Desespero
CAPÍTULO XXI. DESESPERO
O medo a paralisou. Um medo irracional, como há muito tempo ela não sentia. De certa maneira, ela já sabia que aquele momento marcaria a sua vida para sempre.
E, lógico, o ódio... O ódio de ver o assassino dos seus pais mais uma vez... Ódio que deixava a sua respiração irregular e que não a deixava quebrar o contato visual com Frederick.
Um sorriso sádico dançou nos lábios dele.
- Bom te ver, Amélia!
- O que você quer! – Ela bradou, com os dentes trincados.
- O que eu quero! A mesma coisa que eu queria quando você me prendeu. Poder, fama, dinheiro... Não me queira mal, eu apenas cumpro ordens.
Os seus olhos começaram a ficar marejados e as suas mãos fecharam-se na varinha.
- Eu vou matar você. Eu vou terminar o que Dumbledore me impediu anos atrás.
O sorriso se alargou.
- Vai?
Barulho de passos.
Mais dois comensais apareceram, um em cada lado de Amélia, ambos segurando as varinhas em posição ameaçadora. Um deles tirou a máscara, mostrando o rosto horrendo de Pedro Pettigrew. A outra – mulher, a julgar pelas curvas – não se revelou.
A voz rouca da mulher ordenou.
- Largue a varinha. Agora.
Sem mais alternativas, Amélia obedeceu.
- Não vai ser tão fácil, Schwartz. Você pode até me matar, mas pode ter certeza de que vai morrer junto. Se eu não for a sua assassina, eu serei o motivo da sua morte.
- Snape provavelmente me mataria se eu lhe matasse, aquele traidor. – Um ruído surpreso saiu dos lábios de Amélia: Ele sabia! – Mas você é muito egocêntrica. Quem disse que vim lhe matar?
E o desespero chegou... Seus filhos!
‘Não. Esses monstros têm que ir embora!’
Uma risada escapou da garganta de Schwartz, que começou a deslizar ameaçadoramente em torno dela, analisando cada reação do seu corpo. Divertindo-se com o temor que a outrora fria assassina demonstrava. Ele sabia que ela compreendera quem era o verdadeiro alvo dos comensais naquele momento.
- Eu não estou mais lutando. Se quer me levar, me leve.
- É assim que se fala. Mas, de novo, seu egocentrismo me enoja. Eu não vim por você.
- E por que você veio?
A primeira lágrima escapou dos seus olhos.
Schwartz encostou-se nela por trás, lascivamente.
Passou a língua em seu pescoço. Mais uma lágrima. Repetiu:
- Por que você veio?
- Snape está lhe comendo de novo... que desperdício!
As mãos suadas dele se colocaram nas pernas de Amélia, levantando o vestido, enquanto ele beijava o seu pescoço. As duas varinhas apontadas para o seu pescoço a impediam de ensaiar qualquer reação.
- Por que, Schwartz? Por que...
O toque dele subiu até a pequena cicatriz em alto relevo que, anos atrás, ele tinha deixado no abdômen dela.
- Ah, você ainda tem isso!
A comensal disse com urgência:
- Schwartz, logo! Depois você se diverte com a vagabunda!
Ele bufou, tirando as suas mãos de Amélia.
- Muito bem. Os dois, peguem ela.
Pettigrew e a comensal desconhecida a seguraram pelo braço.
No limite do seu desespero, Amélia perguntou mais uma vez.
- Porque você veio?
E o sorriso sádico alargou-se.
- Eu vim por causa daquelas duas coisinhas fofas que você chama de filhos.
- Não...
- Sim...
‘Meus filhos!’
Amélia não conseguiu pensar duas vezes: Reunindo forças sabe-se lá da onde, soltou-se dos braços dos dois comensais. Acotovelou Pettigrew bem na boca do estômago. Tomou a varinha que lhe caiu da mão metalizada, virou-se para a comensal e bradou aquilo que pensara que nunca mais teria que gritar para um ser humano:
- AVADA KEDAVRA.
A comensal caiu no chão.
Mas antes que ela pudesse fazer mais alguma coisa, Schwartz atacou-a com o simples feitiço que fez com que os seus músculos parassem de funcionar, fazendo-a cair no chão sem poder mais reagir.
- Não! – ela gritou. – Os deixe! Por favor! Deixe!
- Silêncio – ele disse enquanto faíscas saíam da sua varinha.
E Amélia não conseguiu dizer mais nenhuma palavra. O seu cérebro mandava impulsos para que ela implorasse, se humilhasse... mas seus lábios sequer se moviam.
Pela primeira vez, Amélia olhou para Schwartz pedindo clemência.
Ele apenas ajoelhou-se junto a ela e falou bem baixinho, de forma que nem o colega comensal ouvisse.
- É bom ver a grande Amélia assim. – ele pegou uma adaga que trazia na bota. Pegou um frasco que trazia um líquido transparente e o jogou na ponta da faca. – Onde é exatamente...?
Ele começou a passar a ponta da adaga pelo abdômen dela, quase como uma caricia. Sorriu, parando-a bem encima de onde a velha cicatriz ficava. Sussurrando, disse:
- Ah, sim, aqui. Finite Incantatem.
