No Ministério, O Convite



Era manhã de quinta-feira. Quase tudo pronto, só faltavam alguns toques-finais. Mesmo os professores pareciam menos tensos com o envolvimento na idéia absurda da menina. Ajudavam na decoração com suas mágicas. Minerva deu risadas que há muito tempo não dava quando Hermione e Gina foram pedir que ela ajudasse a transfigurar alguns jarros de flores cilíndricos para a forma de um raio. Era sempre bom lembrar Voldemort de que ele fora derrotado por um bebê de um ano de idade.
E assim caminhou o dia. À noite, na mesma quinta-feira, os convites estavam todos prontos. Hermione foi até a sala de Dumbledore e disse que estava indo. Ele lhe deu um amuleto em forma de círculo e disse que, se ela se sentisse ameaçada em algum momento, ele apareceria lá para ajudá-la.
A garota agradeceu e, pegando três convites, guardou-os dentro do bolso interno do sobretudo preto que usava e foi para fora dos portões de Hogwarts. Pela primeira vez, desde que retornara à escola.
De lá, aparatou em Londres, na rua onde ficava o telefone para entrar no Ministério. A rua, surpreendentemente, estava deserta. Não tão surpreendente assim. Ela bem imaginava.
Foi até o telefone e tentou o número. Dando certo ou errado, de algum jeito ela entraria lá.
Mas o número só chamava, e ficou muito tempo só chamando. Até que, finalmente, o telefone atendeu:
- Quem é? – perguntou uma voz ríspida.
- Uma chata querendo encher o saco do seu mestre. Me manda pra aí dentro, meu sublime imbecil.
Hermione se perguntou se não estava sendo imprudente com tanta ousadia, mas estava protegida por Dumbledore, o que a fez relaxar.
Demorou um pouco, mas ela foi mandada para a velha recepção do Ministério, onde se surpreendeu ao encontrar vários comensais em círculo e ela no centro.
- Ah, não é a sangue-ruim, amiga do Potter? – perguntou Goyle.
- É ela sim – disse Draco Malfoy, saindo das sombras. – Mas pode ser um auror disfarçado, a sangue-ruim é medrosa.
- Não fui medrosa quando te dei aquele soco no 3º ano, Malfoy – ela retrucou calmamente, apesar dos olhares nela.
Houve risos e um dos homens – o dono da voz ríspida do telefone – aproximou-se e olhou-a de cima a baixo.
- Foi você que me chamou de sublime imbecil?
- Fui – ela retrucou com um olhar debochado e uma ousadia que não sabia de onde tinha tirado. – Mas parece que me enganei. Você não tem muito de sublime, a não ser essa cara de bêbado velho. Afaste-se de mim.
Ela abriu o sobretudo para pegar alguma coisa, mas várias varinhas apontaram para ela ao mesmo tempo.
- CALMA! – ela exclamou, vendo que cometera uma imprudência. – Venho em missão de paz. Se não fosse, eu não viria sozinha para perto de homens que não vêem uma mulher há bastante tempo, pelas caras de vocês.
- Ei, o que essa pestinha está querendo dizer? – perguntou Bellatrix, aproximando-se do círculo. Os comensais abriram caminho para ela.
- Ah, desculpe, esqueci que você está aqui. Mas eu realmente venho em missão de paz.
- O mestre está curioso – sibilou Bellatrix. – Por que será que uma aluna de Dumbledore veio até sua morte de boa vontade?
- Senhora, não vou morrer – disse Hermione, respeitosamente. – Vim apenas trazer um convite. Um simples convite. Na verdade, três.
- Eu entregarei a ele – disse Bellatrix.
- Desculpe, mas não confio em você – disse Hermione secamente. – Eu entregarei a ele.
- Ah, você quer falar com o Lorde das Trevas? – debochou Bellatrix.
Hermione olhou em volta.
- Essa sala tem a cara do Snape. Sombria. Diga-me, senhora, todos os comensais de elite estão nessas sombras? Você, Snape, Malfoy... todos? Então Voldemort deve estar me observando também, certo?
Diante da pronúncia daquele nome, os comensais recuaram; uma gargalhada fria, sem nenhuma emoção, foi ouvida.
- Ah, está certo, vou falar com a sangue-ruim – era a voz de Voldemort que saía das sombras e alcançava a meia-luz do lugar.
