Quase 40
CAPÍTULO II. QUASE 40
Ela sentou-se de frente ao espelho, mirando o seu rosto que, embora ainda muito belo, não mais conservava o viço da juventude.
A pele já não era mais tão vistosa e lisa.
Algumas rugas já podiam ser vistas no canto dos seus olhos azuis.
O rosto, pela perda da maciez excessiva, parecia mais magro, mais caveiroso.
Amélia suspirou, enquanto pegava na sua gaveta alguns cremes para retardar a chegada da velhice.
Prendeu seus longos cabelos loiros e começou a espalhar pelo rosto o gel transparente, sentindo-se, quase imediatamente, um pouco mais jovem.
A porta do quarto se abriu.
Era o seu marido – pelo menos no papel – Brian McRough.
O loiro agora exibia um rosto maduro e vários fios brancos, deixando-o com um ar muito mais sensual do que o de anos atrás. Sorriu brilhantemente ao ver a mulher à penteadeira.
- Cremes novamente, Mia?
- E o que eu posso fazer, se a minha pele parece querer virar uma uva passa? Brian, você entende a gravidade do momento? Daqui a pouco mais de dois anos eu me tornarei uma quarentona! Quarenta anos!
- E você fala isso pra mim? Eu já tenho cinqüenta e dois, Mia. E não estou enlouquecendo por isso.
Ela rolou os olhos, enquanto voltava a fazer o que Brian tinha interrompido.
Um minuto de silêncio se passou, enquanto Amélia, pelo espelho, via-o se aproximar lentamente e, por fim, puxar uma cadeira e sentar-se ao seu lado.
Ela percebeu que ele trazia em suas mão o The Wall Street Wizzard, jornal bruxo de maior circulação nos Estados Unidos.
Brian mordeu o lábio inferior, numa expressão que Amélia conhecia bem: a mesma expressão que ele tinha usado quando a informou que o seu filho, Edward, tinha a mesma doença terminal da sua mãe, anos atrás... Ela jamais esquecera este semblante.
- O que aconteceu? - ela perguntou, assustada.
Ele suspirou.
- Amélia, eu receio que, talvez, não tenha boas notícias.
Ela ergueu uma sobrancelha, o coração aos pulos.
- É o Edward? Ele piorou?
- Edward está bem, você sabe. O tratamento tem sido ótimo para ele.
- Então...?
Lentamente, o jornal foi estendido para ela.
Amélia o segurou, com as mãos um tanto trêmulas. Eram notícias da guerra, com certeza.
A primeira coisa que passou pela cabeça dela fora a morte ou captura do Ministro Screamgor. Rufo tinha sido um dos melhores aurores que se subordinara a ela na primeira guerra contra Voldemort, e ela estava muito feliz por ele ter chegado aonde tinha chegado, e usando alguns dos métodos não muito simpáticos que ela tivera o ensinado. Mas isso não faria o seu coração parar, como aconteceu quando ela viu a notícia que estampava a primeira página.
'Oh, Merlin, Severo!'
Severo Snape estava sendo procurado pela justiça bruxa, sob acusação de matar Alvo Dumbledore.
Trêmula, Amélia soltou o jornal.
Já fazia muito tempo que ela não via Snape. Doze anos. Mas, ainda assim, não podia se furtar das memórias de tantos momentos bons... Ela guardava um carinho imenso por ele, talvez até um resquício de amor, apesar da forma que eles tinham acabado.
Hoje ela sabia que fora imbecil de romper com ele, ou de não tê-lo procurado após descobrir a sua gravidez... Hoje ela sabia que nunca fora capaz de amar outra pessoa... Mas, ainda assim, não esperava ficar tão abalada com a notícia.
- Não pode ser verdade.
Brian suspirou, segurando a sua mão.
- Harry Potter o viu matá-lo.
- E daí? Ele não teria me enganado por tanto tempo, Brian! Ele sempre me disse que, embora tivesse sido comensal, começara a espionar para Dumbledore! Como ele pode tê-lo matado? Não faz sentido!
- Calma, Mia. Já faz muito tempo que você não o vê. Não dá pra perceber que você não o conhece mais?
