O Enterro
CAPÍTULO XXVI. O ENTERRO
- O seu pai morreu.
Com aquela notícia caindo como uma bomba na vida dele, Amélia poderia esperar qualquer reação, menos a que ele teve. Pura indiferença.
Ainda assim, Amélia sabia como era perder um pai... Ele não podia estar tão insensível.
Ela se aproximou carinhosamente.
- Severo, eu realmente sinto muito. Eu fico muito tr...
- Não fica, não.
Ele a olhou quase com raiva. Ela não entendeu.
- Severo, o que aconteceu?
- Sem hipocrisia, Amélia. Você o odiava. Assim como eu. Agora que ele morreu, você deve estar aliviada, feliz. Então, não venha me dizer que você está triste.
Ele começou a caminhar para o quarto.
Ela balançou a cabeça e suspirou exasperada. O seguiu.
- Desculpa! Desculpe-me! Eu estava apenas tentando mostrar que fico triste quando algo pode te deixar triste! É isso que as esposas fazem!
Ele parou. Virou-se. Falou pausadamente.
- Você não é minha esposa.
O coração parou e todo o lugar pareceu, de repente, ter ficado gelado. Uma tristeza enorme a invadiu... As mãos ficaram trêmulas.
O silêncio...
Ela sentiu que devia dizer alguma coisa.
'Você e sua boca grande!'
Fechou os olhos. Suspirou.
- Então me desculpe, de novo. Eu apenas pensei que depois de... quanto tempo? Quatro, cinco anos, juntos? Eu pensei que pudesse me considerar como a sua mulher.
- Pensou errado.
- Certo.
'Nunca mostre seus sentimentos.'
Ela fechou os olhos, contendo a vontade de chorar... como tão bem fazia. Depois de um minuto de silêncio, ele falou.
- O enterro é amanhã?
- Sim. Na mansão. De oito horas da manhã.
- As sete nós saímos daqui. Não desaparataremos, os parentes trouxas estarão lá, provavelmente. Vamos para a cama.
'Ótimo! Agora você quer que eu durma com você! Depois de tudo!'
- Vá você. Eu tenho uns relatórios pra fazer para o Ministério.
Ele deu um grunhido e foi se deitar.
XxXxXxX
O sol brilhava no enterro do pai de Snape. Era um dia lindo.
Mas Amélia não se sentia nem um pouco feliz... E o motivo não era o corpo morto que estava sendo enterrado à maneira trouxa...
Apenas lá ela viu como era excluída da família: conhecia apenas alguns amigos e os irmãos de Snape – a irmã, só de vista. Ninguém mais. Sequer sabia os nomes dos parentes trouxas. Sequer era reconhecida pela maioria esmagadora dos presentes.
A terra começou a ser colocada em cima do caixão. Os irmãos de Severo choravam e jogavam flores no túmulo do pai. Severo não aparentava nenhuma reação... Olhava friamente para o caixão. Ele não estava triste... mas não estava tão indiferente quanto queria mostrar... E ela podia dizer isso desde o momento que o sentiu apertando a sua mão mais fortemente quando o primeiro punhado de terra foi jogado no túmulo.
Aos poucos, a multidão foi se dispersando.
Severo a levou para junto de um homem que devia ter pelos seus setenta anos.
- Doutor Hilton. – ele cumprimentou.
- Severo! É bom te ver. Posso saber quem é a bela jovem?
Ele crispou os lábios.
- Esta é Amélia Lair, minha... acompanhante. Amélia, este é o Doutor Anthony Hilton, o advogado da família.
Amélia deu um meio-sorriso, ainda afetada por ter sido classificada como acompanhante. O advogado acenou com a cabeça.
- Olha, os dias de hoje não estão fáceis. Trate de fazer essa companheira virar logo esposa, ou você pode se dar
mal!
Severo relevou o comentário.
- Quando vai ser a divisão de bens?
- Amanhã. Vocês devem pernoitar na mansão.
Ele examinou os dois lados, certificando-se que os irmãos não estariam por perto para ouvir o que ele iria falar.
- Quais são as minhas chances de conseguir a mansão?
O advogado se aproximou mais. Falou baixo.
- Eu não devia lhe dizer isso, mas tudo indica essa mansão, por ser uma relíquia da sua família, não tem o destino decidido pelo dono. Assim, por mais que seu pai te odiasse, você é homem e primogênito. Eu acho que é o que tem mais chance de ficar com a casa.