Conta vantagem demais para um mestiço, ela pensou, mas tratou de manter sua boca bem fechada.
- Confesso que estou curioso e até (por que não confessar?) surpreso, sangue-ruim – disse Voldemort, parando bem à frente dela.
Hermione sentiu seu coração acelerar, mas tratou de respirar fundo e se acalmar.
- Eu gostaria de falar apenas com o senhor e com os seus comensais mais... fiéis – ela disse num tom respeitoso. – Se não foi pedir muito, claro.
Voldemort contorceu os lábios de modo que lembrava um sorriso.
- De quem está falando exatamente, sangue-ruim?
- Se não se importa, senhor, meu nome é Granger – ela disse. – E estou falando de bruxos como Snape, Malfoy pai, Bellatrix Lestrange... resumindo, seus maiores assassinos particulares.
- Ah, então você quer ficar a sós comigo e meus assassinos particulares? – perguntou Voldemort, fixando o olhar nela de modo intimidador.
- Sim, senhor – ela disse. – Mas, por favor, sou uma oclumente muito recente, ainda não cheguei ao nível do meu ex-professor, portanto gostaria que o senhor não tentasse ver nada na minha mente... Estragaria a surpresa, sabe?
- Você está me divertindo, Granger – disse Voldemort, após considerar a questão. – Merece que eu atenda ao seu último pedido.
- Não tente me intimidar, senhor, estou sendo educada nos limites do possível – ela disse. – Não será meu último pedido. Aliás, desconfio que será apenas o primeiro. Mas, por favor, não quero dar detalhes aqui, olhando para o nada enquanto há olhos me observando.
Voldemort parecia estar se divertindo com a situação. Nem tentou legilimência. Queria ver até onde iria a ousadia da jovem.
Deu as costas e fez sinal para Hermione acompanhá-lo. Ela foi sem hesitar e emergiu nas sombras, sem saber como conseguiria segui-lo.
Uma mão pousou em seu ombro, fazendo-a sobressaltar-se, e uma voz sibilada e pouco acima de um sussurro disse bem perto de seu ouvido:
- Vejo que até como conquistar a simpatia do Lorde a Sabe-Tudo sabe.
Aquela ironia, aquela voz, aquela crueldade... Hermione estremeceu. Não sabia para onde estava indo, mas sabia que a fria mão de Snape estava em seu ombro, conduzindo-a direto para algum lugar.
Ela não respondeu. De repente se lembrou de que Snape matara seus pais. Teve o impulso de sacar sua varinha e torturá-lo, mas refreou esse impulso e se concentrou no que tinha ido fazer ali.
- Por que não se vinga logo, já que está aqui? – novamente aquela voz a fez estremecer.
- Não gosto muito do escuro – ela disse.
- Ah, mas você vai se adaptar a ele bem rápido – disse a mesma voz, bem perto de seu ouvido. E novamente ela estremeceu, não tanto pela ameaça, mas pela proximidade da pessoa que a fazia.
Que nojo!, ela pensou.
Por fim, entraram em uma sala, que estava na mesma meia-luz. Todos os cinco acomodaram-se em poltronas e Hermione, tomada por novo acesso de ousadia – mas medindo bem cada palavra – disse:
- Quero olhar para seus olhos, Voldemort. É covardia se esconder no escuro. Não precisa se esconder de mim.
- Você não está sendo educada. Não foi assim que mamãe e papai ensinaram – provocou Voldemort. – Vamos, como é que se pede para eu acender a luz?
Puta que pariu, cara, acende a porra da luz!, pensou Hermione, meio que abafando o riso, inapropriado para a situação. A boca disse outra coisa:
- Acenda a luz, por favor, senhor.
As luzes se acenderam aos poucos, para os olhos irem se acostumando à claridade.
Hermione olhou em volta. Quatro olhos cravados nela. Se eu enfrentei o povo de Hogwarts, eu enfrento até o presidente dos Estados Unidos.
- E então? – perguntou Voldemort, visivelmente segurando uma risada debochada. – O que a menininha quer?
Vou te mostrar a menininha, seu imbecil.
- Trata-se de um convite – disse Hermione, num tom bastante suave.
- Um convite – repetiu Voldemort. - Estou sendo convidado a sair do Ministério? – ele perguntou, com um sorriso enviesado.
