Encontro Inusitado



CAPÍTULO V. ENCONTRO INUSITADO

- Severo. Finalmente.

Snape se curvou àquele resto de homem que, outrora, foi o seu mestre. Agora era apenas mais um inimigo... e, dia após dia, ele se arriscava mais, espionando-o. Se acostumara com o trabalho perigoso... Mas estava cansado.

- Milorde.

O Lorde das Trevas se levantou, circulando-o.

- Eu tive notícias... A Assassina está de volta.

Ele teve que manter o semblante inalterado, embora soubesse bem o que aquilo significava... Não queria pôr Amélia em perigo, mesmo tantos anos depois...

- Eu não sabia disso, Milorde.

Voldemort o ignorou.

- A quero ao nosso lado, e, para isso, posso contar com o seu poder de sedução, não? – Snape não respondeu. – Encontre-se com ela.

- Eu não saberia quando ou onde.

- Mas eu sei, Severo.

XxXxXxX

Minha querida,

As crianças e eu vamos comprar os materiais escolares em Hogsmeade, que é mais seguro que o Beco Diagonal. Encontre-nos, às três”.

Amélia suspirou, olhando o seu relógio.

Três e quinze.

Estivera tão entretida com as lembranças do seu passado que esquecera completamente de sair da propriedade para encontrar-se com Brian e as crianças.

Brian chegou à Inglaterra no mesmo dia em que Amélia embarcou para Hogwarts. Ele quis que os filhos conhecessem o país onde passariam os próximos sete anos, ao invés de voltarem para Nova York. Ele ficaria lá cuidando deles e comprando tudo que precisavam. Assim que as crianças pegassem o Hogwarts Express, ele voltaria à sua cidade e retomaria a sua vida.

Hoje era o dia da compra dos livros, penas, varinha...

E Amélia apenas esperava que pudesse encontrar tudo em Hogsmeade.

Apressou o passo. Estava muito atrasada.

Tão atrasada que não percebeu que, no momento em que virava apressadamente um corredor, uma mulher também loira e um tanto baixinha fazia o mesmo. A colisão foi inevitável.

Amélia praguejou, levantando-se e, finalmente, olhando pela primeira vez para a loira.

No rosto da mulher, puro contentamento.

- Amélia? Amélia Lair? Eu não acredito!

Não, aquelas feições, de fato, não eram estranhas... por mais que não pudesse ter certeza de onde, Amélia sabia que já tinha visto aquela mulher em algum lugar...

Ela segurou a mão de Amélia.

- Eu não acredito, sabia? Você... Você sabe quem eu sou?

Amélia mordeu o lábio, desculpando-se.

A loira deu de ombros.

- Elizabeth Thompson! Eu fui a sua companheira de quarto!

E, enfim, reconhecimento.

- E noiva de Brian! O que você está fazendo aqui?

- Trabalhando... Aritmancia. Você?

- Também. Defesa Contra as Artes das Trevas.

- Hm... Você certamente já ouviu falar que é um cargo amaldiçoado, não? Quer dizer, o professor passado... – ela fez uma careta, reconhecendo seu erro – ...era seu antigo namorado. Desculpe.

Amélia suspirou.

Sim, Elizabeth ainda era inconveniente.

- Er, Elizabeth---

- Me chame de Lizzy!

Mais um suspiro.

- Lizzy. Eu estou com um pouco de pressa, então, se você me dá licença...

XxXxXxX

Compras sempre era bom. Principalmente quando feita na companhia de pessoas que se ama. Mas, ainda assim, eram cansativas.

Horas depois de Amélia se encontrar com o marido e os filhos, depois de andar Hogsmeade inteira pelo menos três vezes, estavam exaustos.

As inúmeras sacolas eram carregadas por Brian, que conversava animadamente com os dois filhos, um em cada lado.

Amélia, um pouco mais atrás, os observava.

Faziam uma família linda.

Brian virou-se, com um sorriso.

- Se você não se apressar, agente volta para Londres e você nem assistirá nossa partida.

Amélia sorriu.

- Eu quero ver uma roupa. Preciso comprar alguma coisa que me faça parecer mais com uma professora.

- Então, vamos à sorveteria e lhe esperamos lá!

Amélia assentiu.

Por que eu não tenho uma filha que me acompanhe nas compras?’

Ainda sorrido da vida, ela caminhou.

Mas, ao passar por uma viela, foi surpreendida por mão que se colocava na sua boca, impedindo-a de gritar, enquanto um agressor misterioso a puxava para um beco escuro e vazio.

Mesmo com os seus antigos reflexos enferrujados, Amélia tentou procurar a varinha em suas vestes, mas, assim que o agressor percebeu o que estava fazendo, prendeu magicamente as mãos dela.

O coração de Amélia batia tão forte que parecia querer pular do peito. Há muito tempo ela não sentia tanto medo.

De repente, ao mesmo tempo em que ela recebia um forte empurrão que a colocou contra a parede – fazendo-a bater a nuca violentamente –, as amarras sumiram e ela pôde encarar o seu agressor.

Ela pensou que não ia conseguir respirar nunca mais.

Severo Snape apontava a varinha para o rosto dela, numa cena bem parecida com a do reencontro deles, há alguns anos.

Ela mordeu o lábio.

O silêncio entre os dois antigos amantes que se entreolhavam foi inevitável.

