estava do lado dele no debate,mas não ajudou muito. Eventualmente, McGonagall concordara em permitir que Charlie levasse o assunto ao Diretor. O que era mais fácil de falar do que fazer. Era muito difícil saber onde Dumbledore estava, exceto nas horas das refeições, quando ele, sem rodeios, recusava discutir qualquer coisa que tivesse haver com trabalho.
Charlie estava a ponto de se recolher e sair, quando escutou vozes emanando do corredor que levava ao escritório do Diretor. Instantaneamente, ele reconheceu o tom desagradável de Snape. “Eu estou lhe dizendo, ele teve uma reação comparada a nada que eu tivesse visto antes,” ele estava dizendo. “Foi muito preocupante”.
Dumbledore falou em seguida. “Mas ele se recuperou? E estava lúcido?”.
“Sim, ele estava totalmente lúcido, e afirmou que ele tinha apenas tido uma vertigem, e não tinha visto nada. Talvez, ele não tenha visto nada”.
“Talvez. Mas nós estamos falando sobre Draco Malfoy. Se ele vira alguma coisa, seria pouco provável que ele a anunciasse diante da classe”.
Charlei deu um passo para traz, para dentro das sombras. Sete anos se esgueirando por Hogwarts, em volta dos escritórios dos professores instantaneamente se sobrepuseram há cinco meses como Professor de Hogwarts. Ele congelou onde estava, e escutou.
“Eu acho que devo chamá-lo ao meu escritório,” Dumbledore disse.
“Ele não gostaria disto”.
“Não. Mas a situação é grave. O risco de traição –“.
“Nós não sabemos se este risco existe!”.
“Ele existe, Severus. Você, de todas as pessoas -"
“Ao invés disto, talvez você devesse chamar Potter até o seu escritório”.
“Nós temos que revisar isto”. Dumbledore soou cansado. “Se nós lhe contarmos, corremos o riso de provocar uma tragédia sem precedentes, possivelmente sem necessidade, e eu-“.
Dumbledore parou quando ele e Snape viraram a esquina do corredor, e deu um passo para que tivesse uma visão plena do ambiente. Seus olhos encontraram os de Charlie, e por um momento, houve um quase flash de preocupação neles. Então, ele sorriu. “Olá, Charlie,” ele disse.
“Oh. Olá, Weasley”. Snape deu a Charlie um olhar de muito desagrado. Charlie tinha a sensação de que Snape sabia que ele estivera ouvindo.
Dumbledore, entretanto, apenas sorriu de alegria para ele. “Eu posso ajudá-lo em alguma coisa?”.
Charlie olhou para baixo, para o pergaminho em sua mão: sua proposta para a aula de dragões. Repentinamente, pareceu algo muito longínquo. Ele estendeu uma mão com o papel na direção do Diretor, murmurando alguma coisa como “dragões”, “permissão”, e “muito improvável alguém ser comido,” e saiu com a sua cabeça ainda girando.
Risco. Traição. Tragédia. O que estava acontecendo?
***
“Isto está ficando ridículo,” disse Hermione desaprovadamente. Ela estava segurando uma esponja úmida em uma mão e ia a aplicando no canto do olho esquerdo de Harry, que tinha parado de sangrar a alguns minutos atrás. “É realmente tão importante que vocês dois continuem fingindo se odiar?”.
“Sim,” ambos, Harry e Draco, disseram em unissonância. Então, em unissonância, eles riram, Draco um pouco dolorosamente devido à contusão preta-azulada em cima da maça do seu rosto.
“Eu quero dizer, isto chegará a um ponto no qual não apenas Madame Pomfrey não dará um jeito nas cicatrizes das lutas de vocês, mas ela até mesmo me proibirá de fazê-lo!” Hermione jogou suas mãos para cima em desespero. “Vocês não podem, pelo menos, não acertar uma ao outro tão forte?”.
Harry tentou esconder seu divertimento. “Sim, Malfoy, você tem que se controlar”.
“Eu? E quanto a você? Você me chutou na tíbia!”.
“Eu escorreguei no gelo e meu pé acidentalmente foi em direção a sua tíbia”.
“Duas vezes?”.
Houve uma batida na porta, e então ela se abriu, permitindo a entrada da cabeça brilhante de Ron. Ele espreitou o armário de vassouras que eles estavam usando como enfermaria temporária. Ali não tinha ninguém vendo Hermione tratar os machucados de Harry e Draco. “Sucesso,” ele disse, escorregando para dentro. “Todo mundo acreditou na luta, e todos eles estão falando nela em tons abafados. Isto tudo assinala, ao mesmo tempo, que a assunto prático foi bem trabalhado”. Ele sacudiu seu queixo para Harry. “É melhor você voltar ao campo, de qualquer forma, eles estão esperando por você”.
“Urgh,” disse Harry, recuando e tocando o corte no seu olho ferido. “Você não quer ser o capitão, Ron, apenas desta vez?”.
“Não,” disse Ron firmemente. “Eu ano quero que eles pensem que Malfoy causou em você algum dano sério. Além do mais, todos os Slytherins estão lá, espreitando, parecendo querer um briga”.
Draco parecia satisfeito. “Como eles devem”.
“Blaise Zabini parece particularmente ameaçadora,” Ron acrescentou.
Todos olharam para Draco, que ergueu seus olhos em direção ao teto, sua expressão neutra. “Bem, ela é minha namorada”.
“Obrigado por nos lembrar,” disse Harry. “Eu acho que talvez eu não tenha podido de qualquer forma perdido este detalhe quando ela se jogou em cima de mim gritando ‘você acertou meu namorado! Eu odeio você!’”.
“Sim,” disse Draco de forma não comprometedora. Todo mundo continuou olhando para ele. Ele continuou com um olhar inexpressivo. Ninguém entendia como ele e Blaise tinham começado a namorar, quão sério eles estavam, ou na realidade, se ele até mesmo gostava dela. Falar com Draco quando ele não queria dizer alguma coisa, Hermione refletiu, era como tentar conversar com uma parede particularmente não comunicativa.
“Tudo bem,” disse Harry finalmente, se colocando de pé. “Eu suponho que seja melhor eu voltar”. Ele acenou com a cabeça em direção a Draco. “Da próxima vez, você ganha. Nós temos que manter isto igual”.
“Certo”. Draco tocou a sua têmpora com as pontas de seus dedos em uma saudação ridícula, e Harry se dirigiu até a porta.
“Espere um segundo,” disse Hermione, e ele parou. “Você não está se esquecendo de nada?” e ela levantou seu rosto para ser beijada.
“Oh, certo,” disse Harry, e deu a volta em torno dela para agarrar com força a sua Firebolt de uma estaca presa na parede. “Obrigado”.
Ele saiu, seguido por Ron. Hermione olhou para trás deles em descrença. “Eu-,” ela começou, e então seu rosto se enrugou. “Argh!” ela exclamou, e jogou na parede a esponja ensangüentada que ela estava segurando. “Honestamente!”.
Draco abaixou-se para pegar a espoja e veio andando parecendo simpático, ou pelo menos tão simpático quanto ele conseguia ser, o que significava que ele não estava dando um sorriso falso. “Ele continua fazendo isto?”.
“Todo o tempo,” disse Hermione, seu rosto uma máscara de infelicidade. “Ele simplesmente age como se eu não existisse. Eu nem ao menos consigo lembrar da última vez que ele veio até mim na aula, ou...” sua voz se consumiu. “E quando eu tento falar com ele sobre isto, ele simplesmente diz que eu estou imaginando coisas e que ele está ocupado. Eu sei que ele está ocupado...por causa do fato de ser capitão de Quadribol, e das aulas de Auror, e isto é porque ele foi recusado para se tornar Monitor, mas...”.
“Mas você não está imaginando coisas?” Draco terminou para ela.
“Eu não acho que esteja,” ela disse.
“Você não está,” ele disse calmamente.
Ela olhou para ele, e mordeu o lábio dela. Ela sabia o que ele queria dizer. Ela não mentia. “O que é que é?” ela disse em voz baixa. “Existe outra pessoa?”.
Draco disse, “Eu não sei. Eu duvido que exista”.
“Então, o que é?” Sua voz emitiu um som agudo. “Você não pode perguntar a ele?”.
Draco olhou para baixo, para suas mãos, e então para cima, para ela, e ela leu a resposta no rosto dele. O estranho pensamento e sensação de simpatia que os tinha envolvido no verão ainda permanecia com eles, ainda que fosse mais difícil traze-lo a tona. Ela sabia o que ele estava sentindo - desejava fazer isto por ela, o desejo de que ela não estivesse triste, o medo de que qualquer que fosse a resposta, pudesse machucá-la, e o conhecimento de que, de qualquer forma ela queria muito saber, e ele não podia mais extrair informações de um inocente Harry apenas para divulgar estas informações para ela, assim como ele não podia voa sem uma vassoura.
Era mais complicado ser Draco, ela refletiu, do que com freqüência ele dava crédito a isto.
“Me desculpe,” ela disse. “Eu não devia ter perguntado”.
“Ele ama você,” disse Draco. O olhar nos olhos dele estava distante. O verde escuro das vestes de Quadribol devia ter feito o olhar dele perder a cor, mas não o fez. Ele salientou a palidez invernosa da pele dele, seus cílios tão escuros de encontro a ela, olhos tão claros e cinzas quanto cristal. Ele parecia um anjo, ela pensou, ainda que de um tipo celestial ou de um tipo caído, era difícil ter certeza.
Ela se lembrou dele na Mansão, alcançando em volta da garganta dela para amarrar o seu colar. Eu esperei tanto para ouvir você dizer que...se as coisas fossem diferentes...
Ela balançou sua cabeça para clareá-la. Ela estava pensando nestes pensamentos porque estava infeliz e porque Harry parecia tão frio e tão distante dela nestes últimos dias como uma geleira de Durmstrang. “Como você sabe?” ela perguntou.
“Eu acho que saberia se ele parasse,” disse Draco simplesmente. “Ele sempre amou você...seria uma reversão de tudo o que ele é”. Ele se inclinou para frente e então tocou a bochecha dela com as pontas dos dedos. “Você sabe tão bem quanto qualquer um o que ele pensa,” ele disse. “Apenas tente falar com ele...”. Ele suspirou e deixou cair sua mão. “Esqueça isto. Não é da minha natureza dar conselhos para apaixonados. Pergunte a alguém com mais sucesso na vida sentimental, está é a minha sugestão”.
