EPÍLOGO
Uma brisa, quase em espiral, entrou pela janela da cozinha e fez a ponta do jornal estirado mexer-se com leveza na mesa.
COMENSAIS DA MORTE, AURORES E MORTES NA NOITE DE ONTEM
Combate entre Comensais da Morte e Aurores que aconteceu na Câmara Secreta de Hogwarts resulta em quatro mortes
O mundo bruxo está prestes a se chocar ao tomar conhecimento dos ocorridos de ontem na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Por volta das sete horas da noite, comensais da Morte se reuniam na Câmara Secreta, anteriormente tida como lenda até Harry Potter descobri-la nove anos atrás, tendo como resultado a morte de quatro bruxos que trabalhavam no Ministério da Magia.
Fontes nos dizem que a Câmara Secreta estaria sendo usado para trazer Você-Sabe-Quem à vida por Comensais da Morte. Como todos sabem, Harry Potter havia derrotado o Lorde das Trevas há três anos atrás; porém, conseguimos informações com os aurores que estavam ontem na câmara que contradizem essa afirmação.
“Você-Sabe-Quem não estava completamente morto como pensávamos. Ele estava fraco, e planejava voltar. Foi o que descobrimos ao usar o Veritasserum em um Comensal da Morte.”
Pelo que sabemos, um grupo de aurores invadiram a câmara e muitos comensais que estavam no local foram capturados quando os aurores chegaram. Isso, porém, resultou na morte de Gerard Dawlish, 38, auror que trabalhava no Ministério da Magia há dezessete anos. Também deixou vários aurores feridos, que foram levados ao St Mungus pela madrugada. Não se sabe ainda o número de comensais feridos ou mortos.
Entretanto, as mortes que mais chocaram foram as dos dois funcionários da Seção do Controle do Uso Indevido da Magia. Os corpos de Virginia Weasley, 20, e Draco Malfoy, 21, foram encontrados na câmara às aproximadamente onze e meia da noite. Foi encontrado veneno de basilisco no corpo da garota e a morte de Malfoy foi dada como resultado do uso da Maldição da Morte. Ainda não foi dada a certeza, mas fontes nos levam a crer que rapaz teria sido assassinado por Eddy Humptirf, auror, que foi o quarto a morrer logo depois pela varinha de Lúcio Malfoy. Lúcio, que já havia sido investigado por suspeitas de ser um Comensal da Morte, está preso em Azkaban e aguarda por um julgamento que, provavelmente, o dará Prisão Perpétua.
O enterro de Draco Malfoy e de Virginia Weasley acontecerá hoje pela tarde.
Nenhum dos presentes restantes quiseram nos dar mais informações, por isso muita coisa ainda é desconhecida. Entretanto, estaremos fazendo novas investigações sobre o ocorrido e publicaremos novas descobertas sobre o caso na edição de amanhã. Pedimos apenas para o mundo bruxo que se acalme, pois sabemos que o plano dos Comensais da Morte de trazerem Você-Sabe-Quem à vida falhou.
Por cima deste, um outro jornal, também estirado. Metade da página estava coberta por uma foto com a legenda “Harry Potter” e a manchete proporcionalmente grande.
TRAGÉDIA DE ERROS
A verdade sobre o ocorrido na Câmara Secreta, por Harry Potter
Ontem, os bruxos de todo o mundo tomaram conhecimento dos fatos ocorridos anteontem, à noite. Nós, d’O Profeta Diário, fomos investigar ainda mais o caso e estivemos presentes no enterro do jovem Draco Malfoy.
No enterro, que aconteceu no Cemitério de Wiltshire, tentamos falar com a mãe de Draco, a Sra Narcissa Malfoy, que se recusou a responder qualquer pergunta feita. Ela estava aparentemente em choque e, apesar do seu belo véu negro que lhe cobria o rosto, temos a plena certeza de que esta chorou muito durante todo o enterro. Lúcio Malfoy não foi liberado de Azkaban para comparecer ao enterro do filho. Narcissa também não falou com ninguém que compareceu, apenas recebia as condolências e voltava a baixar a cabeça. O enterro, apesar de um acontecimento fúnebre, não perdeu a elegância Malfoy: rosas vermelhas cobriram o caro caixão feito de mogno e várias coroas de flores foram mandadas por outras famílias amigas.
