O mais doce erro



N/A: É, o N/A hoje vai no começo... :P
Primeiramente deixe-me desculpar pela demora (de novo...), mas posso garantir que valeu a pena, porque estou com boas notas garantidas no colégio... Bom, hoje foi meu aniversário (foi, porque já passou da meia-noite :P na verdade são 02:10) e eu não consegui revisar (por isso desculpem qualquer erro) mas eu não podia deixar passar mais um fim de semana sem atualizar.
Aqui vem a parte chata: eu _acho_ que o próximo capítulo vai demorar :( porque tá beeem complicado, mesmo, e eu não tenho tudo pronto. Preciso reorganizar as idéias, pensar muuuuito sobre o destino da fic, pôr tudo em prática... mas voilá. Podem ler a fanfic. Eu espero sinceramente que agradem vocês. Ou talvez só agradará quando vocês souberem de mais... aah, enfim. Agora vou dormir, porque estou caindo. Beijos, comentem, e incentivem, sinceramente, porque acho que vou precisar! (Não, não vou abandonar a fic, podem ficar tranquilos!)
:*

_______________________________________________________________


A bolsa na poltrona. Ela voltara para pegar a bolsa que havia esquecido na poltrona... Uma maldita bolsa...

Draco não esperava por aquilo. Não estava nos planos. Não havia solução imediata. O mundo simplesmente desabou de uma vez e ele não conseguia pensar direito.
Lúcio pareceu tão assustado quanto ele. Porém, o pai de Draco conseguiu ajeitar seus pensamentos e rapidamente tirou a varinha do bolso.
- Obliv...
- Expelliarmus! – berrou Gina, fazendo a varinha de Lucius voar. Ela já estava com a varinha na mão, e parecia preparada para o feitiço de alterar memória. Draco teria sido muito surpreendido com a esperteza de Gina, se o sentimento que lhe afogava não fosse o de desespero.
- Virginia... – conseguiu pronunciar, aproximando-se de Gina.
- Me diz... que isso tudo... é mentira. – ela disse, a voz trêmula de puro ódio e dor.
- Acalme-se. Prometa que vai me ouvir.
- NÃO! – ela apontou a varinha para ele. – Não vou te ouvir! FAZ TODO SENTIDO! TODO O SENTIDO!
- Abaixe a varinha... – ele pediu cautelosamente, as mãos para o ar.
Gina parecia desconcertada. Segurava a varinha mirada para Draco Malfoy, todo o seu corpo tremia. Ela ofegava. E em um soluço, lágrimas brotaram nos seus olhos.

PAF.
Rapidamente passou a varinha para a mão esquerda e havia dado um tapa na cara de Malfoy. Com toda sua força mergulhada na raiva do momento, aquilo deveria ter doído. Muito. O barulho se perdeu pelos corredores da Mansão e até Lúcio pareceu alarmar-se.
Draco pôs a mão no lugar e sentiu o rosto queimar.

- Escute-me... – começou Draco, um dos olhos cinzas ainda fechados pelo impacto da dor. – Tudo o que você ouviu aqui pode ser verdade, Virginia, mas...

Mas Draco não terminou a frase. Sem que ele ou Gina tivesse percebido, Lúcio apanhara sua varinha do chão e em um milésimo segurou o pulso erguido de Gina e o de Draco com a outra mão e ambos sentiram-se puxados por todos os lados. Lúcio havia aparatado.

A visão do lugar onde foram parar não era das melhores, embora não estivesse tão nítida. Estava escuro. Tinha um aspecto sujo.
Em segundos, Gina conseguiu distinguir a imagem de homens. Homens vestidos de negro, encapuzados... Ela lembrava-se deles... Era como um pesadelo... E então, dois desses homens veio até ela e a puxou com muita força, arrastando-a para algum lugar. Gina ainda tentou se debater, mas eles eram demasiadamente fortes... Então, deixaram-na jogada em algum lugar. Procurou sua varinha e não achou. E, no segundo seguinte, ela sentiu uma forte pancada na cabeça e tudo ficou escuro.