“Você tem uma namorada,” Hermione pontuou.
“Certo”. Draco se sentou de volta, sua boca se deformando em alguma coisa que talvez fosse um sorriso, ou não. “Então eu tenho”.
***
O último raio de sol da tarde jorrou através da pequena janela do quarto de Hermione, projetando um quadrado de luz dourada escura na colcha da cama onde Ginny estava sentada, assistindo Hermione rearranjar seus livros. Sendo Monitora, Hermione tinha ganhado o seu próprio quarto este ano. Sendo Hermione, ela não tinha gastado muito tempo o decorando. Havia uma cama com uma colcha florida, três prateleiras cheias de livros, uma escrivaninha, e uma penteadeira com um espelho preso nela; fotos de Harry, Ron e os outros amigos estavam pregadas em um quadro. Havia uma outra foto de Harry e Hermione, juntos, em cima da mesinha de cabeceira. Não havia fotos de Draco. Talvez, Ginny pensou sem dó, ele não aparecesse no filme.
“Bem, eu acho,” disse Ginny, descansando o queixo dela na mão, “que talvez seja a hora para Medidas Desesperadas”.
Hermione, que estava mexendo cansadamente nos livros na sua penteadeira, pareceu alarmada.
“Medidas Desesperadas?” ela gaguejou. Elas estavam discutindo o Problema Harry, e ela estava se tornando progressivamente mais tensa.
“Sim,” disse Ginny, assumindo uma expressão séria. “Saia curta. Top justo. Este tipo de coisa”.
Hermione parecia ainda mais alarmada. “Você acha que o problema é porque ele não me acha atraente?”.
“Não!”. Ginny protestou. “Não, é claro que não”. Ela se levantou e caminhou, ficando parada, de pé, perto de sua amiga. “Eu só acho que ele está distraído e preocupado, e então seja mais duro prender a atenção dele agora, do que talvez geralmente seja. E você, você está ocupada também, você é Monitora, e tendo quem sabe quantas aulas extras, e quando foi a última vez que você e Harry fizeram alguma coisa juntos, só por diversão?”.
Hermione fechou os olhos dela. As pálpebras estavam tingidas de azul. Ginny sentiu um golpe de preocupação; Hermione realmente devia estar infeliz com tudo isto. Os círculos embaixo dos olhos dela estavam escuros, também, e Ginny supunha que Hermione estava mais cansada do que ela aparentava estar. “Outubro,” ela disse finalmente, hesitante. “Nós fomos ao museu em Stonehenge, juntos”.
“Então, este foi o passatempo,” disse Ginny calmamente. Hermione apenas concordou com a cabeça, parecendo miserável. Ela estava vestida hoje como freqüentemente estava quando não vestia as suas vestes: um suéter casimira azul pálido, uma saia de pregas azul e cinza, com o cabelo dela penteado para cima, em um rabo de cavalo. Não obstante a modernidade de sua roupa, entretanto, alguma coisa nela lembrava Ginny dos retratos de Rowena Ravenclaw no livro dela, intitulado História dos Fundadores. Havia uma beleza translúcida em Hermione que nada tinha haver com a forma de seu rosto ou a regularidade de seus traços. Sua beleza era luz e inteligência que transpareciam em tudo o que ela fazia. Que Harry apreciava e a amava por causa dela, Ginny pensou, porque ela dizia coisas boas sobre ele. É claro, Draco tinha sido apaixonado por Hermione também.
Mas ela não queria pensar em Draco.
“Você realmente acha...” Hermione disse, olhando para baixo, para ela, consciente dos cadarços do sapato e das calças justas, “Eu deveria...me vestir melhor?”.
Ginny deu de ombros. “Bem, ele é um garoto”.
Hermione sorriu com cansaço. “É exatamente isto - bem - ele é Harry”.
“Eu sei,” disse Ginny, “e ele é o herói do mundo bruxo, e ele é seu melhor amigo, e blá, blá, mas ele é também um garoto, e eu acho que ele gostaria se você vestisse isto,” e ela puxou alguma coisa da gaveta de cima e a atirou para ela.
Hermione quase caiu na cama. “Eu não vou usar isto!”.
“Ele, por outro lado, provavelmente gostaria”.
“É uma camisola!”.
“Oh. Eu achei que era um vestido”.
“Ginny! Seja útil!”.
“Okay, okay”.
No final das contas, Ginny encontrou uma blusa de gola rolé preta e uma saia secretária preta no baú de Hermione que passaram na inspeção dela, especialmente depois que ela usou alguns Encantamentos Encolhedores na saia.
“Eu me sinto uma tola,” disse Hermione melancolicamente, inspecionando sua vestimenta. “Esta não sou eu”.
“Você parece adorável”. Ginny levantou-se da cama e deu em Hermione um abraço rápido. Do lado de fora da janela, a neve começava a cair em flocos brancos e densos. “Tudo ficará bem. Harry ama você”.
“Eu sei,” disse Hermione. Sua voz estava tranqüila. “Mas ultimamente parece que ele foi para algum lugar e eu não consigo seguí-lo. Ele consegue ser muito....distante, algumas vezes”.
Ginny não disse nada. Ela sabia o que Hermione queria dizer. Algumas vezes, Harry era só Harry, e então, algumas vezes, ele parecia outra coisa de novo, alguma coisa distante e poderosa e assustadora. Ela se lembrava de acordar na Câmara Secreta para ver Harry parado sobre ela, molhado de sangue, segurando a espada prateada e cravejada de rubis com a sua mão direita, vermelha até o punho. E ele tinha apenas doze anos. É claro, Harry era um herói, e heróis não são como as outras pessoas.
“Ginny,” Hermione disse suavemente. Ela estava inclinada de encontro a parede, próxima da janela; agora ela virou a cabeça dela para se examinar no espelho, e a luz cinza do inverno atingiu as pontas do cabelo dela. Sem olhar para Ginny, ela disse, “Você…ama Draco?”.
Surpreendida, Ginny ficou em silêncio por um momento. Então, ela estendeu uma mão para a mochila dela, que estava apoiada de encontro ao baú. “Eu tenho que ir,” ela disse. “Eu preciso me encontrar com a Elizabeth na biblioteca”.
Hermione virou sua cabeça. Atrás dela, a neve continuava a cair, silenciosamente, cobrindo a vidraça da janela com um branco gelo. “Ginny -".
“Boa sorte,” Ginny disse, colocando sua mochila sobre o seu ombro. “Ficará tudo bem, você verá”.
Hermione acenou com a cabeça, e ficou em silêncio por um longo momento. “Eu apenas me sinto muito culpada,” ela disse finalmente, tão baixinho que Ginny quase não captou as palavras. Quando ela captou, ela olhou para a amiga, sem compreender.
“Sobre o que você está falando?”.
Hermione parecia cansada. “Nada. Não importa”.
***
Não havia mais ninguém na sala comunal; todos estavam no jantar. Draco, que não sentia fome, tinha ficado para trás, ainda que a área comunal fosse dificilmente um de seus lugares favoritos. O longo, baixo e subterrâneo cômodo nunca ficava quente, nem mesmo quando havia fogo queimando na lareira ornada de mármore, como havia agora. A lâmpadas meio suspensas e esverdeadas lançavam um tipo de palidez doentia sobre tudo. Draco desmoronou profundamente em uma poltrona de veludo verde-floresta que ele arrastou para perto do fogo, perdido em seus pensamentos.
Ele ainda estava perturbado com a visão de seu pai, que ele tivera mais cedo, neste mesmo dia durante a aula de Poção. Ele estava quase inteiramente certo de que não tinha sido um sonho comum - ele se lembrou da dor que tinha passado através de sua mão quando ele estava acordado, e se lembrou de Harry lhe contando os sonhos proféticos dele, que ele tinha sonhado com o Voldemort, como Harry acordava com dores na sua cicatriz. E ele mesmo sonhando com partes da vida de Slytherin e às vezes ainda sonhava. Sonhos comuns eram uma coisa; isto agora era outra coisa. Parecia tão real, também. Ele tentava imaginar onde seu pai e o Lorde das Trevas talvez estivessem, mas não havia nada especificamente identificável naquele cômodo de pedra. Poderia ter sido em qualquer lugar.
E a voz de seu pai era tão familiar. A fala lenta, indiscreta que ele tinha herdado. O garoto não é confiável, Mestre. Draco inclinou sua cabeça para trás e olhou para o teto, que era esculpido, alternando, mármore nua e malaquita verde. Mantenha o sangue frio, Draco, e deixe o Herdeiro de Slytherin continuar com isto, seu pai tinha dito a ele durante seu segundo ano. Esta escola de vocês precisa se livrar dos imundos Sangues-ruins dela.
É claro que ele devia saber que eu era o Herdeiro de Slytherin, Draco pensou. Ele estava apenas usando esta história como um disfarce conveniente para aquilo que estava realmente acontecendo. Ele se esticou e olhou para baixo, para o livro de Transfiguração, para a sua capa. Eles estavam aprendendo como transformar vários elementos uns nos outros. Aqua ad pulvis transmuta. Saxum ad viscerum. Transformar água em pó, pedra em carne. Mas ele estava tão cansado para se concentrar que as palavras dançavam na página.
Então, ele escutou os som de passadas no corredor e a porta da masmorra abriu balançando enquanto estudantes começavam jorrar para dentro, retornando do jantar. Ele se retesou, antes de lembrar que Blaise tinha marcado um encontro de estudo com Pansy Parkinson na biblioteca. Ele não estava querendo lidar com ela neste momento.
“Hey, Malfoy”. Era Malcolm Baddock, o Batetor de cabelo escuro que vagamente lembrava Draco de Harry com aquela idade. Se Harry tivesse sido tão perspicaz quanto furão e tão malévolo quanto uma cobra, é claro. “Chegou uma carta para você”.
Ele atirou o pergaminho selado no colo de Draco. Ele se desenrolou ao tocar a mão de Draco e Draco rapidamente movimentou seu braço para bloqueá-lo da visão de Malcolm. “Obrigado, Baddock”.