- Não, senhor – ela disse. – É um convite ao Baile de Primavera em Hogwarts, que irá acontecer no sábado.
Os quatro ali se entreolharam, mas Hermione, fingindo que não estava muito alegre pelo impacto que causara, continuou:
- Eu só gostaria de pedir desculpas por um convite tão tardio, mas é que tava muito difícil preparar a recepção pros senhores, achei que não ficaria pronta para sábado. Seria terrível marcar um baile e desmarcar depois, aí tive que demorar a vir convidar.
Ela se silenciou e lançou um olhar inocente aos presentes. Esperava uma resposta, que ele certamente não daria de forma direta naquele momento.
- Ah, claro, os convites – ela disse. Abriu o sobretudo para pegar algo em seu bolso, mas Snape, muito rápido, já tinha a varinha apontada para o peito dela. – Calma, Snape, vou pegar os convites. Sei que é trabalho de guarda-costas cuidar do chefe, mas...
- Cale-se – disse Snape, ríspido. – Em que bolso estão os convites?
Ela abriu o sobretudo e mostrou o bolso interno. Quis recuar quando Snape lhe estendeu a mão, mas ele segurou-a com força pelo braço e pegou os convites do bolso dela; depois a jogou de volta ao sofá de qualquer jeito.
Hermione deu um tapa na mão dele e pegou de volta os convites.
- Mal educado. Espere a sua vez – ela disse.
Bella riu. Snape deu um sorriso no canto da boca e voltou a sentar-se.
- Olhem, eu trouxe três convites. Um para o Dark Lord, claro, um para o Snape, em consideração ao fato de ele ter sido diretor da Sonserina, e um para os outros comensais importantes que o senhor tem, Voldemort. Aí o senhor vê quantos leva, sabe, mas tente não levar mais que dez. A mesa dos comensais deve ter só uns dez ou doze lugares.
Ela deu a eles os convites. Chegava a ser ridículo. Era um botão de rosa que, ao abrir, tinha letras douradas. O de Snape e o de Voldemort traziam letras douradas com seus nomes e o dia e a hora da festa. O outro trazia apenas as indicações de data e local, sem nenhum nome escrito.
- Ah, parece que estamos sendo aguardados – disse Voldemort, tentando parecer debochado, mas visivelmente surpreso.
- Eu não teria vindo aqui, senhor, se não estivéssemos esperando a sua presença – disse Hermione. – Só tem um detalhe legal: se o senhor tentar alguma coisa contra algum dos habitantes de Hogwarts, vai ser cercado de feitiços e ficará preso. Vá em missão de paz, assim como vim aqui agora, caso contrário, não poderá aproveitar a festa. Ah, sra. Lestrange, tente não ir de vermelho, nem de dourado, nem de prateado, nem de verde, nem de azul, nem de roxo, nem de nenhuma cor das casas, para não acabar combinando com a decoração. Fora isso... ah, sim: não vamos tentar envenenar ninguém, mas, se não quiserem comer, não precisam. Seria muito bom que vocês fossem. Todos os que foram convidados. Ah, Malfoy, o Draco não está na lista porque estamos esperando comensais de verdade, e não projetos. Alguma pergunta?
- O que tem por trás disso? – perguntou Bella afinal.
- Voldemort, o senhor precisa escolher melhor seus seguidores – disse Hermione. – Ela ainda não percebeu que isso é só pra te deixar irritado, porque o povo lá tá doidinho pra te ver de mau humor. Para isso, seremos sutis, ao contrário dos seus avada kedavras e crucios distribuídos a torto e a direito. É só isso?
- Espera mesmo que o mestre caia nessa armadilha barata, Granger? – perguntou Malfoy, debochado.
- Ora, Malfoy, acho que o seu mestre deve ter inteligência o bastante pra ver que uma escola não é bem o ambiente mais legal para armadilhas. Agora, se não for pedir muito, o professor Dumbledore está me esperando com a resposta; é indelicado deixar um senhor tão velho ir dormir tarde. Como sou eu que estou organizando tudo, porque o diretor tá sem ânimo pra isso, eu tenho que voltar para que haja festa.
- Ainda estou decidindo se não é bom para mim ter uma amiga de Harry Potter como refém – disse Voldemort, sério, ainda perplexo com o golpe.
Hermione deu de ombros.