***

Pareciam ter passado horas. Tentou reorganizar o pensamento e lembrar o motivo dela estar deitada sobre um chão sujo e frio... abriu os olhos, soltando uma exclamação de puro horror.
Pela pouca luz conseguiu distinguir, mesmo com sua vontade querendo negar de qualquer jeito que ela estava ali. Todas as lembranças ruins e horríveis voltaram. Seu coração acelerou ainda mais. Cercada por grades, ela olhou em volta... estava na Câmara Secreta, em Hogwarts.
Gina caiu em desespero. Pensou fortemente na possibilidade de estar sonhando... só podia estar sonhando... aquilo era terrível demais para ser verdade... Levantando-se de súbito, a cabeça ainda rodando, procurou uma saída, apalpando por todos os lados, procurando sua varinha, ou mesmo tentando cavar no chão algum buraco. Seu cérebro parecia ter parado de funcionar e seu corpo parecia mover-se involuntariamente à procura de alguma saída desesperada.

- Virginia... Virginia?! – surgiu a voz de Draco. Gina levantou o rosto e viu-o atrás das grades de uma cela ao lado. Sua boca sangrava.
- ONDE ESTAMOS? – gritou, embora já soubesse a resposta. – ME TIRE DAQUI!
- Eu não posso, olhe...
- ONDE ESTAMOS?! – repetiu.
- Você não se lembra? – ele perguntou, tristemente. Parecia cansado e abalado demais.
- DE QUÊ? ME TIRE DAQUI...
- Essa é a Câmara Secreta, eu acho... não tenho certeza, acho que ouvi-os falando... Por favor, Virginia, acalme-se, eu não vou poder tira-la daí porque eu...
- NÃO VOU ME ACALMAR! – gritou ainda mais alto, chutando as grades que os separavam. – QUERO SAIR DAQUI!
- Eu estou preso! Será que você não percebeu? Eles me prenderam, Virginia, porque...
- VOCÊ FAZ PARTE DO PLANO DELES! – ela apontou para ele, acusando-o. – VOCÊ ESTÁ ENVOLVIDO, NÃO MINTA PARA MIM, EU OUVI...
- EU TENTEI TE SALVAR! No último momento... Eu tentei te tirar daqui, ou brigar com eles, eu não sei, eu não consegui vê-los te arrastando pra cá, eles me bateram e me jogaram aqui também... Eu também desmaiei, não sei onde fomos colocados, não sei quando tempo se passou... mas... não há saída... – ele disse, conforme foi perdendo a voz. Sentou-se abalado no chão frio da cela e passou a mão pelos cabelos, seu rosto coberto pela escuridão.

Não havia saída? Como assim? Gina pendeu os sentidos. Não conseguia acreditar que estava ali e não sabia o que viria a acontecer com ela. E Draco, estaria falando a verdade?
Não... ele mentira por todo esse tempo. Gina era forte, muito forte, mas não agüentou. Ou seu coração não agüentou, e ela começou a chorar.
Palavras transformadas em lágrimas. Porque ela queria gritar com Draco, queria explicações, queria perguntar... Ou xingar, lutar, quebrar algo... Mas algo parecia esmaga-la, impedindo-a de sequer locomover-se... Caiu no chão, as pernas bambas, em meio a soluços ensurdecedores. Aquela cena pareceu durar uma eternidade, cada lágrimas parecia vir acompanhada de mais meia dúzia de outras lágrimas... Os soluços até haviam perdido seu efeito sonoro, até que Draco interrompeu o silêncio.

- Eu não queria estar aqui. – disse ele sentado às grades. – Eu não queria ter participado deste plano. Eu não queria nascer em uma família cuja devoção seja voltada a um homem que quer conquistar o mundo.
Gina, por mais que não quisesse ouvir a voz de Draco, não conseguia evitar faze-lo. O silêncio era absoluto e a voz dele parecia demorar a morrer no ambiente.
- Eu nunca quis... – ele continuou – servir alguém. Nem ser escravo de ninguém, abaixar a cabeça para ninguém.

Ele não olhava pra Gina. Mirava o chão, como se contasse aquilo para algum inseto. Gina tampouco olhava para ele. Ela sentiu algumas lágrimas ainda em seu rosto, mas nem as sentia mais brotarem nos olhos, como se eles já estivessem anestesiados.

