Heras e Hidras



CAPÍTULO XVII. HERAS E HIDRAS

- Belo e perigoso – o sussurro esganiçado de Amélia ressoou, enquanto ela ainda segurando a mão de Severo e dava um passo para trás. As outrora belas estátuas de gesso aproximavam-se dos dois lenta e ameaçadoramente. – Você poderia ter me avisado!

Snape apertou a mão gelada dela e a afastou um pouco mais rapidamente do caminho das Heras.

- Eu também não esperava por isso.

Dando mais um passo para trás, ele sacou a sua varinha, apontou uma das Heras e sussurrou um feitiço: Da ponta do artefato mágico saiu uma grande bola de fogo que explodiu ao atingir pelo menos três estátuas.

Por um momento eles suspiraram aliviados – embora tivessem certeza que explodir as estátuas com mágica parecia simplesmente fácil demais. E o alivio passou completamente assim que a poeira assentou e eles puderam ver que além do feitiço não surtir efeito algum sob as criaturas, ele também pareceu deixá-las um pouco mais zangadas – a expressão no rosto delas mudara ao passo que marchavam em sua direção com um pouco mais de velocidade.

Snape olhou pra Amélia, com um sorriso amarelo.

- Parecem ser a prova de feitiços!

Ela rolou os olhos, dando mais um passo tímido para perto do rio assassino.

- Jura? O que agente faz agora?

Menos de um metro de distância.

Amélia observou atônita uma das Heras derrubarem uma árvore com um simples empurrão – árvore que, aliás, quase caiu sobre os dois. Ela jamais poderia negar que isso contribuiu, e muito, para aumentar o tremor que sentia nas pernas e a sensação de sudorese excessiva.

Snape segurou a mão dela, que ainda olhava impressionada da árvore que quase a esmagara à Hera que a derrubara, e a fez passar pelas folhas da árvore caída até chegar do outro lado – para se livrar do ataque eminente de uma Hera que, Amélia não percebeu, já estava bem perto dela.

Ele arrancou dois galhos finos e entregou um para Amélia, que o olhou um tanto incrédula.

- O que? Você espera que elas morram só...? – Amélia ergueu uma sobrancelha. – Pegue o maldito galho!

Com um menear da varinha, Snape os transformou em pesadas barras de ferro. Um quê de desespero tomou conta de Amélia... Ele não esperava realmente que, depois dos anos que tinha passado longe dos campos de batalha, ela simplesmente soubesse como usar satisfatoriamente uma barra de ferro contra um inimigo, esperava?

- Eu não luto!

- Vai ter que lutar! – Snape bufou, saindo de perto dela, em direção às Heras. – Eu devia ter trazido Shacklebolt!

E ela, naquele momento, achava que deveria ter ficado em Hogwarts. Mas o fato é que Amélia não podia ficar parada esperando ser assassinada por estátuas. Tomando fôlego, ela se adiantou.

- Ok... ok... Você consegue...

Tentando impor toda a força que ela outrora possuía, Amélia golpeou uma das estátuas com a barra de ferro. E funcionou!

Olhou desconfiada para os pedaços no chão. Tinha sido fácil demais. Mas, que se dane! Ela não tinha muito tempo para pensar naquele momento!

E, uma a uma, os dois foram golpeando as Heras, até que apenas três se aproximavam deles, de longe, e uma imensidão de cacos brancos bagunçava os jardins.

- Isso foi fácil! – Amélia brincou, esquecendo completamente do susto inicial.

Ele deu de ombros.

- Foi, mesmo. Não esperava. Mas você tem bastante força para uma dona de casa!

Ela sorriu, marota.

- Isso é porque você não sabe o que uma dona de casa passa!

- Eu adoraria que vo...

Mas a frase nunca foi completada, pois um barulho ensurdecedor tomou conta do jardim: O gesso espalhado pelo chão, de repente, começou a se liquefazer e se rearrumar. As Heras, novamente, erguiam-se imponentes, visivelmente
mais fortes e zangadas...

E bem mais numerosas!

- Mas que merd...?

- Estão se reproduzindo!

E estavam também mais rápidas em seu intento de atacar o casal!

E que estratégia usar agora? Obviamente eles não podiam destruí-las! Assim, eles apenas ficaram empurrando-as, tentando a todo custo apenas sobreviver. Quando eles foram perceber, já estavam bem afastados um do outro: ele perto da porta do castelo, e ela se aproximando cada vez mais do rio.

O desespero lentamente tomava conta dos dois.

- O que eu faço? – Ela gritou, atraindo a atenção dele, que tentava empurrar uma Hera com a barra de ferro, sem quebrá-la.

