A Torre Secreta



CAPÍTULO XVIII. A TORRE SECRETA

- SEVERO, ATRÁS DE VOCÊ!

Ele se virou.

Mas a lâmina já estava sendo empurrada em direção ao seu coração.

Ele fechou os olhos, esperando a dor do inevitável golpe.

- NÃO! – Amélia gritou, não aceitando, e fechou os olhos, esperando que o corpo dele caísse por cima dela.

Mas a única coisa que ela teve foi o silêncio.

Tremendo rezando silenciosamente, levou um segundo para que Amélia reunisse coragem suficiente para abrir os olhos... Apenas para ver, estatelada, que o jardim estava exatamente da mesma maneira que ela e Severo encontrou quando chegaram: A bela calmaria das Heras e folhas secas contrastando com o colorido das flores.

Não tinha mais barulho de destruição: Apenas o suave canto dos pássaros.

Amélia suspirou, olhando para Snape. Este, por sua vez, encarava o lugar onde há pouco estava a Hera que teria o matado.

Com um fio de voz ainda assustado, ela disse:

- Mas o que aconteceu?

Severo se voltou para ela, atônito. Estendeu a mão para que ela se levantasse.

- Aconteceu que nós somos as pessoas mais sortudas do mundo.

Amélia, ainda confusa, aceitou a mão dele. Tentou ignorar a dor que vinha do seu punho quebrado e do ombro esfacelado.

- Mas...?

- Aconteceu que a Hera que quebrou o seu ombro – ele disse fazendo um feitiço que concertou o ombro dela – era justamente a cabeça de todas as outras. Quando ela se desfez, todas as outras pararam e voltaram para os seus lugares.

- Inclusive a que ia matar você? – estendeu o pulso para ele curar.

- Felizmente, inclusive ela.

Amélia riu. Num gesto tresloucado e completamente fora de tudo o que ela queria para aquele momento, ela se jogou nos braços de Severo, abraçando-o forte, enchendo o seu pescoço de beijos.

- Eu pensei que você ia morrer!

Ele bufou, afastando-a... Sempre se concentrando na missão – Amélia quase riu.

- Nós dois quase morremos.

Amélia suspirou, olhando para as Heras que, agora, pacificamente enfeitavam os jardins.

- Para que isso tudo, hein? Toda essa proteção? Você sabia?

- Bem, me foi dito que a maioria não passava do jardim... Mas eu nunca acreditei nisso.

- Parece ser bem verdade... Mas por que esse medo de arrombamento?

- A velha era paranóica. Sabe quem ajudou ela a construir todas as armadilhas?

- Não.

- O seu caso, Salazar Slytherin.

- Ah, explicado.

Snape crispou os lábios.

- Ele tinha medo que os sangue-ruins colocassem as mãos no tesouro da amada.

- E o tal espelho é um tesouro porque...?

- Porque ele foi o primeiro presente que Slytherin deu a ela. Diz a lenda que Ravenclaw se desfazeria de tudo, menos desse maldito espelho...

- ...E é por isso que Você-Sabe-Quem o quis!

- Exato.

Amélia suspirou, absorvendo a breve lição de história.

- E então? Hora de tentar abrir a porta.

Ele bufou.

- Já tentei até explodir e não consegui.

- E bater?

Snape estreitou os olhos.

- Como?

- Já tentou bater?

Ele rolou os olhos, achando impossível que aquela idéia desse certo.

- Não, Amélia, eu não tentei bater na maldita porta!

- Severo, ao que parece, a chave de tudo aqui é o simples! O barco, a destruição da Hera, por que não a porta? Essas armadilhas parecem querer brincar conosco! Então não faria mal se agente apenas tentasse bater!

- Fique à vontade!

Amélia crispou os lábios para a má vontade dele, adiantou-se e bateu na porta.

E, para a surpresa de ambos, um barulhento ranger anunciou que a porta estava se abrindo.

Ela simplesmente não pôde evitar um risinho, enquanto a expressão aborrecida dele aflorava.

Bufando, ele se adiantou para o castelo.

- Apenas me siga, Amélia.

E ela, de fato, o seguiu.

O seguiu pelo que pareceram milhares de corredores. Infindáveis salas e quartos.

O castelo era esplendoroso em cada mínimo detalhe... Não surpreendia que ele não tivesse sido saqueado: com aquele comitê de recepção, era difícil acreditar que muitos visitantes tivessem a sorte de chegar ao lado de dentro do castelo vivos.

Mas o interior do castelo em si, pelo menos até o momento, não oferecia perigo algum.

- Você tem alguma idéia de onde agente está indo?

- Sim. Essa parte Narcissa me contou.

Amélia parou por um momento, sentindo o seu coração falhar – ele sequer percebeu. Suspirou pesadamente e voltou a acompanhá-lo.

Não ia perguntá-lo como ele conseguiu arrancar as informações de Narcissa... Pelo menos não agora. Não queria deixar que o seu óbvio e patético ciúme interferisse na missão.

Começaram a descer um lance de escadas.

- Severo, não deveria ser uma torre? Torres são altas e não subterrâneas!

- Sim, mas como a torre é secreta, nenhum lugar melhor para esconder a sua entrada que nas masmorras!

Ela apenas o seguiu, sem discutir.

Lentamente, à medida que desciam cada vez mais, a beleza do castelo ia se perdendo. Logo os dois caminhavam por um túnel que muito lembrava os esgotos. Ratos passavam por cima dos seus pés como se não tomassem o conhecimento das figuras humanas... e sabe-se lá o que mais tinha naquele fiozinho de água esverdeada e mal-cheirosa que os dois eram obrigados a pisar.

