De novo, o amor



Houve um momento em que Lúcio olhou para Draco, querendo não acreditar que seu filho tinha se tornado tão...vulnerável. Por causa da Weasley.

Gina conseguiu vê-lo analisando Draco com o olhar. Era um desgosto conhecido, mas parecia realmente afetá-lo de tal maneira que causava horrores em Gina. As pupilas dele rodaram o local agora iluminado por velas e focaram-se nela. A garota conseguiu ver ali, expressado em apenas um olhar, todo o ódio de Malfoy por ela. Sentiu um arrepio, os olhos de Lúcio assombrosamente sempre haviam lembrado os de Draco.

- Não! Pai, você precisa me ouvir! – berrou Draco, sendo acorrentado por correntes que caíram dos tetos automaticamente com o toque de varinha de Amico.
- Eu preciso te ouvir, Draco? – disse Lúcio calmamente, voltando seu olhar para Draco. Parecia reprimir uma fúria enorme. – Será que não está invertendo os papéis?
- Não a machuque... Eu posso... posso conseguir outra coisa... outra coisa útil, não sei... por favor, pai...
- Draco... Você sabe que lugar é esse? – interrompeu-o Lúcio. Entre a aflição, Draco ficou surpreso com a pergunta. – Sabe?! É o lugar para o qual eu fiz com que essa garota que hoje está aqui conosco viesse quando ela estava em seu primeiro ano de Hogwarts.
- Eu s...
- Eu sei o quê você deve estar pensando... Como chegamos aqui, não? Veja bem, meu filho... veja bem como o caos se apossou do mundo quando o Lorde das Trevas se foi... Hogwarts agora é comandada por um frouxo que sequer consegue impor defesas suficientes contra a Arte das Trevas. Conseguimos até quebrar o encanto que não permite aparatar nos terrenos de Hogwarts. Quanto infortúnio com a escola de Salazar Slytherin. Mas hoje, perante ele – Lúcio apontou a estátua de Salazar – iremos trazer um mundo melhor de volta e apagar esse mundo novo, cujos costumes de Slytherin foram simplesmente esquecidos e ignorados pela nova geração que se apossou da escola...
Draco apenas olhava para seu pai, ofegante.
- Tudo por causa de gente como a família dessa traidora do sangue por quem você se apaixonou, Draco. Gente como ela deveria pagar. Pagar caro.
- Pai... não faça nada com ela... não a machuque, eu posso fazer algo por você...
Lúcio não respondeu imediatamente. Aproximou-se do filho e olhou fundo em seus olhos.
- Tantos anos... tantos anos te ensinando a distinguir o certo do errado... o puro do impuro... o limpo do sujo... – ele olhou ferozmente para Gina ao pronunciar a última palavra – E agora você simplesmente cospe tudo isso na minha cara.
- Eu estou me oferecendo! Eu posso conseguir, é sério, qualquer outra coisa... Mas não...
- Isso não vem ao caso! – Lúcio elevou a voz - Draco Malfoy, um legítimo puro sangue, herdeiro de toda fortuna Malfoy e possuidor da dignidade das últimas gerações bruxas... Apaixonado por uma traidora do sangue Weasley. Pobre. Suja.
- Eu não desaprendi nada do que você me ensinou! Nada...! Eu posso continuar com a tradição...
- ...casando-se com uma Weasley? – debochou Lúcio. Os demais comensais riram. – Preste atenção, Draco... Estão rindo de nós. Estão rindo dos Malfoy. Você sabe o quão grave isso é para o nome dos Malfoy? Você faz idéia de quanto está manchando o nome de sua família apaixonando-se por essa... essa...
- Já chega! – gritou Draco. Os comensais pareceram espantar-se. Até Gina levou um susto, mas que com certeza não se comparava nenhum pouco com o de Lúcio.
- O quê... você disse? O quê foi que você disse?

Houve alguns segundos de silêncio em que se algum inseto minúsculo por ali passasse, com certeza faria barulho. Toda a atenção estava concentrada em Draco, até Gina parecia ter parado de debater-se em suas correntes. Ela olhava, do outro lado da sala, para Draco e seus olhos por um segundo pareciam querer chorar sozinhos. Tinha como chorar de amor, assim, involuntariamente?
Houve alguns segundos em que Draco mirou o chão e depois ergueu seus olhos cinzas, agora muito frios, parecidos com os que Gina via em Hogwarts. Olhou para seu pai e hesitou por um milésimo antes de falar:

- Disse... que... já chega.

Sua voz era mais baixa dessa vez, mas o silêncio era absoluto, então ela soou claramente entre o ambiente. O corpo de Gina tremia à medida que os segundos pareciam estar em câmera lenta, Lúcio olhava para Draco incrédulo... ela temia por Draco e ao mesmo tempo apaixonava-se mais intensamente por ele... A mão de Lúcio vacilou sobre a varinha e Draco contraiu os lábios. Malfoy parecia pensativo ao olhar para seu filho, ao mesmo tempo em que parecia poder explodir a qualquer momento.

- Não vou gastar palavras agora com você. – ele disse finalmente - Daqui a pouco tempo tudo isso estará esquecido na sua memória, por causa do Obliviate... Mas não pense que você não terá seu castigo. Aliás... – Lúcio parou de repente. Seu tom era levemente triunfante. - Seu castigo será justamente não ter a memória apagada tão cedo... Diga-me, Draco, é castigo o bastante para você ver a Weasley em desgraça? Vê-la sofrer?

- Não faça... nada... com ela... – disse Draco ofegante, em meio às tentativas de se soltar das correntes.
- Não precisarei. Você já fez o principal, Draco. Você cumpriu sua parte no plano.
Draco abaixou a cabeça e balançou-a, ainda tentando livrar-se das correntes.
- Não... – sussurrou.
- Ritchy. Suponho que este seja o momento. – disse Lúcio, dando as costas para Draco e andando até o outro comensal.
- O QUÊ VOCÊS VÃO FAZER? – berrou Draco. – NÃO A MACHUQUEM!
- Aí já não sei, moleque. – disse Ritchy, saindo das sombras. O comensal trazia nas mãos um objeto que Draco não conseguiu distinguir. As sombras das velas dançavam conforme os outros comensais se aproximavam, Ritchy fez sinal para eles darem espaço e então virou-se para Gina.
- NÃO! O QUÊ É ISSO? O QUÊ VOCÊ VAI FAZER?
- Isso? – respondeu Ritchy virando-se para Draco e erguendo o objeto até onde ele pudesse receber claridade – Me diga, você já viu um vira-tempo alguma vez?
Draco mirou o objeto. Ele já havia visto um vira tempo, mas só numa exposição do Ministério da Magia... O objeto que Ritchy segurava, contudo, não se parecia com o quê ele lembrava ser um vira-tempo. Era um tanto significativamente maior e a ampulheta parecia torta, talvez pelas sombras cambaleantes que as velas emitiam...
- Isso não é um vira-tempo, se é o que está pensando. – esclareceu, enfim, o comensal. Um brilho maníaco nasceu em seus olhos e ele focou o objeto em suas mãos com uma adoração. – O quê estou querendo dizer é... você sabe a função do vira-tempo, certo? Então agora pense... imagine... um vira-tempo ao contrário.

