Vingança II: O Erro



CAPÍTULO XXVIII. VINGANÇA II: O ERRO

Paris.

A bela França se insinuava pelas janelas daquele café na Champs Elysées, mas Amélia não tinha olhos para as belezas locais: tudo o que ela conseguia enxergar era a loira que, sentada numa mesa perto das enormes vidraças que proporcionavam uma vista estonteante da Cidade Luz, conversava alegremente com um homem alto e bonito.

E Amélia apenas observava, de longe...

Sentada casualmente na Place de la Concorde fingindo ler um jornal, ela esperava que o destino da mulher fosse logo selado... Elizabeth ria feliz... nem imaginava o que estava para acontecer.

A loira tomou mais um gole do seu café, levantou-se e rumou para a saída.

Amélia escondeu o seu rosto no jornal.

De mãos dadas com o homem, Elizabeth conduzia-se para um veículo preto. Ele, cavalheiro, abriu a porta para ela, que rapidamente entrou.

Enquanto ele se acomodava como motorista, Amélia olhou para o céu: O sol começava a se pôr num belíssimo espetáculo... Era quase um pecado não apreciá-lo.

Suspirou, sentindo a sua cabeça latejar.

O carro deu a partida.

Começou a andar.

E, de repente, um outro carro em velocidade espetacular entrou na contramão e – que pena – chocou-se violentamente contra o carro de Elizabeth.

O barulho cortou a paz da tarde parisiense como navalha e não demorou a uma pequena confusão de curiosos e paramédicos formou-se no local.

Amélia deu um meio sorriso: ninguém jamais desconfiaria que aquele carro entrou na contramão por pura intervenção mágica... o Ministério da magia nunca investigaria – Elizabeth estava vivendo como trouxa, afinal.

E, tranqüila, ela apreciou o pôr do sol.

XxXxXxX

A roupa de enfermeira lhe caía bem.

Um feitiço da desilusão foi mais do que suficiente para que ninguém notasse a desconhecida enfermeira que vagava livremente pelo hospital, chegando ao corredor cuja portinhola tinha um aviso fixado em francês “Apenas pessoal autorizado”.

Aviso que foi ignorado.

Lentamente, Amélia entrou na UTI, passando pelos leitos dotados de moribundos... o namorado de Elizabeth foi ignorado – se ele conseguisse sobreviver, melhor.

No leito ao lado, a recém operada Elizabeth Thompson respirava com dificuldade, mas já estava acordada.

O médico deixou o leito.

Gastando o seu precário francês, Amélia cumprimentou.

- Doutor.

O médico deu um sorriso tímido.

- Como está a paciente?

- Mal. Muito mal. Vai ficar sem o movimento das pernas para o resto da vida mas deve sobreviver.

- Não existem mais riscos?

Ele deu de ombros.

- Sempre têm riscos. Talvez uma complicação. Agora só depende da reação dela. Pelo menos já está acordada, o que é um ótimo sinal.

E, com isso saiu.

Grande erro.

Agora, sozinha, Amélia poderia colocar a parte dois do seu plano em ação.

Aproximou-se silenciosamente e inclinou-se para que Elizabeth pudesse ver o seu rosto. Surpreendentemente, nenhum sinal de reconhecimento.

- Olá, Lizzy.

A mulher cerrou os olhos.

- Amélia?

Ela sorriu sadicamente.

- Eu mesma. Sentiu saudade? Achou que eu não viria?

- O que...?

Mais um sorriso doce, enquanto Amélia acarinhava os cabelos da mulher que estava prestes a matar.

- Você... Enganou, matou e pensou que ficaria impune? Que eu esqueceria? Mas eu nunca esqueço. Um dos meus maiores defeitos é o meu rancor.

Silêncio.

Amélia bufou, tirando do bolso das suas vestes uma seringa com um líquido transparente, como água.

- Você sabe o que é isso?

Silêncio – mas os olhos dela se abriram um pouco mais e o rosto espelhava certo temor.

- Isso é aquele veneno que o meu marido criou, que faz com que a pessoa pareça morta. Já foi usado em mim, lembra?

A agulha se colocou no topo do frasco de soro que era injetado nela e cinco gotas se misturaram com o quase meio litro de soro.

- Nesse momento o veneno está no seu sangue: Dessa forma não precisa implorar para tirar o soro. Como eu coloquei muito pouco, vai demorar mais para fazer efeito: por volta do meio dia, apenas. Vai parecer que você está agonizando e, de repente, você vai ter uma parada cardio-respiratória e morrerá. O truque da poção é que você não estará realmente morta: você estará viva e consciente, mas ninguém saberá disso.