Finalmente, chegaram ao fim do caminho: era uma parede lisa, com o contorno de um corvo em tinta branca... Mas os olhos eram os mesmos dos gárgulas que Amélia vira: enormes ônix.

- E agora?

Como se já tivesse ido lá centenas de vezes, Snape circundou a figura do corvo com a varinha, dizendo palavras que Amélia não conseguia distinguir, e, por fim, bateu nos dois olhos.

Quase imediatamente, os olhos de ônix penetraram na parede e a linha que desenhava o pássaro tornou-se prata brilhante... Tão brilhante que Amélia não conseguiu manter seus olhos abertos, pois não suportou tanta luminosidade.

E quando o clarão sumiu, uma porta em formato de corvo se abria para uma imensa escadaria em espiral.

- Eis a torre secreta.

Amélia olhou, admirada, para a magnitude das escadas.

- Oh... isso será uma longa subida.

E, de fato, foi.

Pelo menos meia hora de subida íngreme se passou, até que a escadaria finalmente, acabou.

Os dois estavam tão cansados que nem puderam apreciar totalmente a vista daquela sala esplendida.

As tochas davam a luz à saleta redonda e, circulando-a, vários objetos de grade valor. Eram pedras, jóias, pratarias... Um verdadeiro tesouro que se escondia nos confins daquele castelo assassino.

E no centro de tudo uma espécie de pedestal se destacava dentre todos os tesouros ali guardados. Estava completamente iluminado e, acima dele, exatamente onde a luz incidia, não havia absolutamente nada.

Amélia olhou ao redor, ligeiramente tentada a pegar pra si algum relíquia.

- Não toque em nada! – Snape avisou, como se tivesse lido os seus pensamentos.

- Eu não ia tocar em nada!

Ele bufou, caminhando em volta da sala, enquanto Amélia ia direto para o pedestal no centro da sala.

- Severo, por que uma mulher teria um pedestal no meio da sua sala de tesouros?

- Deus sabe, ela era louca!

- Certo, mas não faz sentido!

Ele se aproximou.

Olhou para o pedestal, vendo que, na parte de cima, havia um tipo de rachadura.

Como se para saber se era realmente um defeito ou só uma listra que sempre estivera lá, Severo passou a mão.

E, imediatamente, o mármore se quebrou a partir da rachadura... E imediatamente formou-se sobre a superfície o desenho da marca negra.

- O Horcrux está aqui.

Amélia assentiu em concordância.

- Também acho. Devemos quebrar a coluna?

- Não. É extremamente perigoso quebrar ou tocar em qualquer coisa daqui.

- E como...?

- Eu tenho uma idéia.

Erguendo a manga da sua camisa, Snape colocou a sua marca negra junto ao desenho.

Uma luz arroxeada tomou conta do lugar e um barulho ensurdecedor ecoou, abafando os gritos de Snape, que tentava desesperadamente tirar seu braço de junto daquela pilastra.

Amélia tentou ajuda-lo, mas foi inútil. Por quase um minuto completo, o braço de Snape ficou colado ali. Um fio de sangue apareceu e Amélia desesperou-se mais. Os gritos dele eram simplesmente insuportáveis.

E, tão de repente quanto teve inicio, a força que o prendia se dissipou e os dois caíram para trás, no chão.

Amélia ajoelhou-se de frente para Snape, que ofegava e segurava o braço com uma expressão dolorosa. A sua marca negra se esvaia em sangue. Delicadamente, ela a tocou e uma dor a acometeu – ao puxar o seu dedo, viu que um pequeno animalzinho comia a sua carne. Eram dezenas desses animais que atacavam o braço de Snape.

Os bichos literalmente o devoravam, mas tudo em que Severo pensava era na missão.

- O espelho – ele disse com a voz baixa.

Amélia olhou para trás e viu que, suspenso no pedestal e iluminado com a luz forte estava o espelho de Ravenclaw: a Horcrux.

- Ele não vai sair de lá – ela se voltou para ele, preocupada demais para se importar com qualquer coisa que não fosse a missão. – O seu braço?

Ele fez um sinal de negação com a cabeça.

- Parou de doer. Tinha uma coisa me mordendo, mas ela parou. Não se importe com isso.

Amélia rasgou um pedaço de pano da sua camisa e limpou o ferimento, onde se podia ver no lugar da antiga marca negra vários pares do que pareciam ser pesinhos de criaturas muito pequenas.

- Tem certeza?

- Absoluta. Eu não estaria falando se eles ainda estivessem trabalhando. Agora, vá
pegar o espelho.

Ela assentiu, levantando-se – agora era só pegar o maldito espelho e eles poderiam voltar para casa. Logo estaria acabado.

Mas assim que o espelho finalmente parou em suas mãos, Amélia percebeu que não poderia estar mais enganada: Um forte terremoto atingiu o lugar, seguido por um ensurdecedor barulho de desmoronamento.

E a porta da entrada se fechou.

Desesperada, Amélia tentou explodir as paredes, mas foi inútil. Simplesmente não tinha saída.

Quase rindo da própria desgraça, ela foi se sentar do lado oposto ao de Snape, respirando com dificuldade.

- Estamos presos.

Ele fechou os olhos, recostando-se a parede.

- Sim.

- E vamos morrer aqui.

- Eu disse que era missão suicida.

- Ótimo!

XxXxXxX

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