Longa Espera
CAPÍYULO XXII. LONGA ESPERA
A voz grave e amada...
Pela primeira vez naqueles dias, a esperança tomou conta de Amélia. Se qualquer outra pessoa a tivesse achado, ela com certeza seria dada como morta e enterrada viva. Mas Severo Snape certamente procuraria todas as possibilidades antes de declará-la assim... Ela sabia disso... Ela sabia, pois faria o mesmo por ele.
Mas ela só pensava isso porque não conseguia ver a expressão de choque e terror nos rostos de Snape e McGonagall, bem atrás dela.
Lentamente, Snape aproximou-se dela. À medida que a visão do corpo de Amélia deixava mais clara a sua evidente morte, uma ruga acentuava-se em sua testa. O fato de estar de costas para McGonagall e a certeza de que ninguém o assistia contribuiu para que a expressão de dor invadisse as suas feições.
Ela não podia estar morta... Não ela.
Ignorando o odor insuportável dos corpos, ele ajoelhou-se ao lado dela: Uma ferida grande e lotada de vermes, anunciava o avançado estado de decomposição do corpo de Amélia, denunciando a possível causa da morte. Os seus olhos vítreos pareciam o encarar... Um deles estava parcialmente devorado.
Ele suspirou.
Não mais se importava em esconder a dor que lhe dilacerava... Num gesto quase doce, ele tomou o cadáver da sua amada em seus braços e, gentilmente, aplicou-lhe um beijo em seus cabelos.
‘Severo... eu estou viva.’
Mais uma vez ele suspirou. E Amélia nada podia fazer, a não ser rezar para que ele não largasse por um bom tempo o seu corpo dolorido.
As esperanças quase estavam se esvaindo, quando, então, aconteceu:
Com cuidado, Snape voltou a colocar o corpo dela no chão. Os seus olhos voltaram-se para Minerva. A expressão dolorida agora dava lugar a uma intrigada.
- O que foi?
- O odor... Ela não está cheirando como cadáver.
A velha se aproximou, abaixando-se próxima à Amélia e constatando que, de fato, aquele odor insuportável vinha do corpo ao lado, e não de Amélia.
- Não pode ser... ela está morta! Talvez há menos tempo...?
Mas Snape a ignorava. As suas mãos passeavam pelo corpo dela, procurando o mínimo sinal vital.
- Apenas olhe para os corpos! Se Amélia morreu com a varinha na mão, provavelmente isso aconteceu no mesmo dia da morte dessa outra! Tem algo estranho aqui! Veja! Como ela poderia ter escapado ilesa, enquanto o outro corpo já foi quase todo devorado pelos animais?
Snape respirou fundo, tentando controlar o tremor da voz.
Minerva, cética, disse:
- Você não pode estar querendo dizer que ela está viva! Severo, olhe para ela! É um cadáver!
Mas nada convencia Snape. Ele sabia que tinha algo de errado.
O seu olhar perdeu-se na ferida. Algo o dizia que era ali que estava a chave de tudo. Sem pensar duas vezes, rasgou o tecido e deixou-a completamente exposta – a dor que Amélia não pôde expressar foi lacerante.
As veias ao redor do ferimento estavam mais que evidentes por trás da pele alva de Amélia. Evidentes demais. Apenas uma poção que ele conhecia provocava aquela aparência, quando utilizada diretamente na corrente sanguínea.
O suspiro, dessa vez, foi de alívio.
- Isso...?
Ele tocou o líquido transparente que escorria pela sua barriga e levou o líquido espesso até as suas narinas.
- Minha poção. – Ele murmurou para si mesmo. E olhou para McGonagall. – Minha poção! Ela está viva!
Viva, mas por quanto tempo? O desespero o tomou-o com mais força que antes ao lembrar que por quatro dias ela esteve lá, indefesa. Poderia já estar morta. Ergueu-a, violentamente colocando-a no braço.
- Que poção, Snape?
Ele nem olhou para a bruxa, passado como um foguete por ela.
- Eu inventei! Ela pode estar viva!
- Pode estar?
- Sim! Isso porque ela passou quatro dias sem se alimentar e com essa infecção terrível! Se ela não resistiu... – Ele parou mais uma vez para controlar a voz. – Eu devia ter vindo antes!
E continuou com o seu passo largo pela floresta, sem sequer desconfiar que aquela marcha acelerada machucava Amélia.