A mente de Draco foi a mil. Vira-tempo ao contrário... não era fácil raciocinar sob pressão, mas a questão, entretanto, não era difícil... se o vira-tempo transportava a pessoa para o passado, então o objeto na mão de Ritchy estava ligado com...

- O futuro! – exclamou o comensal na mesma hora. – Esse pequeno objeto nos traz o futuro! Minha maior criação de longo período... Entrarei na história da magia, tavez...
- Só se for na história da Magia Negra! – exclamou, inesperadamente, a voz de Gina, fazendo todos se virarem para ela. Ela hesitou por um instante, mas continuou decidida. – Isso deve estar cheio de Magia das Trevas...

Draco sentiria-se admirado pela coragem de Gina se o medo não lhe fosse maior no momento. Por quê ela tinha que abrir a boca... será que ela não via que só tinha a perder, contando com o fato de que eles estavam acorrentados e ali haviam no mínimo uma dúzia de comensais? Maldita qualidade de grifinórios, a bela demonstração de coragem na hora inoportuna...

- Exatamente... exatamente. Magia Negra. Tudo o quê há de superior na magia.
- Não é verdade! – disse Gina. Parecia estar decidida a confrontá-lo, mesmo acorrentada. Parecia beirar o ódio... estava no ápice de seus sentimentos ruins. – Magia Negra só é usada por covard...
PAF. Sem que absolutamente ninguém esperasse, Ritchy deu um forte tapa na cara de Gina fazendo-a cair, ao mesmo tempo em que Draco, que estava de joelhos, levantava-se e debatia-se novamente entre as correntes.
- Como ousa... sua imunda... – dizia o comensal.
- VOCÊ VAI PAGAR POR ISSO! – gritou Draco. – VAI PAGAR POR ISSO, SEU...
- Lúcio, seu filho não está ajudando...
- Ignore-o. – disse Lúcio simplesmente.
Draco continuou debatendo-se fortemente entre as correntes que o prendiam, o olhar em Gina com uma preocupação palpável.
- Mas vamos lá, Weasley. Onde estávamos? Sim... Magia negra... o ápice do poder! Levei anos para conseguir... nunca imaginei que poderia ser útil num plano para trazer de volta o maior bruxo de todos os tempos!
Ritchy colocou o enorme cordão em volta do pescoço de Gina. Ela tentou se debater, mas suas mãos estavam presas ao alto nas correntes e foi em vão.
- No momento em que eu girar essa ampulheta... No exato momento... você não vai ser levada ao futuro... e sim receberá o futuro. Agora vamos, tragam a enfermeira.

Um barulho foi ouvido e no minuto seguinte dois comensais apareceram. Para o espanto de Draco e Gina, traziam Madame Pomfrey, na mira da varinha de um dos comensais. Ela parecia totalmente indefesa e assustada.
- O-o quê v-vocês vão fazer... – ela gaguejava. Foi então que viu Gina, presa pelas correntes e uma expressão abatida. – Weasley! O quê...
- Cale a boca! – disse um dos comensais. A enfermeira tremia, e obedeceu instantaneamente.
- Tudo certo, tudo certo! – exclamou Ritchy, os olhos brilhando de malícia. Sua felicidade parecia comparável à de uma criança recebendo seu maior presente. – E agora... que comece o show!

No momento em que Ritchy tocou a ampulheta para girá-la, Draco debateu-se mais do que nunca em suas correntes, seus pulsos poderiam quebrar a qualquer momento. Ele tentava desesperadamente se soltar ou correr, em vão. A ampulheta girou e todos ali pareceram perder o fôlego diante do que viram.
O cordão em volta do pescoço de Gina alargou-se e formou um círculo em sua volta. O cordão girava freneticamente, assim como a ampulheta. Draco sentiu-se hipnotizado... E, com um choque extremamente colossal que o fez perder o equilíbrio e cair de joelhos, ele viu Gina debater-se e sua barriga começar a crescer. Seus cabelos também cresciam, mas em menor velocidade. Suas roupas rasgaram-se. Era como se alguém apertasse o botão de acelerar num filme. Nenhum dos presentes parecia acreditar no que viam, com exceção talvez para Ritchy que dava gargalhadas de prazer e satisfação. Gina parecia estar no ápice de sua dor. Lágrimas caíam de seu rosto e ele parecia gritar, mas seus gritos eram abafados por um forte ruído que a ampulheta provocava...
E, finalmente, depois de segundos que pareceram eternidade para Draco, o cordão parou de girar e caiu com um baque no chão. Gina também caiu, sustentada apenas pelas correntes que prendia suas mãos. Sua barriga estava enorme e ela gritava de dor.
- Diffindo! - berrou Ritchy, mirando a varinha para as correntes, quebrando-as e fazendo Gina cair totalmente.
- VIRGINIA! NÃO! O QUÊ VOCÊS FIZERAM...? O QUÊ VOCÊS FIZERAM?!
- Vamos! Tragam a enfermeira!
Os comensais pareceram sair do choque e jogaram Madame Pomfrey para perto de Gina, que ofegava e gritava, caída. Um outro comensal, com um toque de varinha, conjurou uma maca de hospital e um balcão com acessórios de parto. Com rapidez, outros dois comensais pegaram Gina e colocaram-na na maca.
- Vamos logo inútil, faça o parto! – ordenou Ritchy à Madame Pomfrey, que assistia à cena totalmente paralisada de susto. - Aqui está sua varinha, mas não tente qualquer outra coisa. Estamos em muitos e você é uma só.
A ordem pareceu tirá-la do transe, mas seu corpo continuou tremendo quando ela, sem alternativas, apanhou a varinha e aproximou-se com cautela da maca onde Gina sofria as dores do parto.