- Olha, se o senhor se sente ameaçado por um moleque de 17 anos que não sabe nem executar um Accio direito, já não tenho nada a ver com isso – disse Hermione suavemente. Não acreditava no que tinha dito, mas isso não importava. Tinha que sair dali.
Voldemort forçou um sorriso. Ela o atingira em cheio em seu ego.
- Ah, talvez você possa ir embora depois de distrair algum dos meus seguidores de confiança – disse Voldemort. – Se é você que está organizando a festa, como eu vejo que é, todos ficarão desorientados se você não voltar, mas isso não implica que você não pode voltar mais tarde... Que acha?
Pela primeira vez naquela noite, Hermione realmente sentiu medo. Havia pensado naquela possibilidade, mas muito por alto, não chegara a considerar mesmo que aquilo pudesse acontecer. Só restava ganhar tempo. Convocou todo o seu poder de atuação e sua coragem e suspirou, parecendo (só parecendo) entediada.
- Olha, Voldemort, tem um problema – ela disse. – Estou ensaiando com o pessoal a recepção pra vocês, e eu tinha combinado que seria logo depois do jantar. Já estou muito atrasada e não quero que nada dê errado. Então, se não se importa, quem sabe uma outra vez?
- Ah, não, não, eu insisto – ele disse. – Mas, só porque a sua ousadia me tirou do meu tédio atual, não vou te dar como prêmio para nenhum dos funcionários baixos. Malfoy ou Snape. Aliás, pode escolher. Estou vendo que você é virgem. Qual dos dois será o homem de quem você sempre se lembrará?
Hermione engoliu em seco.
- Prefiro morrer – ela disse, num tom mais submisso, para fazer Voldemort achar que ele tinha total poder sobre ela.
- Pense bem... Posso ajudar você a decidir – disse Voldemort, se divertindo agora ao vê-la abaixar a cabeça. – Malfoy tem um estilo mais... digamos... apressado. E ele também gosta de se exibir. Já o Snape é paciente... nunca vi tanta paciência, para falar a verdade. E ele detesta demonstrações públicas. Qual dos dois?
- Já disse que prefiro morrer, senhor – ela disse.
- Então porque você não pega o seu amuleto para chamar Dumbledore aqui? – perguntou Voldemort. – Ele, com certeza, chegará a tempo de ver como eu trato a aluninha dele.
Hermione encarou-o com um olhar desafiante e levou a mão bolso interno do sobretudo outra vez.
- Pode parar, Snape, vou só pegar o amuleto.
Ela pegou e mostrou a pequena medalhinha.
- Era a isso que se referia? – ela perguntou. Devolveu a medalha ao bolso e disse: - Bom, eu gostei do presente, e só por isso não o descarto agora mesmo. Não vou chamar ninguém. Decida você.
Voldemort fez uma careta. Hermione torcia para que o Dark Lord indicasse Malfoy, que era um potencial idiota e covarde, mas Snape interveio antes que qualquer palavra fosse dita:
- Milorde, me perdoe o atrevimento, mas eu gostaria de pedi-la para mim.
Voldemort olhou-o sério.
- Você pode pedir, mas não garanto que vai receber – retrucou o Lorde. – Por que você a quer?
- Para todos os efeitos, a Sabe-Tudo ainda é aluna protegida de Dumbledore. Ele não a mandaria para cá sem nenhuma espécie de proteção. Por mais que esteja abatido, fraco, ele não a deixaria vir sem protegê-la bem, e, conhecendo-a bem, digo que ela não viria sem falar antes com Dumbledore. Malfoy provavelmente teria problemas se tentasse algo com ela.
- E você não? – debochou Malfoy.
- Meu caro – começou Snape, naquele tom irônico e cruel dele. – Você não tem controle sobre si mesmo. Não será possível violá-la. Agora, posso muito bem mostrar a ela o que a espera quando estiver desprevenida.
Hermione prendeu a respiração. Snape sabia exatamente como Dumbledore pensava. Voldemort pareceu considerar a questão.
- Ah, mas qual seria a graça para você, se não pudesse ir até o fim? – perguntou o Lorde.
- O senhor quer que ela fique assustada, ou apavorada. Eu faço. Depois, é só tomar um banho frio – respondeu Snape calmamente.
- Pode levar; sei que você não gosta de se exibir – disse Voldemort.