- Qualquer coisa! Apenas não as quebre!

Amélia se viu caminhando mais para perto do rio. Duas Heras aproximavam-se dela: uma pela sua esquerda e uma na sua frente. Ela empurrou a que estava na sua frente com um pouco mais de força – sentindo um arrepio de medo quando esta cambaleou e, por sorte, não caiu e se despedaçou no chão. Mas, ao virar a barra para empurrar a Hera da sua esquerda, o inesperado aconteceu: Ela segurou a ponta da barra e empurrou Amélia violentamente.

Por um momento, ela pensou que ia morrer: estava caindo bem em cima de uma das flores venenosas.

Teve que ser muito rápida para conseguir desviar a queda com a mão – mas não conseguiu evitar deslocar o pulso com a manobra.

- ARGH!

Ela rolou para o lado, enquanto uma das Heras se aproximava para deferir um golpe certeiro em seu peito.

Mais que rapidamente, ela rolou e se levantou, machucando ainda mais o pulso.

O golpe que deveria ter acertado nela foi tão forte que afundou o chão e quebrou o braço de gesso da Hera.

- Merda!

Tentando ignorar que o pedaço caído se transformava numa outra Hera, Amélia apanhou a barra de ferro e voltou a empurrar as oponentes, enquanto era mais e mais afastada para o lago.

- Severo, cheque a porta!

- O que?

- Cheque a porta!

Snape, correndo, afastou duas ou três estátuas, e chegou à porta.

- Trancada!

- Arrombe!

Uma série de explosões foi ouvida.

- Não funciona!

- Como agente vai sair daqui?

Ele se calou um pouco, pensando. E, finalmente.

- Elas são como a Hidra de Lerna!

Amélia empurrou mais uma – seu pé esquerdo chegou ao limite da margem e derrapou. Ela quase se desequilibrou. Desespero.

- O que?

- A história de Hércules, mitologia! Temos que destruir a principal!

- Eu sei da maldita mitologia! É uma das três que faltaram! Onde elas estão?

Amélia tentou dar mais um passo para trás, mas não conseguiu. Estava agora completamente encurralada: Não tinha mais para onde recuar, e muito menos como voltar para onde Snape estava, pois um exército de estátuas de gesso a impedia.

E, para piorar, agora que ele finalmente chegara a essa conclusão, as três Heras que eles deviam ter destruído já estavam misturadas a todas as outras, que agora, já passavam de quarenta.

Ela mordeu o lábio, quase perdendo o equilíbrio novamente.

Num ato desesperado, Amélia golpeou pelo menos três Heras de uma vez, derrubando-as no rio ácido. Ela correu para mais longe da margem.

E, para a sua surpresa, um momento depois, elas não voltaram.

Amélia quase conseguiu rir.

- Severo, o rio! É pra jogá-las no rio!

- Não vai funcionar!

- Funcionou!

E ela, freneticamente, começou a empurrar Hera por Hera no rio, até que conseguiu fazer o seu caminho para perto de Severo e ajudá-lo a afastar mais algumas que ameaçavam seriamente a sua integridade física.

Amélia estava de costas para o rio quando ele anunciou, numa voz rouca que ela pouco presenciara sair dele: uma voz de medo.

- Amélia, eu disse que não funcionaria.

Quando ela virou o rosto, viu, escalando para fora do rio várias imagens.

Eram brancas, mas nada lembrava as belas estatuas de pouco tempo atrás: eram como monstros gigantes e constatou que, em suas mãos, traziam espadas.

Desesperada, ela se virou.

- Agora agente morre!

Os dois estavam tão concentrados em distinguir o que aqueles seres formavam, que nem perceberam que uma delas estava perigosamente próxima de Amélia e com a sua mão de gesso segurou o ombro dela e o esfacelou.

- ARGH!

Ela caiu ajoelhada no chão. A Hera estava pronta para desferir o golpe fatal, mas...

- AMÉLIA!

Com a barra de ferro firme em suas mãos, Snape deu um golpe certeiro que quebrou a cabeça da estátua. Mas Amélia nem teve tempo para comemorar, pois, atrás de Snape, um dos novos monstros, munido com uma espada, estava prestes a matar o grande amor da sua vida.

- SEVERO, ATRÁS DE VOCÊ!

Ele se virou.

Mas a lâmina já estava sendo empurrada em direção ao seu coração.

Ele fechou os olhos, esperando a dor do inevitável golpe.

- NÃO! – Amélia gritou, não aceitando, e fechou os olhos, esperando que o corpo do seu amado caísse por cima dela.

XxXxXxX

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