Capítulo 4 - Segredos

Capítulo 4 - Segredos



Autor: Occasus

Nome Original: Cannon In D

Tradução: Mônica Beckman

Betagem: Anna Malfoy

Capítulo 04

Segredos

Severus se dirigiu à porta dos fundos saindo com Harry segurando-se em seu braço. Normalmente, Harry nunca andaria apoiando-se dessa maneira, mas estava claro que o garoto estava sofrendo de estresse.

Severus respirou fundo e se dirigiu a Harry antes de abrir a porta. “Hermione me contou como te forçaram a você vir aqui, Harry”, ele disse cautelosamente. “Eu entendo que lá dentro é um ambiente que você pode controlar e aqui fora não é. Mas tudo que eu quero fazer é sair para uma caminhada. Você não está sendo forçado, Harry. Eu nem sonharia em forçar você a vir para cá. Só saiba que eu sempre estarei bem aqui a seu lado”.

Harry não respondeu por um tempo. Finalmente, quando Severus estava quase para desistir. O garoto assentiu bastante levemente. Severus empurrou a pesada porta com seu braço livre, enviando um rastro de ar frio aos seus rostos. Ambos engasgaram um pouco o que levou Severus a rir ligeiramente.

“Está chegando o inverno”, ele disse casualmente. “Gostaria de um passeio?”

Harry agarrou o braço de Severus ainda mais firme, mas assentiu brevemente,

O homem mais velho lançou um rápido olhar ao chão antes de guiar Harry para fora. “Dois passos curtos”, ele avisou quando pisavam na calçada.

Havia um grande caminho de grama seca em cada lado da calçada de concreto e próximo às paredes havia pequenos botões que floresceriam na primavera. Havia várias árvores estéreis e parecia que o hospital possuía varredores, pois não havia uma folha seca à vista.

"É bem legal aqui fora”, Severus comentou. “Bastante pitoresco para um hospital. Vai ser de tirar o fôlego na primavera”.

Harry não respondeu, mas estava respirando fundo. O garoto de cabelos cor negra levantou o rosto levemente enquanto o vento levava seu bagunçado o cabelo negro fora de seu rosto. Um pequeno sorriso agraciou seus lábios e Severus pensou naquele momento que aquele homem não poderia parecer mais angelical do que agora.

“Gostaria de sentar num banco?”, Severus perguntou depois de mirar um par de banquinhos de ferro sob uma das árvores.

Harry deu levemente de ombros.

“Estão sob algumas árvores e está fora da calçada. Mas é só grama seca, então não há nada que vá fazê-lo perder o equilíbrio”, ele guiou Harry à frente e eles se sentaram nos banquinhos.

Logo que o casal sentou, Harry soltou Severus e começou a traçar os lados do banco com sua mão.

“O ferro é negro”, Severus explicou distraidamente. Descrever para Harry havia muito se tornado natureza do homem mais velho. “É bem bonito este jardim, mas não é muito confortável”, Severus observou o céu acinzentado e suspirou. “Embora inverno seja sempre assim”, ele respirou fundo. “Harry, eu quero muito dividir certas coisas com você, mas receio o que você possa pensar quando eu contar.”

Harry pousou sua mão na lateral do rosto de Severus. Era sua maneira sem palavras de ressegurá-lo. Mas o gesto fez tudo mais difícil ainda para Severus. Não era tocado assim fazia muito tempo. Ele não o permitira, estava aterrorizado de levar este homem de volta a sua concha. “Eu não posso contar agora, Harry. Eu quero mais que qualquer coisa, mas eu só não estou pronto”.

Harry bateu na lateral da maçã do rosto de Severus com seu polegar e então tornou a pousar as mãos no seu colo.

Severus sentiu um calafrio conforme o vento começava a silvar de novo. “Está frio demais pra isso”, ele disse com um leve sorriso. “Vamos voltar pra dentro. Estou sentindo algumas pontadas de frio e eu gostaria de uma xícara de chá”.

Harry deu um sorriso pequeno e foi o primeiro a se levantar. Tomou o braço de Severus e eles iniciaram o caminho de volta. “Venha na primavera e você vai conhecer este jardim tão bem quanto conhece o interior daquele hospital”, Severus disse. “Eu vou fazer uma pintura na sua mente mais vívida do que qualquer coisa que você jamais tenha imaginado”.

