A Fuga



CAPÍTULO XXI. A FUGA

- Como?

Amélia o olhou, confusa. Sem responder, Severo levantou-se e pegou uma poção alaranjada que estava guardada num tipo de cofre. Entregou a ela.

- O Lorde das Trevas me proibiu de dar isso a você. Por isso, eu peço desculpa. Beba.

Ela olhou para a poção, incerta.

- O que isso faz?

- Isso vai eliminar qualquer dor que você possa estar sentindo agora. Inclusive depressão.

- Severo, eu não entendo o prop...

- Você não está em condições de questionar nada. Beba!

Ela o olhou, um tanto assustada. Mas confiava nele. Colocou lentamente o frasco nos lábios. Quanto mais se aproximava, mais o cheiro da poção ficava mais e mais forte, fazendo Amélia se sentir enjoada.

O líquido espesso atingiu a sua boca. Era amargo e queimava. Ela tratou de engolir tudo rapidamente. Sentiu-se tonta.

Mas logo estava se sentindo tão bem quanto nunca mais tinha se sentido... Melhor do que quando estava morrendo. Ela se sentiu... viva. Sentiu-se forte de novo. Olhou repulsivamente para as cicatrizes em seu pulso. E olhou para Severo. Sentindo que poderia voltar a ser a impiedosa Assassina...

Mas sem saber se queria.

- Funcionou?

- Por que você me deu isso?

- Nós temos que ir. Daqui a mais ou menos uma hora você voltará a se sentir tão miserável quanto antes, se não mais. Aproveite a vantagem que você tem e fuja. Vá direto ao ministério. Hoje não tem ninguém infiltrado. E finja, para o Lorde, que ainda está fraca.

Ele a pegou no colo sem mais explicações. Mas isso não era o suficiente. Não para ela. Ela precisava saber.

- Por que?

- Isso não é da sua conta.

E segurou a chave de portal.

XxXxXxX

Tudo parecia diferente naquele pedaço de mundo onde Amélia tinha passado tantos dias sofrendo as mais diversas torturas. Nada parecia mais ser tão mal...

Ela foi tomada por um sentimento de euforia... Uma certeza de que tudo daria certo... Sairia daquele lugar dando o dedo para o Voldemort.

- Ela está aqui, Milorde. A vaca tentou se matar ontem à noite, mas sabia que o senhor não ficaria feliz com isso. A impedi.

Ele a jogou aos pés de Voldemort e depois se curvou numa grande reverencia. Beijou as vestes do Lorde. Voldemort o ignorou, enquanto a olhava com um inconfundível ar de repugnância na cara. Circulou-a.

- Espero que hoje você esteja disposta a cooperar, menina. A minha paciência e bondade têm limites. Você bem sabe que para tudo acabar basta que você aceite trabalhar conosco... Afinal, você quer ficar do lado vencedor, não?

Ela sentiu ódio subir e dilatar as suas veias do cérebro... Mas estranhamente não sentiu dor alguma. Forçou para que a voz saísse fraca e sofrida...

- Eu espero que isso tudo acabe, senhor.

Ela olhou para cima, simulando um olhar sofrido, como se ela estivesse implorando por piedade. Agora ela via o quanto tinha sido tola de início... Dissimular era uma lição importante que ela já tinha aprendido... Era uma ótima atriz... Se tivesse lembrado disso de início, tudo seria diferente.

Uma chama estranha se apoderou do olhar de Voldemort. Ela sentiu que o homem estava tentando penetrar na sua mente.

Astuta, pensou.

'Eu realmente quero que isso acabe e estou disposta a fazer tudo para que isso aconteça. Mas não tente ler a minha mente, que não vai conseguir.'

O brilho desapareceu. O homem assentiu levemente, quase imperceptivelmente, com a cabeça. Amélia respirou fundo. Estranhamente, não sentiu o efeito exaustivo de uma oclumência tão poderosa.

- Tudo acabará se você se juntar a nós.

- Qualquer coisa, eu disse.

- Ótimo, então. E você nem vai ter que se matar para isso. PEDRO!

Um mascarando baixinho chegou e se curvou de uma maneira muito exagerada. Voldemort parecia não gostar nada desse sujeito.

- Leve-a para a casa. Ela vai ganhar a marca.

Um grande falatório começou. Todos os comensais estavam se sentindo menosprezados. Como ela poderia ganhar a marca, se eles todos tinham passado por testes e mais testes de confiança para poder chegar à guarda pessoal de Voldemort?

O comensal a segurou pelo braço. Amélia sentiu vontade de andar ereta, mas sabia que não podia. Não podia fazer nada que levantasse as suspeitas para Severo. Deixando o corpo mole, ela acompanhou o comensal que, por alguma razão desconhecida, fazia questão de deixar marcas em seu braço.

Ele a levou para dentro de uma antiga casa e a jogou numa cadeira dura e empoeirada. Ela deixou o seu corpo cair, ainda fingindo estar dolorida. Mas aí aconteceu. Ela não deveria ter sentido, mas o corpo dela doeu – e muito – quando caiu.

'Está perdendo o efeito'.

Ela gemeu.

O comensal pegou uma poção e se aproximou dela. Com a voz rouca, disse.