Malcolm acenou e se afastou e Draco teve o tempo livre para estudar a longa carta. Ele já tinha adivinhado do que se tratava, e não ficou desapontado: um mapa primorosamente desenhado, mostrando a porta da frente do castelo e a rota que ele deveria tomar a partir dela para o lugar designado do encontro. A parte de trás do mapa estava marcada com três palavras, escritas com tinta e de modo destemido. Encontre-me aqui.
Com um suspiro, Draco amassou o mapa até que ele se tornasse uma bola em sua mão cerrada e foi pegar sua capa.
***
Hermione olhou novamente para Harry, onde ele estava sentando em frente ao fogo no salão comunal da Gryffindor, uma cópia de A Defesa do Bruxo Grindelwald aberta e não lida em seu colo. Eles estavam sentados e estudando há duas horas e Harry ainda não tinha virado uma página. Seus olhos estavam arregalados e cegos, fixos no fogo, sua cabeça curvada, sua massa de cabelos escuros incontroláveis cainda, escondendo os seus olhos. Ele não tinha dito muita coisa para ela desde que ele desceu até o salão comunal para estudar com ele, e de nenhuma maneira parecia não perceber que ela estava com uma nova roupa. Tanto tempo perdido com a teoria de Ginny, ela pensou sobriamente. Eu poderia ter descido aqui vestindo um texugo vivo e ele nem teria notado.
“Harry,” ela disse finalmente, quebrando o silêncio. “Você está realmente lendo este livro?”.
“Não”. Harry olhou para cima, impacientemente empurrando uma mecha dos seus cabelos escuros para tira-la dos seus olhos, enquanto ele dizia isto. A luz atingiu e fez o relógio dourado dele cintilar, o relógio que ela tinha dado a ele no seu aniversário – um relógio de bolso que tinha sido adaptado com uma corrente para que ele pudesse usá-lo ao redor do seu pulso como o pai dele tinha feito. “Eu não consigo me concentrar”. Ele empurrou seu cabelo escuro de novo – que tinha crescido até o ponto de quase tocar o colarinho dele e caía para frente quando ele curvava a sua cabeça.
Isto deu a Hermione uma idéia. “Eu sei do que você precisa,” ela anunciou.
Harry levantou uma sobrancelha.
“Um corte de cabelo,” ela disse.
Ele quase riu. “Um corte de cabelo?”.
“Exatamente”. Ela colocou-se de pé e cruzou o cômodo para onde ele estava sentado, colocando suas mãos no rosto dele e reclinando a cabeça dele para cima, para ela. Gentilmente, ela alisou as longas mechas do cabelo escuro que estavam sobre os olhos dele, deixando as pontas enroladas livres deslizarem através dos dedos dela. Seu cabelo era mais áspero do que o de Draco, tinha mais textura.
“Isto é apenas uma desculpa para brincar com o meu cabelo,” ele disse. “Não é?”. Ele estava de fato sorrindo agora. Ela pôde sentir a percepção dele de que ela repentinamente tinha entrado em foco, o lugar onde o suéter dela mergulhava em um V no peito dela, o quanto estavam tão próximas as pernas nuas dela debaixo da saia curta. Ele se mexeu na sua cadeira. “Hermione...estas são roupas novas?”.
Foi a vez dela sorrir. “Talvez”. Ela estendeu sua mão até sua varinha. “Accio Scissors,” ela disse e num momento estava segurando a tesoura ornada que ela mantinha em seu baú. Ela apanhou o livro de Harry do seu colo e o colocou em cima da mesa, com sua varinha. “Você está pronto?” ela perguntou.
“Eu não -" Harry começou, mas a tesoura fez um corte e ele se afundou em um silêncio dócil. Hermione tentou cortar o cabelo de maneira igual, mas ela tinha que admitir, para si mesma, que não sabia nada sobre corte de cabelos, ela apenas esperava que não cortasse uma orelha ou deixasse alguma parte careca. Harry estava quieto de uma maneira não característica; fosse pelo divertimento advindo da atenção ou pelo estado de estupefação advindo do aborrecimento, ela não podia dizer. Ela certamente não estava entediada. Ela estava muito consciente de todos os lugares em que ela o estava tocando. A mão dela o firmava, segurando-o pelo queixo, sua outra mão no cabelo dele, a perna dele entre as dela, o joelho dela de encontro a coxa dele. Ela podia sentir o cheiro de uma fraca fragrância que vinha dele, o cheiro de garoto limpo, ensaboado que era Harry. Os olhos verdes dele olhavam para cima, para ela, emoldurados pelos cílios escuros que ela tanto inveja e amava. “Aqui,” ele disse de repente, sua voz um pouco rouca, estendeu sua mão e a colocou na cintura dela, a puxando para mais perto. Agora, ela estava sentada de pernas abertas sobre as pernas dele e ele estava com os olhos exatamente no mesmo nível do peito dela. Ai meu Deus! Está funcionando? Eu acho que talvez esteja funcionando.
Harry se mexeu na sua cadeira de novo.
“Fique calmo,” ela disse. Sua voz saiu com um grunhido.
Ele largou a cintura dela e pegou o pulso dela com sua mão direita. A tesoura caiu da mão dela e estalou de maneira inocente no tapete. “Hermione--" ele disse, e a puxou em direção a ele.
E então ela o estava beijando. Ela se entregou ao beijo com uma urgência que era quase dolorosa e para a surpresa dela, ele abriu sua boca sob a dela, receptivo ao beijo, receptivo ao toque dela. As mãos dela desceram dos cabelos dele para os seus ombros, e então deslizaram para a parte de trás do seu pescoço. Ela sentiu os joelhos dela se enfraquecerem e sentou no colo dele, enroscando as pernas dela em volta dele. Ela podia sentir a pressão do peito dela de encontro ao dele, seu batimento cardíaco através da fina camiseta de algodão que ele usava. “Hermione”. A voz dele estava áspera de encontro a orelha dela, as mãos dele ásperas nas costas dela. Ele colocou sua boca na bochecha dela, na sua orelha, na macia linha de sua mandíbula, na pele sensível de sua garganta. Com as pontas dos dedos dele quase arranhando a pele dela, ele deslizou suas mãos para a sua cintura e então, de maneira rude, por debaixo da blusa dela, achando e seguindo a borda rendada do sutiã dela. Hermione estremeceu diante do toque, e também de surpresa - este não era Harry, assim tão agressivo. Mas ele estava aqui finalmente, realmente aqui, e enquanto as pontas dos dedos dele traçavam círculos de fogo sobre a pele dela, ela se perguntou o que estava acontecendo com ele, e ficou perturbada por um momento. Havia apenas Harry, os dedos dele sobre sua pele e sua boca na boca dela e ela –
Perdeu o equilíbrio. Com um pequeno som agudo, ela agarrou Harry com força e teve sucesso de puxá-lo para cima dela enquanto ela caía da cadeira sobre o chão. Eles aterrizaram no tapete com uma correnteza de arfadas e risos e foi alguns momentos de pernas se enrolando e braços antes que Hermione percebesse que a única que estava rindo era ela. Harry não estava rindo de jeito nenhum. Ele estava olhando para baixo, para ela com um olhar congelado de horror no seu rosto, e uma tal chama de dor em seus olhos que fez parar completamente as risadas dela “Harry?” ela arfou, lutando para se sentar. “Harry, o que há de errado?”.
Ele balançou sua cabeça negativamente, se afastando dela. “O que nós estamos fazendo? O que você estava fazendo?”.
“O que eu estava fazendo?” Hermione olhou para ele. “Eu estava beijando meu namorado”.
Harry colocou suas mãos sobre o seu rosto.
“Meu namorado,” ela disse de novo e desta vez havia raiva na voz dela. “Aquele que dificilmente fala comigo, aquele que não olha mais para mim-“.
“Isto não é verdade,” disse Harry com severidade, tirando as mãos de seus olhos. Ele tateou os seus óculos na mesa, e os colocou. “Eu estou apenas ocupado, é tudo”.
“E eu não estou ocupada? Eu sou Monitora, Harry, e eu tenho aulas extras e grupos de estudo, e eu ainda tenho tempo para você. Eu não tenho nada mas tempo para você, mas você parece não querer passar qualquer tempo comigo”.
“Hermione,” Harry disse com força. Os olhos dele atrás dos óculos estavam frios e agitados, e sua mandíbula estava marcada por uma linha dura de raiva. Ele nunca tinha olhado para ela daquele jeito antes. Nós estamos tendo uma briga? Ela pensou de forma entorpecida. Isto era o que aparentava? Mas todos brigavam. Isto parecia com alguma outra coisa. “Hermione, deixe para lá”.
“É quanto a este verão?” ela perguntou, sua voz falhada. “Eu sei que nós atravessamos o inferno, Harry, e eu sei o quão terrível foi-“.
“Você não sabe,” ele disse, e sua voz estava como o gelo que cintilava no parapeito da janela.
“Então me conte”.
Harry pareceu hesitar por um momento. Ele estava sentando com suas costas contra a poltrona agora, reclinado para longe dela, os cabelos desordenados e desarranjados, corado pelo beijo e pela raiva. Seus olhos encontraram os dela, e permaneceram um sustentando o olhar do outro e por um momento, apenas por um momento, ela sentiu a antiga conexão entre eles ganhar vida, tão vibrante como uma coisa viva.
Então Harry olhou para longe, e o momento passou. “Apenas deixe isto para lá, Hermione,” ele disse. “Por favor”.
“Não,” ela disse. “Eu não farei isto”.
“Então nós não temos nada para dizer uma para o outro,” ele disse e se colocou de pé. Hermione olhou para ele com descrença.
“Harry--".
“Apenas me deixe sozinho!” ele gritou e o soque de Harry gritando, de fato gritando com ela, a abalou, silenciando-a. Ela ficou sentada onde estava, sem se mover, enquanto Harry agarrava com força o sua capa vermelha que estava nas costas da cadeira e seguiu silenciosamente em direção ao buraco do retrato, atravessando-o.
***
Harry dificilmente registrou tudo que o cercava enquanto se lançava em direção as escadas, atravessando os corredores escuros e atravessou as portas da frente da escola. Ele estava tão cheio de uma raiva irracional, dando a luz a uma dor tão pouco clara e cega que talvez também fosse física. Suas mãos continuavam formigando com a sensação da pele de Hermione sobre elas, e sua boca ainda sentia o sabor da dela, e ele ainda via a expressão nos olhos dela quando ela olhou para ele no chão. Então me conte!