XxXx

O dia e a noite correram como de costume. A caminhada do lado de fora trouxe mais cor para as maçãs do rosto de Harry, mas nada mais que isso. Voltaram à leitura e Severus tocou um pouco de Vivaldi para passar o tempo. Chegou em casa perto das dez naquela noite, logo após Harry ter caído no sono.

Banhou-se e preparou chá para quando Draco chegasse. Estava a meio caminho de por sua louça suja na pia quando seu celular tocou.

"Alô?”, ele atendeu.

"Sev”, disse Draco com uma voz ligeiramente arrastada. “Estou perto daí. Vejo você num segundo”.

"Toque o interfone quando chegar que eu vou deixá-lo subir”.

"Tchau”, Draco disse.

Severus desligou o telefone e ligou-o no carregador. Tinha terminado com a chaleira quando ouviu Draco chamar do pé da escada. Apertando o botão da parede, ele disse alto, “Pode subir”. Deixou a porta encostada para permitir a entrada de Draco.

O homem de olhos cinzentos entrou e soltou um sorriso charmoso a Severus. “Faz algum tempo desde que estive aqui pela última vez.”

Severus revirou os olhos. “Sim, creio que foi quando seu pai te pôs pra fora porque você ficou preso por três dias”.

"Não foi realmente minha culpa na verdade”, Draco se defendeu. “Eu não estava dirigindo aquele carro, na realidade”.

“Fico feliz de ver que você tem conseguido se manter longe de encrenca desde então”, ele disse num tom paternal.

"Bom, creio que meu pai teve sua parcela de contribuição em te colocar numa posição melhor depois de umas reverências suas”, ele disse indignado.

Severus sorriu. O pai de Draco, Lucius Malfoy era um amigo querido e uma figura paterna para Severus. Lucius era quinze anos mais velho que Severus e foi a pessoa a tomar o garoto das ruas e ajudá-lo a se encontrar no mundo. Ele o tomou e o ensinou como cuidar apropriadamente de seu dinheiro e seus investimentos. Também o ajudou a ingressar numa Universidade apropriada. Raramente se falavam atualmente, mas Severus sempre teria um espaço no seu coração para ele.

Draco estava andando pelo apartamento, observando as fotografias que Severus havia disposto. Escolheu uma numa borda dourada e levou até Severus que estava preparando o chá.

"Esse é Sirius, não é?”, Draco perguntou.

Severus olhou para cima e sorriu para Draco. “É. Você não o conheceu?”

"Não, ele já estava, er, você sabe...”

"Morto”, Severus finalizou.

Draco assentiu, “Quando eu voltei dos Estados Unidos. Nunca tive a chance”.

Severus tomou a fotografia de volta e a recolocou no lugar amorosamente. “Que pena. Você teria gostado dele”, Severus sorriu mediante a memória. “Ele era mais ou menos como você. Cheio de um abandono despreocupado”.

Draco balançou a cabeça, “Mas eu nunca tiraria minha própria vida”.

Severus suspirou, “Eu o levei a isso. Ele me amava e eu não poderia ser o que ele queria que eu fosse. Eu percebi isso antes que ele fizesse, mas fui cruel com ele. Ao invés de mostrar a verdade, eu o abandonei na hora em que ele mais precisava”.

Draco pousou sua mão no ombro de Severus. “Você não pode continuar a pensar que tem o sangue dele em suas mãos. Ele fez isso porque... No final das contas, ele foi fraco. Ele cedeu á tentação de fazer a dor ir embora e, pensando bem, ele deve estar mais feliz agora onde quer que esteja”. Draco aceitou a xícara de chá e sentou no sofá. “Severus, é por isso que você está sendo tão reticente quanto a uma vida com Harry? Está tentando se punir?”

Severus sorriu fracamente. “Eu creio que tenho tentado. Quando Hermione me perguntou por que Harry, eu não tinha nenhuma razão. Mas não, no fim das contas, creio que é essa pessoa surpreendente presa em seus próprios medos. Eu pretendo expulsar esses medos e mostrá-lo que nada pode feri-lo novamente”.

Draco tomou um gole de seu chá e observou Severus por alguns minutos. “Você não pode prometer isso, Sev. Porque você não pode protegê-lo de tudo neste mundo que possa machucá-lo. As pessoas se machucam, e há possibilidades de que você seja a pessoa a magoá-lo. Porque você foi o primeiro a amá-lo”.

Severus absorveu tudo isso. “Eu tenho apenas de tentar. Sem chance de eu deixar este homem escorrer por entre meus dedos. Estou sempre procurando por aquele alguém que vai preencher esse vazio da minha vida. E acho que esse alguém pode ser Harry”.