O que se passou no peito de Amélia jamais poderia ser passado para linhas. Era um misto de horror e contentamento... Ódio e amor. Simplesmente inexplicável. Ao mesmo tempo em que ela queria correr para longe daquele assassino, queria tomá-lo em seus braços e dizer a falta que ele lhe fez por todos esses anos. Estava com medo... Com medo dele, do que ele poderia ter se tornado... mas, principalmente, com medo do que ela um dia sentiu, e poderia voltar a sentir.

Até que ele disse.

- Eu não queria assustar você.

- Você está me assustando.

Ouvindo isso, ele tirou a varinha daquela posição ameaçadora.

- Eu quero falar com você.

- Mas eu não quero falar com você.

Severo bufou exasperado, enquanto colocava um dos braços em volta da cintura de Amélia.

Um segundo depois, os dois estavam num antigo apartamento empoeirado... O antigo apartamento dela.

Olharam-se. Estavam muito juntos.

A energia que ainda tinha entre os dois era quase palpável. As respirações imediatamente instáveis e as bocas sedentas uma pela outra deixou óbvio que o desejo ainda existia. Aquela proximidade era tão perturbadora que Amélia teve que desviar o seu olhar.

Ele a soltou.

- Meu antigo apartamento. Um lugar um tanto óbvio para se esconder, não?

- E por isso não me escondo aqui. O Lorde das Trevas providenciou um bom lugar onde jamais me acharão. Você não pensou que eu iria lhe levar para meu esconderijo verdadeiro, achou?

Amélia deu uma risada um tanto forçada, tentando não pensar que estava sozinha com o homem que mais amou na vida.

- Na verdade, Severo, eu só não achei que você fosse me seqüestrar.

- O Lorde ordenou. Ele quer você no lado dele.

Agora o sorriso sarcástico de pura indignação deformou o rosto de Amélia. Há anos, ele também fizera essa mesma proposta a ela... e ela tinha recusado.

O que o faria pensar que dessa vez pudesse ser diferente?

- Ele quer? Severo, anos atrás eu não aceitei nem sob tortura só porque estava sendo paga pelo outro lado da guerra. Mas, agora, os tempos mudaram... E eu não aceito porque não quero e nem vou me meter nessa guerra que não é minha. Arrisquei muito quando tinha pouco a perder. E agora, que eu tenho muito, eu não vou arriscar nada. Entendeu?

Ele assentiu ligeiramente.

O silêncio retomou o lugar.

Severo foi caminhando até a janela empoeirada e ficou observando os carros que passavam na rua, lá embaixo, formando um engarrafamento. Ele suspirou. Aquela rua tinha crescido muito, e apenas uma velhinha que morava no primeiro andar impedia o desmoronamento daquele prédio condenado. No tempo de Amélia, podia-se ver uma praça, uma lanchonete e várias casas. Agora, apenas prédios gigantescos e a fumaça dos carros.

Amélia sentou-se no braço do seu antigo sofá vermelho, agora coberto de poeira.

- Eu quero ir embora. Por favor.

Ele se virou.

O semblante dele era tão cansado... De uma maneira que, em anos, ela vira pouquíssimas vezes se formar no rosto dele.

- Você mudou.

Um nó se formou na garganta de Amélia.

- A vida me mudou, Severo. O tempo. Você também não está igual.

Severo tinha se tornado uma figura que pouco lembrava o jovem com quem ela vivera. Os cabelos mais oleosos, a pele mais flácida. Ele estava mais magro e muito mais pálido. Uma expressão inconfundível de quem tinha sofrido.

- Eu sei.

Os olhos dela ameaçaram encher-se de lágrimas.

- Você fez uma coisa que eu não pensava que você fosse capaz – ele ergueu uma sobrancelha. – Você me desapontou, Severo. Eu confiei em você cegamente, e você me fez a mulher mais decepcionada desse mundo quando apareceu naquele jornal, como o assassino de Dumbledore. Como o Comensal fiel.

Ele avançou até ela e, quando estava muito perto, parou.

Abriu a boca, mas desistiu de falar.

E disse.

- Eu não sei se posso confiar em você.

Os olhos dela ficaram vermelhos.

- Eu ainda sou a mesma... Você sabe que pode confiar em mim. Por que você me trouxe aqui?

As lagrimas encheram os olhos dela.

- Eu quero que você deixe Londres. Por que você veio, em primeiro lugar?

Amélia tentou desviar o olhar, mas Severo segurou o queixo dela e a brigou a encará-lo.

- Porque eu não podia acreditar que o homem que eu amei mentiu para mim por tanto tempo. Eu queria descobrir se tinha algo mais... Se existia alguma explicação plausível para aquela manchete... Mas agora eu sei que você mentiu e enganou todos que confiavam em você. Que você traiu o meu amor com mentiras. E agora eu me sinto a mulher mais feliz do mundo por ter deixado você.

E a lágrima caiu.

Lentamente, ele passou novamente o braço pela cintura dela e aproximou o rosto.

Amélia sentiu um calafrio de antecipação: ele a beijaria.

Mas, então, viu-se novamente naquele beco escuro.

Ele a encostou no muro.

- Escute, eu não tenho muito tempo. Você estava certa de confiar em mim. Eu vou contar a você a história toda daqui a duas semanas. Venha nesse mesmo beco e você me encontrará, às dez da noite. Fale que você me encontrou à McGonagall. O que eu quero que você faça vai fazer você entrar na guerra – Amélia quis pestanejar, mais ele não deixou, interrompendo-a. – Se você não aceitar, paciência, mas tem algo que você tem que fazer. Eu estou confiando em você. E, antes que eu esqueça...

XxXxXxX

Ooohhh, eu sou mal!

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