- Sou um egoísta, milorde – retrucou Snape, pegando Hermione grosseiramente pelo braço. – Gosto de guardar os gritos só para mim.
Hermione tentou se debater, mas Snape era muito mais forte. Ela foi arrastada sem ver para onde, mas tratou de não gritar. Não queria que rissem dela. Ainda era orgulhosa.
Por fim, entraram numa sala em que havia apenas uma lareira, dois sofás e um tapete. Snape jogou-a para dentro e trancou a porta. Lançou nesta um feitiço imperturbável e se virou para a jovem, que já estava do outro lado da sala.
- Não se atreva – ela disse.
- Você tem muita sorte de ser eu e não Malfoy – ele disse, desdenhoso. – Ele a despiria na frente de todos. Eu sou mais discreto. Se você não fosse burra de querer vir afrontar o bruxo que manda em tudo, não precisaria passar por isso.
Ele abriu seu sobretudo.
- Tente não chorar – ele advertiu. – Grite bastante se quiser, mas só não chore.
- Eu tenho nojo de você – ela disse, cruzando os braços e encolhendo-se contra uma das paredes.
- Ah, eu sei, Granger – ele disse. – Mas prometo que será rápido. Só não chore. Se chorar, dobro o seu tempo comigo, combinado?
- Pra que está fazendo isso? – ela perguntou, sentindo as lágrimas virem aos olhos, mas as mandando de volta logo em seguida.
Ele virou-se para ela. Estava só de camisa agora.
- Porque de repente me lembrei que você era uma aluna interessada e era boa em Poções – ele disse. – Em consideração a isso, não merece passar por uma humilhação pública com Malfoy.
- Puxa, imagine se você não considerasse nada então! – ela disse, comprimindo-se mais contra a parede ao vê-lo se aproximar.
- Se você fosse melhorzinha em oclumência, eu até deixaria você ir embora depois de uns poucos beijos – ele disse, sarcástico. – Mas não posso; milorde vai verificar na sua mente o que fiz. Não poderia ser bonzinho com você nem que quisesse.
Ele olhou-a de cima abaixo, deixando-a alarmada.
- Você está bem diferente – ele comentou, aproximando-se mais.
Ela deslizou pela parede, afastando-se, mas ele a puxou para si de uma vez só. E beijou-a. Ela tratou de fechar a boca. Ele afastou o rosto do dela e disse:
- Ah, não me afronte, Granger, você não vai querer me ver muito irritado – ele disse.
As mãos dele tiraram o sobretudo dela tão rápido que ela não notou. Ela virou o rosto. Nunca se imaginara numa situação constrangedora como aquela.
Ele começou a beijar o pescoço dela; ela tentava afastá-lo de si. As mãos dele passeavam por seu corpo de forma ousada, e ela não tinha como evitar. Ele beijou todo seu colo, e depois voltou a tentar a boca, mas ela ainda resistia. Ele puxou-a para si decidido e apertou-a com força contra seu corpo. Hermione se assustou com a evidência da excitação dele e soltou um gritinho abafado. Ouviu-o rir.
- Calma, hoje não vamos concluir nada – ele disse. – Mas me ajude a acabar com isso de uma vez. Abra logo a boca.
E tornou a beijá-la. Dessa vez ele não desistiu; ela resistia, mas acabou abrindo a boca. Não respondeu ao beijo. Deixou-o procurar sua língua sem responder. Quando a língua dele encontrou a sua, ele gemeu. Ela se perguntou se ele sabia mesmo se controlar tão bem quanto Voldemort dissera.
Sem saber ao certo o que a levou àquilo, ela respondeu ao beijo dele e chegou abraçá-lo. Snape soltou-a e olhou-a.
- Que foi, Snape? – ela perguntou, debochando. – Não quer acabar logo com isso? Vamos lá! Acho que não quero ficar inerte; já que você não vai conseguir nada mesmo...
Ela sorriu com ar de deboche; Snape passou a mão pelos cabelos e suspirou.
- Se você resolver brincar de fugir, não vou deixar que você continue vestida.
- Não vou brincar de fugir – ela disse.
Snape puxou-a de volta para si e beijou-a com intensidade, quase necessidade. Ela respondeu. Abraçou-o. Ele encostou-a na parede e, segurando uma das pernas dela, aproximou-se mais. Ela gemeu, mas logo se recriminou por seu próprio descontrole.