Draco, de onde estava, não conseguia ver Gina direito, a maca estava virada no lado contrário... Ele ainda debatia-se nas correntes, precisava agir... precisava salvá-la... Oh, meu Deus, como havia deixado aquilo acontecer? O quê aconteceria a seguir?
- VIRGINIA! VIRGINIA! VIRGINIA! – ele berrava, embora agora fosse mais em vão do que antes... Ninguém parecia ouvi-lo, tampouco se importar com o que ele dizia... Os berros que se destacavam eram os de dor de Gina.
Não podia estar acontecendo... Não queria acreditar... Pouco tempo atrás ele estava com ela, viajando, vivendo os melhores dias de sua vida. Como ele poderia adivinhar o que viria a seguir?

O pior de tudo é que ele já sabia. A consciência pesava-lhe, corroía por dentro, tinha, talvez, o poder de mil facas atravessando seu peito a cada vez que ele lembrava-se que ela estava ali por sua causa... Cada lágrima que ela derramava era por sua causa...
Lembrou-se de quando estavam na casa de Romeu e Julieta. Parecia uma lembrança distante, que não lhe pertencia mais. Lembrou-se dela sorrindo para ele... uma, duas, três vezes... Como queria voltar a ver aquele sorriso, como queria poder causar mais sorrisos em Gina Weasley... queria ter o resto de sua vida para poder compensar em sorrisos todas as lágrimas que fizera Gina derrubar. Queria não ser sido tão covarde a ponto de não ter admitido antes para si mesmo que ela era a mulher da sua vida e que sua felicidade só estava acompanhada com ela. Queria ter tido tempo de salvá-la. De contar toda a verdade. De ouvi-la xingar, de vê-la ir embora... mas que pelo menos estivesse livre. Que ele pudesse pelo menos roubar-lhe um beijo, tentar dizer em meio a um apaixonado beijo que ela era a única para ele... Oh, Deus, ele havia aberto mão de tudo isso apenas pelo medo de pensar nas reações dos outros?! Como ele podia ser tão estúpido, como?

Gina parou de gritar e foi então que ele ouviu... um choro de criança! Ele sempre, sempre detestara o som de choro de crianças... e aquilo, naquele momento, simplesmente soava como melodia pra seus ouvidos. Naquele minuto ele esqueceu que estava na Câmara Secreta, que tudo era um plano e que estava rodeado de comensais da morte. Esqueceu-se do perigo. Levantou os olhos que mantinha no chão e tentou focar o bebê à sua frente. Estava no colo de Madame Pomfrey. Era seu filho.

- É... u-um menino... – sussurrou a enfermeira para Gina, que também parecia emocionada apesar de tudo.

Um menino. Um menino... Draco sentiu seu corpo paralisar. Era parte dele! Qual seria a cor dos cabelos dele? Platinados, como o dele? E os olhos? Teriam o formato fino e penetrante dos seus ou seriam grandes e doces como o de Gina? Em segundos, imagens apareceram involuntariamente na mente de Draco... A compra da primeira vassoura para seu filho; o pequeno garotinho indo à Hogwarts...
Sempre fora tão estranho imaginar uma outra vida originada da sua. Sempre fora tão estranho se colocar no lugar de pai... Como, Merlim, como não havia sequer passado em sua mente essas imagens quando ele descobriu que deveria ter um filho? Então era isso, ele pensava em ter o filho, usá-lo no plano e abandoná-lo? Por que fizera tão pouco caso para o “depois”, que, no momento, era a única coisa que lhe importava?

- Dê-me o bebê! – ordenou Ritchy, e, com um empurrão, pegou o filho de Draco e Gina do colo de Madame Pomfrey, tirando-lhe a varinha também. O bebê chorava freneticamente. Ritchy apontou sua varinha para ele. – Silêncio!
O barulho parou instantaneamente.
- Não...! – disse Gina. Sua voz denunciava toda a sua fraqueza. Ela tentava se levantar da maca. – Não! Devolva meu filho, devolva...
- NÃO FAÇA NADA COM ELE! – gritou Draco para o comensal.
- Olhe, Lúcio, não quer ver seu neto? – zombou Ritchy.
- Cale-se, Ritchy, ande logo com o plano. – disse Lucius secamente.
- Não... não! – dizia Gina. Ela ainda tentava levantar-se, e numa das tentativas caiu da maca. Três comensais a seguraram. – Não faça nada com ele, por favor... Eu me ofereço, mas deixe-o...
- Você não serve, traidora do sangue. – cortou Ritchy. E então, seus olhos começaram de novo a brilhar quando ele virou-se para o centro e caminhou até o caldeirão. – É agora o momento? Está tudo certo?
- Sim, Ritchy. Tudo certo. Já acrescentamos todos os outros ingredientes coletados. – disse Amico.
- Até a presa de basilisco?
- Sim.
- Então... tragam-no.

Ouve um pequeno rebuliço entre os comensais que assistiam. Alguns engoliram a seco. Eles abriram passagem para um outro comensal da morte que segurava o que parecia ser um grande pote de vidro. Foi quando Draco viu... o pote não estava vazio... ali dentro estava o que parecia ser... Lord Voldemort.
Draco havia visto-o antes, mas não se recordava muito bem, estava escuro quando acontecera... Agora vendo mais claramente que da outra vez, era terrivelmente assustador. Ali residia o que parecia ser a cabeça do Lorde das Trevas... Mas não era de carne e osso. Parecia um espírito, um pedaço de alma, algo semelhante a uma fumaça, ou quem sabe um lençol, ele não conseguia distinguir. Claramente se via dois pontos vermelhos, o que pareciam ser seus olhos.

- Milorde... tudo certo para o plano! – disse Lucius, aproximando-se do caldeirão. Agora parecia realmente ansioso.
- Obrigada, Lúcio. – a voz fria e cruel de Voldemort saía muito fraca, como se ele se esforçasse ao máximo para conseguir pronunciar as palavras. – Lord Voldemort saberá recompensá-los. Agora vamos... tenho pressa...
O comensal que o carregava virou o pote de vidro de cabeça para baixo e o espectro desceu para o caldeirão. A poção borbulhou.
- É agora... – sussurrou Ritchy, aproximando-se mais do caldeirão e tirando um canivete do bolso. Draco gritou e ouviu Gina gritar também. Ritchy aproximou o canivete do pé direito do bebê e, em um gesto, fez um corte profundo. O neném parecia chorar ainda mais, mas não se ouvia.
- COMO VOCÊ PÔDE, COMO VOCÊ PÔDE, SEU... – gritava Gina, que parecia ter reunido forças, debatendo-se com violência entre os três comensais que a seguravam. Novas lágrimas caíam de seu rosto.
Ritchy estendeu o bebê e as gotas de sangue do seu pé caíram dentro do caldeirão.

