Notícias da Guerra
CAPÍTULO XXIV. NOTÍCIAS DA GUERRA
Londres. A boa e velha Londres.
Amélia se encolheu no casaco ao sentir a brisa londrina cortar o seu rosto. Deu um meio-sorriso. O seu casaco, outrora negro, salpicava-se com os flocos de neve que se derrubavam sobre ela.
A felicidade estava espalhada por todos os lugares... Em cada canto da cidade, as pessoas comemoravam a chegada do ano-novo... Mas ninguém estava mais feliz que ela. Sorriu.
O som das pessoas foi morrendo a medida que ela se afastava da multidão e entrava em ruas cada vez mais desertas... Totalmente desertas... Um beco. Uma cabine telefônica. Amélia entrou. Discou rapidamente a combinação 62442. Uma voz feminina invadiu a cabine.
"O Ministério da Magia lhe deseja um Feliz 1982. No momento estamos fechados para visita. Por favor, volte no dia dois de janeiro e teremos prazer em lhe atender."
Amélia fechou o olho e suspirou impacientemente. Pegou a varinha e desaparatou.
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O ministério da magia quase deserto passava alheio às comemorações do lado de fora. Apesar do que a irritante voz tinha falado na cabine telefônica, não estava fechado, o ministério. Havia certa movimentação de aurores.
Assim que entrou, Amélia avistou Frank Longbotton.
- Frank!
O auror virou. Inicialmente, parecia que ele tinha visto um fantasma... Mas logo abriu um largo sorriso e correu para abraçar Amélia.
- Garota! Onde você esteve? Feliz ano novo!
- Não posso dizer. Um grande amigo me ajudou. Isso é tudo.
- Tudo bem. – ele se virou, olhando pesarosamente para a janela, de onde se podia avistar os bêbados comemorando. – Tanta alegria... E eles nem sabem... Os preços dessa vitória, que até hoje nos traz alegria, foram muito caros... Não acha?
Ele a olhou sombriamente, enquanto ela apenas dizia, temerosa.
- Eu não sei de nada da guerra. Só que acabou. Fiquei sabendo hoje.
Frank a olhou, talvez imaginando se devesse dizer ou não...
E, por fim, contou absolutamente tudo que tinha acontecido com o Potters, a traição e prisão de Sirius, o menino-que-sobreviveu.
Ela sentia o ar fugir dos pulmões. Olhou para os lados atordoada, quando ele finalmente acabou. Não queria acreditar... Não podia acreditar. Fechou os olhos e respirou fundo. Colocou a máscara que dispunha para sempre que se entristecida. Mas, mesmo com as expressões fias, ainda era difícil de respirar.
- Eu não sabia – a voz ainda estava firme.
- Tem mais... Algo que interessa para você: Snape está em Azkaban.
Mais uma vez, um baque no peito de Amélia. Quando ela percebeu, já estava há alguns segundos sem respirar. Tragou o ar com força. Mordeu o lábio.
- Mas... Severo estava... você sabe.
- Dumbledore disse que vai dar um jeito nisso... Mas ainda não pôde fazer nada... Tem que esperar pelo julgamento dele.
Amélia se calou...
Pensando na prisão que o seu amor estava por dois meses... Dementadores sugando a sua alma... dementadores que ela colocou lá.
- Frank?
- sim?
- O ministro está aqui?
- Creio que sim. Por quê?
- Por que eu tenho que ver Severo.
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Severo estava apodrecendo numa cela da pior prisão do mundo... Pior. A prisão que ela ajudou a ser a pior do mundo.
Simplesmente não conseguia conviver com a idéia.
Entrou na sala do ministro, que se surpreendeu em vê-la.
- Lair! Finalmente.
Sem dizer uma só palavra ela foi até o ministro... Talvez fosse fúria em seus olhos. Ela nunca soubera. Apoiou as mãos na mesa dele.
- Eu quero vê-lo.
Basile levantou-se, atordoado.
- Como! Ver quem?
- SEVERO!... – tentou se acalmar. – Severo Snape. Ele está em Azkaban.
- O comensal?
- SIM! O COMENSAL! Eu ajudei você a ganhar essa guerra! Eu mereço algum crédito! Eu não quero aparecer nos livros de história, ou ficar famosa como a mártir salvadora do mundo! Eu quero apenas falar com ele fora do horário de visitas! Sem ter que marcar hora! E o principal: sem dementadores! Nenhum deles! Nunca!
- Como? Você quer uma cela especial para o seu amigo?
Assentiu furiosamente.
- Isso! Eu mereço, não?
- Mas ele não.
- Eu só estou viva por causa desse homem... Se eu mereço qualquer coisa, ele merece também.
O ministro a estudou por um momento.
- Vou providenciar.
