Capítulo 3 - Música

Capítulo 3 - Música



Autor: Occasus

Nome Original: Cannon In D

Tradução: G.W.M.

Betagem: Anna Malfoy

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Severus voltou ao hospital naquela noite, logo após os horários de visita. Ele passara no restaurante indiano local para comprar alguma comida para Harry e ele. Hermione lhe dera o código da porta eletrônica então ele pôde entrar sem ter de esperar que Rony ou a enfermeira assistente a abrissem.

Descendo o corredor, ele parou em frente à porta de Harry e bateu duas vezes. Ele esperou por um momento e entrou. O quarto estava completamente escuro e Severus imaginou se o garoto estava dormindo. Então ele percebeu que Harry dificilmente precisava de alguma luz acesa, uma vez que era totalmente cego. Ele procurou o interruptor, tateando, e piscou quando a luz acendeu.

Harry estava sentado na poltrona próxima à janela, em expectativa. Ele deu a sombra de um sorriso quando Severus entrou.

“Noite, Harry”, ele disse jovialmente. “Eu trouxe comida para viagem para nós, já que Hermione me disse que você gostava de comida do Oriente Médio”. Ele pôs a sacola de papel na escrivaninha e retirou as caixas de espuma de plástico cheias de verduras, frango e cuscuz. “Eu espero que você esteja com fome porque as porções são grandes”. Ele preparou dois pratos e pôs um deles no colo de Harry.

O homem de cabelos negros comeu contentemente por um tempo, eventualmente dando goles na Coca para viagem que Severus lhe trouxera. Severus também comeu, mas ele estava ansioso demais para sentir muita fome.

Quando pareceu que Harry havia comido sua porção, Severus apanhou o lixo e o pôs de volta na sacola de papel. Ele levara sua cadeira tão para perto de Harry que, quando se sentou, seus joelhos se tocavam. Ele não queria forçar contato com ele, mas ele percebera que um pouco de contato leve faria Harry se sentir mais confortável e aberto.

“Você gostaria de conversar? Ou você gostaria de ler o livro?”.

Harry se reclinou, seu olhar sem visão na parede atrás de Severus e ele deu um pequeno muxoxo.

“Eu posso contar mais de mim, se você quiser”, disse Severus.

A sombra de um sorriso tocou seus lábios novamente e ele deu um leve aceno.

“Bem, eu tenho trinta e um anos. Eu sei que sou dez anos mais velho que você. Eu me formei na Universidade e eu moro descendo a rua. Eu viajei pela Europa e pelos Estados Unidos por uma temporada, mas depois de um tempo comecei a achar entediante. Eu pinto alguma coisa. Já vendi várias pinturas e eu sou repulsivamente rico para alguém tão jovem”. Ele inspirou antes de continuar. Harry parecia estar escutando com atenção enlevada.

“Eu tive uma infância um tanto quanto desagradável. Eu sofri nas mãos do meu pai. Caí em um grupo ruim de crianças na escola e nós causamos muitos problemas. Eu achei meu caminho antes que fosse muito tarde. A maior parte daquele grupo parou na prisão por um bom tempo. Meu pai e minha mãe morreram quando eu tinha dezesseis anos. Eu fiquei em um orfanato, mas apenas por um ano. Estou feliz agora, de um modo geral. Mas devo dizer que eu era um tanto quanto solitário e amargo antes de te conhecer. Apenas aceitei esse trabalho porque eu queria manter meus pensamentos longe de mim mesmo. Mas nunca fiquei tão satisfeito com uma decisão que eu tomei quanto com essa”.

Harry lhe sorriu novamente, mas dessa vez manteve o sorriso por um pouco mais de tempo.

“Gosto quando você sorri para mim”, Severus disse. “Eu sorrio muito quando estou com você”.

Subitamente, Harry cuidadosamente se inclinou para frente e estendeu sua mão. Ele a levou ao rosto de Severus e traçou seus lábios com as pontas de seus dedos.

