Palavra de Mulher
CAPÍTULO XXII. PALAVRA DE MULHER
Amélia simplesmente não se importou de deixar as suas lágrimas fluírem, revelarem que, aquela guerra toda, aquelas mortes todas, foram parte de um grande erro. Não se importava de lavar a sua alma com as próprias lágrimas na frente daqueles três.
E ninguém falou nada. Apenas observavam um momento em que a pedra de gelo se revelou... humana.
Minutos se passaram, até que, sentindo-se mais leve, Amélia conseguiu parar de chorar.
A enfermeira já não estava mais lá.
Dumbledore foi até o seu lado e segurou a sua mão.
- Nós estamos felizes que você esteja finalmente de volta.
- Quanto tempo eu passei aqui?
Ele sorriu, paternalmente.
- Quase um mês, minha querida. Tem gente que sente muito a sua falta.
Ela puxou a mão rudemente. Colocou-a sobre o cenho franzido.
- Um mês? Merlin! Eu... Tudo se acertou?
Ela olhou para o ministro com um misto de temor e fúria nos olhos. Ele apenas assentiu ligeiramente. Ela se voltou suplicante para o velho.
- Ele ainda quer a minha cabeça?
- Já foram presos três comensais que tentaram se infiltrar no hospital pra lhe matar, Amélia. Você ainda é muito odiada.
O ministro começou a se aproximar do leito dela. Passou a mão carinhosamente sobre a sua cabeça.
- Lair, você vai ganhar um tipo de aposentadoria do ministério. Nós queremos que você fuja para longe... Qualquer lugar onde não possa ser encontrada, até que essa guerra acabe.
Ela olhou para Dumbledore, que jazia inexpressivo. Depois se voltou para o ministro, que voltou a falar.
- Nós viemos para te levar daqui. Escondida. Alvo?
Dumbledore entregou a Amélia um pequeno frasco com um líquido viscoso vermelho. Ela olhou desconfiada. O velho explicou:
- Seus músculos estão enfraquecidos. Isso vai trazê-los de volta ao normal. Foi feito por uma pessoa em quem você confia muito.
'Severo'
Ela prendeu a respiração por um momento. Será que Snape tinha conseguido enganar o velho?
Bebeu todo o conteúdo. Sentiu um calor quase insuportável percorrer as suas pernas...
E pôde se levantar.
Dumbledore a envolveu com uma quente capa negra, sobre os seus robes de hospital. O ministro apontou para uma caneta trouxa.
- Chave de portal. Vão logo, antes que apareça alguém.
O velho e Amélia seguraram o pequeno artefato trouxa. Amélia sentiu uma incômoda puxada no seu umbigo.
E logo estava numa sala escura, sem janelas. O cheiro de mofo e podridão era quase insuportável. Ela olhou intrigada para dumbledore.
- Amélia, essa é a sede da Ordem da Fênix. Estamos em uma parte muito escondida de Hogwarts. Siga-me.
Ela viu o velho começar a andar, mas logo o parou com uma pergunta.
- O que diabos é a Ordem da Fênix.
Ele se virou, com o olhar cintilando de satisfação.
- É uma reunião de bruxos poderosos que lutam ativamente contra Voldemort. Acho que v...
- Peraí! Isso é uma organização terrorista clandestina, então?
O velhinho ergueu a sobrancelha.
- Eu não diria isso.
- Vocês lutam com o ministério?
- Não. Mas o ministro conhece a nossa instituição, e...
- Ah, tá! Ótimo! Eu aposto que vocês duelam, não? Sabem que isso é proibido! Eu poderia denunciar todos vocês!
- Mas você não vai. Apenas venha conhecer alguns dos membros, ok?
Amélia suspirou, exasperada.
- Tudo bem! Eu não pareço ter muita escolha, não é?
Ele a guiou por dentro dos porões cheios de mofo de Hogwarts. Nada naquele lugar lembrava a escola majestosa que, há apenas alguns anos, Amélia via quase que como uma casa...
'No tempo que eu era feliz.'
Ela entrou. Uma chama se acendeu em seu coração quando viu aquela sala lotada de pessoas – muitas delas amadas por Amélia. Lílian, que segurava um bebê, Tiago, Sirius, Remo, Frank... Pettigrew também estava lá, embora ela ainda não conseguisse sentir qualquer tipo de simpatia pelo homem, que agora tinha algo de estranhamente familiar. Ela abraçou a todos, sentindo seus olhos marejarem. Depois, voltou à Lílian, que, há anos, fora a sua melhor amiga, e por quem ainda guardava um enorme carinho, para dar uma atenção especial ao bebê.
- Esse é o Harry?
- Ele não é lindo?
- Muito! É uma pena que Sirius tivesse namorando quando ele foi batizado... Eu realmente queria ser a madrinha dele!
Uma voz masculina ressonou do fundo da sala.
- Eu pensei que você não gostasse de criança.
Aquela voz era conhecida... Conhecida demais. Ela sentiu um peso afundar em seu coração.
'Agora não! De novo não!'
Ela se virou, esperando que seus ouvidos tivessem a enganado... Mas não. Num canto escuro da sala, encostado numa porta, Severo Snape a olhava insistentemente. Ela teve que lutar não gritar. Teve que ser fria para não demonstrar emoções... Tentou incorporar a Assassina. Aquela que via na guerra o seu objetivo de vida. Caminhou em passos largos até Dumbledore.