- Você é a primeira pessoa a saber disso e eu me sinto estúpido de estar me abrindo para Gina Weasley. Mas sabe – Draco levou a mão à face. – por outro lado, faz todo o sentido do mundo, porque estou me abrindo para a mulher que eu amo.

Ele não enfatizou as últimas palavras. Pronunciou-as de modo simples. Gina não sentiu seu coração bater mais rápido, porque ele estava demasiado fraco e decepcionado para novas emoções, como se Gina o controlasse. Mas odiou sentir sua nuca arrepiar-se involuntariamente. Seu coração doía de verdade, e ela podia senti-lo machucado. As palavras, porém, apenas aprofundavam a ferida.

- Talvez... talvez este seja meu último dia de vida. Eu vou tentar te tirar daqui, Virginia. Eu vou tentar evitar seja lá o que eles façam amanhã que faça mal a você, por isso talvez eu morra. Eles não têm piedade, e eu já aprendi com isso. Então eu quero morrer sabendo que você me perdoou.

Mais um plano? Ele mentira para ela durante os últimos meses. E as mentiras sempre pareceram sinceras. Então por que, céus, havia tanta verdade nas palavras dele? O quê as fazia soarem tão certas, tão distintas? O quê no mundo poderia fazê-la duvidar de tudo, quando elas entravam como música em seus ouvidos e bagunçavam todos os seus pensamentos, flutuando como nuvem movida pela brisa? Seu coração doía mais ainda agora. Ela estava ferida na alma. Talvez aquilo fosse um escudo. Ainda estava alarmada.

- Eu não acredito mais em uma palavra sua. – disse. Em voz firme.

Draco a olhou. Talvez ele não esperasse que ela o respondesse. Mas ela não ouviria tudo aquilo calada. Ela precisava fazê-lo saber que ela nunca mais acreditaria nele. Nunca mais.

- Eu não esperava que você acreditasse mesmo. Eu só queria que isso acontecesse para você não agonizar um arrependimento caso eu consiga te salvar e eu morra. Mas vendo bem, seria justo. Eu te meti nisso, não foi? Preciso te salvar, então. A única condição é que eu perca minha vida. Mas quem se importa, não é mesmo? Essa vida estúpida... Talvez o inferno seja melhor do que aqui.

Gina fechou os olhos. Lutava contra os milhares de pensamentos que a invadiam. Parecia ser puxada por uma correnteza muito forte e estar muito fraca para nadar. O ódio aumentava dentro de si. Ao mesmo tempo em que parecia acreditar nas palavras, ela odiava ouvi-las, e se tivesse uma varinha ali talvez seria capaz de usar uma Maldição Imperdoável contra Draco cada vez que lembrava que tudo o que ouvira foram mentiras.

- Eu não sei o quê eles estão planejando fazer... Nem como eles vão realizar a parte do plano... Mas se você conseguir escapar disso do jeito que estou pensando, prometa-me que vai cuidar do nosso filho.

Gina abriu os olhos de súbito. Havia ouvido direito? Talvez fosse o efeito do sono ou do cansaço. Mas as palavras pareciam ecoar... No ambiente, em sua mente, em seus ouvidos... Olhou para Draco, os olhos castanhos arregalados ainda brilhantes por vestígios de lágrimas.

- É esse o plano. – ele disse. – Sangue do fruto de uma inimizade. Esse é o ingrediente que eu precisava conseguir para a magia que vai trazer o Lorde das Trevas à vida. Sangue de um filho nosso.
- Quê... mas... não! – gaguejou Gina, que parecia completamente desligada a tudo. Era demais para ela.
- Lembra-se de Verona? Os dois casais que jantaram conosco? Paguei-os para juntar-se a nós e ajudar a deixá-la bêbada. Eu nunca estive bêbado naquela noite, Virginia. E você está grávida, acho. Por mais que ainda não saiba.

O chão já não existia para Gina. Ouvindo tais palavras, recomeçou a chorar e levou as mãos ao rosto. Parecia envergonhada de tudo. De cair em tal armadilha, de agora provavelmente carregar um filho na barriga de alguém que ela, no momento, odiava mais do que tudo. O que seria dela, agora? Mesmo se saísse viva dali, ainda teria coisas a enfrentar.

