Capítulo 4
Ginny estava deitada em sua cama, fitando o teto. Eram cinco da manhã e ela estava acordada, não conseguira dormir a noite inteira. E o que faria, agora? Agiria como se absolutamente nada tivesse acontecido, continuando com Harry e tratando Malfoy com puro profissionalismo?
Contaria tudo a Harry, deixando claro que ficara bastante abalada com o acontecido? Não sabia, realmente não sabia. Virou para o lado e adormeceu.
Acordou dali a um tempo. O que lhe pareceram só dez minutos foram, na verdade, cinco horas dormindo. Ah, meu Merlin! Estou atrasada! Pulou da cama, indo direto até seu telefone. Já havia oito recados. Cinco de Williams, um do hospital e dois de... Espera aí! Dois de... Draco? Foi direto para os dele.
Ah... É... Weasley? Aqui é o Malfoy. Bem, nós estávamos tão desnorteados ontem, que você foi embora e nem marcamos quando seria a próxima entrevista. Eu estive aqui pensando... Quinta-feira ou amanhã, o que você acha? – esse foi o primeiro recado. O que mais era estranho era seu tom: tímido como nunca. Pulou para o segundo: Ginevra? Bem... Sobre o acontecido de ontem... Eu gostaria de conversar, mas não quando você vier aqui amanhã ou depois. Quero dizer, uma sala de negócios não é o melhor lugar para falar “disso”, não é? Que tal... Hoje, às nove, eu a buscarei para irmos a um restaurante? Não sei, você decide. Espero o retorno.
Estranho. Muito estranho. Parou para ouvir as mensagens do chefe: todas raivosas, ordenando que Ginny fosse imediatamente ao Profeta Diário. Ouviu finalmente a do St. Mungus: a hora que quisesse poderia trazer Harry para casa, e talvez ele já estivesse chegando. Checou a hora da mensagem e... ele já estaria chegando!
Ai, Merlin, que vida mais confusa!, pensou, ajeitando-se rapidamente e abrindo a porta, pronta para descer. Para sua pouca surpresa, Harry estava prestes a tocar a campainha, com uma pequena mala na mão, sorrindo tímido.
- Que rapidez, Harry! Eu só pude ouvir as mensagens agora há pouco e mal deu tempo de dar um jeito nas coisas! – falou rápido, começando a arrumar algumas coisas um tanto quanto desordenadas na sala. – Você lembra do caminho para o quarto? Bem, se não lembrar, é por ali! – Indicou o caminho, correndo até a cozinha. Reapareceu trazendo uma xícara. – Quer café, chá?
- Calma! Lembra-se que eu já morava aqui? Ah... Estou me lembrando algo desse apartamento. – Coçou a cabeça. – E, já que você ofereceu, eu aceito um café. Não vai tomar seu tempo? A esta hora, já deveria estar no Profeta, Ginny – disse de um modo típico dele. Ginny e Harry arregalaram os olhos.
- Como você lembrou disso?
- Do nada... Estou me lembrando de seu chefe, o Sr. Williams. Uma mala – comentou com descaso, pegando a xícara que Ginny oferecia e bebendo um gole. – Acho que só.
- É bom ver que, aos poucos, você melhora cada vez mais. – Ginny sorriu sincera. Deu um salto do sofá, olhando o relógio da estante. – Ai, Merlin! Eu estou mais que atrasada! Quinze para as onze! O Williams vai me matar! – Correu até o quarto, calçando uma sandália e arrumando mais os cabelos ruivos, que insistiam em se soltar do prendedor frouxo. – Bem, como você lembra da casa, pode andar por aqui livremente! Tchau!
Deu um adeus sem jeito para ele, batendo a porta do apartamento com força e aparatando no Ministério.
Ginny tinha previsto o que aconteceria com ela na sala de Williams.
- Weasley! – gritou Williams, fechando a cara ao vê-la.
- Sim, Sr. Williams? – perguntou com voz fininha, entrando no escritório, fechando a porta com cautela. Já sabia o que viria a seguir.
- VOCÊ SABE O QUE PODE ACONTECER CASO VOCÊ NÃO ESTEJA AQUI? O DEPARTAMENTO PODE SE DESCOORDENAR COMPLETAMENTE! – Parou para respirar. – SOMOS COMO UMA FAMÍLIA! UM FALTA OU DEMORA E TUDO POR IR POR ÁGUA ABAIXO! VOCÊ JÁ PAROU PARA PENSAR NISSO?
- Claro, Sr. Williams... Desculpe-me, se atrasei...
- ATRASOU? VOCÊ PERDEU METADE DO DIA, WEASLEY!
- Juro para você que não foi lá por querer... – tentou se explicar, com a cara de santa mais fingida que conseguiu. – Eu cheguei cansada do hospital ontem e, quando vi, dormi demais... O senhor não imagina quantos recados tinham na minha secretária!