Foi tudo muito rápido. No momento em que as gotas caíram, o caldeirão pareceu explodir. A última coisa que Draco conseguiu enxergar foram os comensais ao redor protegendo-se da explosão. O caldeirão fazia um barulho agudo e ensurdecedor e seu líquido borbulhante ganhava volume, agora jorrando como fonte para fora algo que parecia indiscutivelmente sangue. Ritchy estava caído e, com o bebê agitado em seus braços, tentou afastar-se do caldeirão arrastando-se pelo chão. Gina, com uma força brutal, conseguiu se livrar dos comensais e agarrou o recém-nascido. Uma voz aguda, fria, que fez Draco sentir arrepios, ecoou de dentro do caldeirão.

- SEUS IDIOTAS! IMBECIS! ESSE SANGUE TEM AMOR! O GAROTO SE APAIXONOU POR ELA, SEUS IMBECIS!

Logo após a voz terminar de falar, uma explosão ainda maior aconteceu. O líquido de dentro do caldeirão voou pela câmara. O barulho confundiu-se com os muitos craques que foram ouvidos e Draco viu, sentindo-se como se alguém tirasse algo muito pesado de suas costas, que aurores aparatavam ali. A princípio achou que fosse miragem... Mas não, eles aparataram aos montes e aos poucos iam se igualando ao número de comensais. Estes, por sua vez, extremamente chocados, apanharam as varinhas. Parte dos que já a tinham em punho lançaram maldições pelos ares e outra parte foi atingida por feitiços porque estavam demasiado supresos para atacar.
Tudo o que Draco conseguiu fazer no momento seguinte foi abaixar-se; ainda estava acorrentado e torcia para alguém tira-lo dali... Mas como? Os aurores provavelmente pensavam que ele estava do lado dos comensais também...
Draco paralisou. Vislumbrou Harry Potter e Rony Weasley em meio aos aurores. É claro que eles deveriam estar ali... Mas a descoberta não era muito motivadora, porque Draco não se via sendo salvo por nenhum deles...
Clang. Alguém lançara um feitiço nas correntes. Ergueu a cabeça abruptamente e viu Gina, ainda com o bebê em seus braços.
- Draco... preciso achar minha varinha... essa é de um comensal estuporado, não está funcionando muito bem comigo, preciso achar minha varinha para ajudá-los...
- Não! Você tem de ir embora Virginia, pelo amor de Deus, segure o bebê e vá... – ele implorou, falando muito rápido.
- Não consigo desaparatar com essa varinha, e eu não...
- Madame Pomfrey! – berrou Draco para a mulher, que estava caída ali perto, tremendo dos pés à cabeça. – Você está com a sua varinha? Pode desaparatar?
- E-eu sei de uma passagem! – disse com voz atônita. Ela se agachou ao lado deles, trêmula, olhando aflita para os comensais e aurores em combate. – Também estou sem varinha, mas eu conheço uma passagem, o professor Dumbledore nos mostrou logo depois do episódio do basilisco, oh meu Deus...
- Então o quê está esperando?! Vá com ela – ordenou Draco para Gina. – Eu vou tentar resgatar as nossas varinhas...
Ela olhou para ele, ofegante. Seus pensamentos pareciam estar a mil. Apertou o filho nos braços, baixou os olhos para ele e depois rapidamente vislumbrou Rony lutando com Amico. Mirou então Madame Pomfrey e entregou-lhe o bebê.
- Eu não posso ir. Madame Pomfrey, por favor, leve-o com você.
- Você está malu...
- Não, Draco, não estou! Não posso deixar meu irmão aqui, não posso deixar Harry, não posso deixar você. Madame Pomfrey, por favor, me prometa que vai protegê-lo.
- Sim, querida, p-prometo...
- Virginia!
- Então leve-o.
A enfermeira segurou o recém-nascido nos braços e levantou-se. Pareceu pensar por um segundo e correu até uma parte da Câmara e virou em um caminho onde nem Draco ou Gina podiam mais vê-la.
- Por que fez isso?! Não podemos sequer lutar com os comensais, estamos sem nossas varinhas...
- Eu te disse, Draco. Não iria conseguir ficar lá em cima sabendo que vocês estavam aqui. Agora vamos nos separar e tentar ajudar os aurores de algum jeito...

Ela não esperou Draco negar ou ordenar qualquer coisa. Levantou-se de súbito e andou até a área da batalha, desviando-se de feitiços. Um feixe de luz verde passou a poucos centímetros de sua cabeça e ela ouviu Draco gritar alguma coisa, provavelmente seu nome. Com um sobressalto viu que Eddy Humptirf também estava ali. Olhava para todos os lados enquanto lutava com um comensal. Gina teve quase certeza de que ele a procurava. Mirou a varinha para o comensal que o lançava maldições e murmurou Estupefaça. A varinha lançou um feitiço extremamente fraco no comensal, mas que fez o comensal desviar sua atenção de Eddy e receber um outro feitiço do mesmo no peito. O comensal caiu duro e o auror arregalou os olhos para ela, sorrindo nervosamente.

- Eddy! – ela chamou, tentando chegar mais perto dele desviando-se dos feitiços. – Como vocês descobriram que eu estava aqui?!
- Eu não sei muito bem – ele respondeu, com Gina finalmente alcançando-o. – Parece que eles foram até o hospital e você não estava mais lá, então informaram que vocês tinham ido até a Mansão dos Malfoy... Comentaram algo sobre Narcisa Malfoy, talvez tenham usado Veritasserum nela, não sei... Você está bem, Gina? Como você foi parar na Mansão dos Malfoy? O quê eles fizeram?
- É uma longa história. Eu contaria, mas acho que não é um momento propício.
- Ok. Então depois nos falamos. Por favor, cuide-se.

Eddy se afastou e foi combater os Comensais que ainda estavam em pé. Gina decidiu fazer o mesmo e procurar Harry ou Rony, mas quando se virou tomou um susto. Se não fosse seu reflexo que a fez abaixar-se, um feitiço que ela não pode identificar teria atingido-a na cabeça.

