Entre Trevas e Lembranças
CAPÍTULO XVIII. ENTRE TREVAS E LEMBRANÇAS
A névoa encobria o chão da mansão Lestrange, empregando a ela um aspecto extremamente fúnebre. A grande comitiva lá chegava, para acompanhá-la numa pequena parte do trajeto do seu corredor da morte.
Amélia fechou os olhos e se deixou recordar...
Cabelos amarrados, uniformes camuflados... É apenas mais um dia de treinamento. Vinte mulheres estão dispostas numa fila. O general Brian McRough grita com a mulher que está ao lado de Amélia.
A mulher se controla para não chorar e McRough não parece se importar com isso. Depois de deixar a mulher dilacerada, ele parte para Amélia.
- Oficial Lair, a sua atuação hoje esteve deplorável! Se isso fosse uma situação real, você teria perdido quatro companheiros apenas para manter a sua vida! Diga-me, oficial: O QUE VALE A SUA VIDA?
- NADA, SENHOR!
- Nada! Certa resposta, oficial.
O peito de Amélia arfa. A sua roupa está encharcada e suja de terra e de sangue. O seu rosto está machucado em vários pontos, além de levemente respingado com suor. Fios de cabelo que desciam do penteado desajeitado se prendem ao suor do rosto dela. Os olhos estão cansados.
General McRough partia para a outra mulher do lado direito de Amélia... Mas ela não o deixou. Tomou ar e falou.
- PERMISSÃO PARA FALAR, SENHOR!
O general estreita os olhos e volta para Amélia.
- Concedida.
- Como ser humano, está na minha natureza lutar pela minha vida. Eu não pude evitar. Sacrificaria qualquer um para me manter viva... Senhor
- De uma vez por todas, aprenda uma coisa: Você não é um ser humano! Você é um soldado! Quanto mais da sua espécie estiver viva, melhor! Sua vida tem tanto valor quanto um saco de bosta! Nunca esqueça disso.
- Sim, senhor.
'Eu não me esqueci, Brian, eu não me esqueci.'
- Traga-nos os seus prisioneiros!
Dez aurores foram sendo trazidos por comensais da morte encapuzados. Amélia sentiu um calafrio forte passar pela espinha dela... Parecia conhecer o primeiro comensal da fila.
Os aurores estavam todos amarrados com grossas cordas. Amélia os estudou rapidamente: Os pulsos estavam esfolados, mas isso era esperado... No mais, pareciam estar bem melhor que o que se pensava.
Os dois comensais que trouxeram a fila de aurores seguraram nos braços de Amélia e lhe tomaram a varinha, deixando-a completamente indefesa. Eles a puxaram de leve e ela resistiu.
- Esperem um pouco.
Olhou para aurores que faziam rápidos testes para detectar se os seqüestrados eram eles mesmos e se tinham algum tipo de veneno no corpo. Frank acompanhava de perto e deu a notícia de que eles estavam todos bem. Amélia então deixou de resistir e seguiu os comensais. Espiou os aurores desaparecerem.
Vários comensais apareceram de esconderijos. Amélia se viu cercada. Riu-se.
- Quer dizer que a comitiva estava toda aqui? Sabe, se vocês tivessem aparecido, talvez até rolasse uma festinha.
- Engraçado, Assassina.
Ela virou o rosto para ver o já conhecido Lorde Voldemort. O seu coração deu um pulo. Ela usou toda a sua frieza e fingiu naturalidade.
- Nos encontramos novamente. Como devo te chamar?
- Lorde das trevas. Ou simplesmente de Mestre.
- O senhor não é Lorde e muito menos meu Mestre. Tente outra coisa.
- Insolente!
- Isso seria um desrespeito com você. Já sei. Vou te chamar simplesmente de 'cara'.
Voldemort a olhou cruelmente e diferiu uma maldição imperdoável... Uma das que Amélia já tinha sentido muitas vezes. Ela sentiu como se todos os seus ossos estivessem quebrando e se contorcendo. Como se o seu cérebro fosse comprimir e o coração explodir. E tudo parou.
Ela percebeu que tinha caído no chão de joelhos. Mas não tinha gritado ou derramado uma lágrima... Ah, isso ela sabia controlar muito bem. Ofegante, levantou o rosto para encarar o autor do feitiço.
- Deixe-me te dar uma dica, cara: Me mate logo. Me mate antes que você perca a chance.
- Te matar? Tão logo? Não... Eu vou me divertir com você até que você me implore para morrer.
Ela riu.
- Depois não reclame.
E ele voltou a torturá-la.
- Situação hipotética: Eu fui pega. No meio de uma missão importante. Estão me torturando. Está doendo muito.
- O que eles querem?
- Como porra eu vou saber, Brian? É uma situação hipotética!
Brian McRough baixa a cabeça e ri. Amélia coloca as mãos no rosto dele e o trás para um beijo leve. Ele, ainda se rindo, diz.