- Sabe, nós dois sozinhos aqui... Se... Se algo acontecesse você não contaria nada ao Snape não, né?

Era cerrou os olhos. Pensou em cuspir na máscara dele mas... Mas viu um pedaço de madeira que saia das suas vestes... E sentiu a dor voltando ao seu corpo, prestes a ficar insuportável.

'Dissimular, Amélia.'

- Acho que posso ter um segredo ou outro.

O comensal então começou a acariciar as pernas de Amélia. Ela começou a respirar mais pesadamente... Não por causa da excitação, não... esse homem não desapertava desejo algum nela, mas por causa da sensação de dor que estava voltando, cada vez mais forte.

O comensal se ajoelhou e a puxou pelas pernas, a colocando no chão, ajoelhada sobre ele. Amélia começou a passar a mão pelo corpo dele, procurando desesperadamente a varinha e pensando em como arrancá-la dele. Ela massageou o seu peito... E sentiu. A varinha. Bem na mão dela.

Sem dá tempo para o comensal reagir, ela puxou a varinha e saiu de cima dele, urrando quando sentiu uma dor agonizante nas costas. Alarmado, o comensal se levantou e tentou reaver a varinha. Ele se jogou em cima dela, segurando-a pelos pulsos, sentindo as cicatrizes. Sem forças nas pernas, Amélia caiu. Bateu a cabeça fortemente no chão.

O comensal se ajoelhou sobre Amélia e começou a socar o seu rosto. Ela conseguiu se virar e inverter a situação. A dor ficava cada vez maior. A poção estava perdendo o seu efeito rapidamente. O comensal alcançou um bastão e bateu na cabeça dela, que, sangrando e urrando de dor, caiu para o lado.

Quando o comensal estava para se jogar em cima dela, ela segurou a varinha com força e a apontou para o comensal. O pedaço de madeira penetrou em sua carne com uma facilidade indescritível. Ele ficou estático.

- Estupefaça.

Ela sussurrou e o corpo do comensal pesou sobre ela. Com muito esforço e sentindo uma dor alucinante, ela o colocou de lado e se levantou com esforço. Tentou desaparatar... Mas não surtiu efeito.

'Merda! Essa maldita casa deve estar protegida!'

Ela olhou para a porta. Teria que ser rápida. Por Severo.

Cambaleando, ela caminhou até a porta e a abriu com cautela. Silenciosamente, caminhou até a metade do jardim. As pernas não mais agüentaram seu peso e ela desabou ajoelhada. Todos a olharam. Ela não conseguiu evitar um sorriso no canto da boca.

- Adeus, otários!

E desaparatou.

XxXxXxX

Aparatou direto no ministério da magia. Estava deserto, exceto por um segurança... Que, por sorte, Amélia conhecia. Foi até o homem se arrastando. Chegou até ele. A poção agora não tinha mais efeito algum... E ela se sentia a dor em dobro, exatamente como Severo disse que aconteceria. Com a voz fraca, ela sussurrou.

- Sr. Awst... Ajuda...

E antes de ficar tudo escuro, ela escutou o homem chamar alguns nomes... Bem de longe.

XxXxXxX

Bip... Bip... Bip...

Nada, além desse som.

Bip... Bip... Bip...

Apenas o escuro e esse barulho infernal... Que, estranhamente, coincidiam com as batidas do seu coração.

Bip... Bip... Bip...

Tinha que acordar.

Os olhos obedeceram lentamente, enquanto Amélia finalmente recobrava a sua consciência.

Estava num quarto branco. Muito claro. Os olhos dela doíam... Como se não tivessem sido usados por muito tempo. Ela apertou os olhos com a mão. Os abriu de novo.

Identificou de onde vinha o barulho de bip... Era uma caixa preta que estava numa mesa ao seu lado.

Era o seu ritmo cardíaco monitorado num hospital.

'Isso quer dizer que eu não morri?'

Ela tentou chamar alguém. A garganta estava seca. Os lábios estavam secos. A pele estava seca. Tentou se sentar. As costas doíam... não a dor agonizante que ela sentia na última vez em que estava consciente, mas uma dor de quem dormiu demais... De quem passou muito tempo na cama.

'Merlin, quanto tempo eu passei aqui?'

Uma mulher vestida de branco passou por ela.

- Senh... Senhora!

A garganta doeu.

A mulher se voltou para ela, com um olhar de espanto.

- A senhorita não deveria estar sentada!

- Água.

Ainda assustada, a mulher pegou um copo de água e o entregou para Amélia, que bebeu de uma vez só. Sentia-se melhor depois de ter engolido. Já conseguia falar, pelo menos.

- Quanto tempo?

- Eu não estou autorizada a te dar informação nenhuma. Desculpa, eu tenho que chamar o Ministro!

E saiu. Por volta de quinze minutos depois, entraram no leito de Amélia a mulher, o Ministro e um homem velho e barbado... Dumbledore... que foi devidamente ignorado.

Ela sorriu triste ao ver o ministro. Como era bom ver um rosto confiável... Ver uma pessoa de quem ela gostava!

- Ministro... – Ela sentiu um nó tomar conta da sua garganta. Sem temer parecer fraca, deixou grossas lágrimas escorrerem pelo seu rosto. – Eu me demito!

XxXxXxX

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