- Virginia! – exclamou uma voz próxima a ela. Draco vinha correndo em sua direção.
- Pare com isso, Draco, eu estou bem! – cortou ela, começando a se irritar. Desejava que Draco se preocupasse mais com ele próprio. Se ele recebesse uma maldição por prestar muita atenção nela...
- Eu decidi que é melhor nós ficarmos juntos!
- Mas...
- Shh! Eu peguei uma varinha no chão, não sei de quem é, mas não acredito que me ajude muito contra os comensais. Por isso, vamos mirar em um comensal e lançar dois feitiços juntos ao mesmo tempo, quem sabe o efeito é maior...

Nesse instante, Draco focalizou seu pai e parou de falar. Gina seguiu com os olhos a direção aonde Draco mirava e viu Lúcio duelar com Rony Weasley. Não sabia dizer quem estava se saindo melhor, ambos eram muito bons nos feitiços... A expressão de Draco de repente ficou indecifrável. Os dois ficaram ali, parados, assistindo, por um instante. Havia ódio, repugnância, desprezo nos olhos de Rony e Lúcio. Apesar da distância, Draco e Gina sabiam. Por dentro, Gina se perguntou para quem Draco estaria torcendo, embora no fundo soubesse a resposta. Draco não torceria contra o pai... muito menos torceria para Rony Weasley...
Gina mirou-o, virando a cabeça para ele como a procurar um fio de alguma expressão. Draco sentiu-a e olhou para o chão, depois eles entreolharam-se, e não se precisou dizer nenhuma palavra para ver o que o outro pensava.

- Por que estamos juntos, Draco Malfoy? – perguntou Gina numa voz suave. Não demonstrava dúvidas, entretanto. Longe disso... era como se ela brincasse, tristemente, com a ironia que estava exposta distante deles. Parecia que o absurdo do destino ter unido uma Weasley com um Malfoy só transparecesse agora. A pergunta poderia muito bem ter sido “Por que nos amamos, Draco Malfoy?”. Ele sabia.

- Não tem lógica, não é? – respondeu ele, simplesmente. Deu as costas para a batalha de seu pai e puxou Gina consigo. – Vamos. Não temos tempo a perder. Você ouviu o que eu te disse, sobre lançar dois feitiços...
- Sim, eu ouvi. Vamos.

E assim foi feito. Conseguiram derrubar dois, três comensais... Desviaram-se de vários feitiços pelo ar, algumas vezes com Draco salvando Gina ou Gina salvando Draco... Faziam uma boa dupla afinal... Gina queria desesperadamente ajudar Rony, mas não conseguiu sugerir a Draco que atacassem seu pai. Enquanto isso, iam estuporando outros Comensais.

O duelo estava equilibrado. Alguns aurores que haviam conseguido derrubar o adversário cuidavam de outros aurores que estavam caídos. Gina não conseguia evitar rolar os olhos de vez em quando para o duelo entre Lúcio e Rony. Os dois lançavam maldições com tal intensidade que fazia Gina tremer a cada feitiço que saía da varinha do pai de Draco.
Ritchy, por sua vez, duelava com Eddy acompanhado de outro comensal. Gina então puxou Draco e os dois miraram as varinhas em um dos comensais e conseguiram estupora-lo. Em um segundo Eddy virou-se novamente para ela e Ritchy aproveitou o momento e chegou muito perto de Eddy, acertando-lhe um soco no rosto. Eddy cambaleou e caiu com a mão na sua face e, antes de qualquer auror fazer menção de atacá-lo, Ritchy gritou um feitiço sacudindo a varinha apontada para uma parte da Câmara Secreta que ficava num ponto consideravelmente alto.

Todos automaticamente olharam para cima, entre eles Draco. Um grande pedaço do que parecia ser uma rocha despedaçou-se, revelando um túnel na parede. Sentido cada centímetro do seu corpo paralisar, Draco viu uma cobra enorme sair de dentro do buraco... um basilisco, parecia... sim, decididamente era um basilisco... Sua mente trabalhou rapidamente e ele pensou em fechar os olhos, mas já havia olhado diretamente para o basilisco que agora se esticava até o chão... E então, olhando melhor, ele percebeu que a cobra não possuía olhos. No lugar onde eles deveriam estar, restava apenas um buraco negro, como se eles tivessem sido arrancados à força... Draco não conseguiu pensar como. Sentiu-se sendo puxado e quando acordou de sua paralisia ele viu os aurores e comensais correndo e Gina puxando seu braço e gritando.

- Draco, VENHA! Mexa-se, por favor! – ela disse em tom desesperado. Então ele correu.
- O basilisco... eles mencionaram o basilisco, eles precisavam de presas de basilisco para a poção... – pensou Draco em voz alta, observando ao seu redor os aurores, que pareciam dividos entre prestar atenção no basilisco ou cuidar dos comensais que ainda tinham a varinha em punho.
- Sim, Draco, mas agora não é hora de recordar... – ela falava muito rápido e segurava sua mão ainda correndo. De repente a câmara pareceu demasiadamente ampla.
- Vamos achar o caminho que Madame Pomfrey fez para sair daqui. – sugeriu Draco, em tom desesperado. Gina parou de correr quando eles entraram em uma das divisões da Câmara e Draco percebeu que a mão dela tremia.
- Não... Não podemos sair daqui...
- O quê?! Você percebeu o que acaba de acontecer, Virginia?! Há um basilisco aqui também, além dos comensais... E nós já fizemos o quê conseguimos para aju...
- Draco, não dá! Eu simplesmente não vou conseguir deixar meu irmão e Harry aqui! – ela o encarou brevemente. Depois continuou em tom calmo – Vá você. Ache o caminho e volte. Eu vou ficar bem...
- Pelo amor de Merlim, Virginia... – ele sussurrou e, num impulso, abraçou-a. – Eu nunca te deixaria aqui sozi...

Então, ainda no abraço, ele viu. O basilisco, cego, entrava na repartição da câmara onde eles estavam. Vinha rastejando-se, lento, sem aparentemente tomar conhecimento de onde estava. Draco sentiu seu estômago despencar. Gina ainda não havia visto, pois estava de costas para a cobra.

