O Alívio Final



CAPÍTULO XX. O ALÍVIO FINAL

Amélia se aproximou e segurou o cabo da faca, o examinando.

Sentou-se no chão.

Começou a acariciar a palma da mão com a ponta da faca. Depois, a desceu para o seu pulso e encravou.

Segurou a respiração.

Viu o seu espesso sangue deixar o seu corpo.

Sorriu.

Aquilo era a morte, que agora viria... O alívio final.

Ela pensou em como seria bom se livrar de tudo que vinha sofrendo esses últimos dias... Ela só precisava...

Sorrindo da dor, ela rapidamente escorregou mais a faca e a desencravou, deixando um reto e profundo corte entre os dois ossos do braço. O sangue espichou. Ela teve cuidado para não atingir o ligamento... Precisaria da força na mão para...

Firmemente ela segurou a faca. Cravou-a no outro pulso com tanta vontade que a lâmina atravessou o seu braço. Ela a ergueu um pouco e a deslizou para fazer um corte tão perfeito quanto o do primeiro braço.

Deitou-se no chão frio, sempre observando o sangue tomar conta da cozinha... Atingir seus cabelos negros... Seu rosto.

Ela sentia o cheiro do sangue como se fosse o melhor aroma do mundo... O seu gosto metálico... Começou a sentir muito frio... Sabia bem que era um resultado da falta de sangue... Sabia bem que aquilo era a vida se extinguindo dela...

Sabia bem, e se felicitava por isso, que aquele frio, era a morte entrando naquela cozinha e se colocando bem ao seu lado.

Tudo começou a se esvair da sua cabeça... Então ela começou a ter flashs na sua memória...

Viu-se pequena, brincando com uma borboleta no jardim, enquanto a sua mãe cuidava das flores... Viu-se adolescente, bêbada, roubando um beijo do seu melhor amigo... Viu-se jovem, num belo bosque...

Ouviu, bem distante, uma voz masculina dizer...

- Oh, Merlin! O que você fez, sua louca!

Ela sentiu os braços fortes de Severo Snape a segurar, abraçando fortemente.

- Amélia! Amélia, fale comigo!

Foi como despertar de um sonho bom. Com muito frio, Amélia abriu os olhos e encarou o rosto do homem que... sim, que amava. Levantou o braço para tocar o rosto dele, deixando uma trilha de sangue quando o peso do braço venceu a sua fraqueza.

- Meu amor...

Ela sorriu.

Ele deu um suspiro pesado, parecendo se aliviar por ver que ainda tinha um pouco de vida no corpo gelado da mulher. A colocou no chão e, com um toque da varinha, fechou os cortes dos pulsos de Amélia. Então, saiu correndo, quase escorregando na poça de sangue.

Voltou com uma potente poção de reposição sanguínea. Amélia se sentiu levantada mais uma vez pelo homem. Sentiu que ele tentava fazê-la beber algo... Algo que salvaria a sua vida.

'A minha vida... Não!'

Ela começou a se debater com o resto das forças que tinha. Tentava se livrar da força dele, mas era inútil. Severo a abraçou, imobilizando seus braços. Com a outra mão, empurrou o conteúdo do recipiente garganta abaixo. Amélia tossiu, cuspiu... No olho dele. Ele a soltou, só por um momento, para limpar o olho...

E, nesse momento, Amélia pegou a faca que tinha a cortado e a enfiou na perna de Severo. Ele urrou de dor... Mas, mesmo assim, a imobilizou de novo e nada pode impedir o homem de fazê-la engolir um bom bocado daquela poção.

Amélia sentiu o corpo esquentar, como um sopro de vida... Nesse momento, soube, para o seu desespero, que estava salva. Severo a colocou nos braços e a carregou até a sua cama, deixando no caminho o rastro do sangue que pingava das suas vestes... Sangue dela, e sangue que vinha da faca ainda encravada em sua perna...

Faca que caiu no meio do caminho, aumentando o corte e quase batendo no pé dele.

Ele a deitou na cama e pegou mais um frasco com a mesma poção. Sentou-se na frente dela.

- Beba.

- Não!

Uma sombra de fúria pairou sobre os olhos dele.

- Beba agora, ou eu farei você beber.

- Tente.

Ele avançou por cima dela. Ela, com um pouco mais de força começou a lutar. Enfiou o dedo na ferida que tinha aberto. Ele se contorceu. Ela, com remorso por ter causado dor nele, recuou. Ele, irritado, estalou um tapa no rosto dela. E tudo ficou parado e em silêncio.

Chocada, ela sussurrou.

- Você me bateu...

- Claro que bati! – ainda irritado – Em que você estava pensando, doida! Se eu não tivesse acordado... – Ele se levantou e começou a andar de um lado para o outro, passando as mãos pelos cabelos – Se eu não tivesse ouvido você... – Ele então parou e olhou para Amélia. A dor em seu olhar era óbvia – você estaria morta.

Ela suspirou e também deixou transparecer a dor em seu olhar.

- Essa era a idéia. Eu quero morrer.

Ele se ajoelhou na cama, na frente dela, a fúria voltando aos seus olhos.

