Capítulo 5 - A Verdade
Autor: Occasus
Nome Original: Cannon In D
Tradução: Mônica Beckman
Betagem: Anna Malfoy
Capítulo 05
A Verdade
Hermione sentou-se nervosamente à sua escrivaninha na manhã seguinte. Ela havia enfrentado um debate interior entre contar e não contar Ron, mas enfim, conhecendo o temperamento dele; ela decidiu esperar até ter a informação completa.
A pobre e fragilizada enfermeira estava dividia entre sua obrigação de manter Harry a salvo e o conhecimento de que Severus poderia ser o único a alcançá-lo. Ela havia visto mais progresso naqueles curtos meses que nos nove anos gastos nesse hospital com médicos especialistas e terapeutas.
“Além do mais”, Hermione sussurrou para ela mesma, “Tom Riddle está morto e Severus caiu fora da gangue muito antes de Riddle atacar Harry”.
“Falando sozinha?”, disse uma voz suave atrás dela.
Hermione se sobressaltou e corou furiosamente. Virou-se e viu Severus parado no marco da porta com um sorriso leve.
“Desculpe,” Hermione disse nervosamente. “Eu estava só absorta em pensamentos.”
Um lampejo de preocupação perpassou os traços de Severus. “Há algo errado? Você parece um pouco nervosa essa manhã.”
Hermione respirou fundo. Ela tinha que colocar tudo em pratos limpos. “Eu só... Bem, eu só queria conversar com você sobre algumas coisas. Você acha que poderia não almoçar com o Harry hoje e descer para aquele café comigo?”
Severus franziu o cenho, mas assentiu. “Não será um problema,” ele disse cautelosamente. “Mas tenho que dizer que você me preocupou.”
Hermione sorriu-lhe alentadora. “Não se preocupe. Eu só quero... esclarecer uma coisa com você.” Bom, não era uma mentira por inteiro.
“Tudo bem,” ele disse devagar. “Vou dizer ao Harry que eu tenho negócios a discutir. Tenho certeza que ele entenderá.”
Hermione sorriu. “Obrigada, Severus.” Ela o observou descer o corredor ao quarto de Harry.
Justamente quando ele entrou no quarto, ela ouviu a campainha tocar frente a porta. Desceu o corredor e abriu a janela para ver Draco parado ali parecendo um tanto impaciente. Riu quando abriu a porta para ele.
“Bom dia,” ele disse avidamente quando passou por ela. Ele parecia ser o tipo de empregado objetivo que gostava de fazer seu trabalho e cair fora. Ela divagava sobre o que teria acontecido se ela tivesse contratado-o primeiro, ao invés de Severus. Mas ainda assim, ela não se arrependia de suas decisões.
“Draco,” ela chamou suavemente.
“Sim?”, ele respondeu enquanto organizava seus instrumentos.
“Você disse que Severus é seu padrinho, certo?”
“Aham,” ele respondeu.
“Mas ele é somente dez anos mais velho que você. Ele era só um garoto quando você nasceu.” Ela estava correndo um grande risco com essa conversa, mas tinha de perguntar uma coisa ao homem.
“Meu pai o acolheu após um...”, ele se esquivou. “Após um período difícil da vida dele. Meu pai o ajudou a se transformar e a sossegar no caminho certo, se você quiser chamar assim. Digo, ele ainda era um encrenqueiro na escola, mas meu pai sempre conseguiu fazê-lo ficar na linha. Ele foi nomeado meu padrinho quando eu tinha seis anos.”
“Oh,” Hermione disse simplesmente.
“Por que?”, Draco perguntou, seus olhos cinzentos alfinetando-a, procurando a real razão por trás das perguntas. “Há algo que você queira saber?”
Hermione se remexeu desconfortável sobe seu intenso olhar. “Bem, sim, na verdade. Mas eu achei que seria melhor perguntar a ele mesmo.”
Draco mordeu seu lábio inferior. “Então... Eu imagino que você já sabe, certo?”
Hermione corou, raivosa de ser tão transparente. “Bom, eu... Eu descobri pela internet. De um arquivo de jornais e... isso me preocupou.”
“Eles escreveram algo sobre Sirius no jornal?”, ele perguntou, o choque aparente em seu rosto.
Draco calou a boca rapidamente. “Você não estava falando de Black, estava?”
Hermione balançou a cabeça. “Não. Mas eu conheço Sirius Black. Ele era o padrinho de Harry, mas morreu há uns anos atrás. Harry o viu apenas algumas vezes, mas creio que sua morte o afetou, de qualquer forma. Mas como raios Sirius e Severus estão ligados um ao outro?”
Draco desviou o olhar para baixo. “Eu realmente não posso contar. Estou realmente me sentindo culpado de ter aberto minha boca grande em primeiro lugar. Sinto muito mesmo, Hermione, mas você vai ter que perguntar pro Sev”.