- Dra...
- Shhhh – ele sussurrou no ouvido de Gina. – Não faça barulho. Por favor.
Automaticamente, ela saiu do abraço e rolou os olhos para a direção aonde Draco mirava.
- Chame... ajuda... – balbuciou Gina, abraçando Draco de volta e fechando os olhos com força.
- Não podemos fazer barulho... – seu cérebro trabalhava rápido. Olhou ao redor. Era um lugar particularmente estreito... havia um pouco de água no chão, seria difícil correr sem fazer barulho... não havia saída a não ser ficar parado e torcer para o basilisco ir embora. A não ser que... - Escute. Eu quero que você dê dois passos largos para a sua direita, sem fazer barulho. Suba em cima da pedra e tente escalar até aquele buraco entre as duas rochas...
- E você? – ela perguntou num sussurro quase inaudível. Seus lábios tremiam e Draco temeu que ela recomeçasse a chorar. Ela deveria ser forte, agora mais do que nunca.
- Não se preocupe comigo, eu...
- Você vai tentar distraí-lo, não vai? Não faça isso, Draco...
- Você tem que ir...
- Não vou deixar...
- Eu vou logo atrás de você. – mentiu, mesmo achando que ela não acreditaria. - Por favor, ele está se aproximando... Conte até três... e vá. Eu te amo.

Draco não teve certeza se ela escutara suas últimas palavras. Ele sussurrara talvez ainda mais baixo, e quis não tê-lo feito...

E no momento seguinte Gina virou-se bruscamente. O coração de Draco parou quando, contrariando sua ordem, ela correu até o lado do basilisco e gritou - Estupefaça apontando a varinha diretamente para o animal.
O feitiço bateu na pele da cobra e pouco causou efeito, mas esta virou-se, cega, para o lado em que Gina agora estava entre a parede e o animal. A garota ainda conseguiu gritar:
- Aproveita, Draco, co...

Foi rápido demais. Draco só conseguiu ver o basilisco, com as terríveis presas à mostra, avançar para Gina, ou para o lado direito de Gina... O animal havia atingido a parede, era isso? Parecia... Gina decididamente não fora antigida... Talvez... Ele estava num ângulo difícil, paralisado, horrorizado; viu Gina cair no chão e um vermelho dos seus cabelos flutuarem algum tempo no ar e cair sob seus braços... Mas espere, sob um dos braços não era o vermelho dos cabelos... era... sangue...?!

No momento em que Gina caiu, tudo pareceu acontecer em câmera lenta. Três pessoas pareceram ter ouvido o grito de Gina e entraram ali... Eles gritaram algum feitiço, os três juntos, e no instante seguinte o basilisco recebeu cortes intensos em seu comprimento. Eles continuaram a gritar os feitiços e, de longe, Draco percebeu que um dos aurores era Harry Potter. Mas ele não se importou. Não se importou sequer com o basilisco, que se contorcia à sua frente, se debatendo nas paredes e saindo daquela divisão. Seus joelhos fraquejaram e ele caiu junto com Gina, ao seu lado, e ficou de joelhos diante dela com o corpo todo tremendo.

- Não... não... – balbuciou.

Gina gemia de dor. A varinha havia escapado de seus dedos e ela tapava uma ferida com a mão. Sangue jorrava do seu braço direito e ela contorcia-se tentando desesperadamente fazendo a dor passar. Em vão.

- Virginia, agüente... agüente firme... por favor, por favor, agüente...
- D-Draco... – ela disse entre soluços.
- Gina?! – berrou Harry. Ele vinha correndo em direção à garota e Draco deixando os outros dois aurores cuidando do basilisco. – Gina! Gina, não...! O quê houve?!
- DESAPARATE! – berrou Draco para Harry, saudindo-o. – O quê você está esperando, leve-nos daqui, ela precisa de ajuda...
- Não... dá.
Draco pareceu não entender o quê ele havia dito.
- Como assim?! O quê você quer dizer, Potter?!
- Desfizeram o feitiço que permite aparatar e desaparatar em Hogwarts!
- Você está mentindo! – disse Draco em tom de ameaça.
- NÃO ESTOU MENTINDO! Algum comensal aproveitou-se da nossa distração com o basilisco para fazê-lo, acabamos de descobrir! Eles preferem que todos morram e nos leve juntos do que...
- ENTÃO REFAÇA O FEITIÇO!
- Isso é Magia Negra! – retrucou Harry, nervoso. - Não dá...!
Draco tinha as mãos no lugar da ferida de Gina, como se a ajudasse a tapá-la. Sentia o sangue e, entre seus dedos, a mão dela. Estava tremendo. Não podia esperar. Draco olhou para baixo, o desespero invadindo cada centímetro do seu corpo... depois ergueu os olhos para Harry e o encarou prestes a dizer algo que sequer ele sabia o quê. Mas Harry pareceu lembrar-se de algo em seu desespero e tirou uma varinha do bolso da capa.
- Tome, é sua... Estava com um Comensal...
- Oh meu Deus! – gritou uma voz vinda das paredes. Draco virou e viu Madame Pomfrey saindo do buraco entre as rochas onde pedira para Gina escalar. – O que... o que aconteceu?!
- Madame Pomfrey! Como...? – indagou Harry.
- Era essa a passagem?! Era por aí que deveríamos sair?! – indagou Draco, atropelando as palavras de Harry.
- S-Sim, mas o que aconteceu, por quê... – ela não conseguiu terminar a frase. Draco abaixou a cabeça e mirou Gina, estreitando os olhos, talvez tentando conter qualquer nó na garganta, e contraindo os lábios...
- Por quê, Virginia, por quê diabos você não escalou a pedra, você seria levada até lá em cima... Por quê diabos você não me ouviu...
- Você iria se sacrificar... – ela explicou suavemente, os olhos entreabertos.
- DANE-SE! – gritou. – Eu iria morrer de qualquer jeito! Eu te expliquei, era para eu morrer e você não sofrer nenhum arranhão aqui, Virginia, eu fiz parte de um plano idiota para te trazer aqui, eu deveria morrer, EU DEVERIA MORRER!
- Você o quê? - perguntou Harry, mirando Malfoy. – Foi você... que... Gina! VOCÊ A USOU, MALFOY?!
Harry avançou para Draco, mas este o empurrou violentamente e voltou sua atenção para Gina, que dissera um sonoro “Parem!”.
- Harry! – ela reuniu forças. - Ele já me explicou tudo... Ele se arrependeu. Eu acreditei... com motivos. Não vou conseguir te contar toda a história, mas acredite nele. Acredite em Draco.
- Ele...
- Por favor.
Harry olhou Draco novamente, totalmente perplexo e confuso.
- Ele acabou de tentar me salvar, Harry. Fui eu quem não deixou...
Mas Draco não agüentaria aquilo por muito tempo.
- Você! – gritou para Madame Pomfrey, que estava estática ainda em pé. – Você vem comigo, vamos levar Gina para cima, você cuidará dela e depois ela vai para o St...
- Não, Draco...
Ele havia acomodado-a em suas mãos para levantá-la e carregá-la no colo, mas Gina o interrompeu.
- O quê foi? – era incrível como seu tom mudava completamente com ela. Agora ele parecia extremamente delicado, como se estivesse tomando conta de um objeto valioso demais para sofrer qualquer dano mínimo.
- Eu não quero ir.