“Como a sua morte terá sido culpa da medicina trouxa, ninguém do mundo mágico investigará. E você será enterrada viva. Você verá o seu funeral, o seu caixão. Verá que eu estarei lá, prestigiando. E verá a terra lhe cobrir e depois de longas horas você morrerá sufocada.” Um sorriso maldoso tomou conta dos lábios finos de Amélia enquanto ela dizia. “Agradeça a Merlin que eu decidi ser tão boazinha com você.”

E, enquanto ela agonizava sussurros ininteligíveis, Amélia deixou a UTI.

XxXxXxX

Do seu processo vingativo, aquele era o primeiro funeral ao qual Amélia ia. E, ela devia admitir, era interessantíssimo – As pessoas velando um corpo que ainda estava vivo e sofrendo...

Vestida de preto e olhando desdenhosa para o caixão que estava sendo enterrado, Amélia pousava uma das mãos no ombro de Phillipe – que ficara muito feliz em saber o que a mãe tinha feito – e a outra se entrançava na mão de Severo – que tinha fabricado o doce veneno.

Lamúrias, choros... Elizabeth não merecia aquilo.

Discursos emocionados ressaltando o quão maravilhosa aquela vaca que tinha matado os seu filho era...

Se eles ao menos soubessem...

Por fim, a dispersão.

Amélia teve que dar um sorriso de canto de boca: quem matara o seu filho, agora, estava viva e enterrada.

E ela teve que disfarçar rapidamente esse sorriso quando notou com surpresa que a irmã mais nova de Brian vinha ao seu encontro.

- Amélia? O que você está fazendo aqui? – olhou então para Phillipe, quem não via desde os sete anos de idade. – Meu Merlin, ele cresceu!

Antes que o constrangimento do menino fosse evidente, Amélia disse:

- Cresceu, mesmo. Estou aqui porque fiquei sabendo que Elizabeth tinha morrido e eu vim conferir se era verdade mesmo.

O sorriso acolhedor da mulher morreu.

- Por que isso? Merlin! Respeite os mortos!

- Elizabeth testemunhou contra mim, Caroline. Eu não posso dizer que estou triste de ver que ela não pode mais me difamar.

- Ah, isso? – a mulher olhou para o chão. – Coisa estranha, não?

- Sim, foi muito estranho, já que ela fez questão de se passar por minha amiga durante um bom tempo.

- Não isso! Eu não lhe contei?

Uma pontinha de medo e curiosidade atingiu Amélia. De certa forma ela sabia que algo tinha dado errado.

- Não, você não me contou.

- A minha irmã esteve no seu julgamento e me mandou uma coruja dizendo que tinha visto Elizabeth... Sendo que, naquela época, naquele exato dia, inclusive, Lizzy e eu estávamos internadas juntas numa clínica para... perturbados. Ela estava comigo, Amélia, e não na Grã-Bretanha. Não foi ela quem testemunhou contra você... ou que trabalhou com você.

E, mais uma vez, o sentimento de vazio a invadiu, agora levemente regado de culpa. Não escutou mais nada do que se passava ao seu redor.

Apenas conseguia, com pesar, olhar para a sepultura onde para sempre jazeria o corpo de uma inocente.

Mais tarde, com as forças ligeiramente recuperadas, ela foi até a clínica endereçada por Caroline e viu nos registros que Elizabeth realmente estivera internada: Alucinações sobre uma pessoa que arrancava seus cabelos, histeria e ausência de reação: Insanidade.

Saindo dos termos médicos para os termos de um soldado: Maldição império.

E a segunda parte da charada, logicamente, Polissuco.

Mas, não... não fazia sentido. Amélia passara dias inteiros com Elizabeth e jamais a percebera bebendo algo.

- Faz sentido, sim.

Amélia levantou o rosto para ver Severo parecendo se culpar por algo.

- Faz?

- Há quatro anos eu adulterei a poção polissuco por pedido do Lorde das Trevas, para que ela não mais durasse uma hora, porém um dia inteiro. Eu fiz um grande estoque que, certo dia, ele disse que tinha sumido. Até hoje ninguém sabe quem foi... Mas parece que acabamos de descobrir para que foi usado.

XxXxXxX

Oh, yeah! Revisem!


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