Severus sugou ar, inspirando, seu rosto formigando com o toque gentil, mas permitiu que o jovem continuasse a explorar.

Harry correu as pontas de seus dedos ao longo de seu maxilar e cabelo. Ele traçou o nariz de Severus e as sobrancelhas antes de retornar à sua posição original.

“Eu sou um morcego velho e feio, não sou?”, ele disse baixinho. Sua mente estava rodopiando com que o acontecera, mas ele queria manter o humor leve.

Harry franziu a testa e lhe deu um aceno severo com a cabeça. Ele pôs novamente sua mão sobre a bochecha de Severus e a acariciou com seu polegar.

Severus cobriu a mão de Harry com a sua, desejando apertar o garoto em um abraço. Mas ele sabia que era muito cedo para isso. Deuses, mas ele estava se apaixonando por esse homem, e ele não sabia como seria a vida se ele não pudesse tê-lo no fim.

Severus quebrou o contato primeiro, se inclinando para apanhar o livro que ele trouxera. “Você gostaria de ler comigo agora?” Ele perguntou.

Harry deu de ombros.

“Nós podemos ficar mais confortáveis se sentarmos lado a lado na sua cama”, ele sugeriu cuidadosamente. Ele tinha medo de pressionar.

Harry foi o primeiro a se erguer. Ele caminhou até a cama e sentou-se contra a parede. Severus esperou por um momento antes de ir para perto dele. Ele abriu o livro na primeira página. Assim que abriu a boca para começar a sentença, ele sentiu Harry aconchegar-se contra si levemente.

“Dominique Legard era um jovem homem, e ele estava feliz com sua vida. De qualquer forma, no momento”, ele leu. “Ele se alegrava com a mais simples das coisas, mas a única coisa que ele amava acima de tudo era a chuva...”.

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Severus não partiu antes que Harry estivesse profundamente adormecido. Ele arrumou a bagunça o mais silenciosamente possível, deixando o livro na estante vazia. Enquanto ele saía, foi atingido por um pensamento. Ele queria deixar a Harry um bilhete e lembrou-se de que Harry já lera Braille em sua vida.

Ele foi até o balcão das enfermeiras e viu um garoto roliço, de rosto redondo sentado atrás da escrivaninha.

“Olá”, Severus disse gentilmente.

O garoto pulou em seu assento e olhou de modo encabulado para Severus. “Desculpe, você me assustou. Eu sou novo aqui e ainda estou aprendendo algumas coisas”.

Severus assentiu em compreensão. “Você tem uma máquina de escrever Braille aqui?”.

O garoto assentiu. “Logo ali”, ele disse, apontando para uma escrivaninha coberta de poeira. “Não acho que ela seja muito usada”.

Severus foi até ela e ligou-a. Ali havia as finas folhas de papel usadas para imprimir em Braille e ele inseriu uma na geringonça. Lentamente, ele digitou uma mensagem curta para Harry ler pela manhã.

Harry,

Eu gostei de ler com você. Uma vez que não trabalho mais aqui, eu passarei mais tempo em sua companhia. Espero que você sinta-se bem quanto isso. Eu estarei aí pela manhã, para aproveitar o café da manhã com você.

Com amor,

Severus Snape

Severus voltou ao quarto de Harry e deixou a mensagem em sua escrivaninha para que ele a encontrasse. Fechando a porta atrás de si, ele saiu do hospital e chamou um táxi. Severus dormiu melhor do que nunca naquela noite. E Harry estava em seus sonhos.

Na manhã seguinte, Severus caminhava com um novo ímpeto em seus passos. Estava esfriando, então ele vestiu calças grossas e um blusão de lã grossa.

Severus estava quase cruzando a porta quando o estojo do violino chamou sua atenção. Com uma mudança de opinião, ele o apanhou e o levou para o hospital. Ele não estava certo se Harry gostaria de ouvir sua música, mas valia a tentativa.

Ele chegou ao hospital assim que a bandeja com o café da manhã chegara. Severus sorriu para Hermione enquanto ela lhe presenteava com a bandeja.