Ele assentiu lentamente.
- Ótimo.
Severo caminhou em passos largos para dentro da mansão, carregando Amélia pelas mãos.
Na sala, os seus dois irmãos conversavam desconsolados. Amélia cumprimentou os dois. Severo mal falou com eles. Apenas disse.
- Estamos subindo. Cuidem dos convidados, nós estaremos no quarto principal.
- O que! – Serene falou. – Não! Esse é o quarto dos nossos pais!
- Que, por sinal, já estão mortos.
E puxou Amélia pela mão, sem deixá-la falar.
XxXxXxX
Subiram várias escadas e passaram por vários corredores para poder chegar ao tal quarto principal...
Mas valeu a pena.
Era um cômodo muito espaçoso e extremamente iluminado... Digno de reis... Indescritível. Tinha que ter algo de mágico ali... Não podia ser tudo feito por trouxa!
Amélia olhou ao redor, maravilhada.
Olhou especialmente para a enorme cama bem no centro do quarto...
Ela não se incomodaria de passar o resto da vida por lá.
'Mas eu duvido que esse grosso queira que eu passe o resto da vida com ele.'
E o seu humor voltou a ficar mal.
- O que há de errado com você! – ela disparou e pegou ele de surpresa.
- Como?
- “Você não é a minha esposa”? Então, afinal, que porra eu sou! Sua acompanhante?
Ele se aproximou dela. Quase furioso.
- O que é isso, mulher, está louca?
- Não, Severo, eu não estou louca! Mas, sério? Acompanhante? Eu apenas pensei que significasse um pouco mais para você! Será que nós vamos passar o resto das nossas vidas desse jeito?
- De que jeito?
Ela bufou.
- Eu, com a minha vidinha noturna ilícita, você ensinando criancinhas... E nós... Não tendo nada!
- O que?
- Severo, depois de tanto tempo... Pôxa, eu me via como a sua mulher! Quem era que sempre estava lá para você? Quem sempre te apoiou? Quem dormiu com você pelos últimos anos? EU! E você vem e me diz que eu não sou a sua mulher? Então o que eu sou!
- Am...
- Sua prostituta? Não é isso que eu quero!
- Am...
- Eu quero casar! Sim, quero! Por incrível que pareça! Eu quero cuidar do jardim da minha mansão, e não daquele muquifo que agente mora! Eu quero... Eu quero... – suspirou, sentindo-se ligeiramente tonta – Eu nem sei mais o que eu quero.
Ela se sentou na cama. Colocou a mão sobre os olhos, finalmente derramando algumas lágrimas. Severo ficou parado.
Ela estava muito emotiva.
- O que diabos foi isso?
- Isso o que?
- Esse show dos horrores, que você acabou de fazer.
Ela sorriu, horrendamente triste.
- Expor os meus sentimentos, pelo menos ao meu modo de ver, não é um show dos horrores. Isso se chama discutir a relação. Você já ouviu falar nisso? A maioria dos casais faz esse tipo de coisa.
- E por que isso agora?
- Porque... Porque eu cresci. E eu não quero mais matar, beber e transar! Quer dizer, não só isso! Mas parece que você não cresceu, não foi? Merlin! Você ainda é o garoto que eu namorei em Hogwarts!
O semblante dele ficava cada vez mais irritadiço.
- Nós não estamos bem assim?
- Estamos.
- Então o que mais você quer?
- Eu quero um marido! Estabilidade! Um nome! Eu não quero mais ser a "acompanhante" de alguém. Eu quero ser a mulher de alguém. E você deixou claro que eu não sou a sua.
- Não é iss...
- Você disse isso claramente. – silêncio. – Eu vou passar essa noite com você. E vou ficar ao seu lado amanhã, enquanto você resolve o problema da herança. Mas depois eu pego as minhas coisas no apartamento e volto para Nova York.
O semblante dele, de repente, mudou.
Uma seriedade sombria tomou conta dele.
Lentamente, se aproximou, sentando-se ao lado dela.
- Você tem certeza?
O coração batia tão forte que chegava a doer.
- Absoluta.
- Eu não vou fazer absolutamente nada para impedir. Mas eu não quero que você vá.
E ela simplesmente não respondeu. Apenas precisava sair daquele quarto, sair de perto dele...
E tentar tirá-lo dela.
XxXxXxX
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