McGonagall não conseguiu acompanhar o seu passo, perdendo-o de vista pouco antes de ele irromper na enfermaria.
- Pomfrey, rápido!
- Snape! Vocês a acharam, graças a Merlin!
A enfermeira se aproximou correndo. Não conseguiu conter o grito agudo quando viu os olhos vítreos de Amélia a encarando, fúnebres.
- Meu Merlin! Ela está...? Eu sinto muito!
Ele bufou exasperado, enquanto McGonagall entrava na sala.
- Ela pode não estar morta! Preciso fazer uma poção!
Minerva disse com urgência, interrompendo-o antes que ele se precipitasse por Hogwarts, até as masmorras:
- Faça! Mas aqui na enfermaria! Pomfrey, fique do lado de fora enquanto isso, não deixe ninguém entrar!
- Não! – Snape ordenou, já abrindo o armário cheio de ingredientes de poções e selecionando os que ele precisava – Você fica e cura dos ferimentos dela. Minerva, você cuida da porta.
Sem protestar, McGonagall obedeceu, certificando-se que ninguém chegaria sequer perto do local onde Snape se encontrava.
A enfermeira trabalhou rapidamente para limpar e fechar os ferimentos... A dor foi terrível, mas Amélia jamais poderia verbalizá-la.
Pouco tempo depois de ter os cortes fechados, Snape aproximou-se de Amélia carregando uma poção fumegante e mal-cheirosa. Molhou com ela a ponta de uma adaga e reabriu o corte que há pouco estava sendo consumido por vermes.
Com um olhar nervoso, ele esperou.
Ao contrário do calor sentido quando Schwartz aplicou-lhe a primeira poção, essa lhe causou um frio insuportável, como se tivesse congelando por dentro.
Um minuto tenso se passou.
Até que...
- Hummm...
Ela resmungou e fechou os olhos. O seu peito subiu e desceu, num tímido suspiro.
E as lágrimas começaram a cair pelo canto dos olhos.
Snape suspirou aliviado e olhou para cima, sorrindo, como se agradecendo.
Pomfrey não escondeu a emoção e, lacrimejando, foi contar a novidade à Minerva.
- Mia...
Ele segurou na mão dela.
Passou um tempo até que Amélia tivesse força nas mãos para apertá-la forte.
- S--- Sev...
A outra mão afastou o cabelo do seu rosto, acariciando-o.
- Nunca mais faça isso. Nunca mais morra.
- Edward... Phillipe...
Mais dois fios de lágrimas.
- Foram levados. Junto com uma professora.
Mais lágrimas.
E ódio.
- Elizabeth... é Comensal. Ela seqüestrou.
Uma ruga formou-se na testa de Snape. Não sabia que o Lorde tinha posto uma comensal infiltrada em Hogwarts. E nunca tinha ouvido falar nessa mulher como comensal.
- Nós vamos pegá-la.
- Meus filhos...
- Veja bem, o Lorde das Trevas não vai simplesmente seqüestrá-los. O plano era matar você dessa maneira, com o meu veneno, seqüestrar meus filhos e, eu acho, matá-los... na minha frente. Ele não vai se contentar apenas em matá-los, você sabe. Por enquanto, eles estão salvos.
Amélia soluçou.
Era difícil acreditar que, entre comensais, o filho de um traidor pudesse estar sendo bem tratado.
- Não...
- Estão, sim. Mia, eu vou dar a minha vida para que nada aconteça com eles. Eu prometo que você vai ficar com os dois, vivos, custe o que custar.
- Você... está disposto... a morrer?
- Sim.
- E a... me matar, também?
Ele se calou.
- Me prometa.
- Eu prometo
Amélia suspirou, talvez, um pouco mais aliviada.
- Fome... Sede...
Imediatamente, Snape beijou a sua testa e foi terminar os cuidados... que incluíam comida, bebida, um bom banho e muito carinho.
Mal ela sabia que, além dos seus filhos, Brian McRough também fora seqüestrado.
XxXxXxX
A recuperação era tão lenta... Tão dolorosa...
Mas a dor maior vinha da falta de notícias.
Quanto tempo ela tinha passado sem conhecer o verdadeiro ódio? Muito. Mas agora esse sentimento que há muito ela tinha apagado do seu ser voltara... e nunca fora tão forte.