Amélia imploraria, lutaria, mas não deu tempo. Num golpe rápido, ele enfiou a faca em sua barriga.
A sua boca abriu-se, mas o grito não escapou da sua garganta. Um calor tomou conta do seu corpo, e foi como se todas as suas veias se dilatassem ao máximo. Era uma das dores mais fortes que ela já sentira em toda a sua vida.
A sua respiração foi ficando mais fraca e as batidas do coração mais lentas... até que ambas pararam. O seu corpo não obedecia mais ao seu comando... Sequer seus olhos piscavam.
Ali jazia Amélia... Como um cadáver. Porém viva.
E Schwartz apenas sorriu sadicamente.
- Deve ser triste ser um corpo numa floresta... Abutres, entre outros animais, virão... E eles jamais pensarão que você está viva. Vão saborear a sua carne e você vai sentir tanta dor... Poderá morrer de fome, ou frio, ou sede... ou simplesmente porque perdeu partes demais do seu lindo corpo.
Ele se abaixou mais e beijou os lábios frios dela.
Sussurrou ainda mais baixo.
- Se você tivesse idéia de como os seus pais imploraram para não morrer... Eu tive um prazer quase sexual em matá-los... De fato, eu pensei nos seus rostos depois e me masturbei... Talvez só terei prazer maior matando os seus filhos.
E ela não podia reagir. Não conseguia reagir.
‘Desgraçado! Eu vou te matar! Eu vou te matar! Eu vou terminar o que o velho não me deixou!’
Vozes. De crianças. De seus filhos.
E eles finalmente chegaram ao campo de visão dela...
Mais um grito que o mundo não ouviu.
E lá jazia imóvel Amélia, enquanto via quem era o Comensal da Morte que trazia os seus filhos para o matadouro: ninguém menos que aquela que tanto lutava para conseguir a sua amizade: Elizabeth Thompson.
Amélia tentou gemer, gritar, espernear... mas teve que enfrentar calada a dor da traição.
‘Não... Eu confiei em você! Você não poderia fazer isso comigo!’
Amélia sentiu os olhos arderem... mas nenhuma lágrima se formou.
Ela sequer podia fechar os olhos... estava condenada a ver os filhos serem arrastados.
- MÃE!
‘Ed...’
Elizabeth sorriu para o menino, apertando o seu ombro com visível força.
- Sua mãe está viva, não se preocupe. E, Amélia, eu sei o horário dos remédios de Edward, caso ele seja mantido vivo por muito tempo.
As risadas loucas ecoaram pela floresta.
Phillipe não dizia nada... Apenas lutava bravamente para se livrar dos braços.
Sem paciência, Elizabeth o empurrou, e Pettigrew segurou-o pelo braço com a sua mão metálica. O braço do menino começou a ficar roxo.
‘Phill...’
Ela queria gritar! Precisava gritar! Lutar! Bater! Matar! Torturar... Mas não podia... Estava condenada a assistir tudo, sem poder fazer absolutamente nada... Nem dizer que os amava...
Elizabeth falou.
- Vamos logo com isso, Fred!
Schwartz se abaixou em frente a Amélia de novo, dessa vez segurando a varinha que ela jogara no chão. Colocou-a na mão dela.
- Quer lutar, Mia! Vamos lá! Eu te dei a varinha!
‘Eu te mato! Eu vou te matar! Todos vocês!’
Ela quis chorar de ódio e pavor.
- Não! É uma pena. Então vamos! – ele se levantou – Ah, diga ao seu eterno amante que o Lorde vai chamá-lo... Sabe, só para ele não bancar o pai herói.
Os dois Comensais e Elizabeth seguraram uma chave de portal perto dali.
E desapareceram.
Agora o único acompanhante de Amélia era o silêncio... E o cadáver da Comensal que ela tinha matado. E ela nada podia fazer.
Ela tentou feitiços silenciosos... mas não funcionou.
Estava condenada.
Os olhos estavam cada vez mais ressecados.
Doíam.
Doíam os olhos. Doía o ferimento... mas o coração...
A noite apareceu.
Cobras passavam pelo corpo dela, alheias... aranhas, escorpiões, ratos. Um ou outro parava no ferimento aberto e tirava um bom bocado...
E os gritos ecoavam apenas na cabeça dela.
O dia amanheceu.
A noite caiu.
O dia.
A noite.
O dia.
O cheiro que o corpo morto exalava era insuportável.
O seu ferimento já era quase anestesiado pela quantidade de vermes e insetos que tomavam conta dele.
Lobos já tinham deixado o corpo ao lado semi-devorado.
Corvos se aproximavam. Pousaram em seu rosto... E ela não pôde fechar o olho e evitar a primeira bicada.
Quatro dias, e ninguém chegava... Será que ela morreria ali?
As esperanças estavam se esvaindo, quando algum ruído espantou o corvo que estava pronto para continuar a alimentar-se do seu olho sangrento...
E uma voz macia há muito conhecida ressoou pela floresta.
XxXxXxX
Reviews, por favor.
Ohhh, momentos de tensão! Hueheuheuhe!
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