- O que é isso! Você é tão estúpido que não sabe que ele é um Comensal da Morte! – "Eu concordo", Sirius disse – Ele está espionando vocês, seu velho babaca!
- Calma, Amélia. – O velho falou brandamente. – Vocês dois precisam conversar. Eu não explicarei nada... Não é a minha função aqui.
Severo a olhou sugestivamente e entrou pela porta em que ele estivera encostado. Ela o seguiu, sem dizer uma palavra.
Encostou a porta ao entrar.
Nessa sala, o cheiro de mofo mais forte ainda. A escuridão... Tudo dava um clima bem sinistro. Amélia não gostava. Olhou triste para Severo.
- Não espere que eu vá lhe encobrir.
Ele, sem se aproximar, respondeu.
- Eu não espero. Eu não trabalho mais para o Lorde das Trevas. Eu o estava espionando para Dumbledore e a Ordem da Fênix. Meu trabalho ficou mais fácil quando Ele me pediu para espionar a Ordem.
Ela fechou os olhos, cansada. Voltou a abri-los. Aproximou-se.
- Eu não acredito.
- Acredite no que você quiser. É a verdade.
Mordeu o lábio.
Ele parecia tão sincero... Mas simplesmente não fazia sentido!
- Quando?
- Antes de você chegar. No começo, eu apenas jogava nos dois lados, para me favorecer com a vitória, estivesse ela em qualquer um deles. Mas, depois, quando o Lorde me pediu para espionar Dumbledore, realmente passei a espionar para o lado da luz.
Ela assentiu.
- E, então, eu voltei. E você não me contou absolutamente nada, embora soubesse que eu estava dilacerada pela sua escolha errada.
Ele, pela primeira vez, desviou o olhar.
- Eu nunca pensei que você se importasse muito. Mas eu não podia contar nada. Não sabia o quanto você era confiável, o quanto você guardaria para si. Quando você voltou, eu nem sabia direito em que lado eu estava. Ninguém podia saber da minha posição.
- E, para mantê-la, você quase me matou.
Voltou a olhá-la.
- Eu pensei que você fosse mais forte, que agüentasse mais. Estava errado. No momento em que você tentou me matar, procurei Dumbledore para planejar a sua fuga.
- Por que? – Silêncio – Por que? Por que se arriscar para me salvar?
Ele suspirou. Num movimento rápido, puxou o corpo de Amélia para junto do seu e a beijou profundamente. Encostando-a contra a parede fria, machucando seu corpo com a pressão aplicada, mordiscando-a em desespero.
Aquela era a sua resposta.
Quando se separam, ela estava sem fôlego e com o coração machucado. Não podia ter entendido direito.
- Severo...
- O lorde quer a sua cabeça – ele a cortou – você já sabe disso. Não abuse. Não importa o que seja, não faça o que Dumbledore disser. Eu peço, Amélia, que voe, fuja para longe. Se possível, nem use mágica até o fim dessa guerra.
- mas...
- Por favor.
Ela assentiu. Abraçou-se a ele.
- Como eu posso confiar em você?
- Você não pode. Mas confie.
- Certo.
E o beijou, dessa vez mais calmamente... Mas carinhosamente... O beijou em despedida. Faria o que ele disse... E não voltaria vê-lo por... Sabe-se lá quanto tempo.
O coração dela ficou pesado com essa constatação.
Ela se separou dele e saiu da sala. Dumbledore a esperava.
- Sei que o ministro disse para você fugir, Amélia, mas eu acho que você ficaria mais segura e seria mais útil aqui, na ordem. Claro que o seu trabalho seria limitado, mas, quanto mais pessoas trabalharem conosco, mais rápido essa guerra passará, não é verdade?
'Faça exatamente o que Severo disse.'
- Sinto muito, Dumbledore, as eu não quero saber de absolutamente nada que se relacione com essa maldita guerra. Já perdi muito com ela. Não vou mais participar. Como uma covarde, eu a deixo. Não insista.
Virou-se para os amigos.
- Adeus. Até, talvez, um dia, quando esse inferno acabar. – Se virou para Severo – Eu volto. Mantenha-se vivo.
E não quis esperar por palavras em retorno.
Pegou a chave de portal e fugiu da guerra... para sempre?
XxXxXxX
Palavra de mulher
Chico Buarque de Holanda
Vou voltar
Haja o que houver, eu vou voltar
Já te deixei jurando nunca mais olhar pra trás
Palavra de mulher, eu vou voltar
Posso até
Sair de bar em bar, falar besteira
E me enganar
Com qualquer um deitar
A noite inteira
Eu vou te amar
Vou chegar
A qualquer hora ao meu lugar
E se uma outra pretendia um dia te roubar
Dispensa essa vadia
Eu vou voltar
Vou subir
A nossa escada, a escada, a escada, a escada
Meu amor, eu vou partir
De novo e sempre, feito viciada
Eu vou voltar
Pode ser
Que a nossa história
Seja mais uma quimera
E pode o nosso teto, a Lapa, o Rio desabar
Pode ser
Que passe o nosso tempo
Como qualquer primavera.
Espera
Me espera
Eu vou voltar
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