Amélia odiava não poder fazer nada. Odiava o fato de ter passado dias e dias sem poder sequer se mexer. Odiava ser submetida àquela espera agonizante, sem saber se os dois seres que ela mais amava nesse mundo estavam vivos ou mortos. Odiava Elizabeth, Schwartz e Pettigrew com todas as suas forças. E odiava sobretudo Snape, por velar seu sono e cuidar dela ao invés de trazer os seus filhos de volta.
Há dias Amélia não falava. Movia-se apenas o necessário. De certa forma, a dor diminuía quando ela se esforçava para apenas respirar.
Ela via com o olhar odioso as pessoas que passavam por ela e demonstravam a sua compaixão, a sua pena.
Rancor.
Às vezes as mãos dela se fechavam. As unhas entravam na sua carne e a dor física apenas servia para que ela esquecesse por um momento...
...Que ela precisava matar.
Uma lágrima escorreu pelo seu rosto, vendo Snape, esbaforido, entrar na enfermaria.
Há alguns dias tinham discutido. Ela tinha exigido alguma atitude dele e não compreendera quando ele disse que não podia fazer nada. As palavras desferidas por ele quando ela o chamou de “mostro frio e irresponsável” ainda ecoavam em sua cabeça: “Você acha que eu não estou procurando? Você acha que eu não estou frustrado pela falta de notícias? Que eu não estou me sentindo culpado? Que eu não vou sentir nada se qualquer coisa acontecer com eles?”.
Amélia sabia que deveria entender... Mas era tão difícil! Era tão difícil, enquanto ela não sabia se ainda voltaria a ver as suas crianças com vida novamente...
Eles não voltaram a se falar desde aquela noite. Já fazia três dias que a discussão ocorrera.
E, como em todos os dias depois disso, ele entrou na enfermaria com um olhar cansado.
Mas dessa vez foi diferente. Tinha um brilho diferente nos olhos dele... E, pela primeira vez em três dias, ele falou com ela.
- Ele deu notícia – o coração de Amélia pulou, enquanto ela se sentava mais ereta em seu leito. McGonagall, que estava ligeiramente adormecida, deu um pulo do sofá e escutou com atenção o que Snape dizia. – E foi como eu disse: os dois estão vivos, e ele quer fazer... trocas. Pelos garotos e por seu marido.
- O que? Brian...?
Ele assentiu pesarosamente.
Amélia se levantou, sentindo uma ligeira tontura.
- O que ele quiser!
Snape suspirou. O seu olhar se desviou para a diretora de Hogwarts.
- Nós devemos levar o seu cadáver, Minerva.
Amélia olhou de Severo para a diretora.
Se fosse preciso, sim, ela mataria Minerva McGonagall.
Snape continuou.
- Ele quer desacreditar Hogwarts e achou que seria engraçado se eu exterminasse mais um diretor.
- E... – Minerva começou, cuidadosamente postando a sua mão encima da varinha. – O que você pretende fazer?
- Se eu pretendesse matar você não estaria conversando na sua frente! Se você colaborar, poderemos usar o mesmo veneno que foi usado em Amélia. Eu já tenho o antídoto aqui. Nós vamos, damos um tempo para que Amélia saia de lá com os filhos, e trazemos os aurores do ministério. Um deles pega o seu corpo e vai embora.
Amélia rolou os olhos.
- Confiar no ministério...
- Tem algum plano melhor, Amélia?
- Sim! Tinha vários planos maravilhosos de felicidade, mas todos foram por água abaixo!
- Eu não vou dizer que sinto muito pelo que está acontecendo, porque, simplesmente, não é minha culpa que você tenha escolhido entrar na guerra! Se você não aprendeu nada com a morte dos seus pais, eu tenho que lhe esclarecer: essas coisas acontecem!
- Ótimo, é minha culpa! Tudo bem! Vamos pôr o seu brilhante plano em ação e vê no que dá! Afinal, se der errado, é só a vida dos meus filhos que vai acabar! Quase nada, em comparação a ser o herói da guerra cujo trabalho era matar os companheiros!
- Se você acha que eu sou tão egoísta, Lair, então me de um só motivo para ir ao encontro do lorde das trevas e arriscar o meu pescoço! Se você não se lembra, eles são meus filhos, por mais que você tenha feito um tudo pra esconder isso de mim!
McGonagall interrompeu a discussão dos dois.
- EI! E se eu não aceitar?
Ignorante, Amélia quase gritou.
- Aí eu te mato de verdade e levo o corpo! Como você preferir!