Mas eu não podia fazer isto.
O ar frio o atingiu como um Balaço assim que ele caminhou para o lado de fora. Ele puxou a sua capa com força ao redor dele, mas o frio ainda ferroava os seus olhos, sua boca. Ele desceu as escadas e suas botas afundaram ruidosamente na neve que tinha se acumulado ali. Ele não tinha idéia de para onde estava indo. A mundo estava bonito e frio e brilhante em prata e negro, o céu, um imperfeito diamante cravejado de ferro. A margem da Floresta Proibida se aproximava negra e irregular na distância. Harry queria desaparecer dentro dela, dentro do frio e da escuridão. Ele queria ficar sozinho e não ter de pensar ou falar com ninguém.
Ele nunca tinha se sentido desta maneira antes. Nunca tinha tido um problema que não fosse facilitado pela presença de Hermione ou Ron. Ele não sabia quando a sutil mudança tinha acontecido dentro dele, mas ela tinha, e no momento ele não podia ter a companhia de Ron, pois Ron não podia lhe fazer questões, sendo que Hermione lhe enchia de culpa e vergonha e dor.
Ele se colocou a cruzar a neve. Mais neve tinha caído depois do jantar e os terrenos da escola estavam brancos e sem pegadas e vazios, marcados somente por sombras. Ele talvez fosse a única pessoa viva ali, fazendo seu caminho na solidão, cruzando a superfície de um mundo deserto.
Ele alcançou a margem da Floresta, e se lembrou de ter estado ali ainda no primeiro ano, apavorado, arrastando um furioso Draco Malfoy no seu rastro. Eles tinham onze anos. Parecia há cem anos atrás. Ele levantou sua mão para empurrar um galho de árvore, e a luz da lua o atingiu e refletiu no relógio que estava amarrado no seu pulso.
Ele parou e olhou para ele. Sua superfície dourada, os números negros, o relógio que seu pai tinha usado até o dia em que ele morreu, e Sirius o tinha tirado do seu pulso morto, e então Hermione o tinha feito funcionar de novo, para ele. Ele sabia de cor o que estava gravado na base. Para Harry, de Hermione, sua melhor amiga.
Hermione. Uma flecha de horror o atravessou. O que eu fiz? Ele parou de chofre no seu trajeto e virou, voltando para o castelo, mas seu pé se enroscou em uma raiz de árvore torta, e ele caiu de cara na neve.
***
O mapa levou Draco para um antigo muro de pedras na fronteira com a Floresta Proibida, no centro de uma clareira deserta. Uma árvore crescia atravessando o meio do muro, separando as pedras com suas raízes. Draco se inclinou para trás de encontro ao seu tronco na sombra de seus galhos nus e sem folhas, e olhou para cima, para a paisagem congelada.
O céu tinha escurecido para um tom de cobalto, marcado aqui e ali como a cópia de um polegar por nuvens negras. Em todo lugar, a neve se espalhava branca e fria e brilhante, revistada por um brilho frio. O lago estava coberto por um diamante gelado, suavizado por um azul obscurecido pela penumbra que aumentava. E na distância, o castelo rosa, negro e sombrio e antigo, devendo ter a mesma aparência de mil anos atrás quando Salazar Slytherin e Godric Gryffindor viviam lá como crianças.
Às vezes, olhando para o castelo, memórias de outra vida o assolava, tão indubitavelmente como a memória de um sonho. Eles tinham estado presentes aqui, juntos, para a construção do castelo, os dois jovens homens, ainda quase crianças, montados em cavalos, lado a lado, através das águas azuis e dos áridos campos de centaurea no verão. Simplesmente tocando com suas mãos no antigo muro de pedra, ele conseguia escutar as vozes dos dois garotos ecoando na sua cabeça.
Desça do muro, Salazar, para quê quebrar o seu pescoço?
Por quê não?
Você sabe porquê não.
Você me ama tanto assim, Godric, até este ponto?
Eu amo você o suficiente.
Draco abriu seus olhos. Ele se perguntou se Rowena ainda estivesse viva, se ela choraria ao saber o que aconteceu com Slytherin, seu primeiro amor, para sempre pego numa armadilha no Inferno? Ele se perguntou brevemente como seria o Inferno. Um lugar queimando, como era usualmente descrito? Ou uma terra fria, de gelo e neve, aquecida por nenhum fogo, clareada por nenhuma luz,de jeito nenhum?
Enquanto ele estava considerando isto, houve um som de um barulho estalado por cima de sua cabeça, e uma garota caiu da árvore e aterrizou em cima dele.
Ele tentou tirar as suas mãos dos seus bolsos para pegá-la, mas o som do galho quebrando o assustou e devagar foi a sua resposta. Ele deu um passo para trás, mas não foi o suficiente. Ela caiu diretamente em cima dele e eles rolaram para o lado, para baixo em um leve declive na neve irregular. Quando eles conseguiram parar, ele percebeu que ela estava meio deitada sobre ele, os joelhos dela quase imobilizando os seus braços, um de cada lado do seu corpo, os olhos cinzas e familiares dela brilhando de divertimento.
“Olá Draco,” ela disse, sentada. “Está tudo bem com você?”.
Draco pestanejou para cima, para ela. Ela estava vestida, como sempre estava, com um traje um pouco demais para a estação. Hoje, ela estava usando um vestido rico de lã escura, sem colarinho, com mangas cortadas exatamente visível por debaixo da capa violeta dela. A capa estava presa pelos ombros dela com um alfinete dourado na forma de uma papoula. Haviam jóias prendendo o cabelo dela, esmeraldas e granadas, e quando ela se movia, elas capturavam a luz da lua e brilhavam como luzes de Natal, um efeito que era provavelmente intencional.
Ele suspirou. “Rhysenn. Sim. Felizmente, eu, com destreza, usei minha espinha para parar nossa queda”.
“Você não está soando satisfeito em me ver”.
“Eu estou surpreso que eu conseguindo fazer soar qualquer coisa. Eu não consigo respirar”.
Isto era verdade. Ao invés de estar sentada no seu estômago, Rhysenn estava sentada diretamente em cima das costelas dele. Ela era leve, mas a respiração dele ainda estava cortada. Ao invés de se mexer, ela meramente mudou usas feições. Como sempre, ela o fazia lembrar de um hermético instrumento musical de madeira. Um violino, talvez. Ela tinha esta aparência delicada e vibrava nesta alta sintonia.
“Eu tinha um comentário realmente hábil que teria funcionado muito bem,” disse Draco saudosamente. “E então você caiu na minha cabeça e eu esqueci o que era”.
“Conte-me de qualquer maneira”.
“Eu não consigo, o momento passou”.
Rhysenn balançou sua cabeça negativamente e as gemas cintilaram no seu cabelo. “Você pensa demais,” ela disse.
A neve estava começando a ensopar as costas da capa de Draco. Ele tremeu. “Tais homens é que são perigosos,” ele disse.
Rhysenn não replicou. Seus olhos estavam brilhantes, de um tom cinza vidrado e divertidos. “Você que a mensagem que eu tenho para você,” ela disse finalmente, “ou não?”.
Draco bocejou. Neve entrou dentro de sua boca. Ele tentou não cuspir. “Eu tenho alguma escolha?”.
“Não realmente”. Rhysenn estava dando um falso sorriso. Esta era a parte favorita dela, quando Draco tinha que brincar de esconde-esconde para encontrar o pergaminho escondido entre as volumosas roupas dela. Geralmente, Draco brincava por um longo tempo, mas nesta noite, ele estava se sentindo de forma inexplicável irritado. Ele colocou uma mão firmemente na cintura dela e deslizou a outra para dentro do vestido dela, ao longo da parte externa da coxa dela, e encontrou o pergaminho enrolado, enfiado de modo ordenado na parte de cima da meia calça dela. Ele o puxou, liberando e o segurou na frente a ela. “Peguei”.
Ela parecia irritada. “Como você sabia...?”.
“Você é uma mulher e por isto previsível”.
“Oh!” Rhysenn emitiu um grunhido muito feminino de contrariedade e se levantou do peito de Draco. Ela ficou em cima dele, as mãos dela na sua coxa, uma posição que permitia a ele ter uma boa visão por debaixo da saia dela se ele levantasse sua cabeça. Ele decidiu ser um cavaleiro e não o fez. Ao invés disto, ele se levantou, com a neve escorrendo de sua capa enquanto ele fazia isto. Não existia nada de feminino no olhar dela - ele estava ríspido, frio, calculista, atemporal. Ele se perguntou de novo quantos anos ela tinha, algo que ela nunca se dispôs a contar para ele. “Você está horrível”.
“Não,” disse Draco, de pé, com o pergaminho em suas mãos, e tinha neve escorrendo por suas mangas, “faça de conta que você não se importa com o que eu faço”.
Rhysenn forçou um sorriso então, mostrando os pontudos dentes brancos. “Você está bem. Eu não”. Ela se lançou para frente então e pressionou os lábios dela de encontro à bochecha dele; foi como um roçar de uma cinza quente contra a sua pele. Ele estremeceu. “Feliz Natal,” ela disse. “Eu verei você de novo antes do seu aniversário”.
“Eu não duvido disto. Meu aniversário é em Julho”.
“Isto é o que você pensa,” ela disse e desapareceu. Draco olhou para lugar no qual ela tinha desaparecido. Ele a contou antes que era impossível Aparatar nos e fora dos terrenos de Hogwarts, mas ela não pareceu se importar.
Ele olhou para baixo melancolicamente, para a carta em sua mão. Ele já estava se acostumando a olhar para estas cartas longas vindas de seu pai. Um belo véu de pergaminho, ordenadamente enrolado, amarrado com uma fita preta e selado com um selo em forma de uma cabeça morta. Seu pai não podia estampá-la com o selo dos Malfoys, depois de tudo - este anel de carimbo cintilante agora na mão esquerda de Draco, de encontro com o seu belo par de luvas negras de inverno feito de couro. Com um suspiro triste, ele se preparou para abrí-la, quando o som de gelo crepitado o fez olhar para cima, em alarme, seu olhar procurando através da clareira meio iluminada. E a iluminação estava sobre Harry, esparramado a poucos passos dele, de cara na neve.
