Um Julgamento Imparcial



CAPÍTULO XXV. UM JULGAMENTO IMPARCIAL

Aquela talvez fora a primeira vez que Amélia se mostrava um ser humano com a capacidade de sentir desde que tinha chegado àquele lugar. Levantando-se rapidamente da cama e correndo para as grades da sua pequena cela, ela viu Snape ser jogado naquele cubículo.

- Severo!

Snape apenas a olhou, esperando que os guardas saíssem, antes de dizer:

- Como você está?

Amélia deu um meio sorriso.

- Presa. Como você está?

- Numa situação parecida.

Eles deram ínfimos risos, enquanto ela se sentava na pedra fria – ainda próxima à grade.

- Quando?

- Noite passada. Parece que chegaram à conclusão que me esconder dava muito trabalho, e acharam que me jogar aqui até que tudo se acalme era a melhor solução.

- Bastardos! Phillipe? Tem notícias dele?

- Ele está bem. Eu tentei fazer com que alguém da Ordem ficasse com ele... Pensei em Tonks e Lupin. Mas, como não pude ainda reconhecer a paternidade oficialmente, não pude sequer opinar nisso.

Amélia mordeu o lábio, sentindo os olhos queimarem.

- E... Edward?

Snape deu um longo suspiro.

- Ele foi enterrado na mansão Snape, com o nome de Edward Lair Snape. McGonagall cuidou de todo o enterro e eu assisti escondido, sob ação de polissuco e do feitiço para confundir.

Amélia assentiu, voltando para a sua cama no fundo da cela e controlando-se para não deixar que as suas lágrimas caíssem: ela não choraria mais. Nunca mais.

- Eu vou matá-los.

- Eu sei. – Snape não mais a olhava. – Quando sairmos daqui, nos casaremos. Vamos deixar passar um ano ou dois para que eles pensem que nos esquecemos e, então...

Ela apertou as mãos, sentindo as unhas cravarem-se em sua carne.

- Eu sonho todas as noites que estou matando eles. Nós vamos matá-los de uma maneira muito sutil... os outros nem vão perceber. E eu estarei em cada um dos funerais, e farei questão de jogar uma rosa em casa túmulo.

- Vamos fazer isso.

XxXxXxX

Tudo ficou menos terrível, com a presença de Snape. Ele também voltou a fumar e era a única companhia que Amélia realmente gostava. Mas eles nunca saíram juntos da cela. Eles nunca tiveram banho de sol no mesmo horário. Sequer as tarefas na prisão eram no mesmo lugar.

E eles passaram meio ano assim: apenas conversando.

No começo, o assunto era sempre o mesmo: a vingança. A cada dia eles pensavam numa nova maneira de torturar, uma nova maneira de matar.

E, então, a guerra acabou.

Com pesar, ela viu Pettigrew ser enjaulado, e assim, boa parte dos seus planos irem embora. Mas nenhum sinal de Elizabeth ou de Schwartz.

Certa manhã, ela acordou e olhou para a cela da frente, mas Snape não estava mais lá.

Perguntou ao guarda o que tinha acontecido, e a resposta não poderia ser melhor: Snape tinha ido a julgamento.

Por muito tempo ela perguntou aos guardas qual fora o resultado, se ele fora absolvido – embora o resultado fosse quase óbvio. Mas ninguém a informava de nada. E por um mês inteiro ela ficou sem ter certeza da sentença final.

Até que um oficial de justiça chegou na cela dela.

- Ei! Se levanta! Ta na tua hora!

Sem ter muita certeza do que ele estava falando, Amélia se levantou.

As grades da sua cela sumiram, ele se aproximou e, com um feitiço, fez cordas flamejantes envolverem as suas mãos.

Logo ela estava caminhando pelos corredores e entrando numa salinha, onde o Ministro a esperava.

- Ah, Amélia!

Ela crispou os lábios e o cumprimentou com um aceno da cabeça.

- O que eu estou fazendo aqui?

- Apenas achei que você não queria perder o próprio julgamento.

- Que bom que ele existe! Eu pensei que você ia me deixar completar o meu aniversário de um ano de detenta.

- Que humor... Voldemort caiu, sabia? Morreu!

- Jura? Ninguém me avisou que o meu Lorde e ex-amante tinha passado dessa para melhor! Será que ainda dá tempo de ir ao funeral?

O ministro bufou, aproximando-se dela.

- Senhora Lair, é melhor você acabar com esse sarcasmo, ou acabará encarcerada para sempre! – Um homem bem vestido entrou na sala e o semblante do Scrimgeour iluminou-se imediatamente. – Ah! Esse é o doutor Hilton, que cuidará da sua defesa. Vou deixar os dois á sós.

Enquanto o ministro deixava a sala, o advogado educadamente apertava a mão de Amélia.

- Creio que a senhora já tenha sido informada de como os julgamentos dos partidários de Voldemort está sendo feito, não?

- Ainda não.

