Vingança III: A Família



CAPÍTULO XXIX. VINGANÇA III: A FAMÍLIA

Quantos dias tinham se passado desde o maldito funeral ela não sabia... Só sabia que, dia após dia, ela procurava desesperadamente naquela funesta lembrança do dia em que o seu filho morrera algum sinal de quem poderia ter se disfarçado de Elizabeth naquela nefasta trama.

Quantas outras lágrimas foram negadas era impossível dizer... Quantas outras noites mal-dormidas...

E, mais uma vez, ela era expulsa da penseira sem nada.

- Você não vai achar nada. Se tivesse que achar, já teria.

Amélia olhou para o seu marido, que a esperava do lado de fora do objeto mágico. Talvez Severo estivesse, de fato, sofrendo mais que ela com aquela revelação: ele não suportava assistir ao desgaste pelo qual ela estava passando... os anos envelhecidos, o modo como ela não sorria mais, não tinha mais vontade de se cuidar, de conversar. Ela estava se matando aos poucos, e ele sabia bem disso.

- Talvez se você ajudasse a procurar, eu não tivesse que passar dias e dias aqui!

Ele crispou os lábios, aproximando-se dela com os braços cruzados.

- Eu já disse o que aconteceu: seja quem for, essa pessoa usou a polissuco adulterada que eu fiz. Eu já perguntei aos ex-comensais com quem ainda tenho contato, ninguém sabe de nada! E não é nessa lembrança que você vai encontrar alguma coisa, Amélia, porque nós já procuramos nela e tudo que vimos foi uma maldita Elizabeth matando Edward!

- Tem que ter mais alguém! Você já falou com Bella e Rodolphus?

- . Eles não sabem de nada.

Bufando, Snape passou o braço ao redor da cintura da sua mulher, depositando-lhe um casto beijo no rosto.

- Vamos. Nós temos um assassinato para planejar, a menos que você tenha se esquecido de Schwartz.

- Não esqueci. E o que eu estava esperando finalmente aconteceu: o filho dele nasceu. Eu vou fazê-lo entender o valor dos laços familiares.

XxXxXxX

Batidas suaves na porta foram suficientes para que a bela mulher de cabelos ruivos aparecesse carregando, em seus braços, uma linda criança.

Amélia deu um leve sorriso.

- Boa noite. Você é a senhora Schwartz?

A ruiva abriu mais a porta, olhando-a confusa.

- Sim, sou eu.

- A senhora não me conhece... Eu sou Amélia Lair, uma grande amiga do seu marido. Será que eu posso entrar?

Ela pareceu hesitar um pouco, antes de dar espaço para que Amélia adentrasse a sua casa.

A sala era ampla e iluminada.

Bem no centro, um berço coberto por lençóis cor-de-rosa dava ao ambiente uma maravilhosa harmonia: a felicidade era tão óbvia naquele lugar.

Mas não seria por muito tempo.

Amélia apertou os pequenos frascos que carregava em seu bolso.

- É uma menina, então?

- Sim – ela sorriu, colocando o bebê no berço. – Emily, o nome dela – Olhou para Amélia, franzindo o cenho. – Me desculpe, mas eu não sei quem você é, nem o que você quer...?

- Eu quero vingança.

A mulher se pôs ereta.

- Como?

Friamente, Amélia se explicou.

- O seu marido ajudou na morte dos meus pais e do meu filho, e quase me matou. E hoje eu vou matá-lo. E a você. E a pequena Emily.

Ao ouvir o nome da filha, a ruiva se jogou para onde estava a sua varinha, numa frustrada tentativa de alcançá-la. Mas, antes que conseguisse, Amélia pegou a sua própria e murmurou, ainda sem se mexer.

- Imperius.

A mulher parou no meio do caminho, voltando-se como uma zumbi para Amélia.

Fria, ela caminhou até o berço onde a pequena menina se contorcia e chorava enquanto tirava do seu bolso um vidrinho com uma dose do que seria um veneno letal.

Ela era linda: os cabelinhos finos e ruivos cobriam precariamente a sua cabeça. Grandes olhos azuis miraram Amélia por um tempo e, então, ela sorriu.

Amélia suspirou, tirando os seus olhos dos da garotinha.

- Merda!

XxXxXxX

Batidas na porta.

Amélia se colocou no fundo da sala, atrás da porta, protegida por um feitiço da desilusão.

Perdendo a sua expressão vazia e a trocando por um olhar melancólico, a ruiva se encaminhou para a porta, os primeiros sinais de lágrimas – tal como ordenado por Amélia – aparecendo em seus olhos.

A porta se abriu para Frederick Schwartz. Imediatamente, ele se assustou com a expressão da mulher.

- O que aconteceu?

- Eu não agüento mais! Você! Você não é nada do que me mostrou!

Ela estava histérica.