Não muito espontaneamente, as duas mulheres aceitaram o plano de Severo. Só faltava avisar ao ministério para que, às 22 horas, eles estivessem nos fundos da mansão Malfoy, há muito abandonada.
XxXxXxX
A ainda insistente fraqueza física de Amélia fez com que ela tivesse que aparatar junto com Severo, que fez um grande esforço para levar ela e o corpo de Minerva McGonagall.
Os fundos da Mansão Malfoy consistiam num campo gramado que seria lindo, não fosse a figura que um dia tivera aparência humana sentada numa grande poltrona.
Lorde Voldemort nunca parecera tão assustador.
Ao lado do seu trono, à esquerda, estavam Pettigrew – ela reconheceu pela mão –, Schwartz – ela reconheceu pelo tipo físico –, e Elizabeth – reconhecida por um fio loiro que escapava do capuz.
Parados em pé, segurados por Elizabeth por uma coleira, estavam os seus filhos – os olhos de Amélia se encheram de lágrimas e um gemido de dor escapou dos seus lábios quando ela viu a humilhação que eles submetiam aquelas crianças.
Na direita, bem perto de onde eles tinham aparatado, Brian era acorrentado como um animal, ao chão.
Uma dúzia de comensais os circulava, todos empunhando suas varinhas, prontos para qualquer surpresa que Snape pudesse ter preparado.
Lentamente, o Lorde se ergueu, aproximando-se do casal.
- Ora, ora, ora... vejo que, de fato, o nosso belo casal trouxera o corpo da velha.
Amélia ergueu o queixo, lutando para olhar para o Lorde, e não para as crianças que, agora, chamavam por ela.
- Eu faria qualquer coisa.
- Até matar a velha? – ele inquiriu sarcástico.
- Eu mato qualquer um por eles.
O rosto do lorde se deformou em um sorriso.
Ele se voltou para os comensais.
- Eu sei que todos vocês estão loucos para matar um pouco o nosso traidor. Mas eu prometi uma noite de diversão para vocês, e os mais sádicos, como eu, terão um dos melhores dias da sua vida.
Ele se voltou para Amélia.
- Você ama os seus filhos?
- Claro que sim.
- Você ama Snape?
- Muito.
- Mas você está disposta a escolher a vida dos seus filhos, certo?
Amélia assentiu.
Ele se voltou para Snape
- E você daria a sua vida por meras crianças?
- Sim.
O lorde riu abertamente.
- Patéticos! De qualquer forma, Assassina, eu trouxe você aqui para que joguemos uma coisa interessantíssima. É um jogo de escolhas, e você vai ser a jogadora principal.
Dois comensais agarraram Amélia pelos braços e a levaram para o centro da roda.
O medo a fazia tremer. Só queria voltar a ser tão corajosa quanto antes.
O lorde, divertido, chegou ao lado dela.
- Funciona assim: eu, primeiro, direi para você escolher alguma coisa. Depois um dos nossos comensais, e assim por diante. Então, escolha: eu lhe dou a liberdade do seu marido, se você torturar Snape. Se não, ele morre.
Amélia olhou de Brian para Snape.E viu nos olhos sem brilho do seu marido que a sua escolha só poderia ser uma.
Sentindo as primeiras lágrimas formarem-se em seus olhos, ela apontou a sua varinha para Snape e disse, num fio de voz.
- Crucio.
O gemido dele arrepiou a sua espinha, e ela nada pôde fazer além de desviar o seu olhar do flagelo de homem caído ao chão, agonizante, enquanto as risadas dos Comensais enchiam o ambiente.
Apertou os olhos, e, depois do que pareceu uma eternidade, permitiu-se terminar a maldição.
Com a voz alterada, Amélia disse.
- Eu fiz! Agora deixe Brian ir.
- Não, não. Não agora. Isso só acontecerá no final! Por enquanto, apenas jogamos... – o Lorde apontou para a comensal loira, Elizabeth. – Você.
Ela tirou a máscara, mostrando o rosto doce para Amélia, rindo debochada.
- Por que não sermos cruéis, Milorde? Mia, escolha um deles.
Foi como se o mundo dela tivesse afundado.
As lágrimas vinham aos olhos, e ela simplesmente não poderia acreditar,
- Como?
- Você ouviu, Mia! Eu vou matar um deles! Quem vai sobreviver? Phillipe ou Edward? Você escolhe!
XxXxXxX
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