Hermione franziu o cenho. “Eu vou, acredite. É que tudo isso está ficando estranho demais.” Ela deu meia-volta e foi de volta ao balcão das enfermeiras para trabalhar com alguma papelada. Ela estava oficialmente receosa em relação a Harry, agora. Ela não iria deixar ninguém, em tributo de Tom Riddle, brincar com a vida de Harry. O progresso que se danasse.
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Severus percebeu como Hermione estava nervosa ao entrarem no café. Ele escolhera uma mesa bem aos fundos onde não poderiam ser reconhecidos ou incomodados. Estava claro que a jovem mulher tinha muita coisa na cabeça e a maioria, ele opinou, o envolvia.
Ele gastara grande parte da noite divagando sobre contar a Hermione a verdade sobre seu passado, e chegou à conclusão que era hora de contar nesse espaço de tempo que tinham juntos. Ele não estava pronto para contar a Harry e sabia que Harry não estava pronto para ouvi-lo. Ele estaria, mas levaria um tempo.
Severus esperou até a garçonete trazer suas bebidas e sanduíches antes de se aproximar do assunto.
“Eu percebi que você tem algo preocupando muito sua mente,” ele disse, cauteloso. Não queria dar um passo maior do que as pernas. “E pressinto que tem algo a ver comigo.”
Hermione mordeu seu sanduíche e o encarou. Seu olhar era levemente frio e agudo, fazendo Severus se sentir um pouco amedrontado. Finalmente, depois de tomar um gole de sua bebida, ela respondeu.
“Sim, eu tenho um problema e ele realmente te envolve.” Ela meteu a mão no bolso e tirou um pedaço do que parecia ser um papel impresso. Ela o empurrou através da mesa e esperou que ele o abrisse.
Ele o abriu e quando viu o que estava impresso, deixou escapar um suspiro lento. Não confiava em si próprio para falar assim, tão diretamente, então ele simplesmente olhou dentro de seus olhos castanhos e acusadores, procurando um pouco de compreensão.
“Hermione,” ele disse finalmente, quase implorando. “Não sei mesmo como explicar tudo isso a você”.
“Comece do começo,” ela disse afiada. “Porque eu quero saber a verdade toda”.
Severus assentiu. Ele esperava ao menos isso. Falar de seu passado seria doloroso, mas necessário. Ele precisava da confiança dessa mulher e pretendia ganhá-la.
“Eu fazia parte da gangue do Riddle,” ele começou devagar e suave. “Eu tinha cerca de oito anos quando ingressei. Eu era o membro mais jovem e isso era bom pra eles porque todo mundo fazia vista grossa. Riddle me encontrou um dia vagando pelas ruas de Londres. Eu tive de fugir porque meu pai era o que se podia chamar de abusivo e gostava de beber um tanto quanto demais”.
“Bem, Riddle me viu como uma oportunidade e me deixou entrar. Ele curou minhas feridas e ganhou minha confiança me mostrando que ele poderia cuidar de mim como meu pai nunca tinha feito. Na época dos meus nove anos eu já carregava a marca e participei do meu primeiro ataque”.
“Ataque?”, Hermione perguntou em tom silencioso.
“Riddle e alguns de seus mais fiéis seguidores encontrariam mulheres jovens, prostitutas em sua maioria e a encurralariam. Eles a estuprariam e a espancariam. Geralmente a assaltavam também e algumas vezes a matavam. Lembre-se, eu era muito novo para participar dos estupros e quando eu vi o que eles faziam eu estava mais que chocado. Mas eu estava enterrado até o pescoço pra conseguir sair”. Ele respirou fundo e tomou um pequeno gole d’água.
“Eu não tenho orgulho algum das coisas que fiz e tenho que viver com isso pelo resto da minha vida. Sei disso e não me sinto bem de ter sido absolvido só por ser uma criança e ter deixado escapar alguns nomes. Mas sou agradecido de ter tido a chance de tentar apaziguar meus delitos anteriores, e eu asseguro a você, fazia tempo que eu tinha saído da gangue quando os pais de Harry foram mortos. Eu sei que Riddle começou a se esconder depois de tê-los matado, já que James era um importante oficial do Ministério e Lily era sua esposa. Eu tentei ajudar as autoridades a encontrá-lo, mas enfim, eles pararam de procurar.”
“Eu não sei por que foi atrás do Harry depois de todos esses anos e posso apenas especular que ele pensou que Harry poderia reconhecê-lo mesmo que fosse só um bebê na época que seus pais morreram. O homem era um completo insano e eu não tentaria compreendê-lo”.
Severus esperou com a respiração difícil pela reação de Hermione.
Hermione ficou quieta por um tempo, absorvendo tudo. Seus grandes olhos castanhos procuraram o rosto do homem em busca de alguma dica que ele estava sendo totalmente honesto. “Quero ver a marca,” ela disse finalmente. “Ouvi falar dela, mas não sei exatamente como é”.
Severus assentiu, mal-humorado. Ele desabotoou devagar a manga de sua camisa e a enrolou. Virando para sua direita, ele mostrou seu antebraço para que ela o visse.
Hermione se inclinou sobre a mesa para ter uma visão melhor. Ela sufocou um grito quando viu a marca. Era uma cicatriz enraizada de uma cobra e um crânio. Parecia ter sido escavada e escavada na pele várias vezes.