Lembranças. As cartas que recebera, pouco tempo atrás, de um tal ‘D’, que agora estava parado em sua frente, confessando que fora tudo mentira. Condenou-se por ter sorrido ao ler a primeira carta. Sentiu uma profunda vergonha de ter respondido, de ter gasto horas imaginando quem poderia ser. De ter suspirado com o aroma da flor que saltou de dentro da carta...

- As flores... eram minhas flores preferidas. Como você sabia, como? – disse, entre lágrimas. Gina parecia murcha. Sempre fora tão forte. Aprendera a ser forte. E fora atingida no peito, no momento em que baixou todas as defesas.
- Escutei uma conversa de seu irmão comentando. – respondeu, cabisbaixo.
Gina segurou as grades da cela com força, como se fosse arrancá-las. As pontas dos seus dedos ficaram brancas, tamanha era a força aplicada. Ela sabia que tinha sido enganada, e agora iria querer descobrir tudo. Para se culpar. E morrer no desgosto. Até onde Malfoy foi capaz de ir para enganá-la?

- Quero saber de tudo! – gritou. – Já chega de mentiras! Me conte, vai, Malfoy! Retire sua máscara, e, já que estou correndo perigo, tenho o direito de saber de TUDO!

Draco mirava o chão. Mantinha um olhar triste. Se não estivesse escuro, talvez Gina pudesse ver ali algum ar de arrependimento. Piscou uma, duas vezes. Depois, rolou os olhos até a sombra de Gina, que ofegava. Ele podia ver o brilho das lágrimas naqueles olhos.

- Fudge... ele está sob a Imperius... Precisei disso, para evitar deixar com que Humptirf viajasse com você... e para eu poder viajar e te encontrar...
- E me enganar. – completou Gina. A voz trêmula mais uma vez.

E como aquilo doía. Draco sentia-se exatamente como a última vez em que também esteve arrependido. Viu-se no seu sexto ano em Hogwarts, prestes a matar o diretor da escola. Passara uma hora sentado dentro da sala precisa, encostado na parede, os braços em torno dos joelhos. Ele sempre tivera tudo. Tudo. Doces, por exemplo. Engraçado, pois ele nunca precisou pedir, de fato. Sua mãe sempre se encarregava de mandar os elfos prepararem os melhores doces para serem enviados a seu filho em Hogwarts. Mas se o caso fosse uma vassoura, das melhores, Lucius estaria sempre disposto a dar tudo para que seu filho fosse o melhor, em seja lá o que fosse.
Mas Lúcio não estava lá naquele momento. E nem em sua casa. Lúcio Malfoy estava em Azkaban, preso, talvez sendo sugado por dementadores. Então ele só tinha a sua mãe. Narcisa, que morreria, caso ele não fosse bem sucedido na missão que o Lorde das Trevas lhe dera.
Missão. Uma tarefa. Como quando ele dava ordens para seus elfos domésticos. Mas agora o elfo doméstico era ele próprio. Aceitara a fronha e agora era mais um empregado. Exceto pelo fato de que servir bolos ou limpar salas não era nada perto de matar alguém. Matar um dos bruxos mais fantásticos já existentes.

Fechou os olhos. Draco Malfoy estava perdido, completamente perdido, pela segunda vez em sua vida. Queria de todo seu coração, que o mundo acabasse ali. Ou então, que Gina se acalmasse... Que não o odiasse e que eles terminassem tudo aquilo bem... Por que, afinal, ela era tudo o que fora real pra ele nos últimos tempos... Estranho. Uma mentira, que fora a única verdade, os únicos bons sentimentos desde que ele se conhecia no amor... Mas o quê era amor pra ele? Uma escuridão. E ele estava cego, em plena escuridão.

- Por que, Malfoy... por quê? - surgiu a voz de Gina, repentinamente. Draco sentiu um calafrio percorrer seu corpo deixando-o gelado. Estava escuro, mas ele sentiu o olhar de Gina penetrar por ele e invadir todos os seus sentidos. Ela perguntara por quê... fazia sentido perguntar por quê?