***
“Olá, Potter”. A voz emanada vinda de cima da cabeça de Harry jorrava divertimento. “Fazendo anjos de neve, nós estamos, ou simplesmente muito, muito cansados?”.
“Cale a boca, Malfoy”. Harry girou sobre suas costas. Ele estava olhando para cima, para Draco agora, que parecia uma silhueta negra de encontro ao céu noturno azul safira. Cristais de gelo branco estavam caídos sobre o cabelo prateado dele e seus olhos cinzas estavam da mesma cor do lago congelado. “Eu caí”.
“Isto é um tanto,” disse Draco, “evidente”. Ele esticou uma mão fina, vestida com luvas negras de couro e acamurçadas. “Levante-se, então”.
“Eu não quero,” disse Harry, de modo rebelde.
“Você irá congelar,” Draco pontuou.
“E daí?”.
“Certo,” disse Draco. “Excelente objetivo”. Com isto, ele caiu pesadamente na neve próximo a Harry. Harry levantou seu pescoço para olhar para Draco com uma sensação de grande irritação. Por que Draco não podia simplesmente deixá-lo sozinho, não estava claro que ele queria ficar miseravelmente com ele mesmo?
“Você irá arruinar suas pomposas luvas,” ele disse.
“Tenho mais seis como estas, em casa,” disse Draco sem alteração. “Agora, o que está acontecendo com você? Você parece alguém que marcou um encontro com o Snape”.
Harry riu amargamente.
“Ah, a risada amarga,” notou Draco. “Isto significa problemas com garota”.
Ele falou levemente. Sua voz era cuidadosa e regular. Harry levantou sua cabeça e se apoiou seu queixo na sua mão, seus olhos escaneando a expressão de Draco, que estava neutra. Até mesmo depois de tudo, desta vez, o assunto Hermione não era um que era inteiramente confortável entre eles. Draco estava cuidadoso e respeitoso e contido sobre o assunto. Isto, em si, era o suficiente para Harry saber que qualquer que fosse o assunto, Draco guardava no coração uma consideração por Hermione, ele ainda a guardava. Harry desconfiava que era isto o que emperrava o estratagema de Draco em relação a Ginny, mas não existiam meios de se ter certeza. Qualquer que fosse o motivo, Blaise aparentemente não se importava ou tinha se convencido de que isto não era importante.
“Sim,” Harry se ouviu dizer, com alguma surpresa. “Você pode dizer isto”.
As sobrancelhas de Draco se ergueram, mas ele não disse nada.
“Nós tivemos uma briga,” Harry acrescentou.
Draco ficou em silêncio.
“Hermione e eu,” Harry esclareceu.
“Certo, bem, eu não pensei que você estava se referindo a Hedwig”.
Harry deu uma risada de desgosto para si mesmo. Isto pareceu consolidar alguma resolução em Draco. Ele se levantou e esticou a mão para Harry de novo. “Levante-se,” ele disse. “Nós iremos sair para um passeio”.
Desta vez, Harry pegou a mão oferecida. “Para onde?” ele perguntou enquanto ele se colocava de pé.
“Hogsmeade”.
“Hogsmeade?”. Harry tentou puxar sua mão da de Draco, mas Draco estava agora o puxando com força, de maneira determinada, em direção a Floresta Proibida. “Por quê?”.
“Nós iremos nos embebedar”.
“Mas - o Três Vassouras tem apenas cerveja amanteigada. Eu não sou um elfo doméstico!”.
“Apenas cale a boca, Potter, e confie em mim”.
***
O sol se arrastava para trás das montanhas que circundavam Hogsmeade, iluminando a pequena vila com uma luz quartzo rosa, a deixando com a aparência de uma bela pintura. A neve se amontoava e se acumulava como creme de açúcar sobre os telhados das casas, que estavam enfeitadas com luzes de Natal mágicas, brilhando esmeralda e granada através da atmosfera salpicada de neve. A fumaça se encaracolava como pena vinda das chaminés, deixando um rastro no céu escuro com uma fraca marca escura como listas do arco-íris.
“Bonito,” disse Draco, fazendo uma pausa no lugar que conduzia à vila. O ornado dourado Você está agora entrando em Hogsmeade assinalava que as margens da vila estavam envolvidas, como o resto da cidade, em uma dança de luzes vermelhas e verdes. Draco olhou para elas. “Nenhum risco de esquecer que é quase Natal estando neste lugar”.
“Natal,” ecoou Harry. Seu tom era vazio. Era como se ele talvez estivesse também falando sobre alguma recente tragédia apavorante. “Eu não comprei nenhum presente para ninguém ainda”.
Draco olhou para o lado, para ele. “Eu devo entender que não receberei o modelo de trem que eu pedi?”.
“E o casamento,” Harry continuou melancolicamente. “Está chegando o Ano Novo e eu não comprei nada para eles, tampouco”.
Draco piscou os olhos para tirar a neve dos seus cílios. “Você tem tido notícias do Sirius?”.
Harry balançou sua cabeça negativamente. “Não muitas. Eu acho que ele está ocupado com os preparativos”.
“Nenhuma palavra sobre a situação da gaita de fole?”.
Um fraquíssimo sorriso perpassou o canto da boca de Harry. “Eu acho que isto ainda está empatado”.
“Não por muito tempo, se eu conheço minha mãe,” disse Draco, mas ele conseguiu perceber que Harry parou de escutar. Ele estava olhando em direção a cidade, seus olhos verdes escuros e distantes. A atmosfera combinava com ele - a neve branca como pano de fundo fazia o cabelo preto dele e a capa vermelha saltarem dramaticamente e o frio ruborizava a pálida pele dele com um saudável brilho. Mas sua boca estava marcada por uma linha tensa e infeliz que estragava o que, de outra maneira, poderia ter sido uma pintura cativante. “Oh, coragem, Potter,” disse Draco. “Você parece sua coruja quase morta”.
“Hermione me odeia,” disse Harry. Suas mãos estavam se movimentando nervosamente sobre o cinto dele. Não um cinto real, mas um ornamento avermelhado circular, tão pequeno para ser um bracelete, que estava amarrado como uma fivela extra. Draco o tinha percebido antes, mas nunca perguntou a Harry o que ele era. Independente do que era, ele estava muito ligado a ele - Draco não conseguia se lembrar de vê-lo sem ele desde setembro.
“Odiar você?” Draco balançou sua cabeça negativamente, mas Harry não pareceu inclinado a analisar com cuidado. “Eu duvido disto”.
“Quem se importa com o que você pensa,” replicou Harry, sua voz sem mudar o tom.
“Outra excelente observação,” Draco disse. “Certo. Este não é mais você”. Ele veio até Harry e agarrou com força um punhado da parte de trás da capa de Harry. “Vamos”.
Ele puxou e Harry o seguiu, sem muita resistência. Eles se dirigiram para baixo, para o lugar mais cheio de neve na vila, passando por janelas iluminadas e quentes que exalavam um cheiro de pão de gengibre e canela. Finalmente, eles entraram no pequeno distrito comercial de Hogsmeade, que incluía a loja de logros da Zonko’s de um lado e o Três Vassouras do outro. A Zonko’s estava fechada mas o Três Vassouras estava aberto e enquanto eles passavam através das suas portas e entravam, o barulho e o calor comprimiam o espaço lá dentro, Draco disse um feitiço abaixo de um sussurro que derreteu a neve de suas roupas sem deixar uma poça no chão. Sempre atento, este é meu lema.
Atrás do bar, a bonita Madame Rosmerta piscou os olhos e sorriu para os garotos. “Olá, Draco,” ela disse. “Harry”.
Draco acenou com a cabeça para ela. “Nos estava apenas de passagem,” ele disse de forma importante.
Ela arqueou uma sobrancelha. “Bem, divirtam-se então”.
Harry olhou para Draco em confusão. “Malfoy, o que --?”.
“Apenas vamos”. Draco transferiu a sua contenção da nuca de Harry para o pulso dele e o empurrou, fazendo com que ele seguisse o seu rastro. Eles cruzaram o cômodo, meio cheio por bruxas e bruxos sentados e bebendo em silencio, ao longo de mesas de carvalho, e então passaram por uma decoração gigantesca de árvore de Natal e por baixo de uma escadaria, até que eles chegaram em uma parede. Que era inteiramente branca exceto por uma pintura emoldurada de dourado com uma jovem garota muito atraente, sustentando uma não muito semelhança com Madame Rosmerta, empoleirada em um balanço. Quando ela distinguiu Harry e Draco, ela lhes deu um aprumado piscar de olhos. “Bem, vocês dois não estão legais,” ela disse. “Vêm me visitar à uma hora desta?”.
Draco balançou sua cabeça negativamente, sorrindo levemente. “Ranúnculo amarelo,” ele disse.
“Oh, não outro,” disse a garota no retrato, parecendo irritada, mas o retrato balançou para frente de qualquer jeito, revelando uma entrada vazia e escura através da parede. Draco começou a entrar e Harry, parecendo confuso, seguiu Draco, entrando na passagem.
Um espaço gigantesco se abriu diante deles. Era um elegante cômodo, todo revestido por madeira teça e carvalho escuro e latão polido. Um longo bar corria através de uma das paredes e atrás dele estavam alinhadas em estantes, lado a lado, garrafas de bebidas: gin de Sangue vermelho de Dragão, vinho negro de Gigante, cerveja verde viscosa de Troll. Uma garrafa de vidro exagerada de vodka, da altura de um homem de pé, estava de um lado do bar; dentro dela, uma vassoura muito pequena assobiava em círculos. As palavras QUADRIBOL ABSOLUTO girava no rótulo em direção ao topo.
Uma bruxa alta parada, de pé, atrás da bancada do bar, vestida com um brilhante tope prateado, derramava um jorro estreito de um liquido rosa em um copo segurado por um bruxo gordo, vestido com uma veste laranja que estava sentado, de pernas cruzadas, no bar. Enquanto os olhos de Harry se ajustavam ao obscurecimento, ele percebeu duas coisas. Uma: que o bar era, com exceção da barista e umas poucas garçonetes, habitado somente por bruxos; não havia bruxas para serem vistas. Segunda: que a garota atrás do bar não estava vestindo um tope brilhante prateado, tampouco; na realidade, ela não estava vestindo tope algum. Ela estava vestida somente com o seu longo cabelo brilhante e um par de calcinhas douradas picantes.