Ontem, por volta das nove horas da manhã, Harry Potter veio até a redação d’O Profeta Diário. Ele estava disposto a nos informar sobre todo o ocorrido, e pediu que não fizéssemos nenhum tipo de entrevista com os Weasley, família de Virginia, pois estes estavam demasiado abalados com tudo. Alegou também que possivelmente era o único que sabia da história de Draco e Virginia por completo. Segue abaixo a entrevista que tivemos com ele.
O Profeta Diário: Harry Potter, o mundo bruxo está assustado. Durante três anos, todos dormíamos tranqüilos, pois tínhamos a plena certeza de que a Arte das Trevas estaria finalmente longe de nossas vidas e então, de uma hora para outra, descobrimos que a verdade não era bem essa. Como você nos explica o ocorrido?
Harry Potter: Aconteceu exatamente como vocês publicaram: os Comensais da Morte, seguidores de Lord Voldemort que ficaram à solta, estavam tramando um jeito de traze-lo de volta à vida.
OPD: E isso é possível?
HP: (Pausa) Eu tinha a plena certeza de que havia matado-o. Que todos os pedaços da alma de Voldemort tinham sido aniquilados também. Mas pelo jeito me enganei. Havia uma parte de Voldemort aqui, ainda, eu não sei como, sinceramente. Uma parte suficiente para bolar um plano e encarregar seus seguidores de missões para torná-lo humano novamente. Tudo através de uma Magia Negra mais poderosa do que qualquer coisa que eu já tenha visto antes.
OPD: Como Você-Sabe-Quem conseguiu contato com os outros Comensais da Morte?
HP: Draco Malfoy... Ele encontrou essa... parte de Voldemort, em um dia, por acaso. E Voldemort o encarregou com um dos mais poderosos ingredientes para a poção que traria Voldemort de volta à vida.
OPD: E qual era o ingediente?
HP: Sangue do fruto de uma inimizade. Em outras palavras, sangue de um filho de Draco Malfoy com Virginia Weasley. Bem, todos sabem que os Weasley eram mal vistos por muitas famílias puros-sangues, por se relacionar com nascidos trouxas. Os Malfoy nunca foram uma exceção. Eu até poderia dizer que era pior, pois Lúcio Malfoy trabalhava no Ministério juntamente com Arthur Weasley, e os dois realmente não se suportavam. Em Hogwarts, Draco Malfoy não cansava de criticar os Weasley pela sua condição financeira. Como sou amigo de Ronald Weasley, foram inúmeras as vezes em que presenciei brigas dos dois.
OPD: Foi por isso, então, que Draco Malfoy escolheu ter o filho com Virginia Weasley?
HP: Sim, e também porque o filho precisava ter sangue-puro. Descobrimos tudo isso usando o Veritasserum na mãe de Draco, Narcisa Malfoy. A partir daí eu mesmo fiquei sabendo que Draco aproximou-se de Gina, ela veio até mim dizer que estava saindo com ele. Custei a acreditar.
OPD: E Virginia Weasley estava realmente apaixonada por Draco Malfoy? Não teria ele usado Poção do Amor, ou algo do gênero?
HP: Não, não acredito nessa hipótese. Gina parecia estar em plena consciênciade tudo, reagindo normalmente, e parecia contrariar a si mesma quando admitia que gostava de Malfoy. Eu não sei como, realmente não sei, mas ele a conquistou. Então eles começaram a namorar escondidos.
OPD: Há um boato sobre um possível bebê de Malfoy e Weasley. Isso é verdade?
HP: (Pausa) Sim. É verdade. Gina teve o bebê na Câmara Secreta.
OPD: Mas não havia sequer indícios que a srta Weasley estivesse grávida, não é verdade? E ela e Draco Malfoy haviam começado a namorar a pouco tempo...
HP: Sim, tudo isso é verdade. Não se passou pela cabeça de ninguém que Gina pudesse estar grávida, mas pelo jeito estava. Nas revelações da Sra Malfoy, ela diz que Gina ficaria grávida e seria levada para a Câmara Secreta para ter seu filho lá. Narcisa não sabe como, apenas diz que isso seria graças a uma invenção de Ritchy, um outro comensal...
OPD: E os aurores encontraram tal objeto?