Harry baixou a cabeça. Draco arregalou os olhos para Gina e sentiu alguma coisa escorregar pela sua garganta... Pesadas lágrimas caíram dos olhos de Gina em resposta ao seu olhar de espanto. Não era isso que ele queria... Ela deveria deixar-se ser ajudada, deixar-se ser curada... Ela deveria sorrir para ele. Sempre fora tão otimista.

- Vamos parar com isso. Acho que todos aqui sabemos o quê está acontecendo. – ela disse em voz baixa com os olhos fechados.
- Gina...
- Você melhor que ninguém, Harry.
- EXAMINE-A! – ordenou Draco para Madame Pomfrey, percebendo que chegara a hora que ele temia. Havia desespero em seus olhos, e ele fracassava em tentar disfarçar.
Madame Pomfrey ajoelhou-se no gelado chão e examinou o antebraço de Gina. A região em volta da ferida estava totalmente roxa... um roxo amarelado. Madame Pomfrey levou as mãos à boca e lágrimas involuntárias nasceram em seus olhos.

- Veneno de basilisco... – ela disse. – Há quanto tempo aconteceu?
- Alguns minutos! – respondeu Draco. E ao ver a expressão de lamento no rosto de Madame Pomfrey, acrescentou – Não muitos...
- Eu sei que é fatal. Não é questão de poucos ou muitos minutos... – Gina falou em um novo sussurro.
- M-Me desculpe querida, mas... – Madame Pomfrey agora chorava. – N-Não há...
- Cale a boca! – gritou Draco, o desespero se multiplicando, se é que era possível. – Nós vamos salvá-la, precisamos salvá-la! Temos que levá-la daqui rápido, Virginia, por...
- Lágrimas de fênix – disse Harry. – Somente lágrimas de fênix podem curá-la...
- Não seja tolo, Harry... – disse Gina em voz baixa. – Minha ferida é muito maior do que foi a sua quando me salvou. E já se passaram muitos minutos. Além do mais, as fênices estão em extinção...
Harry abaixou a cabeça, como se os pensamentos o machucassem. Era verdade. A ferida de Gina estava muito pior que a dele em seu segundo ano de Hogwarts.
- TEM QUE HAVER UMA SOLUÇÃO! – gritou Draco, o queixo tremendo, ao ver a cara de decepção de Harry, que contorcia a boca e mordia o lábio. – Não há lágrimas de fênix em Hogwarts? Na enfermaria?!
Era uma pergunta de certo modo absurda, mas a incapacidade de Draco de raciocinar naquele momento estava cobrindo qualquer indício disso. Madame Pomfrey balançou a cabeça, tremendo.
- Você tem certeza?!
Ela fez que sim desta vez.
- Draco... você precisa me escutar... – disse Gina.
Harry mantinha uma expressão de desespero nos olhos, mas era o único ali que sabia da história de Draco e Gina. E entendeu a mensagem.
- Madame Pomfrey, venha comigo. Eles precisam conversar... – disse Harry, ajudando a enfermeira a se levantar e saindo.
- Draco...
- Não fala, Virginia! Agüenta...
- Por favor... – a voz de Gina saía trêmula. – Draco, o veneno do basilisco já penetrou em meu corpo...
- Não...é...verdade...! – a voz de Draco saiu igualmente trêmula. Talvez mais.
- E está doendo muito...
- Nós faremos a dor parar, você vai ver... Vou te levar para um hospital bom, eu posso pagar...
- Não há cura para o veneno do basilisco, você ouviu Madame Pomfrey. Não há nada que possamos fazer.
- PARE! Você não vai morrer! – mas Gina viu que havia muito medo nos olhos de Draco. Ela suspirou com os olhos fechados em tom de derrota. Abriu a boca, meio trêmula, pareceu hesitar. Depois disse, com toda a firmeza que conseguiu reunir.
- Me mate, Draco. – disse puxando a varinha dele que Harry anteriormente havia trazido e entregando-a. – Acaba com essa dor de uma vez. Já ouvi Hermione dizer que não é ilegal usar uma Maldição Imperdoável nesse caso, os medi-bruxos fazem isso quan...
- O QUÊ? – Draco gritou. – Você... você quer...
- Draco...
- NUNCA! VOCÊ NÃO VAI MORRER, VIRGINIA! Não pode morrer...
Então, finalmente, sua voz fraquejou. Estava impossível. Ele se debruçou em Gina, talvez tentando esconder seu rosto ou tomar parte daquele corpo para si, e chorou. Só havia o desespero. Gina nunca havia sequer sonhado em ver Draco daquele jeito.
- Escuta – ela sussurrou. – Está doendo muito. Para quê atrasar o que já é certeza?
- Você não vai morrer... Não morre, Virgina... – ele dizia em voz baixa, a cabeça ainda na barriga de Gina. Ela podia sentir as lágrimas quentes em sua blusa.
- Pare de agir como se não fosse acontecer... Está doendo e eu te peço por favor... me faça sofrer menos.
- Não posso... não posso... – ele fez uma pausa e então sussurrou - Eu te amo.
Gina sorriu. O sorriso mais triste do mundo naquele momento.
- Eu também te amo. Nunca vou deixar de te amar. Não é isso que vai nos separar. – a dor que ela sentia se tornava mais visível a cada palavra.
- Me perdoa. – ele levantou o rosto, coberto com lágrimas. - Me perdoa por tudo. Por te enganar... por me aproximar de você...
- Eu te amo por ter se aproximado de mim... Você me fez feliz. Nem que tenha sido um plano...
- Não foi...
- Eu entendo, Draco. Acho que agora eu sei separar exatamente o quê foi parte do plano e o quê não foi. Eu te perdôo. – Gina tentou acariciar parte dos cabelos de Draco. Ofegou um pouco antes de completar - Agora vai... acaba com essa dor.
- Não... Não, Gina, não!
- Você costumava me chamar de Virginia... – ela quase sorriu em meio às lágrimas.
- Não importa... Eu não quero que você morra! Não vou te matar!
- Não é você quem vai me matar. Você tem que entender que eu estou morrendo, mas estou sofrendo também... Dói demais, Draco... Eu te suplico... Acaba logo com isso.
- Não quero que você morra! – ele tentou erguer a voz.
- Querer não é poder, meu amor. – ela levou as mãos ao rosto de Draco com dificuldade e o acariciou. – É o meu último pedido. Acaba com o meu sofrimento logo. É o que qualquer medi-bruxo faria.
- Ela tem razão. – disse uma voz atrás de Draco. Ele se virou bruscamente e virou Harry parado, cabisbaixo, parecendo profundamente inconsolável. – Eu já passei por isso, Malfoy.
Harry andou até Gina e ajoelhou-se a seu lado. Draco talvez não pudesse se dar conta, mas não era o único que carregava uma dor intensa no peito naquele instante.
- Gina, me desculpe por qualquer coisa, por favor... – Harry sussurrou.
- Está tudo bem, Harry.
Inclinando-se, ele beijou a testa de Gina e logo em seguida levantou-se. Carregava agora no rosto uma expressão dolorosa e, fechando os olhos, abaixou a cabeça para o chão sujo e disse:
- Apenas faça. – sua voz saiu em tom de súplica.
As mãos trêmulas de Draco seguraram a varinha que Gina empurrou.
- Não posso...
- Por favor... – as lágrimas caíam dos olhos de Gina para o chão sujo.

