Inglaterra, Novamente



CAPÍTULO III. INGLATERRA, NOVAMENTE

- Mãe, será que dá pra nos dizer por que você está arrumando nossas malas?

Amélia arqueou as costas, tentando diminuir a considerável dor causada pela posição: abaixada, procurando as roupas mais apropriadas para que os filhos levassem para a viagem que logo fariam à Inglaterra.

O motivo da viagem era simples: as cartas que tinham chegado para os filhos dela. A esperança que Amélia tinha era de que as crianças fossem estudar na escola de bruxaria militar, a mesma que Brian freqüentara.

E ela tentava afirmar para si mesma que não decidira voltar à Londres para tentar descobrir algo sobre Snape – afinal, o que poderia descobrir fazendo uma visita relâmpago à sua antiga escola, Hogwarts?

- Vocês querem ficar aqui, em Nova York? Ed, você sabe que eu não confio em ninguém pra ficar com vocês... Meus filhos têm que ficar debaixo da minha asa.

O menino sorriu, enquanto se aproximava para ajudar a mãe.

Assim que pôs o olho na gaveta, o menino puxou uma calça jeans um tanto surrada.

- Essa aqui.

Amélia torceu a cara.

- É velha e desbotada.

- Eu gosto dela, mamãe.

Suspirou, desgostosa, colocando-a na mala.

O soar de um alarme alto, que fez as janelas da casa inteira vibrar, fez Amélia se levantar.

- Está na hora do seu remédio.

O menino gemeu baixinho.

- Eu realmente preciso?

A porta se abriu para a entrada de Brian com Phillipe.

O padrasto disse:

- Precisa sim, se você não quiser convulsionar até a morte.

E, dizendo isso, entregou uma poção para que o menino bebesse.

Amélia olhou, pesarosa, para o filho. Aquele remédio trazia dores intestinais extremamente fortes, que fariam qualquer adulto urrar de dor, e que Edward aprendera a suportar. Mas esse era o único medicamento conhecido para a doença que ele tinha. O menino poderia se considerar um sortudo por ter sido diagnosticado poucos dias depois do seu nascimento. Se demorasse mais, esse remédio não seria suficiente, e ele teria que se tratar da mesma maneira que a mãe de Amélia: um tratamento bem mais invasivo, que, a longo prazo, culminaria na morte do paciente. Mas, mesmo sendo o menos mal, era um tratamento terrível para uma doença terrível... E sem possibilidade de cura.

Amélia achou melhor pensar em outra coisa, antes que lágrimas voltassem aos seus olhos.

- Se deite um pouco, Ed. Eu termino de fazer as suas malas sozinha. – virou-se para o marido – as malas de Phill?

- Prontas.

E, naquela mesma tarde, eles viajaram.

XxXxXxX

Hogwarts era um império destruído.

Por todos os lados podiam-se ver bruxos e elfos domésticos trabalhando com mágica e braço na reconstrução de uma escola devastada por uma batalha que parecia ter sido sangrenta... e que terminara na trágica morte de Dumbledore... pelas mãos de Severo.

'Não... Não pode ser verdade!'

O meio-gigante Hagrid, presente na escola desde antes de Amélia estudar lá, a guiava para a sala da direção...

Agora, o pequeno caminho da fênix não mais levava para a sala do velhinho bondoso que, com o tempo, Amélia aprendera a odiar, mas sim para a da severa Minerva McGonagall.

Amélia entrou assim que, com o olhar, a bruxa lhe consentiu.

- Sente-se.

Ela obedeceu, acomodando-se de frente para a diretora da escola, separadas pelo gabinete onde ficava o retrato de Dumbledore, que a cumprimentava alegremente - e que ela ignorou.

- Obrigado.

- Faz muito tempo que não temos notícias suas, senhora Lair.

- McRough – ela corrigiu. – Acontece que, não sei por que, meus filhos receberam a carta de convocação para a Hogwarts... Esperava receber a da escola de bruxaria militar americana, desde que eu e Brian somos do exército.

A bruxa parou um pouco, enquanto se debruçava na mesa e se aproximava de Amélia.

- Bom, Hogwarts inclui na lista de alunos novos todos aqueles cujos pais estudaram aqui. Você estudou e, eu suponho, o seu marido também.

Amélia sorriu desconcertada.

- Não, ele não estudou.

- Então deve ter sido um infeliz erro, que não acontece desde a fundação da escola. Nosso sistema é muito preciso. Tem certeza que ele não estudou aqui?

- Ou que ele é o pai? – disse o retrato de Dumbledore. McGonagall o olhou com censura.

Amélia rolou os olhos.

