Decisões Incertas



CAPÍTULO IV. DECISÕES INCERTAS

Ficar ou não fica na Inglaterra?

Aquela era a pergunta que Amélia simplesmente não conseguia tirar da cabeça. Ela estava em cada pensamento, em cada minuto dos seus sonhos, consumindo-a, enlouquecendo-a.

E nunca, por mais que ela avaliasse e re-avaliasse os prós e contras dessa mudança, conseguia chegar a uma conclusão satisfatória.

Por um lado, sabia que os filhos poderiam não se adaptar à vida na Inglaterra, que eles poderiam não gostar... Que eles acabariam sentindo-se exatamente como ela, quando há décadas atrás seus pais a largaram no expresso Hogwarts.

Mas, por outro lado, sabia que essa fora a melhor coisa que os pais já tinham feito por ela, e que os anos que passou em Hogwarts foram, talvez, os melhores da sua vida.

Por um lado, via o perigo da guerra. Hogwarts já tinha sido invadida, e quem garantiria que não seria novamente? Levar os filhos à Inglaterra seria expô-los, ainda que involuntariamente, à tirania do único homem que Amélia chegou a temer.

Por outro, os principais motivos que levavam o Lorde das Trevas à Hogwarts eram Dumbledore e Harry Potter: um estava morto, e o outro jurava que não colocaria mais os pés na escola – segundo McGonagall.

E ainda havia Snape: o principal motivo de ela querer voltar correndo para Nova York. Ele era o pai dos meninos, e, acaso se encontrassem, não tardaria a descobrir isso... e quem pode prever o que ele faria para ter ou não ter os filhos?

E, por outro lado, tinha Severo, como o grande amor de sua vida que poderia estar sendo vítima de uma injustiça absurda.

Ela simplesmente não podia decidir sozinha.

Mas a quem pedir ajuda?

Amélia bufou e levantou-se exasperada da cama do hotel onde tinha se hospedado com os filhos.

Foi até o quarto ao lado, levando, em suas mãos, a poção que retardaria a morte do seu filho Edward.

Bateu na porta do quarto dos meninos e abriu gentilmente a porta.

Edward já a esperava, com um semblante tão corajoso que lembrava o dela própria, no tempo em que trabalhara na guerra.

- Está na hora, meu amor.

Ele assentiu, sem sorrir. As mãos estavam um tanto trêmulas quando pegaram o recipiente com o líquido mal-cheiroso.

Com os olhos extremamente negros fixos nos da mãe, ele bebeu a poção.

Suspirou e fechou os olhos, demonstrando que a agonia começara.

Amélia viu, angustiada, o seu filho se deitar na cama e, lentamente, começar a convulsionar. A expressão de horror era cada vez mais freqüente nos olhos do menino.

Ela o seguiu, sentando-se na cama e fazendo a única coisa que podia: assistir.

Um pequeno grito, antes de ele morder os lábios até sangrar.

Quase como um reflexo, Amélia segurou a mão dele.

E, depois de um minuto agonizante, o dor cessou.

Amélia, talvez, se sentisse mais aliviada que o filho.

Delicadamente, limpou o suor da testa dele e enxugou a lágrima que descia tímida pelo rosto dele.

Doce, ela disse.

- Sabe, Ed, um dia a sua mãe quis nunca mais chorar... E ela conseguiu, por três anos. Só então percebeu que as lágrimas aliviam a dor.

Com a voz chorosa, o menino disse:

- Mãe, porque eu tenho isso?

Ela tentou sorrir.

- E quem explica as doenças mágicas? Você tem o que a minha mãe tinha... a única diferença é que você pode ter cura, porque agente trata desde cedo.

Edward suspirou.

- Mãe, você já sentiu que talvez fosse melhor morrer?

Amélia fechou os olhos, lembrando-se das marcas que ainda carregava em seus pulsos.

- A morte nunca é a melhor solução, meu amor.

Nesse momento, a porta do quarto se abriu.

A figura quase idêntica ao menino deitado na cama, exceto por ser mais alto e corado, entrou com um copo de água.

Phillipe estendeu-a para o irmão.

Amélia, grata, segurou a mão do outro filho.