HP: Na verdade não sabemos ainda. Encontramos um objeto semelhante à um Vira-Tempo, e estamos investigando-o. Seja lá o que for, a única explicação é que não apenas usaram Magia Negra, mas ultrapassaram todas as barreiras possíveis do absurdo. Ritchy precisou desse objeto para adiantar o plano de trazer Voldemort de volta à vida, pois todos os outros já haviam conseguido os ingredientes necessários. Apenas o de Draco demoraria.
OPD: E porquê o plano não deu certo?
HP: (Longa pausa) Pelo mesmo motivo da outra vez. Exatamente a mesma armadilha que age contra o próprio Voldemort. Por ser o que ele desconhece e abomina. Draco Malfoy não só conseguiu fazer Gina se apaixonar por ele, como também, inesperadamente, se apaixonou por ela. (Pausa) Lord Voldemort não conhece o amor, como eu disse. Voldemort odeia o amor, e mais uma vez Voldemort é derrotado pelo amor. O sangue do filho deles tinha amor, porque ele se amavam, e nós podemos dizer que foi o amor deles que derrotou de vez o Lorde das Trevas, que não esperava por isso.
OPD: Então... Se é verdade sobre o bebê, com quem ele ficará?
HP: Foi decidido que ele será criado por Ronald Weasley e Hermione Granger. Mas não vou entrar em detalhes sobre a escolha, desculpe.
OPD: Sobre as mortes, há algo a revelar?
HP: Sim. Dawlish morreu no combate. Gina morreu por causa do basilisco que havia na câmara, e sim, havia um basilisco, pois os comensais precisavam de um ingrediente de basilisco para a poção... Mas haviam lançado algum feitiço que arrancou-lhe os olhos. Draco quis que Gina fugisse, mas ela tentou salvá-lo e foi ferida pelo basilisco... Bom, Draco foi morto segundos depois de Gina morrer. Eddy Humpthirf chegou e achou que Draco havia matado Gina... Não posso culpá-lo, ele não sabia praticamente nada da história e achava que Draco estava do outro lado... E então Lúcio, que havia se escondido desde então, chegou na hora errada. Não tive tempo de explicar tudo para Eddy, sequer de impedir. Quando vi, Lúcio já havia lançado a Maldição da Morte contra Eddy.
(Harry Potter levanta-se por um momento e vai até a janela de nossa sala. Depois volta, levemente abalado)
OPD: Algum outro esclarecimento a ser publicado...?
HP: Eu queria deixar claro que não vim aqui por publicidade, muito menos para conseguir a primeira página para essa notícia. Minha principal e única preocupação é não deixar o mundo bruxo pensar errado sobre o que aconteceu e, principalmente, sobre quem esteve envolvido. Na minha opinião seria errado ouvir boatos absurdos calado, então eu espero sinceramente ter esclarecido sobre quem foi e quem não foi culpado nessa história toda. Isso é tudo.
Harry passou a mão pelos cabelos pela décima vez no dia, não conseguindo terminar a leitura. Sentiu-se mal. Sabia que havia feito a coisa certa, mas achara que fazendo-o conseguiria sentir-se pelo menos... aliviado. Era essa a palavra certa?
Mas, afinal, como podia sentir-se aliviado? Havia três anos desde que derrotara Voldemort, desde que vira mortes expostas a seus olhos. Não podia dizer que esses três anos serviram como borracha, porque estaria mentindo. Tinha a plena certeza de que as imagens de tudo o que acontecera ficariam gravadas para sempre em sua mente, mas ele já estava lidando melhor com isso. Seus pesadelos tornaram-se realmente raros. Era uma nova vida. Ele estava tentando, realmente tentando, e estava feliz por conseguir um pouco de vitória.
Mas então, quando tudo parecia estar finalmente no caminho certo, isso. Talvez ele tivesse esquecido de como era sentir seu coração despencar, de repente. Mas dessa vez... Dessa vez ele parecia ter caído, com um estrépito, sem defesas, ter se quebrado... Alguma coisa faltava em Harry, e era um sentimento que lhe consumia, era como tentar apalpar o invisível, Harry tentava desesperadamente fazê-lo parar, sentia que precisava fazê-lo parar...
Estava agora sentado na cama de seu quarto. Ele não ouvia qualquer barulho dos ventos lá fora, nem dos pássaros que cantavam sua canção diária. Seu cérebro ainda parecia congelado para quaisquer acontecimentos banais e ele ainda esperava acordar de um pesadelo. A história de amor que ele presenciara jamais sairia de sua mente. As imagens de Draco e Gina, deitados, sem vida, com certeza o perseguiriam em todos os próximos dias de sua vida.