- Isso não importa – falou raivoso, mas sem berrar. – Certo, dessa vez passará, já que soube do acidente que aconteceu com o Sr. Potter, mas, se houver próxima, considere-se fora da equipe do Profeta Diário e comece a procurar vaga em outros jornais!
- Certo, senhor. Dispensada? – Levantou-se sem esperar ele falar.
- Não, Weasley. Só mais uma coisa: esse seu atraso não ficará impune. Você fará hora extra.
- Quando, hoje? – Ginny perguntou desesperada.
- Sim, hoje, Weasley. Por quê? Algum problema? – sorriu grotescamente, esperando para mandá-la soberbo até sua mesa para começar a trabalhar.
- Não, nenhum, senhor.
- Bem, se é assim, você pode ir.
E ali estava ela, amaldiçoando o chefe de todos os nomes, bufando a cada minuto e pensando em como falaria para Malfoy que naquele dia não daria para se encontrarem. Resolveu ligar logo. Para que adiar aquilo mais ainda? Pegou o celular, chamando o número dele.
- Sim? – uma mulher atendeu. Com uma voz extremamente jogada, na opinião de Ginny.
- Aqui é Ginny Weasley, eu gostaria de falar com o Sr. Malfoy.
- Certo...
Ginny ouviu, ao fundo, a mulherzinha chamando Malfoy, que respondeu numa voz extremamente cansada algum resmungo. Provavelmente estava dormindo antes.
- Ginevra?
- É, eu – respondeu, tentando não soar nervosa. – Eu ouvi os recados e... É... Malfoy, hoje não vai dar para sairmos.
- E por que não?
- Porque, bem, como eu acordei muito tarde, cheguei no Profeta bastante atrasada e o Williams, sabe como é, chato como sempre, me mandou cumprir hora extra. Presumo que ficarei aqui até meia-noite.
- Não tem problema – disse com descaso. – Eu preciso falar com você o mais breve, mesmo que seja de madrugada. Que horas devo buscá-la?
- O quê? – Ginny espantou-se. – Ir a um restaurante à meia-noite?
- Não, nada de restaurantes! Eu posso trazê-la até minha casa para conversarmos melhor, o que acha?
- Acho bom... Mas ouça-me: nada de gracinhas, entendido? – Franziu uma sobrancelha, esperando a resposta dele. Ouviu um suspiro.
- Prometo. Nada de gracinhas.
Meia-noite em ponto e Draco tinha acabado de chegar. Viu-a terminando de se despedir de uma mulher qualquer e caminhando para ele.
- Bem na hora – ela comentou irônica.
- Um Malfoy é sempre pontual – devolveu na mesma moeda. – Cansada?
- Não muito... Quero dizer, menos que o habitual, por incrível que pareça.
- Deve ser porque acordou tarde, hoje. – Percebeu que estavam parados no meio de um corredor, sendo vigiados por um bruxo insistente de meia-idade. – Vamos? – perguntou, apontando a lareira mais próxima.
- Claro.
Os dois entraram em lareiras diferentes e falaram “Mansão Malfoy”, indo parar quase imediatamente no lugar. Mais precisamente, em uma outra sala de estar menos profissional. Ele indicou um sofá para que Ginny sentasse. Ela o fez prontamente.
- Acho que você sabe por que a chamei aqui, não é? – perguntou um tanto quanto constrangido. – É... Sobre o que aconteceu ontem...
- Sim?
- Eu não sei bem o que dizer, Ginevra... – Ele percebeu o olhar indignado dela. – Só sei que mexeu muito comigo. Eu só consegui pensar em, bem, nós e em ontem, toda essa noite. Acho que mal dormi.
Ginny riu irônica.
- Por que você acha que eu acordei atrasada? Também fiquei a noite inteira tentando dormir, mas só conseguia pensar nisso!
- O que você acha que significa?
- Não sei, só sei que não é bom – respondeu com cautela. – Afinal, eu namoro Harry – Draco bufou irritado – e não sei como seria minha vida sem ele. O que aconteceu ontem mexeu muito comigo, não nego, mas acho que foi muito pouco para tentarmos algo. É assim que eu penso – falou convicta. Mas talvez aquilo não fosse bem o que ela pensava.
- Ah, é? – Draco foi irônico.
- É!
- Veremos... – Chegou mais perto, daquele jeito salafrário que só ele tinha, sorrindo de canto de boca. Segurou-a fortemente, não deixando que escapasse, beijando-a de um modo simplesmente incrível. Seria burrice se não fosse correspondido, mas ela se deixou levar.
Quando se separaram, ele sentiu a mão delicada dela – que de delicada não tinha muito – beliscá-lo e gritou.