- Então, hipoteticamente, o que eles querem?
- Hm... Sei lá! Que eu faça algo que eles querem.
- Isso vai prejudicar a missão?
- Sim.
Ele segura a mão de Amélia.
- Primeiramente, não sinta dor. Você está sendo treinada para isso.
- Certo, mas é bastante difícil não sentir. Eu diria até impossível.
- Então finja que não sente. Isso desarma o seu inimigo.
- Desarma?
- Ele quer te atingir. Enquanto ele não consegue, ele se esmorece.
Ela assente, em sinal de entendimento, enquanto pula da sua cadeira para o colo de Brian.
- Não demonstrar sofrimento, então.
- Em segundo lugar, seja atrevida, mal-educada e obscena... Nisso você é boa!
Risos.
- Como isso me ajudaria?
- Mais uma vez, você demonstraria não estar sendo atingida pelas torturas. Entendido?
- Sim.
- E o mais importante: Jamais, sob nenhuma circunstancia, peça para morrer. Sofrer é melhor do que morrer covardemente.
- Então é melhor ser torturada eternamente do que pedir para morrer?
- Exato.
Horas de sofrimento se passaram, até que o corpo de Amélia não agüentou mais e cedeu ao cansaço. Pela segunda vez na sua vida, ela desmaiara de dor. Os vários comensais que faziam uma roda em volta do seu corpo pareceram satisfeitos. Os mais sádicos um tanto desapontados pelo fim da diversão. E um comensal olhava entristecido para toda a cena, embora nada transparecesse pela máscara invisível que tomava o seu rosto.
Inexpressivo, Severo Snape se aproximou de Lorde Voldemort. Fez uma longa reverência e disse calmamente.
- Posso perguntar o que Milorde pretende fazer com a moça?
- Eu poderia matá-la agora. Mas não a quero morta. Eu a quero do nosso lado, fazendo as nossas estratégias. Além disso, eu sei que ela o agrada. E você é um dos meus mais fies seguidores. Diga-me, Severo, você quer que ela viva?
O comensal deu um longo suspiro e olhou para a mulher estendida no chão. As marcas da violência manchavam a sua pele. O sangue respingado deixava a sua aparência um tanto fúnebre... Mas bela mesmo assim.
- Sim, mestre, eu quero que ela sobreviva.
- Ela deve ser muito boa de cama... Ela sobreviverá, Severo, se você fizer um pequeno trabalho para mim.
- Qualquer coisa que o senhor me pedir.
- Vá à Dumbledore. Diga ao velho tolo que você se arrependeu dos seus pecados e quer trabalhar para ele como espião. Enquanto a farsa perdurar, a vagabunda, a sua vagabunda, vive. Aceita?
Ele respondeu, sem relutar.
- Sim, Milorde.
- Então vá. E leve-a. Amanhã a quero curada dessas feridas... Para que ela possa ganhar outras.
Ele foi até o corpo maltratado da mulher a e pegou em seus braços.
XxXxXxX
Amélia acordou se sentindo como um grande pedaço de bosta. Todo o corpo doía. Cada pedacinho de músculo, cada terminação nervosa, cada célula do seu corpo pediam por trégua. Ela não se lembrava de ter jamais se sentido assim... Até o cetim dos lençóis machucava a sua pele injuriada.
'Cetim? Onde eu estou?'
Ela se sentou e examinou o local... Não era estranho.
'O quarto de Severo? O que eu estou fazendo aqui? Viva?'
Tentou se levantar. A cabeça latejava. Sentiu-se tonta. Sentou novamente na cama, arrancando um rangido das antigas molas do colchão. Em menos de dois segundos, Severo Snape chegava no quarto.
- O que você está fazendo? Amélia, você tem que ficar deitada.
Ele foi até ela e carinhosamente a deitou de volta na cama. Com a voz fraca, Amélia perguntou.
- Por que eu estou viva? E com você?
- O Lorde das Trevas não quer que você morra. Quer que você trabalhe para ele. E, quanto a você estar aqui – ele hesitou –, ele simpatiza com a idéia de você ser minha... concubina.
Amélia riu. Seu peito doeu furiosamente.
- Eu acho que não estou em condições de ser a concubina de ninguém.
- Mas estará. Você vai aceitar a proposta dele?
- E servir a alguém e ser a concubina do grande Severo Snape? Não, obrigada, eu passo.
Ele a olhou raivosamente. Mas, estranhamente, não insistiu.
- Você que sabe. Mas ele não vai descansar até lhe convencer... E você já teve uma amostra do que ele fará com você.
Ela não falou nada...
E sequer teve chance, pois Severo logo sentiu uma tão conhecida dor no braço esquerdo.
- Nós temos que ir.
- Para onde?
- Torturar você.
XxXxXxX
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