“Eu posso assumir que a última noite correu bem?”, ela disse com um largo sorriso.

Severus lhe deu um pequeno muxoxo. “Bem o suficiente”.

Ela percebeu o estojo do violino pendendo de seus dedos. “Ele sempre amou cordas”, ela disse gentilmente. “Você toca há muito tempo?”.

“Tempo suficiente”, ele respondeu. Ele foi até a porta, deu as suas usuais duas batidas e entrou.

Harry estava sentado em sua cadeira usual apertando algo com força em sua mão. O homem tinha uma expressão estranha em seu rosto, uma que Severus não havia visto antes. Então ele percebeu... Suas bochechas estavam molhadas. Harry estava chorando.

Severus deixou a bandeja e o violino de lado e se ajoelhou em frente a Harry. “Bom dia, Harry”, ele disse gentil, mas apressadamente. “Você está bem?”.

Harry assentiu lentamente. Ele estendeu a mão e tocou o rosto de Severus muito delicadamente.

“Você... Você conseguiu ler a carta que eu lhe deixei?”.

Com essas palavras, Harry piscou, libertando mais lágrimas. Ele fez um barulho estrangulado e passou os braços ao redor do pescoço de Severus. Esse era o momento que Severus aguardava desde que conhecera Harry. Ele o abraçou apertado, acariciando seus cabelos negros e sussurrando bobagens confortantes em sua orelha.

Após um momento, Harry se afastou, usando as costas das mãos para enxugar as lágrimas. Seus olhos estavam arregalados e o verde estava mais brilhante do que nunca. Severus acariciou suas bochechas levemente enquanto olhava seu rosto inocente.

“Harry, havia algo errado com a carta?”.

Harry balançou a cabeça severamente. Severus suspirou, “Fico feliz que você pôde lê-la. Eu lhe trouxe o café da manhã. Você pode comê-lo se estiver com fome”.Ele empurrou a bandeja em direção a Harry.

“Eu também trouxe algo mais. É um violino. Hermione disse que você gosta de música de cordas e eu achei que você gostaria de me ouvir tocar”.

Harry deu uma lenta piscada enquanto começava a comer.

Severus retirou o instrumento de seu estojo e correu o arco pelas cordas. Ele tremeu levemente enquanto o som vibrava pelo aposento. Ele decidiu tocar uma de suas composições originais, uma que ele compusera enquanto viajava pelo país. Era sobre solidão e angústia enquanto ele procurava por beleza no mundo. No fim, Severus encontrara a beleza na arte, na natureza. Mas isso não preenchera o buraco que ele tinha em seu íntimo. O buraco causado pelo conhecimento de que ele poderia nunca encontrar sua alma gêmea.

Ele pousou o arco sobre as cordas e começou a tocar. Ele se sentiu um pouco consciente de si mesmo no começo, então as notas eram tensas. Ele não tivera uma audiência por um tempo e agora sua audiência era um homem cego e mudo que estava lentamente emergindo de sua concha, o que ainda o deixava nervoso.

Finalmente, as notas começaram a fluir de sua alma e para seus dedos. Elas voavam através das cordas enquanto ele se balançava para frente e para trás de emoção. A música sempre o fazia ansiar pelo que não podia ter, mas ele tinha orgulho dela. Não era sempre que ele conseguia se expressar fora de suas pinturas, e Harry nunca conseguiria vê-las. Ele queria dividir um pouco de si mesmo com aquele homem.

A música terminou abruptamente e Severus deixou o violino atravessado em seu estojo. Ele olhou para Harry, cujo rosto estava desprovido de emoções como sempre. Ele não esperava muito do homem, mas esperou que esse não fosse um gesto negativo.

Severus sentou-se próximo a Harry. “Eu mesmo escrevi essa música”, ele disse, sentindo-se começar a tagarelar. “Escrevi-a enquanto estava viajando pelo país. É sobre procurar beleza no mundo e encontrá-la, apenas para perceber que ela não preenche o buraco em meu íntimo onde minha alma gêmea estaria. É sobre solidão”. Ele inspirou profundamente e esperou por alguma resposta.