- Bem, estão todos sendo feitos numa só audiência com três testemunhas: uma indicada pelo Ministério, uma de acusação e uma de defesa. Você tem direito também a prestar depoimento. Eu vou pedi-lo. Quero que você chore e se faça de vítima, para que o júri aceite a nossa história. Está sendo fácil absolver as pessoas... Dois dias atrás eu absolvi um Comensal convicto... Schw--- alguma coisa... não lembro.

Amélia parou de respirar um momento. Disfarçando, tentou, sem sucesso, sorrir.

- Apenas me leve para a corte!

Lentamente, Amélia foi levada para uma sala ampla cheia de pessoas – muitas das quais ela conhecia.

No fundo, alguns repórteres estavam prontos para anotar cada palavra dita no julgamento.

Na extrema esquerda, Phillipe olhava ansioso para a mãe, enquanto uma das irmãs de Brian evitava claramente o contato visual – o menino provavelmente a contara tudo o que acontecera na noite da morte do irmão.

E, no banco das testemunhas, duas figuras levaram os sentimentos de Amélia de um extremo ao outro: Logo depois de Snape, que tinha feito o seu coração pular de alegria, estava Elizabeth, vestida como uma grande dama da sociedade, pronta para depor.

A respiração de Amélia ficou pesada, enquanto ela se controlava para não acusar a mulher. Se o fizesse, colocaria todos os seus planos a perder – precisava que ela estivesse livre para poder matá-la.

Respirou fundo, tentando se concentrar nas palavras do ministro da magia.

- Trazemos a esta Corte de Justiça a ré Amélia Beatrice McRough, acusada de usar a maldição da morte contra o prisioneiro de guerra Brian McRough, bem como, constatado por investigação em sua varinha, usar maldições imperdoáveis. Que venha a primeira testemunha, a auror Dorah Spinksten, que efetuou a prisão.

A mulher que levara Amélia para a cadeia levantou, caminhando até o banco onde deveria prestar depoimento.

- Conte-nos apenas o que você viu – disse o ministro.

Ela molhou o lábio, como se tentasse se lembrar exatamente do dia em que efetuou a prisão de Amélia.

- Bom, quando eu e os outros aurores aparatamos nos fundos da Mansão Malfoy (tudo tinha sido um plano da Ordem da Fênix. O Ministério foi avisado e eu convocada.), eu vi a ré executar a maldição. Eu fui até ela, para efetuar a prisão, agarrei o seu braço e aparatei no Ministério, o que foi uma sorte, não ter ido diretamente a Azkaban, porque ela, não sei como, conseguiu segurar um menino, o seu filho, e o levou junto.

O advogado de Amélia levantou-se.

- Spinksten, como ela reagiu à prisão?

- Ela não reagiu. Apenas mostrou-se preocupada com o filho, para onde ele seria mandado. Ela se recusava a largá-lo, mesmo quando eu disse que iria entregá-lo à assistente social. Quando eu anunciei que ela ia para Azkaban (acho que ela ainda não tinha se tocado disso!), ela desmaiou, e eu pude levá-la.

- Você se lembra da expressão no rosto dela?

- Ela parecia... assustada. Triste... Sabe, ela estava definitivamente abalada.

- Obrigado.

O homem se sentou, enquanto o ministro se levantava mais uma vez.

- Muito bem. A promotoria tem alguma pergunta?

- Não. – respondeu uma mulher negra que se sentava ao lado do advogado.

- Nesse caso, chamaremos a testemunha de defesa, Severo Snape.

Snape se levantou, tomando o lugar que antes estava ocupado pela auror.

O ministro, novamente, fez a mesma pergunta que tinha feito à Auror.

- Nos diga o que aconteceu exatamente no dia em que Brian McRough foi assassinado.

- Os filhos gêmeos da senhora Lair tinham sido seqüestrados por minha causa. Os Comensais tinham descoberto que eu trabalhava como espião, fato já esclarecido nessa corte, e, como retaliação, decidiram atingir a Senhora Lair e os filhos. Eles me contataram, e pediram que nós levássemos o cadáver de Minerva McGonagall para que talvez nos devolvessem as crianças. Eu adormeci Minerva com o seu consentimento e nós levamos o corpo. Os Comensais da Morte decidiram... brincar. Eles pediram primeiro para que a Senhora Lair me torturasse ou matasse o marido, e ela me torturou. Depois para escolher entre um dos filhos – ouviu-se um sonoro lamento dos jurados –, e ela escolheu. Por fim, a mandaram escolher entre Phillipe, o filho que tinha sobrevivido, e o Senhor McRough, queriam que ela matasse um dos dois. Assim que ela matou o seu marido, o Ministério a prendeu.

O defensor público se levantou.

- Essas foram as únicas vezes que a ré usou maldições imperdoáveis?

- Desde que ela deixou o Ministério, por volta de treze anos atrás, eu nunca mais soube de uso de magia negra por sua parte... Exceto no dia em que os filhos foram seqüestrados e no dia em que ela matou McRough.

- Mas ela não queria matar?

- De maneira nenhuma.

- E por que ela matou?

- Se ela se recusasse, os Comensais matariam os seus dois filhos. Ou marido e o filho. A Senhora Lair não queria que Phillipe fosse machucado, depois que ela perdeu Edward.