“Bem vindo ao Sleazy Weasel (nota da tradutora: a tradução do nome do bar seria algo do tipo, “Doninhas Vulgares”),” disse Draco indicando o bar com uma varredura de seu braço.
“Gah,” disse Harry, dando um passo para trás. “Eu - eu nunca - nunca tinha visto--".
“Agora você viu,” disse Draco. Ele agarrou com força a parte de trás das vestes de Harry de novo e o dirigiu firmemente em direção ao bar. Encontrando um par de banquetas vazias próximas ao bruxo rechonchudo com o cocktail rosa, ele afundou Harry em um assento e se inclinou sobre a bancada. “Oi!” ele disse. “Drinks, aqui”.
A garçonete de topless deu meia volta. “Draco!” ela disse, obviamente satisfeita em vê-lo. Ela apressou-se e deu nele um beijo na bochecha. “Eu não vejo você há tempos”.
Harry fez um ruído gargarejado. “Você vem muito aqui?” ele disse a Draco.
“Acredite nisto ou não, meu pai costumava conduzir transações de negócios aqui,” disse Draco, aceitando o beijo da garçonete com o ar de alguém para quem todo o respeito é obrigação. Seus olhos deram uma piscadela com habilidade para o bar. “Certo, então. Um Mai Tai,” ele disse. “Com uma sombrinha. Verde. E um...”. Ele espiou Harry. “Um Bloody Mary com uma dose dupla de Sangue de Dragão”.
A bruxa barista deu um sorriso. “Sombrinha?”.
“Claro. Uma vermelha”.
Ela piscou os olhos para ele. “Qualquer coisa que você queira. E esperto você, você veio aqui antes do show, desta vez”.
Draco apenas sorriu. O show? pensou Harry. Seus olhos lançaram-se para o lado e recaíram sobre um pequeno palco na direção do fim do cômodo escuro. Havia alguns altos postes colocados nele, e afastado, atrás deles, estava um pequeno grupo de bruxos músicos. Todos homens, também. O que estava com a clarineta parecia de modo perturbador com Snape.
Harry já tinha visto filmes depravados o suficiente para saber para que serviam os postes. Ele, lentamente, mal acreditando, virou sua cabeça em direção a Draco, que estava procurando com afinco alguma coisa nos seus bolsos da sua capa, com um ar de grande indiferença. “Malfoy,” ele disse, um pouco com um rangido. “Você simplesmente me trouxe para um clube de striptease bruxo?”.
“Sim,” disse Draco e atirou um punhado de Galeões na bancada. “Isto deve ser o suficiente para algumas rodadas”.
Harry balançou sua cabeça negativamente. “Eu irei ver você torrar no fogo do inferno por isto, Malfoy”.
“Você disse uma torrada?” a barista de cabelos prateados estava de volta (obviamente uma veela, Harry pensou) com um drink vermelho esfumasante em uma mao e um drink verde serpeante na outra. Ela os colocou na frente de Harry e Draco e sorriu. “o que vocês acham de umas torradas para os dois garotos de melhor aparência de Hogwarts?”.
A despeito de si mesmo, Harry sentiu um rubor subindo, vindo do seu colarinho. Ele não era imune ao charme das veelas, nem mesmo agora. Draco, entretanto, simplesmente deu um sorriso. “Angelique,” ele disse, “você nunca nem ao menos viu nenhum outro garoto de Hogwarts”.
A garota veela riu de volta. “Eu simplesmente faço isto pelas gorjetas, amor,” ela disse.
Draco entregou a ela um galeão. Ela o enfiou cuidadosamente em um lugar que quase fez Harry cair de sua banqueta. Quando ele se endireitou, ele agarrou com força o seu drink e o esvaziou com constância. Ele desceu tão facilmente quanto uma pintada de gasolina, mas enquanto ele até mesmo se engasgava e cuspia, ele podia sentir o líquido propagando seu alarme e incendiando energia através das veias dele.
Ele gesticulou fracamente com sua mão. “Outro,” ele disse, entre tossidas. “Outro, do mesmo, por favor”.
***
Cada um deles tinha derramado quatro drinks e o ‘show’ ainda não tinha começado. Não que Harry parecesse se importar. Ele estava sentando, arqueado sobre seus quatro cocktails de Sangue de Draco, olhando para baixo através dele, como se ele guardasse os segredos do universo.
Gentilmente, Draco o empurrou pelos ombros. “Coragem, Potter. A noite é uma criança e nós temos sombrinhas nos nossos drinks”.
Harry virou seus olhos verdes dispersos para ele. “Qual é a sua relação com drinks de sombrinhas?”.
“Bem, existe uma boa história com eles. Na verdade, não é uma boa história, é simplesmente uma longa história. Em vez disto, vamos falar de você. Como você acabou deitado, de cara na neve, do lado de fora da Floresta Proibida?”.
“Eu te contei. Eu tive uma briga com Hermione”.
“E ela bateu com uma pá na sua cabeça, arrastando você para fora do castelo até a Floresta Proibida e deixou você lá?”.
Harry soprou um suspiro exasperado. “Não. Eu meio que saí correndo. As coisas estavam ficando tão intensas e - você e Blaise nunca brigaram?”.
Draco bufou. “Não exatamente”.
“O que isto quer dizer?”.
Draco balançou sua cabeça negativamente, “eu não quero conversar sobre ela”.
“Mas ela é sua namorada”.
Draco foi incapaz de conter um calafrio. “Não me lembre”.
Harry olhou para ele com sua boca aberta. “Você não gosta dela?”.
“Ninguém gosta de Blaise,” disse Draco, com determinação.
“Por quê não?”.
“Há!”. Draco se sentou para trás, seus olhos produzindo fagulhas. “Por onde eu começo? ‘Me dê um presente’. ‘Me leve até Hogsmeade’. ‘Me compre este bracelete’. ‘Faça amor comigo exatamente aqui, no chão’. ‘Não, não assim, assim’. ‘Pare de perder tempo e tire suas calças’”.
“O que você quer que eu faça primeiro?” perguntou Harry, apalpando o seu quarto - quinto? - drink com a ponta da sombrinha vermelha.
Draco bufou. “Não, isto é o que ela é. Ela tem a pior personalidade de toda a Casa e como você pode imaginar, é esperado algum tipo de competição bela e dura”.
Harry olhou para ele curioso. “Então por que você está namorando com ela?”.
Draco bebeu de uma vez só o seu drink, tão rápido que Harry ficou preocupado por um momento que ele fosse cair de sua banqueta. Ele bateu o copo vazio na bancada. “Do que você está falando, Potter? Ela é fantástica”.
“Er,” Harry disse, confuso. “Tudo bem. Só que...não importa o que aconteceu com você e Ginny? Eu pensei que vocês fossem...você sabe. Namorar. Talvez”.
“Nós fossemos o quê? Ok, Homem Sentimental, esta sessão de encontro não devia ser sobre mim. Ela devia ser sobre você”.
Harry ajeitou-se ereto com um pouco de dificuldade. Ele levou um instante para focar seus olhos em Draco. Então, seu olhar verde se aguçou e se endureceu, e ele não mais parecia bêbado, de jeito nenhum. “Muito bem,” ele disse. “Vamos conversar sobre mim”.
Draco correu preguiçosamente o dedo ao redor da borda fria do copo. “Sobre o que você e a Hermione brigaram?” ele perguntou, tornando sua voz neutra.
“Por que você não me diz?” disse Harry.
Draco pestanejou. “Eh?”.
“Ela conversa com você,” disse Harry, com a voz fria. “Eu sei que ela conversa”.
Draco encontrou o olhar de Harry com o seu próprio. “Você se importa?”.
“Se isto a ajuda, eu suponho que não”.
Draco abandonou a estratégia fechada. “Ela disse que você a tem ignorado,” ela disse. “Ela disse que você raramente fala com ela”.
Um lento rubor se espalhou pelo rosto de Harry, vindo de sua clavícula. “Isto não é verdade,” ele disse.
Draco não disse nada.
“Isto não é uma maldita verdade,” Harry disse de novo, a ponta da maça do seu rosto vermelha escura de raiva.
“Certo,” disse Draco. “Diga-me, quais aulas ela está tendo?”.
Harry pestanejou e abriu sua boca. “O quê?”.
“Quais aulas Hermione está tendo este ano?”.
A boca de Harry continuou aberta. “Poções,” ele disse lentamente. “DaDA Avançada com Lupin...”.
“E as aulas que ela não tem com você?”.
Harry olhou para baixo, para a beirada da bancada. “Aritmancia,” ele disse. Sua voz estava insegura. “Medicina Mágica. Guarda e Proteção...”.
“Ela abandonou esta,” disse Draco. Sua voz estava dura. “Em outubro. Ao invés disto, ela está tendo Estudos de Rúnica”.
Harry olhou para longe dele. Ele comprimiu sua mandíbula com força. “Até onde você quer chegar?”.
“Você a tem ignorado. Por quê?”.
“Eu não tenho--".
“Oh, se dê por vencido, Harry,” berrou Draco com irritação. “Existe alguém mais?”.
Harry bateu seu punho tão duramente contra o bar que os copos bateram uns contra os outros. Draco ficou ciente do bruxo gordo a sua direita dando a eles um estranho olhar. Ele também estava ciente que sua última pergunta para Harry talvez fosse facilmente má-interpretada se ele tivesse ouvido cuidadosamente a conversa anterior. Oh, enfim.
“Não existe ninguém mais!” Harry gritou. “Nunca haverá ninguém mais, não para mim, em nenhum tempo!”.
O bruxo gordo cutucou Draco nas costelas com sua varinha. “Eu acho que ele realmente tem em vista isto,” ele assobiou na orelha de Draco. “Vamos, lhe dê outra chance”.
“Oh, cale a boca,” disse Draco, sem virar para o bruxo. Ele estava olhando para Harry. A cor vermelha escura tinha desaparecido da pele de Harry e agora ele estava muito branco.
“Desculpa,” ele disse. “Não é sua culpa”.
“Pro inferno que não é,” disse Draco. “E não pense que eu gosto de estar entre você e Hermione tampouco, porque eu não gosto”.