A gritaria foi suficiente para assustar a bebezinha, que começou a espernear em seu berço.

- Danielle, eu não entendo! O qu---?

- Você matou! Você matou uma criança! Como eu posso ficar com alguém que matou uma criança?

- Que criança? Do que você está falando?

- Edward McRough! É dele que eu estou falando!

De repente, ele ficou lívido.

Quase que com um suspiro, ele disse:

- Como você sabe disso?

- Ela esteve aqui, hoje. Amélia Snape. Ela contou! Eu estou... – o seu olhar ficou maníaco – eu quero morrer!

E, em silêncio, ela pegou o pequeno frasco que Amélia tinha lhe dado e caminhou para o berço. Carinhosamente, ela aninhou o bebê em seus braços, que logo parou do chorar. Olhou mais uma vez para o marido. Destampou o frasco.

Ele, tenso, se aproximou dela.

- O que é isso?

- Veneno. Veneno que ela me deu.

E, antes que tivesse tempo de reagir, virou todo o conteúdo nos lábios da criança.

Imediatamente, os seus olhinhos ficaram vítreos e o seu peito parou de se mexer. E o grito de dor que saiu da garganta de Schwartz arrepiou cada centímetro da espinha de Amélia, mas, ainda assim, sentiu certa satisfação.

Ela já se sentira daquela maneira, afinal.

Schwartz tomou a criança em seus braços, tentando, entre lágrimas, reanimá-la. Mas foi em vão.

Apenas o seu corpo estava ali.

Carinhosamente, ele colocou o corpinho de volta em seu berço e, com a face molhada e contraída em ódio, ele se voltou para a sua mulher, que, agora, sorria desdenhosa.

- VACA!

Amélia não conseguiu evitar que os seus olhos fechassem quando o primeiro soco explodiu na face daquela mulher inocente.

Mas ela se obrigou a ver sabendo o mal que aquilo traria para Schwartz.

Agora ele estava sobre ela, espancando-a.

Um minuto, e o sangue que espirrava pela sala trazia a certeza de que logo ela estaria morta.

Amélia agarrou a varinha e sussurrou.

- Finite incantatem.

E a ruiva gritou pela primeira vez.

Ele se assustou e recuou.

Ela tossiu sangue.

- O que vo---? Fred...?

Ele olhou, desesperado, ao redor, mas não viu ninguém. Provavelmente descobrira que aquilo tinha sido uma armadilha.

Um gemido, e a mulher morreu.

Mais lágrimas que fizeram um sorriso maquiavélico dançar nos lábios de Amélia.

E, então, ele pegou um abridor de envelopes que estava displicentemente perdido em cima de uma mesinha e, com um golpe fundo, cravou-o em seus pulsos.

Amélia sentiu os seus próprios olhos queimarem enquanto ele delineava um corte preciso já no outro punho e caia no chão. A sua varinha rolou para perto de Amélia e, finalmente, foi a sua hora de se revelar.

Terminando com o feitiço, atraiu imediatamente o olhar do seu inimigo.

Com passos felinos e os olhos frios, ela se aproximou dele.

- É incrível o estrago que um simples império pode provocar.

Os olhos dele cerraram para tentar identificar quem lhe fizera de vítima. Logo o temor tomou conta dele.

Amélia se abaixou, ajoelhando-se sobre o sangue que se esvaía.

- Não fique assim, já está acabando. Daqui a pouco você vai sentir um certo frisson; uma euforia. Quer dizer, eu senti isso, quando tentei me matar... mas será que devemos levar em consideração o fato de que eu estava em paz comigo mesma, já que não tinha ocasionado a morte da minha família?

Ele desviou o olhar, mais lágrimas caindo.

- Você se meteu com a pessoa errada.

- Amélia...

E nada além de um engasgo foi ouvido antes de Amélia poder contemplar os olhos vítreos e sem vida do seu inimigo.

E, mais uma vez, não se sentiu satisfeita.

Caminhando tristemente para o berço onde o corpo do bebê jazia sereno, Amélia se permitiu mostrar-se triste.

Buscando no seu bolso um pequeno recipiente de vidro, ela tomou a criança nos braços. Assim que o líquido atingiu os lábios do bebê, um chorinho fino ecoou pela casa.

Amélia aninhou-o em seus braços, deu um tímido beijo em sua testa e sussurrou:

- Seu nome vai ser Ângela, minha filha.

Logo todo o Ministério estava naquela casa, e Amélia contava como ela tinha chegado e encontrado seus grandes amigos mortos, vítimas de um crime passional.

E nunca uma criança fora tão bem recebida numa casa quando Amélia anunciou que aquela que ela vinha em seus braços era, agora, Ângela Snape, a sua filha adotiva.

XxXxXxX

Dias se passaram, mas ela ainda não conseguia encontrar paz.