"Você vai contar a ele sobre a... cicatriz no seu braço?”, Draco perguntou cuidadosamente.

Reflexivamente, Severus trouxe sua mão direita ao antebraço esquerdo. “Algum dia. Eu não sei totalmente como explicar a ele que um dia fiz parte da gangue seguidora do homem que matou seus pais e que o deixou cego. Não sei se ele será um dia capaz de me perdoar”.

"Sev, você era só uma criança quando isso aconteceu. E você largou tudo isso antes dos pais dele serem mortos. Tenho certeza que ele entenderá no final”.

"Se ele não entender... suponho então que eu mereça. Estou só tão cansado de me sentir assim. Tão cansado de estar sozinho.”

"Eu sei”, Draco disse ternamente. Terminou seu chá e foi ajudar Severus a colocar a louça na pia. “Foi legal conversar com você”.

"Não conversávamos muito, conversávamos? Eu queria saber como você estava e porque você estava pegando um emprego como esse no hospital. Você é muito mais talentoso que isso.”

"Olha quem fala”, Draco retrucou. “Estamos no mesmo barco, você sabe. Muito dinheiro pra saber o que fazer com ele e muito talento para desperdiçar com gente superficial que nunca apreciaria verdadeiramente a beleza de sua arte”.

Severus riu fracamente. “Que eloqüente colocação, Draco”.

"Aprendi com o melhor. Mas em resposta a sua pergunta... Eu estava entediado, nada mais que isso. Eu vou terminar nesta semana e então vou pegar outro emprego sem significado para gastar tempo. Eu realmente espero conhecer Harry algum dia”.

"Estou totalmente confiante de que você irá”, ele respondeu.

"E eu estou confiante de que ele o perdoará pelos seus pecados do passado. Todos nós os temos, Sev. Não podemos deixar o passado controlar nosso futuro, especialmente quando ele ameaça nossa felicidade”.

Severus abraçou Draco antes de guiá-lo até a porta. “Ligue-me com mais freqüência”, ele disse e deu um tapa leve em seu ombro.

"Vejo você amanhã”, Draco disse enquanto saía. “E pare de ter tanto medo”.

XxXx

Hermione estava sentado em frente ao seu computador tarde naquela noite. Estava entediada e sofrendo de insônia. Odiava as noites que Ron trabalhava sem ela e amava-o por ter se empregado no hospital só para passar mais tempo com ela.

Ron era ativo em esportes e fora difícil para ele ficar quieto na maior parte de sua adolescência. Quando Hermione adentrou no campo médico em tempo integral, deixou sua carreira ascender. Mas ao invés de Ron declarar que ela deveria escolher entre a carreira e ele, o garoto decidiu acompanhá-la na profissão, marcando um lugar em sua vida por ela.

Hermione estava navegando por manchetes velhas sobre Tom Riddle por volta do ano e do ano antes dos pais de Harry serem assassinados. Estava observando os membros de sua gangue que haviam sido absolvidos de seus crimes por terem dado-lhe as costas e vendido várias informações bastante importantes de membros da gangue. Estava para sair da página quando um artigo captou sua atenção.

Garoto de dez anos acusado de ser membro de gangue é inocentado hoje.


Severus Snape, um vândalo local foi considerado inocente hoje. Ele era o membro mais jovem da Gangue de Riddle e foi capaz de oferecer muitos nomes importantes ao Ministério em ajuda em suas buscas por Tom Riddle. Severus Snape será colocado voluntariamente numa instituição corretiva por seis meses enquanto completa um curso de controle de emoções. Estará residindo com um colega, Lucius Malfoy até que sua custódia possa ser estabelecida.


O pai de Severus, Gaius Snape foi declarado culpado por abuso infantil. Ele acertou um acordo com a corte e foi sentenciado a dez meses de aulas para pais, após as quais ele será reiterado da custódia de seu filho único.


Liana Snape não foi encontrada para comentários até o fechamento desta edição.

Hermione pousou uma mão em sua boca. “Severus?”, ela não acreditava em seus olhos. Leu e releu o artigo de cima a baixo. Recusava-se a acreditar que aquele homem gentil que lentamente estava trazendo Harry de dentro de sua armadura fazia parte da responsável pelo estado em que Harry se encontrava. “Tenho que falar com ele sobre isso”, ela disse em voz alta para si mesma. “E vou fazê-lo me contar a verdade”.

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