“Então por quê...?”.
“Eu não gosto de vê-la infeliz,” disse Draco, com determinação.
Neste ponto, Harry ficou em silêncio. Ele olhou para a linha de garrafas alinhadas de encontro à parede atrás do bar. As bebidas mágicas dentro delas serpeavam com cores diferentes: sombras azuladas, turquesas e douradas de limão. “Talvez, eu esteja sendo egoísta,” ele disse finalmente. “Mas é porque eu a amo e não quero perdê-la mesmo se eu não...mesmo se eu não puder...” ele parou e Draco esperou, sabendo que não era o momento para interrupções. “Até mesmo se eu não puder lhe dar algo neste momento,” Harry terminou.
“Você se afastará dela,” disse Draco.
Harry estava olhando para baixo, para dentro do seu copo vazio agora. A tocha de luz adornava o cabelo preto dele com dourado e um tom flamejante, uma fagulha brilhante do fogo na garganta dele. O Encantamento Epicyclical. “Talvez seja a melhor coisa para ela,” ele disse.
“Besteira,” disse Draco firmemente. “Ela ama você”.
“Amor,” disse Harry de maneira direta. Sua voz não sustentava nenhuma entonação. “Talvez”.
“Não seja um pobre idiota. É claro que ela ama”.
A barista colocou outro drink na frente de Harry, que olhou para ele do alto de seus olhos verdes escuros. Draco tentou lembrar o número de copos de álcool que Harry já tinha consumido. Ele tinha a sensação de que o número era superior a algumas unidades. “Voldemort está vindo atrás de mim,” Harry disse. “Você sabe disto”.
Draco se inclinou para trás. “Eu não sei nada sobre tal coisa,” ele disse, ainda que na parte de trás de sua cabeça estava a memória de uma dor que queimava, incendiando através de sua palma, e a voz de um homem dizendo, O Garoto não é confiável, Mestre.
“É claro que ele está,” disse Harry. “Ele tentará me pegar de novo. Por que ele pararia agora? Slytherin está fora do caminho e enquanto eu for jovem e com pouca experiência, é melhor para as chances dele”.
“Potter...” Draco deixou sua voz se arrastar. “Você não sabe”.
“Eu sei”. A voz de Harry estava segura.
“Então...você está com medo?”.
“Não. Eu estou alegre”.
Draco pestanejou. “Diz de novo?”.
“Eu estou alegre,” disse Harry e sua voz continha alguma coisa, alguma coisa de selvagem e primário. Sua mão estava em volta da base do seu copo, o segurando com força. “Eu estou alegre. Eu tenho pensado nisto o tempo todo, Malfoy, sobre o confronto com ele, minha chance de vingança desta vez, minha chance de libertar meus pais...eu sonho com a morte dele. Eu acordo com escoriações nas minhas mãos e eu sei que fiquei acertando a parede com meus punhos enquanto dormia. Eu tinha raiva antes mas nunca soube odiar assim, desta maneira feroz e constante, desta maneira que nunca me deixa e como eu posso estar com Hermione quando eu me sinto assim? Se ela soubesse como eu realmente estou, o quanto estou totalmente envenenado e com ódio...ela pensa que eu estou acima destas coisas, que sou melhor do que elas, e eu desejava ser, mas --". Ele balançou sua cabeça negativamente como se isto fosse limpá-la de teias de aranha e seu cabelo negro voou em torno de seu rosto. Hermione estava certa. Isto precisava ter um fim. “Mas eu não sou”.
Draco estava olhando para ele. “Eu não sei...”.
A respiração de Harry estava áspera. “Eu continuo pensando em meus pais lá...naquele lugar...”.
Draco falou com a garganta apertada. “Você usou a Penseira que eu te dei?”.
“Não”. Harry balançou a cabeça negativamente. “Eu não consigo...”. O álcool tinha tornado rude o usual tom macio de sua voz e lhe dado um tom desesperado e selvagem. “Eu não consigo usá-la, eu não consigo...” e ele se inclinou para frente e enterrou o seu rosto nas suas mãos.
Draco ficou estarrecido, seu coração batendo dolorosamente contra as suas costelas. Era sua culpa, sua culpa, ele era a pessoa que tinha contado a Harry sobre os pais dele, lá, no mundo dos mortos, lhe dando uma ferramenta com a qual aguçasse todos os sentimentos de perda e raiva e desespero, os transformando em algo insuportável. Ele tinha, através do presente da Penseira, tentado ajudar, mas não aconteceu isto, já que Harry não foi capaz de suportar usá-la. Ele foi um tolo em ter pensado nisto, em primeiro lugar.
Ele estendeu uma mão e gentilmente tocou o ombro agora seco de Harry, vestido com a capa preta. “Potter”. Harry não se moveu. “Potter, me desculpe. Eu -".
Harry caiu da cadeira e deslizou sem atrito para o chão.
“Oh, inferno”. Draco desceu de sua cadeira e se ajoelhou próximo a Harry, num instante. Ele colocou uma mão no ombro de Harry e o girou. Ele parecia são e salvo e pestanejou para Draco com os olhos esmeraldas sonolentos e semi-serrados. “Harry? Harry, está tudo bem com você?”.
“Bem, obrigado, Professor,” disse Harry, sorrindo e fechou os seus olhos.
“E um dia eu lembrarei do porque ter deixado você beber tanto”. Draco suspirou e se sentou para trás sobre os seus calcanhares. Apenas então ele percebeu que todo o bar estava olhando para eles. Até mesmo a garçonete vestida de maneira pobre estava olhando para eles com curiosidade. “Vamos, Harry, se levante. Não, não caia de novo. Sim, eu sei, a gravidade é uma senhora rude. Mas nos temos que aprender a trabalhar com ela. Agora, vamos...”.
***
“Olhe, ele voltará”. Ginny segurou a mão de Hermione para confortá-la. As duas garotas estavam sentadas juntos exatamente do lado de fora das grandes portas da frente, de carvalho, de Hogwarts, que tinham na sua base uma passagem com degraus de pedras. Ambas estavam com calor, empacotadas com as capas de peles listradas: a de Hermione era azul escura, a de Ginny, um pálido dourado. Uns poucos flocos de neve prateada estavam enrolados nos cachos escarlates de Ginny e seus olhos escuros estavam arregalados e ansiosos enquanto eles estavam fixos na sua amiga. “Vocês dois raramente brigam”.
“Eu sei,” disse Hermione, com a garganta apertada. “Isto é o que torno tudo tão terrível”.
“Brigar todo o tempo é de longe muito pior, acredite em mim,” disse Ginny e revirou os olhos dela. “Draco e eu –“ ela parou. A despeito do estado miserável dela, Hermione apurou seus ouvidos com um formigamento de interesse.
“Draco e você o quê?”.
“Nada,” disse Ginny com um elegante dar de ombros. Hermione estudou Ginny através do canto de seus olhos. O cabelo escarlate de Ginny e a capa dourada saltavam como faróis de encontro a neve. Quando os estudantes discutiam quem era a garota mais bonita da escola, isto freqüentemente terminava em uma escolha entre Blaise Zabini e Ginny. Ginny, na opinião de Hermione, era facilmente a mais bonita, mas ela não tentava com tanto esforço parecer bonita assim como fazia Blaise. Hermione se perguntou pela centésima vez o que tinha causado o rompimento dela com Draco. Eles tinham estado muito próximos quando todos retornaram para a escola em setembro, e então, muito de repente e sem nenhuma explicação, eles não estavam se falando mais. Na realidade, senão fosse nos jogos de Quadribol, eles pareciam tentar nunca estar dentro de cem jardas de distância um do outro.
Ron estava em êxtase. Hermione, ainda que tentasse esconder, também tinha ficado satisfeita. E Harry dificilmente tinha percebido que alguma coisa tinha acontecido, de qualquer forma.
Harry. O coração de Hermione deu uma reviravolta e ela levantou seus olhos em direção a linha de árvores escuras distantes, procurando por uma familiar cabeça escura e uma capa escarlate...
Ginny os viu primeiro. “Olhe,” ela disse e se colocou de pé, sua capa dourada serpeando em torno dela. Hermione deu uma olhada para onde Ginny estava olhando, mas sua visão não era tão afiada quando a da outra garota: ela apenas viu uma forma se aproximando, turva e escura. Ginny fungou. “Eles voltaram...quem sabe ele tenha ido correr”. Ela se virou. “Eu estou voltando lá para dentro”.
Hermione pegou a mão dela. “Não. Espere”.
Ginny esperou, relutante. A forma escura que se aproximava se tornou uma figura clara. Hermione podia agora ver que era Draco, sem capuz, seus cabelos prateados brilhando em contraste ao horizonte escuro. Mas ele não estava sozinho; ele estava carregando Harry, que tinha a capa escarlate se arrastando de encontro a neve como um respingo de sangue.
Hermione desceu as escadas em segundos. No frio silêncio da noite, o som de seus pés cruzando o gelo por cima da neve, foi como o som de vidro se quebrando. Ela chegou do lado de Draco e quase o derrubou em sua ânsia de chegar perto de Harry, “O que aconteceu? Está tudo bem com ele?”.
“Ele está bem”. Os olhos de Draco estavam sombreados, suas pálpebras tocadas pelo prateado da luz da lua. “Ele apenas bebeu demais, é isto”.
“Oh”. Hermione deixou suas mãos caírem do seu lado. Ela não conseguia olhara para o rosto adormecido de Harry, ele parecia tão vulnerável e tão inocente sob a luz gelada. Ela olhou para cima, para Draco, ao invés disto. “Então ele desmaiou?”.
“Bem, ele acordou brevemente, mas me chamou de Professor, e então ele me pediu para levá-lo ao Palácio de Buckingham pois ele estava atraso para um alto chá com a Rainha. Quando eu não o deixei correr atrás do trem, ele se tornou violento, então eu bati nele e aqui estamos nós”.
Hermione balançou sua cabeça negativamente. “Com amigos como você, quem precisa de um grave ferimento na cabeça? Eu não posso acreditar que você o deixou beber tanto”.
Draco olhou para ela com os olhos arregalados.
Ela suspirou. “Por outro lado, você o carregou todo o caminho até aqui”.