Em seu quarto, sentada de frente à penseira de Dumbledore que Snape pegara emprestado desde o dia em que Amélia descobrira que o seu filho, na verdade, nunca sequer conheceu Elizabeth Thompson, ela pensava.

Mais um dia, e ela se torturava, vendo e revendo a maldita lembrança que, se pudesse, apagaria da sua memória de uma vez por todas. Amélia simplesmente não sabia quanto tempo agüentaria aquilo.

O rangido da porta se abrindo fez com que Amélia finalmente tirasse seus olhos da bacia de pedra, voltando-os imediatamente para Severo Snape, o seu marido, que a olhava com uma expressão que quase poderia ser descrita como pena.

- Você ainda está aqui?

- E vou ficar aqui por muito tempo, Severo. Enquanto não descobrir...

- Pare de se torturar! Dia após dia você revive... simplesmente esqueça! Vai acabar se sentindo melhor ao fazer isso!

- Como eu posso esquecer o que
eu vi?

Com isso, ela se levantou e olhou pela terceira vez naquele dia para a cena maldita que reluzia dos vapores prateados.

Tomou fôlego antes de dizer:

- Vou entrar lá de novo.

Snape crispou os lábios, percebendo que nada convenceria a sua mulher do contrário.

- Eu vou com você.

Por mais que Amélia achasse que aquilo era assunto dela e que somente ela poderia tentar resolver, não pôde impedi-lo.

Logo os dois se viam novamente naquele dia fatídico.

Amélia tentou não olhar para o seu filho morto e se concentrar na mulher que, agora, assistia o sofrimento da Amélia da lembrança.

Por mais que ela olhasse, a máscara nada revelava além do que ela já tinha visto.

Porém, dessa vez, algo diferente ocorreu: Já no fim da lembrança, quando Amélia matava Brian, a Amélia que assistia à cena abaixou o rosto em decepção por, mais uma vez, não conseguir distinguir quem seria Elizabeth na verdade, viu claramente a mão com a qual Thompson segurava a varinha.

Uma fina e discreta linha vermelha aparecia nas costas da mão dela e – ela pôde constatar – uma mísera mecha loura dos cabelos que pulava para fora do capuz, de repente, tornava-se negro.

Atordoada, ela foi expulsa da penseira. O seu coração parecia querer pular do peito, a sua respiração estava irregular.

Apenas uma pessoa que ela conhecia tinha cabelos negros e aquela cicatriz na mão... apenas uma pessoa.

Pela primeira vez em muito tempo, Amélia chorou. Lágrimas de... ódio? Decepção?...

- O que você viu?

Amélia voltou-se para Snape, agora com uma expressão inconfundível de ódio e rancor deformando o seu belo rosto.

- Foi Bellatrix!

A incredulidade tomou conta de Snape.

- Não... Eu conheço Bella.

- Você estava tento problemas com ela, não estava? – ele assentiu. – Foi ela! Aquela vaca matou o nosso filho e teve a cara de pau de pedir abrigo para nós!

As lágrimas voltaram a se formar.

- Não...

Amélia suspirou, voltando a sentar-se no chão.

- Veja você mesmo. Aquela que matou Ed acaba com uma cicatriz na mão. Você se lembra que eu perguntei a Bella sobre a cicatriz quando ela pediu-nos abrigo? Você prestou atenção na cicatriz?

Snape assentiu, enquanto entrava na penseira a fim de tirar a prova dos nove.

Quando ele voltou, o mesmo brilho de ódio que se encontrava no olhar de Amélia podia ser visto no dele também.

- Agora nós sabemos o que fazer, Mia. Sabemos onde ela está e ela não espera a nossa visita, o que é uma vantagem.

- Amanhã saímos de casa, então. Amanhã eu vou matar Bellatrix Lestrange.

XxXxXxX

Sobre o cap passado, Lara perguntou como a Elizabeth reconheceu a Amélia, já que não era ela nem em Hogwarts e nem no julgamento... Bom, eu respondo aqui, caso seja dúvida de mais alguém: Realmente, em nenhuma parte da terceira parte a Elizabeth verdadeira se encontra com a Amélia fora no dia do seu assassinato, é claro. Porém, na primeira parte da fic as duas estudam juntas e dormem lado-a-lado. Tudo bem, vocês podem argumentar que reconhecer amiga da escola mais de 20 anos depois é forçação de barra. Concordo. Porém, no fim da segunda parte da fic, quando Amélia deixa Sevvie e vai ao encontro de Brian no Central Park, temos novamente a aparição de Elizabeth, agora como noiva de Brian. Eles romperam o noivado justamente porque Amélia se mudou para a casa de Brian... Enton, convenhamos, realmente eh complicado lembrar de uma antiga colega de escola... agora, esquecer as feições da mulher que ocasionou o fim do seu noivado é impossível! Hehehehe!

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