Ele não sabia. Sua decisão já estava tomada. Ele tentaria salva-la. E, no instante em que olhou nos olhos brilhantes de lágrimas de Gina, ele decidiu confessar para si mesmo. Ele a amava. Amava-a, com cada centímetro de seu corpo, precisava tê-la nem que fosse pela última vez. Precisava senti-la, tocar seus lábios de novo, nem que fosse para depois ele ser morto por uma dúzia de Comensais da Morte, ou sentir a dor de vários crúcios seguidos. Gina Weasley. Era dela o coração de Draco Malfoy. E, se ela decidisse sumir da vida de Malfoy, ele sumiria com a sua própria. Ela era a vida em sua existência.

Que ele morresse, então. Que tudo fosse para o inferno. Ele morreria, sim, mas deixaria claro para Gina tudo o que sentia. Se fosse para dar adeus ao mundo, que desse adeus sabendo que a única mulher que amara soubesse de toda a verdade.

- Não foi só você quem caiu em uma armadilha, Virginia, e isto é sério. Você pode não acreditar em mim agora e eu nem estou pedindo para você faze-lo. Eu não queria me apaixonar por você e nem mendigar por um amor. Mas, veja bem, estou fazendo ambos, porque eu me apaixonei por você, pelo jeito de como você sorri pra mim e pelo jeito como você me corrige de todas as coisas ruins que eu faço.
- Já chega... – disse Gina, tapando os ouvidos e balançando a cabeça.
- Eu nunca vou ser a pessoa que você sonhou pra você. – continuou Draco, agora apoiado às grades - Eu nasci assim. Fui criado assim. Esse Draco que você sempre conheceu, esse sou eu, talvez um idiota mimado que adora rir dos outros. Um Malfoy, envolvido nas artes das trevas até o pescoço mesmo, cuja família as venera tanto quanto sua família, Virginia, odeia.

Draco suspirou por um instante, tentando não refletir sobre tudo o que dizia. Era muito estranho estar contando tudo aquilo para Gina, mas ele simplesmente não conseguia evitar. As palavras saiam tão naturalmente de sua boca e ele se pegou pensando no quanto estava envolvido com Gina por poder abrir-se tão confortavelmente para aquela ruiva à sua frente.

- Mas tem um Draco Malfoy que você não conhece, que ninguém conhece... o Draco Malfoy cansado. É... é verdade. Cansado demais por sofrer por erros idiotas cometidos por besteiras. Até pouco tempo atrás eu tinha nojo de você. Hoje eu não consigo pensar em um motivo para esse nojo. Ou mais... eu não consigo pensar em como poderei viver sem você aqui, ao meu lado. Então... então pra quê todas essas causas idiotas, guerras e toda essa bagunça... Virginia, eu ainda detesto sangue-ruins, acho um infortúnio que nascidos trouxas se metam com o mundo mágico, detesto quem os trata normalmente bem, como se eles tivessem o direito, mas... mas eu não estou conseguindo te odiar, sabe? Isso é muito grave, porque eu fui me apaixonar logo pelo meu maior desprezo.

Ele parecia querer falar mais, mas não encontrava as palavras certas. Tornou a abrir a boca uma, duas vezes de novo, embora seus olhos tivessem roubado-lhe as palavras da boca e estivessem-nas representados através de um brilho profundo... triste.
E Gina chorou. De novo. Mas foi um choro diferente, ele pode perceber. Há pouco tempo não havia mais lágrimas para serem derrubadas, mas ela parecia ter encontrado mais. Lágrimas diferentes... Malfoy pensou esperançosamente na possibilidade de serem lágrimas de comoção...

- Por que você simplesmente não jogou um feitiço Imperius sobre mim?
- Não... não funcionaria. Eu pensei nisso. Mas não daria certo. Não quando você está rodeada por aurores de todos os lados. E talvez... talvez não funcionaria para... o plano.
Gina pareceu suspirar. Levou as mãos ao rosto, o quê demorou uma eternidade. Depois, tirou-as, ainda olhando para baixo.
- Você foi um erro. – ela simplesmente disse, entre lágrimas silenciosas. Não havia soluço, nem gritos ou desespero. Ela agora tentava manter a calma, parecia... ou então, simplesmente não conseguia nada mais além de ficar calma. A sombra da sua silhueta parecia tremer, talvez por acumular tantos sentimentos ruins dentro de si.
- Você também, Virginia. Esse é o problema. Você também foi um erro. – Draco aproximou-se mais das grades e encostou sua cabeça no vão delas - Meu mais doce erro.