- Certamente apenas um erro. – Amélia se calou por um instante, e, então, não resistiu: tinha que perguntar algo sobre Snape. – McGonagall, você sabe que eu tive uma relação muito forte com Severo, e, sinceramente, custo a acreditar no que aconteceu... Será que você poderia me elucidar os fatos?

Minerva suspirou, recostando-se à cadeira.

- Eu não devo saber muito mais que você, senhora Lair... Ou melhor, McRough. O que nós sabemos é o que Harry Potter diz: Snape matou Alvo com um Avada. É difícil para nós, também, acreditar, pois Alvo confiava muito em Snape, Merlin sabe por que. Eu não creio que ele possa ter se enganado... mas tudo indica que sim.

- Eu vivi anos com ele... Simplesmente não posso. Ele não pode ter me enganado por tanto tempo, dizendo que tinha se aliado, de fato, a Dumbledore.

Amélia mordeu o lábio inferior com força, até sangrar. O gosto metálico passou alheio, tamanha era a sua angústia.

- Talvez, se eu pudesse ficar aqui por um tempo... Investigar, nem que seja nas coisas dele...

- Você ainda se sente muito ligada a ele, não?

Ela sorriu tristemente.

- Minerva, os laços que me ligam a Severo nunca vão se enfraquecer...

- ...porque ele é o pai dos seus filhos...?

Amélia olhou, boquiaberta, para a bruxa, que apenas sorria solidária.

Passou a mão pelos cabelos, enrolando-os num desajeitado coque, num gesto que demonstrava puro nervosismo. Suspirou e, lentamente, assentiu.

- É óbvio, não?

- Não, na verdade. Mas eles têm onze anos, o que faz a sua gravidez ter começado há doze anos, quando você ainda estava com Snape. Eu soube na exata hora em que os seus filhos se mostraram presentes na lista de convocações.

Um minuto de silêncio se passou, até que a velha diretora disse:

- Não podemos permitir que uma estranha entre na escola e vasculhe as coisas de um professor... Mas não seria nada difícil justificar que uma nova professora arrumasse a bagunça deixada pelo professor anterior.

- Você está sugerindo...?

- Amélia, eu nunca vi você em ação com os Aurores, mas você certamente teria que ser mais amena com os alunos. Sem palavrões, gritos, mal-tratos... Nada de magia negra, magia defensiva pesada ou qualquer coisa que possa instigar a violência.

- Eu não tenho talento para professora.

- Você ficaria perto dos seus filhos e poderia investigar o que se passou com Severo.

Amélia considerou um momento...

Eram muitas as conseqüências que viriam, caso ela aceitasse. Ela estaria de volta e ainda não tinha esquecido que, na guerra anterior, acabara se tornando um desafeto pessoal do próprio Voldemort.

Mas, ainda assim, era Severo.

Finalmente disse:

- A Inglaterra está em guerra, e eu me sinto segura em Nova York. Tenho que pensar muito antes de tomar qualquer decisão.

XxXxXxX

- Amélia Lair, é bom lhe ver novamente.

Ela suspirou, enquanto entrava na grande sala do ministro da magia inglês Rufo Scrimgeour.

- Eu já lhe disse, Rufo, é Amélia McRough, agora. Eu estou interessada na história de Severo... Como vão as investigações?

Ele balançou a cabeça, num sinal de negão frustrada, enquanto a convidava a se sentar.

- Nada. Ele simplesmente desapareceu. O menino Malfoy também, deixando a Narcissa Malfoy desolada.

Ele não sabe que Cissy é comensal.’

- E qual a linha de investigação que vocês estão seguindo? Deve haver algo.

- Não há. Isso é o mais frustrante. Tínhamos duas diretrizes: você e Hogwarts. Você já disse que não sabe de nada, e McGonagall não nos deixa entrar em Hogwarts de maneira nenhuma! Estamos colhendo depoimentos de comensais, mas está difícil... Talvez nós precisássemos de alguém com um pouco de sangue frio...

Ele a olhou sugestivamente.

Amélia se levantou, ao perceber a proposta que estava quase sendo feita.

- Eu não tenho mais esse sangue-frio, Scrimgeour. Tenho que ir. Se você tiver qualquer notícia, me avise.

Quando ela chegou na porta, a voz do ministro soou novamente.

- Amélia, nós precisamos de você nessa guerra.

Ela se virou, com um sorriso.

- Mas eu não preciso dessa guerra, Rufo.

XxXxXxX

Reviews, por favor.

Para quem não se lembra, a doença da mãe de Amélia – e de Edward – é uma doença no coração que não tem cura; apenas um tratamento longo e doloroso, como é dito no capítulo 27 da primeira parte, na carta do pai de Amélia.

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