Capítulo 3
- Ei, psiu, Srta... – Ginny chamou a enfermeira que entrava no quarto, dando uma pequena olhada em seu crachá. – Johnson! Srta. Johnson!
- Sim, senhorita?
- Vem aqui só um instante – pediu, apontando o canto do quarto. Viu que Harry não estava entendendo nada, mas o deixou assim. A mulher obedeceu. – Ele ontem lembrou de alguns detalhes de sua vida, falando até de uma inimizade que teve nos tempos de Hogwarts. Será que isso é um sinal?
- Podem ser várias coisas. Tanto um sinal como não – a enfermeira disse e Ginny franziu as sobrancelhas. – Entenda, a recuperação dele tem que ser natural, ninguém pode pressioná-lo a lembrar das coisas. Assim ele só ficará aqui por mais tempo. Nós até suspendemos os feitiços, mas ele ainda está em observação. Se até semana que vem não recobrar a memória, voltará para casa, talvez lá ele relembre quem é.
- Ah... Então é normal ele não lembrar da própria namorada?
- Há pacientes que não se recordam nem dos pais.
Ginny suspirou, afastando-se da enfermeira e sentando-se novamente ao lado de Harry, que a olhou na expectativa. Já era o segundo dia que ficava tomando conta do namorado, e nem ao menos tinha telefonado para Williams avisando que ficaria no St. Mungus, no dia anterior. Quem sabe aquele chato entendesse e não reclamasse assim que ela voltasse.
- E então? – perguntou ele, atraindo a atenção de Ginny.
- Nada. Quero dizer, talvez ainda demore uma semana para você recobrar a memória, de acordo com a enfermeira. – Omitiu alguns fatos. – Se até semana que vem não acontecer nada, você vai para casa.
- Eu espero que tenha minha memória de volta! Ficar com certos “vazios” é muito esquisito! – disse, apontando a cabeça. – É... Ginny...
- Sim?
- Obrigado. Por tudo mesmo.
- Não há de quê. Você é meu namorado, Harry, lembrando-se ou não – brincou, e ambos riram.
De repente, Ginny deu um salto da poltrona em que se encontrava, tirando o celular imediatamente do bolso, e este estava vibrando.
- Alô?
- Hmm, Weasley? – perguntou uma voz arrastada do outro lado da linha.
- O quê? Malfoy? – Harry a olhou curioso. Ela fez que já voltaria e foi para perto da janelinha do quarto.
- Em pessoa. Considere-se com sorte por ter um telefonema de Draco Malfoy. Bem, não liguei para falar de mim. – Ele suspirou. – Você ontem deixou a Mansão sem mais explicações, mas tudo bem, eu entendi que o seu namoradinho sofreu um acidente. Quando você está disponível?
- Eu? Ah... Hoje eu não estou, vou ficar o dia inteiro aqui, no hospital. Segunda-feira está bom, Sr. Malfoy?
- Por mim, tudo bem – respondeu com descaso. – Então nos vemos segunda. – Desligou o telefone sem esperar por mais.
- Mal-educado! – resmungou Ginny para si mesma, fechando o celular. Não entendia como ele funcionara dentro do St. Mungus, mas era uma sorte que fosse assim.
- Mal-educado? Quem? – meteu-se Harry, curioso como estava nos últimos dias.
- Quem mais poderia ser? Malfoy, é claro. E eu que tinha pensado que ele criara juízo!
- Típico. Mas, agora que está mais rico que antes, era de se esperar que ficasse com essa soberba! – falou de um modo que, se estivesse normal, usaria, arregalando os olhos logo em seguida. Ginny imitou esse gesto.
- O quê? Harry, você está falando como... Harry! – Abraçou-o, tamanha sua felicidade. – Será que está lembrando de mais alguma coisa?
- Não sei... Só sei que uma raiva repentina do Malfoy e essa informação chegaram ao meu cérebro. Nada mais.
- Ah. Bem... Aos poucos você lembra. Mas não pense que eu estou te pressionando!
- Espero que não, mesmo!
Estaria ele voltando ao normal?
O fim de semana passara rápido. Até demais. Por que novamente se via em frente a Malfoy, perguntando coisas sobre sua vida e anotando-as num caderninho? Ô rotina!
- Bem... – Leu e releu a próxima pergunta, imaginando que ele não ficaria muito satisfeito com esta. – Vou ser breve.
- Fala logo, Weasley. – Revirou os olhos, bufando. Parecia que ele também não estava muito contente com essa “rotina”.
- Você, na época da guerra, juntou-se realmente a Voldemort, ou é tudo um grande boato?
O semblante de Draco escureceu-se imediatamente, e ele foi ficando mais pálido que o habitual. Seus olhos, por alguns instantes, estreitaram-se perigosamente. Ele não estava nem um pouco a fim de comentar essa época de sua vida. Crispou os lábios, levantando a sobrancelha direita.
- Isso interessa vocês até que ponto?
- Até o ponto que você possa responder.
- Bem... creio que este não é o ponto crucial da matéria. Certo?
- Na verdade... Na verdade, não – colocou uma mecha de cabelos atrás da orelha. – Esta informação é bastante importante, até porque ela poderia ser um destaque. Pense bem, Sr. Malfoy, você poderia deixar claro que não teve lá essa culpa, esse tipo de coisa.
