Felicidade Mórbida



CAPÍTULO XXVI. FELICIDADE MÓRBIDA.

- O júri declara a ré Amélia Beatrice Lair inocente de todas as acusações.

Gritos comemorativos foram ouvidos de uma pequena parcela dos que assistiam ao julgamento.

Embora mantivesse o seu rosto duro, Amélia jamais poderia negar que sentiu um calor se apossar do seu corpo quando finalmente percebeu que nunca mais teria que colocar os pés naquela fétida prisão onde, por quase um ano da sua vida, foi o único lugar que ela pôde chamar de lar... E não se importou de ver a promotora se levantar intranqüila e ralhar com o júri que ela era culpada e perigosa, além de que aquele sistema emergencial de guerra jamais funcionaria propriamente, sempre deixando livres assassinos convictos.

Um guarda – o mesmo que se abismara com a sua frieza no dia em que o velho que ficava na cela em frente à dela morrera –, munido de uma varinha, desfez as amarras de fogo que imobilizavam os braços e as pernas de Amélia – levantar-se nunca tinha sido tão bom. Ele a olhou com desprezo, enquanto entregava de volta a varinha que lhe fora tomada no nefasto dia da morte de Edward e Brian.

- Eu sei que você é culpada. Eu poderia testemunhar contra você, se não fosse esse maldito sistema.

- É mesmo? Também sentirei a sua falta!

Sem dar chances para que ele respondesse, Amélia caminhou por entre a multidão que assistira ao seu julgamento – passou direto por Snape.

Os repórteres não tardaram a rodeá-la.

- Senhora Lair, a senhora pretende processar o estado por ter lhe mantido presa?

- É verdade que as condições em Azkaban estão subumanas?

- Quem você quer que seja responsabilizado: o Ministério, os Comensais?

- Você acha que o seu julgamento foi justo, ou compartilha a idéia de que esse sistema emergencial apenas serve para soltar criminosos poderosos?

Amélia ignorou todos eles, passando como um raio pela aglomeração. E, pela primeira vez em muito tempo, sorriu... Ela jamais poderia descrever a sensação de estar vendo o filho depois de tanto tempo.

Um pouco menos de um ano tinha se passado, mas Phill já mudara.

As feições infantis ainda eram as mesmas, mas ele estava mais alto. Os cabelos, um pouco mais crescidos do que Amélia gostava de permitir no passado, o deixavam extremamente parecido com Snape. E o sorriso...

Amélia suspirou.

- Oh, Phill...

O menino segurou a mão dela.

- Eu senti saudades, mãe.

Amélia fechou os olhos e, mais uma vez, suspirou. Os braços se voltaram no garoto, mas, apesar do nó quase insuportável em sua garganta, nenhuma lágrima escapou os seus olhos – ela não mais conseguia chorar.

Num sussurro quase inaudível ela disse:

- Eles não vão escapar ilesos, meu filho. Eu vou matar cada um deles.

Phillipe encarou a mãe com uma expressão quase indecifrável: seus olhos estavam duros, sem brilho. Sussurrando, também, ele perguntou:

- Você vai se vingar?

- Sim. Eu não vou descansar até ter matado todos eles.

Um sorriso cruel dançou nos lábios do garoto.

- Você vai me levar para o enterro deles, Amélia. Jure!

- Eu juro.

- Então vamos embora daqui.

Mas ela não foi.

Não sem antes olhar para trás e ver que Snape ainda esperava por ela.

- Leve-o daqui – ela ordenou à irmã de Brian que viera acompanhar o seu filho – Agente se encontra lá fora.

Enquanto os dois saíam da corte improvisada no Ministério da Magia, Amélia passava mais uma vez pelos jornalistas até chegar a Severo Snape.

- Oi.

Ele apenas acenou com a cabeça como resposta.

Amélia segurou levemente a mão esquerda dele, para verificar se o que a promotora dissera era verdade – se ele de fato ainda usava o anel prateado que servira de aliança falsa para os dois.

- Você ainda não tirou isso...

Severo crispou os lábios, deixando o rosto duro.

- Esqueci.

- Eu também.

Ela abriu um sorriso grande. E continuou.

- A sua proposta ainda está de pé?

- De casamento? – ela assentiu. – Eu achei que fosse mais um acordo bilateral que uma proposta. Mas, se você vê como uma, a resposta é sim.

- E como vai ser?

Ele se aproximou mais, obviamente achando que não estavam no local mais apropriado para ter esse tipo de discussão.

Mas, ainda assim, respondeu.

- Uma cerimônia pequena e nos mudamos para a mansão.

- Eu vou ter que convencer Phillipe a voltar para a Inglaterra.

- Será bom, pois não vou deixar Hogwarts agora. Sou o vice-diretor.

O sorriso dela se alargou.

- Que importante!

- Amélia.

- Hm?

- Vamos para casa.

E, juntos, eles caminharam para a liberdade.

XxXxXxX

Meses de grandes mudanças se sucederam. De fato, convencer Phillipe de que ele deveria voltar a Hogwarts não o deixou nada feliz – tampouco à Irmã de Brian, que quase via o garoto como filho.