E então ela começou a rir, uma risada totalmente sem alegria. Uma risada sarcástica, um sorriso forçado entre o rosto manchado de lágrimas, uma flecha no coração de Draco. Era a primeira vez que via aquele sorriso e sentia medo.
- Você não está achando que eu vou dizer palavras consoladoras para você, acha? Você por acaso não está pensando que eu vou cair em toda a sua história de amor... ou toda essa imitação de contos de fadas baratos, está?

E então Draco se lembrou. Seu ato desesperado, no intervalo de tempo enquanto Gina estava no hospital. Ele havia feito meio sem pensar, era verdade... Mas era uma prova para Gina de que ele estava falando sério.

- Virginia! Seu casaco... era este casaco que você estava quando fui te visitar no segundo dia que você estava no hospital?
Ela não entendeu. Seu sorriso sádico foi esvaindo-se em um ar duvidoso e interrogativo. Mirou Draco.
- Por favor... se for este... coloque a mão no bolso direito, vá! Veja se não contém um papel dobrado... acredite em mim...
Ela pensou rápido. Não tinha nada a perder. Sua vida estava praticamente acabada, afinal.
Levou a mão direita ao bolso e enfiou-a, apalpando. Sem demorar, retirou um pedaço de pergaminho dobrado. Imediatamente, Draco vibrou, nervosamente.
- Graças a Merlim... Abra-o!
Gina abriu devagar. Seus dedos tremiam, junto com o resto de seu corpo. Poderia ter algo ali de extrema importância?

Carta de confirmação | Banco Gringotes

O Sr. Draco Lucius Malfoy realizou no dia vinte e oito de Agosto uma doação no valor de 20 mil galeões para o cofre 527, da família Weasley. O dinheiro será doado na condição da Srta. Gina Weasley ter um filho, que herdará o dinheiro da doação.


A carta estava escrita quase de uma forma ilegível, de tão apressada a pessoa que escreveu parecia estar. Mais embaixo havia duas assinaturas: a de Draco e a de um duende. Supostamente, fora o duende que havia escrito a carta.

Gina leu a carta mais uma vez e outra. A informação demorou a processar-se em seu cérebro e caiu como um baque em seus pensamentos.

- Você... você... – ela gaguejou, procurando palavras.
- Foi um ato meio desesperado... Mas eu estava me sentindo culpado... Foi uma doação secreta, ninguém nunca ficaria sabendo, apenas eu e você... Mesmo que depois você nunca mais olhasse para minha cara, pelo menos eu poderia te recompensar ou te ajudar de algum jeito... Eu não sei explicar, não sei... Foi a única coisa que pensei no momento.
Engoliu a seco. Não queria dizer que não sabia o quê aconteceria com o bebê. Temia por isso também...
- São vinte mil galeões! Você queria manter isso em segredo?!
- Era pra você e pro bebê... e eu já tenho idade suficiente para pegar o quanto eu quiser do cofre da minha família... Eu só queria ter a certeza de que você e nosso filho ficariam bem se vocês...
- Se a gente viver?! O quê vai acontecer com ele, Draco? Sangue... como eles irão pegar sangue de um filho que nem começou a se formar ainda?! O quê nós estamos fazendo aqui?! – o tom de desespero aumentava em sua voz.
- Eu não sei, Virgínia, eu não sei... É isso que eu quero que você entenda... Eu estou no mesmo barco que você... Eu acho que os comensais descobriram que eu me apaixonei por você e me colocaram aqui pra eu não tentar nada, porque eles me viram tentando te salvar... Eu só quero te garantir que se nosso filho sair são e salvo, ele vai ter uma ótima vida... porque eu vou garantir que isso aconteça... nem que eu tenha que doar toda a fortuna da família Malfoy pra ele antes de morrer...
- Pare de falar em morrer! – ela berrou.
- Eu estou encarando a realidade! Eu não sei como eu vou sair daqui, mas eu já te disse... eu vou fazer de tudo para te livrar daqui e, mesmo se eu não estiver lá, me prometa que você vai cuidar do nosso filho... Se eu puder, eu transfiro mais galeões para você cuidar dele... – Draco segurou as grades fortemente e aproximou-se o tanto que pôde de Gina. – Por favor...