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Na manha seguinte, Amélia foi visitar Severo na prisão. Não precisou nem se identificar – parecia que o ministro já tinha cuidado de tudo mesmo. Ela passou pela seção dos dementadores, onde pode ver muitos daqueles que fizeram mal à ela apodrecendo...
Uma pessoa chamou a sua atenção: Schwartz. Ele estava deitado no chão. Magro e pálido. Amélia riu da visão.
Passando por ele, ela chegou a um longo corredor escuro que cheirava à mofo.
- Os dementadores não passam por aqui.
O "guia turístico" dela falou.
No fim do corredor, chegaram a uma sala.
- Você tem uma hora. E fique feliz.
Ela abriu a porta. A sala era pequena, úmida e escura...
Era tão desumana, que fazia as demais celas parecerem hotéis de luxo e os dementadores empregadas obedientes. O chão era de madeira podre e não tinha nada mais lá, exceto um balde de excrementos – que empestava o lugar inteiro –, um prato com um tipo de sopa que Amélia jamais tomaria, um copo de água barrenta e um pão mofado... e um homem maltrapilho que se encolhia no chão daquela sala imundo. Sentido o coração diminuir, Amélia sussurrou.
- Severo.
Ele levantou a cabeça, mas só por um segundo. Logo em seguida, já a tinha baixa novamente, rindo como um louco. Ela se sentiu angustiada. Correu até ele e se ajoelhou em sua frente, sem tocá-lo.
- Meu amor...
- Viu? Snape? – ele falava sozinho – Como a sua mente pode ser cruel? Agora você realmente caprichou na alucinação.
Ela tocou o rosto dele.
Ele a olhou com espanto.
Bem de perto, ela pode ver como os seus olhos estavam cansados.
Sentiu um fiozinho de lágrima cair. Sussurrou.
- Não é alucinação. Eu voltei.
Ele a examinou por um momento, talvez se indagando se devesse acreditar que ela estava realmente lá.
E, subitamente, agarrou a nuca dela e a puxou para um beijo apaixonado. Ela não opôs resistência. Ele agarrou a cintura dela e a puxou bem para perto. Violentamente, a derrubou no chão, por baixo dele. E então. Parou. Para respirar.
Ela não se importou com o hálito dele. Com o sujo do corpo dele. Só com ele.
- O que você está fazendo aqui?
- Eu estou com você.
E ele a beijou de novo. Ela se desvencilhou.
- Espere. Você precisa comer! Eu trouxe algumas coisas para você.
Talvez a fome dele fosse ainda maior que a saudade que ele tinha de Amélia, porque assim que ela falou em comida, ele se levantou e foi pesquisar o conteúdo do pacote que ela tinha trazido. Escondido no meio, uma poção fortificante que ele reconheceu imediatamente.
Ela observou com felicidade ele devorar toda a comida e depois tomar a poção de uma só vez. Ele melhorou instantaneamente. Ela se aproximou e acariciou o rosto dele.
Ele disse.
- Eu estou melhor, desde que me tiraram da presença dos dementadores... Estava realmente enlouquecendo.
Ela sorriu.
- Você vai sair daqui. Eu juro.
- Eu sei.
- sabe?
- Dumbledore me disse isso.
Ela rolou os olhos, saindo de perto dele.
- E você confia plenamente naquele velho imbecil, não?
- Ele é um sábio velho imbecil.
Ela deu um meio sorriso.
- No caso dele não conseguir te tirar daqui, eu tiro.
- Usa a sua influência com o nosso sábio ministro da magia, não?
- Exato. Eu consegui te tirar da influência dos dementadores, não consegui?
- Não vi muitas melhorias. O serviço de hospedagem aqui é péssimo.
Ela sorriu. Ele não. Ela ficou séria, olhando no fundo dos olhos dele... E o abraçou.
- Eu senti a sua falta.
Ele enterrou o rosto nos cabelos dela.
- Você não sabe o quanto eu precisei de você.
Ela brincou.
- Sabia que você não está soando nada como você?
- Talvez eu esteja enlouquec...
A porta se abriu. O guarda que tinha guiado Amélia até a infame sala apareceu.
- Tocante. Mas acho que você vai ter que sair daí, Lair.
- O que! Eu pensei que tivesse uma hora!
- É, mas o ministro antecipou o julgamento desse aí para hoje. Agora vou ter que levar ele para ser alimentado e para tomar banho... E fazer todos acreditarem que a nossa prisão é a melhor do mundo.
Embora não tenha sido apresentada da melhor maneira, a notícia foi muito bem recebida. Amélia olhou uma última vez para Severo.
- Agradeça à minha influência com o nosso querido ministro!
E saiu, confiante de que o velho conseguiria livrá-lo da prisão.
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