- Nunca, você está me ouvindo? Nunca diga isso de novo!

- Por que?

- Porque... Porque eu não posso te perder.

Ela sentiu, pela primeira vez em anos, os olhos arderem. As lágrimas vieram fácil... Ela sentia como se um peso tivesse sendo tirado do coração dela. Abraçou Severo e chorou... Chorou pelos seus pais, pelos seus amigos, pelo mundo... Chorou por ela.

Entre soluços, perguntou.

- Por que você não me deixou morrer? Seria melhor...

- Não repita isso.

Ele a olhou e enxugou as lágrimas dela. Então levou o seu lábio ao dela, sentindo o gosto salgado das suas lágrimas e metálico do seu sangue. Ela não ofereceu qualquer resistência.

Ele então a soltou e pegou a poção de novo.

- Por favor, Amélia, beba.

Ainda soluçando, ela pegou o vidro e bebeu todo o seu conteúdo. Olhou para os pulsos. A linha reta dos cortes estava em alto-relevo, numa horrenda cicatriz.

Ele percebeu que ela olhava para a marca na pele com desgosto.

- Eu posso cuidar disso depois.

- Não. Eu quero ficar com essas cicatrizes.

Ele estranhou a posição da mulher, que tinha como maior preocupação apagar as cicatrizes que as batalhas pudesses eventualmente deixar. Mas, ao olhar os seus olhos, entendeu: ela queria continuar com as cicatrizes... para nunca se esquecer que um dia fora fraca. Fraca a ponto de desejar desertar a luta.

- Muito bem. Se é assim que você quer, eu não vou fazer nada para evitar. Agora descanse.

Ele se levantou e começou a andar para o banheiro, para limpar o sangue que tinha ficado nele e fechar o seu próprio corte. Ela se deitou, olhando para as cicatrizes.

- Severo...

- Sim?

- Passa essa noite comigo?

Ele parou. Virou-se e começou a andar na direção dela, parando bem perto da cama.

Debruçou-se sobre ela, mas sem tocá-la com o seu corpo, e a beijou na testa.

- Você está dolorida.

Os olhos dela voltaram a ficar marejados.

- Eu estou morrendo...

- Você não vai morrer. Eu te prometo isso.

- Mas—

- Eu tenho que ir. Descanse. Amanhã você terá um dia cheio.

E voltou para o banheiro.

Amélia afundou na cama, ignorando completamente a dor que já estava acostumada a sentir. Mordeu o lábio. Tentou imaginar por que amanhã seria um dia cheio... Se bem que não podia ser nada de bom.

O som da água caindo do chuveiro chegou aos ouvidos de Amélia. Mas não durou muito tempo... Logo tudo estava ficando escuro...

XxXxXxX

Ela acordou com uma sensação boa... Um beijo.

Abriu os olhos e conseguiu sorrir, alheia à dor que maltratava o seu corpo. Apesar de tudo, estava feliz por estar sendo tratada por ele...

'E ele disse que não podia me perder... Ai, Merlin, eu estou igual a uma adolescente que encontrou o seu primeiro namorado...'

Ela se sentou. As costas doeram. Gemeu. Ele não estava sorrindo... Na verdade, ele parecia estar tenso, preocupado com alguma coisa que Amélia não sabia saber bem o que era. Ele perguntou, exigente.

- Você se lembra de tudo que disse ontem quando foi interrogada?

- Algumas coisas.

Ele passou a mão na nuca. Sem tirar a expressão de interrogador do rosto, perguntou, sem emoção.

- Você disse que tinha certo... sentimento quanto à mim. O que exatamente você quis dizer com isso?

Amélia abaixou a cabeça. Sabia do que ele estava falando... Ela dissera que o amava... Talvez um grande erro, em se tratando de Snape.

Mas, depois do que tinha acontecido ontem, simplesmente não podia mentir.

Respirou fundo e levantou a cabeça.

- Eu acho que quis dizer exatamente o que você pensa.

- E desde quando você é... capaz de sentir esses tipos de... sentimentos?

- Eu sempre fui. Quando nós estudávamos juntos eu sentia a mesma coisa por você.

- Mas eu imaginei que, depois que você fez aquelas faculdades você tivesse... eliminado a sua capacidade de sentir.

Sorriu.

- Essa era a idéia, na verdade. Mas eu acabei não conseguindo. Sabe, eu acho que sou uma fracassada.

- De fato.

Ele se contraiu e colocou a mão sobre o braço esquerdo. Amélia soube imediatamente que ele estava sendo chamado.

'Pronto, Mia, o sonho bom acabou. Ele não gosta de você, ao contrario do que você pensou. Ele é incapaz de amar, ao contrário do que você pensou. Ele te acha uma fracassada, ao contrário do que você pensou. E ele vai te levar de volta para o matadouro, ao contrário do que você pensou.'

Ele a olhou de uma maneira estranha.

- Mia, você vai fugir hoje.

XxXxXxX

Pronto. Ela chorou. Chorou mto. Nos braços d Sevvie, numa ceninha água-com-açúcar. HuahUAHUAHUAhUAHUAH! Satisfeitos? Hehehe!

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