Ela encostou-se à cadeira e tomou um longo gole d’água. “Você tinha nove anos quando ganhou isso?”
“Sim,” ele disse suavemente, puxando a manga de volta para baixo.
“Como eles fizeram isso?”, ela perguntou de olhos arregalados.
“Eles usaram uma navalha afiada para desenhar na minha pele. Então, após uma certa cicatrização, usavam um punhal mais grosso para redesenhar. Eles faziam e faziam por um período de dois meses, até estar satisfatório aos olhos de Riddle”.
“Deve ter sido horrível,” ela disse suavemente.
“Já senti dores piores,” ele respondeu honestamente.
“Você era mesmo uma criança, não era?”, ela disse subitamente, agora acreditando completamente.
Severus assentiu tristemente. “Eu era mesmo. O Maníaco desgraçado tomou vantagem de uma criança que sofreu abuso e a transformou em um monstro. Levei muito tempo para deixar de pensar isso de mim”.
Hermione suspirou infeliz. “Severus, eu não pretendia atacá-lo assim. Mas você tem que entender como eu me senti quando encontrei este artigo. Então houve uma coisa que Draco disse hoje de manhã que me fez temê-lo, e temer por Harry”.
“O que Draco disse?”, Severus inquiriu brandamente.
“Bem,” Hermione disse corando um pouco, “Eu comecei a perguntar coisas a ele, pra saber quanto ele sabia. Mas eu pensei que ele estava falando sobre...”, ela se esquivou. Não havia perguntado sobre Black ainda. “Parecia que você tinha muitas conexões, muitas coincidências com Harry e isso me deixou nervosa”.
“O que você quer dizer?”, Severus pressionou, sentindo que havia mais no caminho.
“Aparentemente você tem uma ligação com o padrinho de Harry, Sirius Black”, ela disse diretamente.
À menção de Black, Severus escondeu seu rosto nas mãos e suspirou profundamente. “O padrinho de Harry?”, ele perguntou por entre seus dedos.
“Sim,” Hermione disse. “Draco pensou que eu estava falando dele, não de Riddle, por isso ele deixou isso escapar. Mas ele não sabia que Black era padrinho de Harry. Ele disse que eu teria de perguntar a você. Então estou perguntando”.
Quando Severus descobriu o rosto, Hermione se surpreendeu em ver seus olhos negros brilhando com lágrimas contidas. Ele tremeu ao respirar e tomou um longo gole de sua água.
“Sirius… Ele era mais velho que eu e já era formado. Era inimigo do pai de Draco. Lucius Malfoy sempre foi mais que um pai pra mim e quando eu fui visitá-lo, Lucius e eu nos encontramos com Black. Eles tinham negócios que pareciam com amizade e eu fui meio que tragado pela sua presença. Eu fiz disso um pretexto para falar e um dia eu reuni a coragem para chamá-lo para sair”, ele tomou mais um gole de sua bebida antes de continuar.
“Black e eu estávamos apaixonados... Ou ao menos, ele estava. Eu estava ainda muito mergulhado no meu próprio desespero e minha auto-comiseração para que eu o pudesse provir do que ele queria. Eu ainda pensava em mim como um monstro incapaz de amar e de ser amado. Mas ao invés de fazê-lo entender isso, eu o deixei. Black já era uma pessoa fraca, controlado pelas emoções e quando eu o deixei, ele se matou”. Severus deixou uma lágrima solitária correr pela maçã de seu rosto enquanto ele encarava a mesa. “Eu ainda estou tentando fugir do meu passado, mas...”, ele ergueu os olhos para Hermione com olhos imploradores. “Estou apaixonado por Harry. Estou apaixonado pelo que ele é e pelo que ele pode ser. Mas estou com medo. Porque quando eu contar a ele a verdade, pode ser que ele não me perdoe. Pode ser que ele não seja capaz de ver além do sangue em minhas mãos. Já que eu matei aquelas mulheres, no meu passado e fui eu quem puxou o gatilho da arma que Severus encostou na sua têmpora”.
Hermione não sabia mesmo como agir. Ele estava à beira das lágrimas e queria abraçar este homem. Em vez disso, ela colocou devagar e olhou profundamente dentro daqueles olhos de ônix. “Harry não vai reagir do modo que você teme que ele aja. Eu não sei porque penso isso, mas eu tenho certeza. Não recomendo que você conte a ele agora, mas quando fizer, ele entenderá. Apenas conte aos poucos, seja gentil e entregue a informação devagar”.
“Mas... Sirius era seu padrinho,” Severus sussurrou. “Eu fui ruim o suficiente pra fazer meu último namorado se suicidar. Agora eu descubro que eu levei embora o último pedacinho de família que o homem que eu amo tinha. Como posso continuar meu relacionamento com Harry?”
Hermione sorriu um sorriso pequeno, mas gentil. “Porque você é teimoso e você ama Harry. Ele ainda amará você, Severus. Confie nisso”.
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