Draco deu de ombros. “Eu não podia deixá-lo no chão do...ah...Três Vassouras. Eu fiz um feitiço de Legerus para torná-lo mais leve”.
“Você fez agora?”. Era Ginny, que tinha chegado e estava de pé atrás de Hermione. Ela apontou sua varinha para o inconsciente Harry. “Finite incantatem,” ela disse.
Houve um breve flash de luz e Draco tropeçou para frente e quase perdeu seu equilíbrio enquanto sua carga assumia o seu peso normal. Hermione deu um passo para frente e pegou Harry e junto com Draco ela ajudou a abaixa-lo até o chão encoberto de neve, sobre o qual ele fez um fraco e sonolento barulho, se virou e colocou sua cabeça nos seus braços.
Draco se endireitou e olhou para Ginny. A luz de seus olhos estava relampejando de raiva. “Isto foi estúpido, Weasley,” ele disse. “Eu podia ter o deixado cair”.
“Como se você se importasse,” disse Ginny, balançando seus grossos cachos vermelhos. “Você podia ter feito um feitiço Mobilicorpus nele e tê-lo trago até aqui. Você não precisava carregá-lo. Você estava apenas se exibindo para impressionar Hermione”.
Hermione endureceu de surpresa. O que estava acontecendo com Ginny? Ela olhou para Draco, quase com medo do que ela talvez fosse ver. Os olhos dele estavam estreitados enquanto ele olhava para Ginny, a boca dele era uma linha fina e dura. “Que rica e inventiva fantasia de vida você vive, Weasley,” ele disse friamente. “Eu posso apenas supor que seja porque sua vida normal é tão sem colorido e entediante”.
“Pelo menos eu tenho uma vida,” falou entre os dentes Ginny.
“Certo e isto consiste em esperar do lado de fora da escola, as duas da madrugada pelos namorados de outras pessoas para mostrar que você não tem o seu próprio”.
“Você não tem que me mostrar o quanto detestável você é,” Ginny disse friamente. “Eu já sei disto”. E ela se virou sobre os seus calcanhares e caminhou de volta para as escadas, puxando com força as portas da frente, a abrindo com uma força venenosa antes de desaparecer lá dentro.
Hermione se virou e olhou para Draco. O olhar de raiva tinha desaparecido de seu rosto e havia apenas uma luz estranha em seus olhos. Sem olhar para ela, ele disse, “se você começar a me perguntar o que aconteceu entre eu e Ginny e me dizer o quão grande casal nós éramos, eu enterrarei você até as orelhas na neve”.
“Eu posso te perguntar como você consegue quiçá namorar Blaise Zabini, ao invés disto?”.
“Eu já não te respondi isto quando você me perguntou?”.
“Sim, mas eu pensei que nesta noite talvez fosse diferente”.
“Talvez, na realidade, seja a noite de seu namorado congelar até a morte, a não ser que você o leve para dentro”. Draco olhou sutilmente para baixo, para Harry, que continuava deitado no chão, fazendo seus braços de travesseiro para sua cabeça. Hermione duvidou que ele estivesse correndo algum perigo de congelar, já que estava deitando sobre sua capa, que ela tinha encantado com um Feitiço para Esquentar, em outubro passado.
“Ele parece tão fofinho,” ela disse.
“Contestável,” disse Draco e deu um passo para trás. “Mas ele é todo seu agora. Tenha uma boa noite e não o deixe vomitar em você”.
“Você não vai me ajudar a levá-lo para dentro?” ela perguntou.
“Não,” disse Draco. “Peça o Weasley para te ajudar”. Ela sabia que ele estava se referindo a Ron; até mesmo quando ele chamava Ginny de “Weasley”, havia um notável tom diferente quando ele estava se referindo a ela, de quando ele estava se referindo ao irmão dela.
“Eu não sei onde ele está,” ela choramingou.
“Eu estou certo que você consegue encontrá-lo,” disse Draco e caminhou, passando por ela, subindo as escadas em frente a porta de dois em dois, a luz da lua relampejando o emblema prateado em sua capa. Ela se perguntou se ele estava indo atrás de Ginny. Ginny não parecia querer ser seguida. Ainda, com estes dois, nunca se sabe.
***
Ginny estava a meio caminho das escadas para a Torre da Gryffindor quando ela escutou a voz dele atrás dela. “Weasley. Espere”.
A despeito de si mesma, ela se virou. Draco estava de pé na base das escadas, empacotado com sua capa preta. A neve em seus cabelos tinha derretido e feito pequenos riachos em torno de seu rosto, escorrendo pelo seu colarinho. Atrás dele, através da janela, ela podia ver o céu noturno coalhado de estrelas prateadas da cor de seus olhos.
Ela disse, “o que você quer?”.
“Eu penso que seria melhor que você não mencionasse esta noite a ninguém,” ele disse. “Pelo menos, em respeito a Harry”.
Ginny estreitou seus olhos. “Eu já prometi junto com todos os outros que não mencionaria que vocês dois são amigos”.
“Eu sei,” Draco disse. O acordo não dito travada entre eles: mas isto foi antes. “Eu estava me referindo ao fato dele ter bebido demais. Os professores não irão gostar disto e isto poderia afetar a decisão deles de o deixarem jogar. Ele já está tendo problemas com suas notas este ano. Você sabe disto”.
“Você se preocupa com alguém que não seja Harry?” Ela ouviu o tom frio de sua própria voz e ficou surpresa. Onde eu aprendi a falar assim? A resposta foi imediata: com ele, é claro. “E Hermione, eu suponho. Mas então, nós concordamos em não conversar sobre isto”.
“Eu não estou te pedindo para prometer nada para mim,” Draco disse. “Mas Harry é o seu amigo também”.
Ginny sentiu os músculos de seus ombros e de suas costas se contraírem. “Você não mantêm as suas promessas,” ela disse, em voz baixa. “Por que eu deveria?”.
“Eu nunca prometi nada a você,” disse Draco. Sua voz estava calma. Ele empurrou o cabelo dele para trás, o tirando de sua testa e a luz das tochas atingiu o anel com o selo que ele estava usando, e cintilou.
“Você deixou implícito que -".
“Você escolheu ler algo implícito no meu comportamento,” disse Draco. Seus olhos estavam estreitados, mostrando apenas uma luz prateada. “Isto não é minha culpa”.
Ginny sentiu um baque dolorido de um frio estreitamento em torno do seu coração. Ela sabia que isto não era verdade. Draco não tinha fingido os seus sentimentos por ela. Mas eles já tinha tido esta conversa e não foi usada para tentar obter dele um dizer diferente ou novo. Mas quando ela pensava na festa de aniversário de Harry, a mão de Draco na sua mão enquanto eles desciam as escadas, e seus olhos quando ele olhou para ela, e todas as cartas que ele tinha escrito para ele durante o verão, a raiva fervia dentro dela, tão violentamente e tão tragicamente que era quase dolorosa.
“Você é um bastardo,” ela falou, sem pensar. “Exatamente como seu pai”.
Draco endureceu. Uma breve luz trêmula de emoção obscureceu seus olhos: podia ter sido de magoa ou de raiva, ou de simples surpresa. Então, ela se foi. “Realmente,” ele disse, e sua voz estava amarga, “eu sou um bastardo de uma maneira que é inteiramente minha”.
Ginny não disse nada diante disto. Ela se virou e subiu as escadas, e Draco não a seguiu.
***
Estava próximo de amanhecer, e o cômodo tinha começado a se encher de luz. “O sol está nascendo,” ela disse, se virou na escuridão até que o ombro nu dela tocou o dele. “Nós deveríamos voltar”.
“Não”. Sua voz estava distante, sonolenta. “Vamos ficar aqui. Deixe que eles nos encontrem. Quem se importa?”.
“Oh, Ron”. Ela se apoiou sobre o seu cotovelo e olhou para baixo, para ele. Ele estava deitado com um lençol enrolado em torno dele, os cabelos vermelhos colados de encontro a sua testa devido ao suor. Este cômodo era um dos poucos em Hogwarts que não estava frio por causa do inverno. Sob a pálida luz cinza que jorrava através da janela alta, a marca na testa de Ron, onde Rowena Ravenclaw tinha beijado, se sobressaiu pálida e prateada. “Você sabe que nós não podemos fazer isto”.
“Eu sei”. Ele a puxou para baixo de forma que ela se deitou transversalmente sobre ele, e beijou sua boca.
“Ninguém precisa saber sobre isto,” ela disse com urgência. “Sobre nós”.
“Sim. Eu sei disto também”. Seus lábios encontraram a garganta dela. “Eu não gosto de mentir, entretanto”.
“É apenas por ora,” ela disse, sua voz um pouco rouca. Sua determinação tinha começado enfraquecer e ela percebeu que estava se entregando aos beijos dele. Quando ele parou, ela fez um barulho de desapontamento e olhou para baixo, para ele, suplicando.
Os olhos azuis dele riram para os dela. “Eu pensei que nós tínhamos que voltar?” ele disse.
“Bem,” ela murmurou, “talvez ainda não exatamente,” e ela o deixou puxá-la para baixo, para os braços dele.
***
Notas da Autora: NB: Elizabeth Thomas foi nomeada em honra ao nosso amado Ebony. Malcolm Baddock, Milicent Bulstrode, Blaise Zabini, and Graham Pritchard são todos Slytherins na história original e Dex Flint é obviamente o irmão mais novo de Marcus. O desagradável Tess Hammond é uma criatura de minha própria imaginação.
Referências:
“Eu não sei,” disse Harry, sua voz pingando acidez. “Eu receio que ao invés disto, acidentalmente eu tenha entrado na fila para ‘fragmentos de decência moral’”. Buffy.
Ele suspirou. “Rhysenn. Sim. Felizmente, eu, com destreza, usei minha espinha para parar nossa queda”. Blackadder.
A noite é uma criança e nós temos sombrinhas nos nossos drinks”. The Tick.
““Por onde eu começo? ‘Me dê um presente’. ‘Me leve até Hogsmeade’. ‘Me compre este bracelete’. ‘Faça amor comigo exatamente aqui, no chão’. ‘Não, não assim, assim’. ‘Pare de perder tempo e tire suas calças’”.
“O que você quer que eu faça primeiro?”” Blackadder.
“Você pensa demais, tais homens é que são perigosos”. Julius Caesar, Shakespeare.
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