- Por que fez isso, Ginevra? – perguntou passando a mão pelo local beliscado.
- Isso é por você ter duvidado do que eu disse! – disse e, por mais surpreendente que parecesse, estava sorrindo de orelha a orelha.
- Então por que você está sorrindo? – Draco contornou sua pose de ofendido, sorrindo também.
- Porque o que você acabou de fazer me mostrou uma coisa...
- O quê?
- Que eu estou totalmente confusa e preciso dormir – disse, bocejando em seguida. – Desculpe largá-lo logo agora, Sr. Malfoy, mas o sono é a maior coisa.
- Como é que é? – Draco indignou-se. – Eu te beijo do modo mais fenomenal, e tudo que você diz é que está com sono e precisa ir?
- É, é isso. – Deu meia volta para sair da sala, mas foi barrada por ele.
- Não ouse ir embora, Weasley! Vamos terminar de resolver isso hoje! Ou, então, você dorme aqui e amanhã de manhã resolvemos!
- Mas... e Harry? Ele pode ficar preocupado, Draco! Lembre-se: eu posso estar bastante confusa, mas ainda o namoro! – ralhou Ginny, voltando a caminhar.
- Avise-o pela lareira que vai dormir na casa de uma amiga, não sei... Fale o que quiser, mas fique!
Ficar?, ela hesitou. O que teria a perder? Olhou de Draco para a porta e vice-versa. Suspirou, resolvendo seguir o que ele sugerira.
- Posso usar a lareira? Onde tem pó de Flu?
Draco sorriu, encaminhando-se para uma estante e retirando um saquinho. Entregou-o a Ginny. Ela foi até a lareira, só colocando a cabeça e logo tendo uma visão de sua sala.
- Harry! – chamou, atraindo a atenção dele, que provavelmente estaria na cozinha anteriormente.
- Ginny! Onde você está? – ele perguntou, agachando-se para ficar na altura da namorada. – Eu sabia que você cumpriria horário extra, mas não até tão tarde! Ainda está no Ministério?
- Não, Harry... Eu vim para a casa de uma amiga minha, e pretendo dormir aqui. Tudo bem por você?
- Ah, certo. – Ele pareceu um tanto desanimado. – Bem, curta a noite aí...
- Uma pergunta: você estava acordado a esta hora? – Lembrou-se de questionar isso.
- Estava te esperando, mas, como você não vai vir mais... Ao menos me avisou. Obrigado.
- De nada! Boa-noite – alongou-se para beijar a bochecha dele, que estranhou, porém ficou quieto.
Levantou, voltando a ver a sala de Malfoy e sentindo-se um tanto quanto tonta.
- Cuidado, Weasley. – Ele a segurou, antes que caísse. – O que há? É tanto sono assim?
- Não, é que eu sempre me sinto tonta, quando levanto desse jeito. Obrigada – agradeceu, olhando em volta. – Onde fica o quarto?
- Você vai ficar num quarto que fica no corredor do meu. Acompanhe-me. – Guiou-a até um lugar menos sombrio da Mansão, apontando uma porta e a abrindo. O quarto era imenso. – Já tem tudo aí dentro. Qualquer coisa, chame um elfo ou me chame.
- Certo. Boa noite – disse, dando um beijinho nos lábios dele. Draco ficou surpreso, mas logo a puxou para um beijo melhor.
- Tem certeza que não quer dormir no meu quarto? – perguntou safado.
- Draco! – Ginny deu um outro beliscão nele. – Não, obrigada, tenho medo do que você poderia fazer!
- Eu? Seria mais fácil você tentar algo, querida – brincou. – Certo, boa noite, Ginevra. – Beijou-a novamente, se direcionando a uma porta mais para o meio do corredor, abrindo-a e dando uma pequena olhada. Entrou e a deixou aberta, indicando que ela poderia entrar lá a hora que quisesse.
Ela sorriu com esse gesto, olhando agora para o quarto em que dormiria. Era claro, com paredes brancas e uma cama de casal bem no meio de uma, entre duas janelas. Havia também um armário e, no canto do quarto, uma porta para o banheiro. Bastante espaçoso, tendo ainda uma poltrona perto das janelas. As cortinas eram de um azul claríssimo, dando um ar etéreo ao quarto.
Deitou-se, tirando os sapatos. Estava quase dormindo, quando lembrou que não teria outra roupa no dia seguinte. Alarmou-se, mas deixou a preguiça de procurar uma solução vencer e adormeceu.
Eu gostei desse capítulo.
Mil perdões pela demora e por todo o resto. Obrigada a quem deixou comentários e elogiou a fic. Postei só por causa disso :D
Bem, espero que este capítulo não tenha muitos erros, eu mal o revisei e tô com preguiça de esperar minha beta etc.
Até a próxima.
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