- Ainda assim, não estou interessado em dizer tais detalhes de minha vida – usou um tom grosseiro e frio, passando a mão de leve pela manga esquerda da camisa preta que usava.
- Certo. A decisão é sua, Sr. Malfoy, lembre-se disso. – Levantou-se, pegando seu material, mas deixando o caderninho aberto. – Acho que, por hoje, é só.
Quando ela estava chegando na porta, foi impedida pela mão de Malfoy, que segurou fortemente seu pulso. Ela se virou, encarando em seguida um homem visivelmente alterado.
- Então vocês querem a minha “história” como Comensal? Sente-se, Weasley. – Soltou o braço da jovem, praticamente a jogando no sofá. Ela gemeu com o contato brusco. – Vocês a terão. – Rangeu os dentes, levantando a manga esquerda. – Está vendo esta marca? – Apontou-a bem no rosto de Ginny, fazendo-a afastar-se para não bater com o nariz no braço de Draco. – Claro, eu fui iniciado como Comensal... Weasley.
- Calma, Malfoy, não precisava ficar assim... – murmurou, tapando aquela marca horrível.
- Não precisava? Não venha me dizer o que eu preciso ou não! – Sentou-se ao lado dela, passando uma das mãos no cabelo, tentando se acalmar. – Eu estava no sétimo ano em Hogwarts. Meu pai fazia pressão para eu me juntar aos Comensais, e eu não tive outra saída. Ou você acha que eu fiz por querer? Ainda não sou burro a esse ponto, Weasley. – Ela tentou se contradizer, mas Draco a impediu: - Claro que, quando eu pude, fiz o máximo para correr para o lado de Dumbledore e, graças a Merlin, consegui.
Ginny estava sem palavras sob tais palavras. Balbuciou coisas desconexas, tentando engolir tudo o que ele tinha dito. Não conseguiu nem ao menos anotar em seu caderninho.
- O que foi, Weasley? Duro demais para o seu mundinho cor-de-rosa? O Malfoyzinho, no final das contas, não era aquele vilão que você imaginava?
- Não... Não é nada disso, Malfoy... – Ofegou com a aproximação do rosto dele do seu. Ele falara com tamanha intensidade que ela se sentia desconsertada.
- Então me diz o que é, Ginevra... – murmurou próximo até demais.
O mundo de Ginny, que já estava bastante desmontado, desabou ainda mais com aquele beijo em seguida. Se tinha a certeza de que Harry era o amor de sua vida e o exemplo perfeito, agora não a tinha mais. Não sabia mais o que era o quê.
Naquela noite, chegou um pouco cansada no St. Mungus, sentando na mesma poltrona ao lado da cama de Harry.
- Oi – ele cumprimentou, tímido.
- Oh, oi – respondeu, avoada.
- O que foi, Gin? – Harry logo percebeu a mudança da namorada.
- Nada, não.
- Ah... Acho que eu lembrei de algo sobre nós – comentou, olhando fixamente o chão.
- Sobre nós? O quê?
- É... Algo sobre quando nos conhecemos e tudo mais. Começamos a namorar no sexto ano, acho...
- Sim, Harry, prossiga! – demonstrou certa felicidade, apesar de sua voz estar um pouco sumida.
- Não muito mais... Fomos morar juntos quando terminei o treinamento de auror?
- Exatamente! Sabe o que isso significa?
- O quê?
- Que, em breve, você já estará lembrando de tudo! Ai, estou tão feliz! – Por um momento esqueceu o incidente com Malfoy, deixando-se levar pela felicidade de ver o namorado melhor.
A enfermeira entrou no quarto nesse exato momento, sorridente.
- Boa noite!
- Boa – responderam Ginny e Harry.
- Eu não pude vir aqui mais cedo porque tive uns problemas, mas, bem, Sr. Potter, o senhor, a partir de amanhã, já pode ir para casa, ver se consegue uma melhor recuperação lá – disse fixando Harry com seus grandes olhos.
- Claro que ele irá! – exclamou Ginny. – Agora há pouco, ele lembrou de coisas que só podem significar que ele está melhor!
- Muito bom, Sr. Potter! Isso quer dizer sua recuperação não está tardando...
- Sim, lembrarei de toda minha vida! – Harry sorriu.
- Vá com calma, Sr. Potter, lembre-se: nada de se forçar a recobrar a memória, certo?
Ele concordou, e a enfermeira foi embora. Ginny voltou a pensar sobre tudo, sobre mais cedo. O que foi aquilo? Não sei... Só sei que foi bom, e... E eu não quero que esse encanto acabe, pensou, quase se castigando por suas palavras.
- O que foi, Gin? – perguntou Harry, interrompendo sua linha de raciocínio.
- Quê?
- Você está aí, tão pensativa, que eu pensei que... Bem, no que estava pensando? – Sentou-se na beirada da cama para poder vê-la melhor.
- Em... Em trabalho. E no quanto eu estou com sono. Você se importa se eu for para casa hoje? Quero dizer, amanhã eu trabalho e você recebe alta...
- Certo, Gin, se você está tão cansada assim. – Ela notou uma leve ironia no tom dele, mas ignorou. Sorriu gentilmente, dando um pequeno beijo em Harry, pegando sua bolsa e indo embora.
Estava claro para Harry que havia acontecido algo a Ginny, algo que ela não queria contar. Mas ele descobriria, cedo ou tarde.
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