Harry permaneceu quieto por um tempo. Lentamente, ele pousou seu garfo no prato e estendeu sua mão. Severus não sabia como interpretar aquele gesto. Ele não estava certo do que Harry queria.

“Harry, eu não compreendo o que você quer”, ele disse em um tom desamparado. Ele olhou ao seu redor e então percebeu. “Você quer segurar o violino?”.

Harry assentiu lentamente. Severus deu um sorriso largo e puxou o violino para seu colo. Ele moveu sua cadeira para tão perto de Harry que seus joelhos se tocavam. Ele pôs o instrumento no colo de Harry e guiou sua mão ao redor desse.

“Essas são as cravelhas”, ele disse enquanto o jovem apalpava as protuberâncias no topo do instrumento. “Elas ajustam as cordas para mantê-las afinadas”. Ele correu a mão de Harry ao longo das cordas. Então ele tomou os dedos de Harry e pôs um sobre cada corda. Ele deixou Harry explorar sozinho por um momento.

O jovem sentiu o violino por vários momentos antes de estendê-lo de volta para Severus. Severus, por sua vez, o pôs de volta em seu estojo e pôs o arco ao lado desse.

“Você gostou de me ouvir tocar?”. Piscada lenta. Harry voltou a comer. “Você sabe que eles me demitiram das pinturas aqui”, ele disse com uma risada. “Porque eu passava muito tempo com você. Eu não me importo, sabe, eu não preciso do dinheiro”.

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E assim foram as três semanas seguintes. Severus vinha e lia para Harry. Ele tocava o violino e falava sobre si mesmo. Ele preferiu deixar de fora detalhes de sua vida, ao menos os piores detalhes, até que Harry pudesse lhe responder com mais que apenas uma piscada lenta ou um assentimento. Ele temia contar ao homem sobre seu passado sujo, mas ele queria que Harry soubesse de tudo.

Enquanto o inverno se aproximava com uma velocidade constante, Severus começava a sentir que Hogwarts não era o melhor para Harry. Ele decidiu procurar como poderia removê-lo dos cuidados dos médicos e talvez mantê-lo em seu flat.

Ele sabia que ainda era cedo demais para isso, mas Harry parecia ter atingido um patamar com ele. Ele não estava voltando a sua concha, mas ele não estava saindo mais dela.

Uma manhã, ele chegou um pouco mais cedo. Ele queria falar com Hermione ou Rony sobre talvez sair com Harry por um dia. Nos meses que ele passara com Harry no hospital eles não haviam saído uma vez sequer.

Quando Severus adentrou o hospital, ele sentiu o cheiro familiar de tinta. Ele sorriu para si mesmo ao perceber que eles finalmente haviam contratado alguém para substituí-lo. Tinha de admitir que um aposento pintado pela metade era pior do que as paredes totalmente brancas que estavam ali antes.

Ele esquadrinhou o aposento, da porta, tentando ver quem era o novo artista e se perguntou se o conheceria. Ele se deparou com um homem alto, de cabelo loiro, quase branco, e traços afiados. Ele ofegou ao reconhecer ninguém menos que seu afilhado, Draco Malfoy.

Draco voltou-se quando ouviu um ofegar e sorriu quando viu Severus. Ele deu uma risadinha e foi cumprimentar o homem. “Severus”, ele disse, estendendo a mão.

Severus deu um sorriso enquanto apertava a mão de Draco. “Deuses, há quanto tempo, garoto!”.

Draco assentiu, “Sim, faz um longo tempo”.

“O quê, posso perguntar, você faz aqui, trabalhando nesse emprego?”.

Draco deu um sorriso largo. “Na verdade, eu não sei. Eu vi o anúncio no jornal e achei que devia dar uma olhada. Eu estava perguntando à enfermeira sobre o pintor anterior e me ofereci para vir dar uma olhada. Eu sabia que você vivia aqui perto e assim que vi a maldita cena da floresta, cheia de natureza e todas essas bobagens, eu soube que tinha de ser meu padrinho”.