Olhou para o livro que ainda carregava. Havia passado n’A Toca e achado o livro trouxa Romeu e Julieta. Sentiu uma dor por Draco e por Gina. Nunca em toda a sua vida ele adivinharia que sentiria algum sentimento positivo em relação à Draco Malfoy. E agora, ali estava ele, carregando todo o amargo daquela relação que acabou em tragédia. Harry, por impulso, levantou-se e foi até a escrivaninha de seu quarto. Abriu a gaveta para guardar o livro, mas no momento em que o fez um envelope voou de lá de dentro. Estava ventando e a janela estava aberta, mas o envelope saíra de tal maneira que fez Harry virar-se para ver se alguém havia lançado Accio sobre ele. O papel levantou vôo e rodou nos ares, caindo graciosamente sobre o chão.
Harry foi até ele e o apanhou, sem muita importância, concluindo rapidamente que o vento o havia conduzido. Colocou-o de volta na gaveta – mas no momento em que o fez, sentiu um vento que bizarramente veio da janela na direção do interior da gaveta e fez o envelope voar novamente para o chão.
Irritado, Harry foi até o objeto e de novo o apanhou, agora com mais atenção. Quando virou o envelope, levou um choque – era uma carta que ele havia recebido de Gina. Uma onda de tristeza maior ainda – se é que era possível - se apossou de seu corpo. Ele reconheceu o exterior da carta, era de quando ela viajara para Verona com Malfoy. Ele havia ajudado-a a viajar escondido e ela o escrevera no dia seguinte agradecendo. Não fazia tanto tempo assim, mas Harry nem lembrava mais do conteúdo da carta. Curioso, abriu-a.
“Harry!
Estou tão feliz. Obrigada por tudo, mesmo. Nunca esquecerei o que você fez, estou tão agradecida!
Eu e Draco já chegamos faz algum tempo. Confesso que no começo até tive receios, mas depois eu vi quão perfeito era este lugar! Espero que um dia você o conheça; com certeza dirá o mesmo.
Só estou escrevendo para agradecê-lo mesmo e repetir que estou simplesmente explodindo de felicidade. Não se preocupe comigo, certo? Estou com Draco, e isso me faz feliz.
Diga aos outros que mandei lembranças e peça para eles também não se preocuparem, porque estou melhor do que nunca.
Com carinho,
Gina.”
O choque foi, de certa forma, colossal. Um espírito parecia ter se apossado do corpo de Harry e o feito arrepiar de tal modo que suas mãos tremeram e o pedaço de pergaminho caiu de suas mãos.
De novo abaixou-se para pegar o pergaminho do chão e, com os olhos arregalados, releu o conteúdo da carta. Uma vez. Duas.
Tudo se encaixava.
Talvez nem fosse a intenção. Talvez fosse loucura. Talvez ele estivesse cansado demais e devesse dormir um pouco. Ele tinha uma expressão mórbida quando Cho entrou no quarto.
- Harry, algo errado? – perguntou singelamente.
- Não... nada errado. – disse, como quem acordasse de um sonho ruim. – Estou só... arrumando.
Cho suspirou e sentou-se na cama.
- Eu acho que sei como está se sentindo. Eu também tive perdas, Harry, e as lembranças também me acompanham. Mas sabe... eu acho que todas essas pessoas simplesmente estão melhores do que nós, agora. Era o que minha mãe sempre dizia.
Ele sabia que Cho falava, em partes, da morte de Cedrico, mas isso não o abalou. Ao contrário... Harry sorriu. Embora fosse um sorriso triste, tinha um grande significado. Guardou o pergaminho no envelope e o recolocou na gaveta. Dessa vez este não voou. Andou até Cho e sentou-se ao seu lado.
- Sim – disse confiante. Olhou pela janela finalmente percebendo o céu, que agora continha uma tonalidade estranhamente vermelho-azulada. O sol ameaçava aparecer naquela tarde, como uma criança depois de insistir em se esconder para chamar atenção. O sorriso de Harry se alargou e algum fio de um sentimento bom nasceu dentro dele – Com certeza estão num lugar melhor – completou. – E felizes. Muito felizes.
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