- Ah, acho que você está querendo aprender mais – ele sussurrou no ouvido dela. – Sabe, tem um detalhe que não achei necessário o Malfoy saber... Se você quiser, o escudo que protege você de seres nojentos e detestáveis como nós comensais não funcionará, claro.
Hermione, ao ouvir aquilo, procurou afastá-lo de si, mas ele não a soltou. De repente, ela começou a medir o que estava fazendo. Daria prazer ao homem que matara seus pais, que tornara possível o triunfo de Voldemort e que deixara Dumbledore abatido por tanto tempo, dando desesperança a todos, por causa de um momento irracional? Não!
Ela empurrou-o com uma força que não imaginou que tinha, conseguindo afastá-lo.
- Medo? – ele perguntou tentando adivinhar a razão da súbita mudança de rumo. – Não ouviu o Lorde das Trevas dizendo que sou paciente? Eu esperarei você se acostumar a mim e...
Hermione olhou-o com desprezo.
- Sou grifinória, Snape, o medo passa por mim como um relâmpago! – ela recompôs as roupas em desalinho e voltou a encará-lo. – Nunca vou te dar prazer nenhum. Alguém com alto posto entre os comensais deve ter facilidade de conseguir isso.
Snape arqueou a sobrancelha e disse em seu tom desdenhoso:
- Mais dois minutos comigo e você vai parar de pensar.
- Você não é tão bom assim – ela retrucou.
- Você não tem como saber – ele devolveu.
- Se fosse, não precisaria pedir ao seu Lorde os favores de uma virgenzinha, sendo que não vai nem poder chegar a...
- Ora, Granger, seja razoável – ele disse. – Fora de Hogwarts posso fazer tudo que tinha vontade e nunca pude.
Ele puxou-a para si e beijou-a outra vez, mas ela empurrou-o de novo.
- Tinha vontade? Desde quando você tinha fantasias com alunas?
- Com você, Granger – ele corrigiu.
E beijou-a. Ela respondeu ao beijo, mas, quando ele queria partir para algo mais definitivo, ela empurrou-o e gritou:
- Não! Você é um assassino desprezível! Só faz tudo de mal para quem gosta de você e segue um otário só porque acha que ele tem mais poder!
Snape olhava-a com um sorriso enigmático.
- Cite uma pessoa que gostasse de mim naquele maldito castelo – ele disse.
- Dumbledore! – ela gritou, com lágrimas nos olhos. – Quando ele acordou... você não sabe como estava abatido! Senti pena do maior bruxo de todos os tempos! Ele te considerava um filho e você simplesmente tenta matá-lo!
Snape, por um momento, abandonou o olhar de ironia, mas foi um brevíssimo momento.
- Aquele velho idiota crê nas pessoas – ele disse. – Tem muita fé mesmo. Mas, além de Dumbledore, alguém? Mesmo da minha casa, um nome.
Hermione suspirou. Não estava decidida quanto a dizer ou não, mas decidiu-se pelo “sim” e esbravejou:
- EU! Eu gostava de você. Eu te admirava. Mas é o que acontece com tudo o que gosto: desmorona. As pessoas, as coisas, as histórias. Eram todas falsas e cheias e ilusão. Como sempre.
Snape fitou-a com um sorriso irônico.
- Esse ódio todo é só porque matei seus pais ou tem algo a mais? – ele perguntou com desdém.
Hermione deu as costas e apressou-se a enxugar as lágrimas.
- Faço o que quiser comigo – ela murmurou, ainda de costas. – Você me venceu.
Lentamente, ele se aproximou e beijou o pescoço dela pelas costas, virou-a de frente para si e lhe deu outro beijo intenso, que ela respondeu entre lágrimas insistentes que não a obedeciam.
Ele afastou-se dessa vez e disse muito cinicamente:
- Basta por hoje, Granger, ponha seu casaco e volte para Dumbledore.
Hermione suspirou aliviada; correu para pegar o casaco. Snape abraçou-a e aparatou com ela na rua. Deu um último beijo nela e só depois a soltou.
- Já pode ir. Ainda vamos terminar o que começamos – ele avisou e muito calmamente desapareceu.
Fugiu antes que eu pudesse te xingar, seu desgraçado!, ela pensou. E aparatou na frente de Hogwarts.

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