- Eu tenho uma pergunta a fazer para os dois: Vocês têm a chance de estudar em Hogwarts, escola onde o pai biológico de vocês e eu estudamos, ou voltar para Nova York e estudar na escola do pai de vocês. O que vocês escolhem?

XxXxXxX

Estar em Hogwarts novamente – agora completamente reconstruída – quase dava a ela um sentimento bom de nostalgia.

A decisão de ficar tinha sido toda muito encima da hora... e Amélia ainda não tinha muita certeza se aquela era a melhor escolha que poderia ter feito, ainda. Mas tinha sido feita. Agora, ela estava trabalhando em Hogwarts como professora de Defesa Contra as Artes das Trevas.

Se ela conseguiria se adaptar a rotina de professora, não sabia. Mas tentaria. O motivo final, de qualquer forma, não era preparar jovens estudantes para o NIEMS, mas descobrir a verdade sobre Severo. E aquele quarto era onde começava a sua investigação.

XxXxXxX

Absolutamente tudo, dos livros às poções, estava metodicamente organizado naquele quarto. Era impossível não achar qualquer coisa.

A diretora McGonagall, que tinha acompanhado-a até os aposentos, suspirou, como se desculpasse.

- Eu queria ficar mais tempo com você, mas acredito que queria ficar sozinha. Sinta-se a vontade para mexer em tudo. Desde o que Severo fez, não há como respeitá-lo.

Ela assentiu, vendo a velha mulher sair.

Caminhou pelo quarto, observando cada canto dele, assim que escutou o ruído da porta se fechando.

O cômodo começava com uma pequena salinha, que ele deveria usar como escritório.

Uma garrafa de uísque de fogo pela metade se encontrava aberta, ainda sobre a mesa, com um copo com mais ou menos um dedo da bebida ao seu lado.

Amélia passou os olhos pelos ingredientes das poções, que ele tanto amava, e pelos livros – de Artes das Trevas, a maioria.

Lembrou-se, com saudade, que, quando jovens, eles costumavam estudar juntos artes e magia negra avançada, só pelo prazer de obter conhecimento.

Ah, Severo, o que você fez com a sua vida?’

Olhou uma capa negra jogada, displicente, sobre uma cadeira. Ele tinha saído às pressas, provavelmente.

A capa era exatamente igual àquelas que ele usava há doze anos. Amélia a pegou delicadamente, e a aproximou do rosto.

Inalou aquele aroma másculo.

O perfume também é o mesmo.’

Soltou a capa, sentindo-se obrigada a suspirar para fugir das lembranças.

Caminhou para o quarto.

A cama ainda estava desarrumada.

Ainda tinha sapatos jogados no chão, roupas sujas num canto do quarto.

Todo aquele lugar o exalava.

O coração de Amélia estava aos pulos.

Ela não conseguiu fazer nada, se não olhar as coisas dele, por toda a madrugada.

De vez em quando abria uma gaveta ou outra, via as suas anotações... A mesma letra minúscula. Passava os olhos pelos seus livros, suas roupas... Deitou-se pelo menos três vezes na cama desarrumada.

Quase uma madrugada inteira perdida em lembranças...

Até que achou uma coisa inusitada: no fundo de uma gaveta escondida, estavam quatro coisas: uma foto, dois anéis e um documento.

A foto mostrava os dois, felizes. Amélia se lembrava do dia que tinha tirado aquela foto: Ele não quisera – odiava fotografar –, mas ela tirara mesmo assim. Ele ficava de cara feia, mas, então, ela o beijava e ele não resistia.

Fazia tempo que não via fotos deles.

Lágrimas vieram aos seus olhos.

Os anéis... Alianças. Tinham gravadas SS&AL.

E o documento... um pedido ao ministério para que um casamento fosse realizado... datado de uma semana de antes do pai de Severo morrer, e eles terem se separado.

Ele tivera planos de casar com ela. Ele comprara o anel. Ele pedira a autorização.

E ela duvidou dele.

As lagrimas caíram livres, enquanto o sono se foi completamente.

Ela tinha jogado a sua vida ao lado dele fora... e não poderia estar mais arrependida.

XxXxXxX

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