Ele sempre zombava dos Weasley por serem pobres. Gina pegou-se pensando que nunca havia imaginado Draco, logo ele, fazendo doações ao cofre dos Weasley. Dinheiro era uma coisa mais do que importante para Draco Malfoy. Então por quê ele havia simplesmente doado tudo aquilo pra ela...? Era tão doloroso acreditar, depois de um choque como aquele.

- Acredita em mim, por favor, acredita... Eu amo você, Virginia Weasley! Por mais que eu não queira. Por mais que eu morra. Eu só quero que você saia viva daqui, com nosso filho na barriga... Por quê se você morrer, eu não vou querer continuar vivendo. – Draco apertou ainda mais os dedos nas grades – Eu sei que eu menti... eu errei, mas todos erram e você pode ter certeza de que o preço do meu erro já está sendo pago... Me dê uma chance para te provar que eu te amo de verdade... Porque aqui não há mais truques... Por favor, me prometa que se sairmos vivos daqui, me prometa que vai me deixar te provar tudo isso... Ou então, só diga que me perdoa. Se eu morrer, eu morro em paz, assim. Você foi a única pessoa em que eu acreditei verdadeiramente todo esse tempo... a única pessoa que eu realmente senti algo forte nessa minha vida estúpida... Minha vida estúpida de filho de Comensal... eu nunca quis isso pra mim, Virginia, eu queria me mostrar bom, pra ser sempre o melhor... Mas você me mostrou que eu só me sinto assim, o melhor, quando eu estou ao seu lado...

Draco ofegou. Sacudiu a cabeça, fechando os olhos e olhando para o chão. Parecia cansado, ou então poderia reprimir uma vontade de chorar... Gina não sabia, ele conseguia disfarçar tão bem...

- Por que por você... por que eu fui me apaixonar por você? – sussurrou. – E por que desse jeito? Eu já me peguei refletindo tantas vezes sobre com quem eu iria passar a vida junto... Até meu pai me apresentou a várias puro-sangues e eu não me via casando com nenhuma... Eu não me via amando ninguém até que você apareceu para me deixar vulnerável, Virginia... para acabar com a minha solidão e com a minha vida... Pode não parecer nada para você, mas meu mundo desabou pra mim a partir do momento em que eu me vi apaixonado por você... A partir do momento em que eu me vi te amando... A vida nos prega peças demais. Eu estou me abrindo com você, eu não sou mais eu...

E então Gina ficou sem reação. Talvez imóvel, se suas mãos não tremessem tanto, segurando a carta de Gringotes...
Havia tanta verdade nas palavras de Draco. Ela poderia ser considerada a pessoa mais acéfala do mundo por acreditar em tantas mentiras, mas de algum jeito ela não seria vítima de mentiras naquele momento... porque aquilo que Draco falava não era mentira. Ela podia sentir, do fundo da sua alma... Misturado com o medo de uma nova decepção e com a decepção presente. Sentimentos guardados, que a haviam deixado-a sedada, e talvez por isso seu coração tenha se emocionado com as palavras dele... do homem que Gina amava. O amor poderia cegar tanto? Ela não encontrou respostas. Estava cega, afinal. E também não conseguia processar pensamentos. A única coisa que realmente conseguiu fazer foi derrubar a carta de suas mãos e chegar mais perto de Draco. Muito hesitante, levou as mãos ao queixo dele, fazendo-o erguer sua face para ela e os dois olhos brilhantes encontrarem-se. As lágrimas pareciam cintilar na mesma intensidade. Ela chegou a abrir a boca para falar...

- Que infortúnio, Lúcio... Seu filho, sua cria... rendido a uma traidora do sangue Weasley. Claro... Nada que um Obliviate não resolva, afinal foi em pouco tempo... – disse Amico. – Agora vamos: peguem a garota.

Sombras invadiram a cela de Gina, que tentou debater-se em meio aos comensais.

- NÃO... NÃO! PAI, ME TIRA DAQUI! – berrou Draco para Lúcio, que assistia à cena ao lado de Amico, totalmente enojado.

Os Comensais da Morte arrastaram-na para fora. Um comensal acendeu velas dentro da Câmara com um toque de varinha. Um caldeirão estava parado no centro... plano iria começar a ser posto em prática.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.