Draco a mirou por dois segundos. Ouviu distantemente os passos de Harry saindo dali. Seus sentidos não falharam, agiram como sempre quando ele a olhava assim, de perto. Mas era a primeira vez que doía... Doía vê-la ali, em sua frente, desejava pela primeira vez que ela estivesse longe, muito longe dali. Desejava com toda a sua força trocar de lugar com ela. Fechou os olhos numa atitude estonteante e esperou que seu desejo se tornasse realidade. Mas quando os abriu, pareceu cair em si; ou então cair de algum precipício muito alto, era quase a mesma coisa afinal...
Então Draco a beijou. Sentiu os lábios quentes dela teve a certeza de que aquele beijo resumia todo o amor deles, um beijo que possuía mais amor do que alguém poderia ter em uma vida inteira.
Os dois sentiram as lágrimas um do outro, alguma lágrima chegou à boca deles e o salgado misturou-se entre os lábios colados. E choraram ainda mais... Só havia um sentimento maior que o desespero ou o medo naquele momento: o amor.

- Eu te amo, Virginia. Como jamais amei alguém. – ele disse finalmente.
- Eu também. Isso não é o fim, Draco. Te amo... para sempre.

Draco respirou ofegante, as lágrimas caíam com mais intensidade. Suas mãos tremiam, assim como o resto do seu corpo. Nenhuma dor era maior do que a que ele estava sentindo, nem mesmo a dor que o veneno do basilisco causava em Gina, ele tinha certeza. Fechou os olhos, como se a visão também doesse.

- Avada... Kedavra. – sussurrou com uma voz muito trêmula.

Silêncio. Ele permanecia com os olhos fechados, mas uma rápida luz verde foi distinguida à sua frente. Ele já não ouvia nada, queria morrer... Torceu internamente para que não tivesse dado certo, para que falhasse... Por favor, que falhasse, pensou... Abriu os olhos em seguida.
Por alguns segundos, Draco achou que aquilo não era verdade... porque não podia ser. Simplesmente não podia!
A maioria das coisas davam certo pra ele quando ele quisesse, e no momento o que ele mais queria era ter Gina de volta... Mas não... Não era como pedir um sapo de chocolate a algum elfo domésitco ou vestes novas para sua mãe. A garota já não respirava mais, seu coração não batia, não aparentava sinais de vida, mas tampouco a expressão de dor. Pelo contrário... ela sorria. Um pequeno sorriso se formava em seus lábios. Ele soluçava enquanto as lágrimas teimavam em embaçar sua visão e faziam seus olhos claros brilharem.
Ele levou as mãos ao rosto de Gina. Ainda havia lágrimas por ele... lágrimas quentes. Então, por que o rosto estava tão gelado?
Ela estava morta. Morta. E Draco não conseguiu se mover, não conseguiu mais mexer nenhuma parte de seu corpo, como se seu espírito saísse de dentro dele por alguns poucos segundos... Não era possível que aquilo fosse verdade, e que fosse irreversível, alguma coisa tinha que ser feita, alguma coisa tinha que poder ser feita! Draco queria pensar em algo para fazer e reverter aquilo, mas algo dentro de si insistia em gritar dizendo que estava tudo acabado. Perdera tudo. Perdera sua vida.
E antes que pudesse se arrepender de qualquer coisa, ele ouviu passos. Draco limpava as lágrimas dos olhos quando viu a figura de Eddy Humptirf aparecer. Eddy olhou para Gina morta, e empalideceu.

- Você a matou... – ele disse, incrédulo - Gina...! VOCÊ A MATOU!
Draco não teve tempo de pensar, nem de responder. Eddy apontou a varinha para ele.
- AVADA KEDAVRA! – gritou Eddy. A voz ecoou pelo local.
Outro feixe de luz verde. O corpo de Draco caiu.

- NÃOO! – era a voz de Harry, que chegava ao local.

Mas já era tarde – os corpos de Gina e Draco já estavam caídos... Harry se aproximou e sentiu seus sentidos falharem. Todo o seu corpo tremeu e suas pernas pareceram fraquejar, ele abaixou-se...
Gina estava deitada, pálida, um pequeno sorriso em seus lábios. Parecia brincadeira. Irreal. Os longos cabelos ruivos, sempre tão vivos, agora pareciam ter simplesmente se apagado. Ele conseguia ver perfeitamente duas marcas dos caminhos das lágrimas em cada bochecha dela.
Draco estava caído, debruçado sobre o corpo de Gina. Sua mão ainda segurava a da garota e havia lágrimas em seus olhos abertos. Mas acima de tudo, havia desespero em sua face, agora mais pálida do que nunca. Harry nunca pensara em ver Draco assim, em uma imagem congelada, sem o ar arrogante e superior. Sua visão exibia um Draco Malfoy com medo, uma tristeza pronfunda e acima de tudo, desespero. Mas o mais difícil era compreender que sua expressão não mudaria nunca mais.
Estavam mortos.
Mas não podiam estar. Como fora acontecer...? Harry sentiu seu corpo levitar, ultrapassar todas aquelas paredes da Câmara Secreta, sua respiração estava ofegante sem motivos e ele logo chegaria à superfície... Tudo acontecia em câmera lenta, mas logo ele estaria longe dali... Aquilo obviamente não estava acontecendo... O impacto fora grande demais, e havia muito tempo desde a última vez que ele se sentira daquele jeito.

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