Ela mordeu o lábio com tanta força que chegou a sangrar.
As mãos trêmulas se postaram em seus olhos.
- Não, Brian. Eu sou a única pessoa que chegou a conhecê-lo... Assim como ele foi o único a me conhecer completamente – ela acrescentou com um fio de voz.
Brian segurou a mão dela.
- Você ainda o ama, não?
Ela pensou um pouco, antes de responder.
- Não, Brian. Acho que não. Mas tudo o que eu sentia por ele... era muito forte. Eu não poderia deixar de sentir carinho, saudade...
O que McRough responderia àquilo, não se sabe, pois, novamente, a porta do quarto se escancarou, dessa vez para dois meninos entrarem.
Os belos rostos idênticos eram moldurados por cabelos muito negros e um tanto oleosos. Os olhos negros e penetrantes eram, talvez, a característica mais fascinante naquelas faces infantis.
A diferença entre os dois era que, devido a sua doença, Edward era mais magro e menor do que Phillipe. Mas também era mais carinhoso, gentil e atencioso. E foi ele quem começou a falar.
- Mamãe, tem um homem lá em baixo querendo falar com você.
Amélia cerrou os olhos, enquanto se levantava e colocava por cima da sua camisola de seda branca um vestido.
- Há essa hora? Quem é?
Phillipe deu de ombros.
- Disse que era o ministro britânico. Amélia, eu acho que é importante.
Ela bufou, enquanto descia correndo as escadas e falava para o filho que odiava que ele a chamasse pelo nome.
Na sala, Screamgor a esperava.
Ela deu um meio sorriso, enquanto cumprimentava o antigo auror.
- Rufo.
Ele sorriu, enquanto pegava a mão dela e a beijava.
- Senhora Lair. Há quanto tempo. Linda, como sempre.
- Agora é senhora McRough, na verdade. Mas ainda gosto de ser tratada pelo meu nome de solteira. É um prazer lhe reencontrar depois de tanto tempo, Rufo, mas confesso que estou curiosa...
Ele deu um sorriso.
- Não está não, Senhora Lair. Você sabe muito bem o que me trouxe aqui.
Ela sussurrou.
- Severo.
- Sim. Snape matou o velho, e nós queremos pegá-lo... Embora seja um alívio não mais o ter se metendo nos assuntos do ministério, você sabe como é – ele deu uma risadinha simpática. – De qualquer forma, apesar de um metido, ele era popular e ajudava um bocado, o ministério.
Ela assentiu, calada.
- Você foi a primeira pessoa que eu pensei procurar. Sei que você deu cobertura para Snape na guerra passada, você está por trás da soltura dele, junto com o ministro da época e Dumbledore, e sei, também, que depois você morou com ele. Além de que ele nunca mais ficou com ninguém depois que você foi embora. Portanto... Acho que você é a pessoa mais indicada para me ajudar a encontrá-lo,
Amélia sorriu.
- Tudo isso é verdade. Mas é verdade também que eu encontrei outra pessoa, e estou com ele há doze anos. Rufo, eu sinto não poder ajudar, mas eu não tenho contato com Severo desde que nos separamos.
Ele assentiu.
- Muito bem... Mas você não tem nenhuma idéia de onde ele pode estar se escondendo?
'No antigo apartamento dele... Ou no meu, que ele sabe que está abandonado. Na casa dos Malfoy, com a proteção de você-sabe-quem. Ou na própria Hogwarts, embaixo do nariz do inimigo, onde jamais procurariam.'
- Não, Rufo ,eu não faço idéia.
- Tudo bem. Não podem dizer que eu não tentei, certo.
Ele começou a se encaminhar para a porta, quando Amélia disse.
- Como está tudo? Quem está vencendo?
Ele sorriu pesarosamente, voltando a caminhar para a saída.
- O mal.
Quando a porta foi fechada, Amélia pesou que ele tinha levado para fora da sua casa todos os seus problemas. Estava tão aliviada de voltar para a sua paz, que nem se importou quando viu cartas que convidavam seus filhos para estudar em Hogwarts entravam pela sua janela.
Mal sabia ela que os problemas tinham acabado de começar.
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