- E Brian?

- Se ele tivesse escolha, diria para a Senhora Lair o matar.

O advogado se voltou para os jurados.

- Uma mãe está sendo acusada por defender o filho. É uma pena.

Ele se sentou, enquanto Scrimgeour se levantava mais uma vez.

- Passo a palavra para a promotoria.

A advogada se ajeitou na cadeira, tirando os seus óculos. Sem se levantar, ela disse:

- Foi dito durante o seu julgamento que a ré lhe ajudou a espionar para a Ordem da Fênix, certo?

- Sim.

- E, pesquisando sobre você, eu vi que o menino morto no dia da morte de McRough foi enterrado sob o nome Snape, certo?

- Sim.

- Senhor Snape, o senhor é o pai dos gêmeos?

Snape Bufou, sentindo-se visivelmente desconfortável.

- Sim.

- E o senhor mantinha relações sexuais com a ré antes do acontecido?

- Eu não vejo a relev...

- Senhor Snape – ela o interrompeu –, apenas responda.

- Sim.

Amélia baixou a cabeça, vendo a expressão de vergonha no rosto do filho.

- Eu também não pude deixar de notar a aliança extremamente parecida que os dois estão usado. Planos de casamento?

- Sim.

- Felicitações – ela folheou alguns papéis. – Desde quando vocês vêm usando essas alianças?

- Era um plan...

- Senhor Snape – ela o interrompeu mais uma vez. – De novo, responda apenas o que lhe foi perguntado.

- Um ou dois meses antes da prisão dela.

- Ah. – ela se voltou para os jurados. – Aliança... comprometimento, sentimento. Sentimento que, como nós já vimos diversas vezes nesta corte, leva as pessoas a cometer coisas terríveis, como se livrar do marido, e mentir para encobrir os verdadeiros motivos. – Snape abriu a boca para responder. – Obrigado, senhor Snape. Sem mais perguntas.

E ele foi obrigado a se retirar.

Mais uma vez, a voz do ministro.

- Convoco a testemunha de acusação, Elizabeth Thompson.

Elizabeth foi até o baquinho, dando um sorrisinho infame para Amélia que quase não se conteve.

- O que aconteceu no dia em questão.

Ela deu de ombros.

- Não faço idéia. Sei que, quando eu fui procurar Amélia, ela tinha sumido!

O ministro rolou os olhos, enquanto a promotora dizia, sorrindo.

- Senhora Thompson, o que a senhora acha que realmente aconteceu?

- Eu acho que a Mia matou o Brian pra ficar com o Snape.

- A senhora acha? Por que?

- Eu era super amiga da Mia, sabe? Ela me contava tudo! E me contou que estava tento um caso com o Snape. O Brian, é claro, odiou quando ela pediu o divórcio, e se recusou a dar! Daí ela começou a andar com a aliança, falar que ia casar com o Snape de qualquer jeito... O Brian mandou vários berradores para ela, a briga tava feia, mesmo! Daí ela sumiu e o Brian morreu! O que mais eu posso pensar?

- Você acredita que a Senhora McRough e o Senhor Snape tenham combinado a morte do Senhor McRough?

- Snape talvez não. Mas a Amélia... sabe, eu até peguei ela uma vez dizendo que ia matar ele...

- Isso é tudo, obrigado.

O ministro:

- Defensoria?

- Sim. – o advogado se levantou – Huh... Senhora Thompson, pouco antes da ré se casar com o falecido a senhora era noiva dele?

- Sim.

- Ele lhe deixou para ficar com a ré?

Ela pensou um pouco.

- Sim.

- Como a promotora disse, paixão leva as pessoas a mentirem. Obrigado, senhora Thompson.

Ministro se levantou.

- Agora, com os fatos expostos, quero que os jurados votem.

- Ministro – O advogado se levantou – eu gostaria de ter o testemunho da ré.

- Sim, pode ser... Senhora Lair, dirija-se ao banco das testemunhas.

Amélia mudou de lugar, enquanto o seu advogado dizia:

- Por que a senhora matou?

- Fui obrigada.

- O testemunho de Snape confere?

- Todo ele.

- Você pode apontar os seqüestradores dos seus filhos.

- Não.

- A senhora não sabe quem foi?

- Comensais andam mascarados.

- Isso não foi o perguntado.

- Não, eu não sei quem foi. Eu sei que foram três, mais um que eu matei.

Ele bufou.

- Sem mais perguntas.

O advogado sentou-se com o rosto furioso. Na certa esperava um depoimento choroso de Amélia... mas ela preferia qualquer coisa antes de mostrar qualquer fraqueza na frente de Elizabeth.

A promotora disse:

- A senhora se arrepende de ter matado?

- Matei e mataria de novo.

Um breve sorriso se apossou dos seus lábios.

- Sem mais perguntas.

O ministro também parecia aborrecido quando se levantou.

- Agora os jurados podem decidir.

Doze jurados foram para uma sala onde por meia hora decidiram o futuro de Amélia.

Trinta longos minutos até eles voltarem.

Um negro alto anunciou.

- O júri tomou a sua decisão.

XxXxXxX

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