Severus lhe deu um tapinha brincalhão no ombro. “Oh. E ainda assim, você achou adequado aceitar o emprego sem me ligar?”.

Draco deu de ombros, “Achei melhor lhe surpreender”.

“Bem, você certamente o fez”.

“Eu tenho de confessar. Deixei meu segredinho escapar para aquela enfermeira, Hermione. Lhe disse quem eu era e quem você era. Ela me contou um segredinho dela”. Draco ergueu as sobrancelhas.

Severus sentiu seu rosto ruborizar. “Não me venha com isso. Essa é na verdade uma questão delicada. Esse homem é tão... Bem, não há realmente palavras para o que ele é”.

“Você está apaixonado”, Draco disse alegremente.

“Eu não iria tão longe”, Severus disse, mas seus olhos o traíam. “Talvez você o conheça em breve. Mas eu não criaria muitas expectativas sobre isso”.

Draco assentiu enquanto um sorriso triste suavizou suas feições afiadas. “Hermione me explicou a maior parte disso. É uma vergonha, realmente”.

Severus suspirou. “Eu não sei como ajudá-lo, sabe? Quero dizer, eu faço o que posso, toco meu violino e nós lemos e eu falo... Mas ele está enterrado tão no fundo de sua mente que eu realmente não sei se conseguirei alcançá-lo totalmente”.

“Isso importa?”, Draco perguntou, a testa franzida. “Você realmente se importa se não conseguir alcançá-lo totalmente?”.

Severus olhou para o teto. “Não”.

Draco lhe deu um tapinha amigável no ombro. “Bom. Agora saia, porque eu tenho que terminar esse trabalho patético e pela metade em duas semanas”.

“Por quê nós não saímos hoje à noite?” Severus disse subitamente. “Faz muito tempo, e eu realmente gostaria de recuperar o tempo perdido”.

Draco sorriu em concordância. “Meu pai está na cidade e eu prometi jantar com ele, mas eu poderia passar em seu flat depois”.

“Ótimo”, Severus disse. “Te vejo mais tarde. Me ligue no celular se eu não estiver lá”.

“E onde você estaria?”, ele perguntou com um sorriso.

“Aqui”, o homem mais velho respondeu. Severus lhe deu mais um sorriso antes de caminhar pela porta até o balcão das enfermeiras. Hermione estava sentada atrás da escrivaninha, totalmente imersa em papéis.

Ela não olhou para cima até Severus limpar a garganta. “Oh”, ela disse, com um leve rubor. “Desculpe, estou tão atolada. Meus superiores e os médicos querem isso pronto antes dos feriados assim eles podem concentrar-se em suas famílias. Eu, no entanto, estarei aqui no Natal. Assim como todos os anos”.

Severus franziu a testa. “Sua família não sente sua falta?”.

Hermione deu de ombros, “Nós não nos vemos muito. Mas Rony estará aqui comigo, então não estarei sozinha”.

“E eu estarei aqui”, Severus disse gentilmente. “Nós podemos ter um bom dia”.

Hermione sorriu largamente. “Parece perfeitamente adorável. Agora, sem querer ser rude, mas você precisa de algo?”.

“Eu só queria conversar com você sobre sair com Harry. Eu venho aqui há meses, e até agora nós não saímos sequer para uma rápida caminhada”.

Hermione olhou para baixo. “Algumas das enfermeiras e médicos costumavam forçar Harry a sair quando ele era mais jovem. Eu acho que isso o traumatizou um pouco, então nós nem tentamos mais”.

Severus gemeu, “Isso nunca acaba para ele, acaba?”.

Hermione deu de ombros, “Bem, não até você aparecer”.

“Estaria tudo bem se eu tentasse levá-lo para fora? Eu não irei pressionar, disso você pode ter certeza. Mas eu acho que seria benéfico a ele se ele pudesse tomar ar fresco”.