Mas quem poderia culpá-lo? Os traumas que rodeavam aquele país ainda eram muito recentes e perturbadores. As lembranças trazidas pelo castelo ao qual ele teve que voltar eram muitas, eram terríveis. Mas ele conseguiu se adaptar, com o tempo.

Aliás, Phillipe só não conseguia se adaptar à fria espera... Dia após dia, ele perguntava a Amélia e a Severo quando a vingança finalmente viria, quando os responsáveis seriam mortos... E eles nunca podiam dar uma resposta.

A vingança tinha que ser saboreada... tinha que ser longa. Amélia sabia bem disso. E, por tanto, não se incomodava em esperar pacientemente por ela.

Casaram-se, como sempre sonharam secretamente. Mudaram-se para a grandiosa Mansão Snape. E continuaram cultivando a amizade de quem poderia ser útil: ao mesmo tempo que mantinham contato com Rufo Screamgor, socializavam-se com aqueles que tiveram um pé nos Comensais da Morte.

Amélia ajudou no julgamento da família Malfoy, conseguindo livrar Lúcio de alguns anos de prisão. Draco acabou com serviços comunitários. Narcissa sequer foi acusada. Mas a irmã dela, Bellatrix... essa, sim, estava sendo procurada.

Nunca tiveram grandes amizades, mas Amélia não conseguiu recusar ajuda quando, apenas um mês depois do seu casamento com Severo, Bellatrix e o seu marido, Rodolphus, apareceram na porta da mansão, no meio da noite, para implorar que os escondessem.

A Bellatrix que era conhecida por sua força e beleza não mais existia. Aquela que apareceu à sua porta era uma mera sombra do que um dia fora: Bella estava tão magra que os ossos do seu rosto ficavam proeminentes. Os seus cabelos, agora, eram opacos, sem vida... E uma terrível cicatriz em sua mão, que evidenciava as batalhas que ela enfrentara, era, provavelmente, o que mais chamava atenção naquele quadro... decadente.

Apenas um sentimento tomou conta do casal Snape ao ver a antiga amiga... pena.Quase imediatamente, disponibilizaram a casa que Snape herdara dos pais, no Pais de Gales, e nunca usara antes. Ela, naturalmente, aceitou e de bom grado foi viver como uma trouxa em outro país, num lugar onde ninguém do Ministério jamais pensaria em procurar.

Depois disso, apenas a paz.

Amélia não trabalhou nos primeiros meses de casada – até a morte de Minerva McGonagall. Assim que Severo assumiu o cargo de diretor, Amélia voltou a ensinar Defesa Contra as Artes das Trevas.

Tudo parecia bem.

Eles pareciam ser apenas mais um casal feliz.

Mas uma trama obscura camuflava-se atrás das aparências.

A verdade é que o casal nunca esqueceu da sua vingança. Nunca esqueceu as três pessoas que foram juradas de morte.

Dois anos de uma felicidade mórbida se passou.

Até que, finalmente, Amélia decidiu que a poeira já estava suficientemente baixa, e que o caminho de vingança que percorreria estava prestes a começar.

E ela já sabia a ordem.

Pedro Pettigrew.

A sua residência atual era Azkaban. Amélia procuraria ajuda do ministro – e ele com certeza a daria – para executá-lo. Ela não seria tão malvada, já que Pedro era apenas um carinha burro que nunca fez nada além do que lhe fora ordenado. Jamais teria coragem de desobedecer a uma ordem e só morreria por ter o azar de ter sido designado para seqüestrar e matar os seus filhos.

Frederick Schwartz.

Esse, no entanto, sofreria muito. Ela vingar-se-ia pelo seu filho, pelos seus pais e por ela mesma. Ele gostava de usar laços familiares para atingir as pessoas... Pois bem; ele provaria do seu próprio veneno! Afinal, as últimas notícias que Amélia tinha ouvido dele de que, de volta às Londres, ele tinha se casado e a sua mulher estava no nono mês de uma tranqüila gestação.

Elizabeth Thompson.

Residência atual: Paris. Elizabeth sequer tinha sido cogitada como Comensal... seguia feliz, como se nunca tivesse feito nada de errado em seu passado, a sua vida na França. Mas isso não seria por muito tempo. Lizzy teria uma morte lenta e muito dolorosa por ter sido a autora da maldição imperdoável que tirou a vida de Ed...

Como Amélia teria prazer em matá-la.

Como teria...

E, com esse pensamento, ela sentou-se na sua cama.

As luzes avermelhadas da aurora entravam pelas janelas dos aposentos do diretor de Hogwarts, anunciando que aquela seria uma bela manhã de domingo.

Amélia olhou para o homem que, ao seu lado, dormia pacificamente.

- Severo?

Ele resmungou e abriu os olhos.

Amélia não sorriu.

Apenas suspirou.

- Vai começar. Eu vou ao Ministério hoje. Quero matar Pettigrew ainda essa semana.

Ele sentou-se. E apenas disse:

- Conte comigo.

XxXxXxX

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