“Sem problemas. Há um pequeno jardim nos fundos onde vocês podem ir. Harry tem alguns abrigos em suas gavetas. Isso deve mantê-lo quente o suficiente. A porta é descendo o último corredor e você só precisa da senha para entrar e sair”.

“Maravilha”, Severus disse. Ele voltou-se e desceu o corredor para o quarto de Harry. Ele deu suas duas batidas precisas e entrou.

Harry estava esparramado em sua cama, ainda semiadormecido. Ele sorriu quando Severus entrou, mas não fez um movimento sequer para levantar-se. Severus deu uma risadinha e ajoelhou-se ao lado de sua cabeça.

“Eu vejo alguém dormindo até mais tarde essa manhã? Sortudo”.

Harry lhe ofereceu um doce sorriso.

Severus afastou mechas de cabelo da testa do homem. “Bem, eles contrataram um novo pintor finalmente”, ele disse com uma pequena risada. “E acontece que ele é meu afilhado Draco. Na verdade foi uma coincidência, mas eu fico feliz que eles tenham contratado alguém que possa fazer jus ao meu trabalho”.

Harry mexeu-se levemente para o lado, a fim de abrir espaço para que Severus se deitasse ao lado dele. Severus foi para a cama cuidadosamente. Ele se certificou de deixar um pequeno espaço entre ele e Harry. O garoto ainda era facilmente esmagado por contato demais, mesmo que houvesse permitido que Severus deitasse em sua cama com ele.

Severus pôs um braço atrás de sua cabeça e sorriu quando sentiu Harry unir sua mão à dele. “Eu espero que um dia você queira conhecer Draco. Se isso fosse há cinco anos, eu quereria manter vocês dois o mais longe um do outro possível, mas agora... Bem, Draco não é um garoto ruim. Teve sua cota de estupidez, mas que típico adolescente não tem?” Bem, Harry não tivera, mas ele provavelmente estava o mais longe possível de típico, ele pensou.

“Eu falei com Hermione alguns minutos atrás. Ela me disse que eles têm um adorável e pequeno jardim nos fundos e eu achei que você pudesse querer sair comigo para uma caminhada rápida”.

Ele sentiu se enrijecer levemente.

“Oh, nós não precisamos ir”, Severus disse rapidamente. “Está um tanto frio lá fora e eu não quero que você fique doente. Eu sei que você não conhece o exterior de Hogwarts tanto quanto o interior, mas eu estaria logo ao seu lado. Só me deixa saber, ok? Nós faremos isso quando você quiser”.

Harry se sentou e correu sua mão ao longo da bochecha de Severus. O homem mais velho deu um ofegar inaudível. Todas as vezes que esse homem o tocava, seu rosto formigava e ele tinha uma ânsia por passar seus braços ao redor dele e apertá-lo contra seu peito. Mas ele nunca o fazia. Harry apenas permitira um punhado de abraços e Severus se recusava a ultrapassar qualquer limite com esse homem.

Em vez disso, Severus pôs sua mão sobre a de Harry e a apertou levemente. “Devo pegar um livro? Ou você preferiria que eu tocasse algo para você?”.

Harry balançou a cabeça para ambas. Ele se moveu para se levantar e Severus saiu de seu caminho. Ele assistiu o garoto ir até seu guarda-roupa e pegou um abrigo de lã grossa e o pôs pela cabeça. O garoto lhe deu um fraco, mas quase atrevido sorriso.

“Então você quer sair?” Severus perguntou gentilmente.

Harry deu de ombros. Então, ele apanhou um par de meias de lã e as vestiu. Ele encontrou seus chinelos com sola de borracha e os pôs em seus pés.

Severus deu uma risadinha. “Tudo bem então. Vamos”. Ele ofereceu seu braço e Harry o aceitou. Suspirando interiormente, ele estava exultante. Esse era outro passo e abastecia sua necessidade de fazer seu o garoto perdido.

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