De Volta à Floresta
CAPÍTULO XIV. DE VOLTA À FLORESTA
O sangue espirrou para todo lugar.
Um grito agonizante saiu da garganta cortada.
A bandeja caiu do chão, espalhando a comida e quebrando seus vidros.
As mãos do homem foram para a varinha, e a varinha, mais uma vez, penetrou na ferida dela.
Dor.
Amélia urrou e cambaleou para trás, rasgando ainda mais a garganta do homem. Seus pés pisaram num grande pedaço de vidro. Ela caiu.
Schwartz segurou a varinha ensangüentada e fechou o corte que Amélia tinha feito, antes que perdesse muito sangue, antes que a sangria se tornasse letal.
Amélia tentou se levantar, afundando ainda mais o vidro no seu pé. Tentou correr, mas ele se jogou no chão, segurando-a pelo calcanhar. Ela caiu, batendo a sua cabeça. Ele a puxou pelo calcanhar para dentro do quarto, arrastando-a, não se importando com os cacos que, no chão, arranhava a pele dela.
A soltou. Ela tirou o pedaço do vidro enterrado no pé, tendo que fechar os olhos para conter o gemido que queria sair.
Ele trancou a porta do quarto. Foi no banheiro e liquefez os vidros. Voltou para o quarto, furioso, olhando Amélia no chão, sangrando... e ela olhando-o com fúria, respirando pesado.
- VADIA! EU AVISEI PARA VOCÊ SE COMPORTAR! CRUCIO!
Ela se contorceu com a dor da maldição proibida, que foi agravada pelos seus já-existentes ferimentos. Ele então a segurou pelos braços e a colocou de volta na cama.
O corpo dela inteiro tremia, mas o que doía mais era a raiva por não ter conseguido escapar.
Ele colocou mais uma vez a gosma verde que queimava a pele.
Amélia se contorceu.
- Você não podia ficar simplesmente quieta, não? Pior para você! Desagrade-me mais uma vez e eu te mato da maneira mais dolorosa que puder! Agora vista isso!
Ele jogou para ela um vestido preto um tanto indecente e saiu do quarto.
Amélia sentou-se, o cheiro de carne queimada finalmente empestando o quarto, enquanto via o seu ferimento borbulhar com a gosma verde.
Olhou para o vestido.
Era curto demais, decotado demais. Jamais, em sã consciência vestiria um trapo como aquele...
Mas, ainda assim, parecia não ter muita escolha.
Vestiu, sentindo-se mais nua do que estava, horas atrás.
Tentou por os cabelos em ordem...
E o esperou.
O esperou por quase uma hora, quando Frederick Schwartz finalmente entrou no quarto.
Ela se levantou, sentindo dor, ainda.
Ele riu, maldoso.
- Você parece uma prostituta.
- Jura? Eu não tinha percebido!
- Vamos.
Aproximou-se violentamente e apertou o braço dela. Começou a arrastá-la para o lado de fora do quarto.
- Tente qualquer gracinha e eu te mato.
Já do lado de fora da casa, Amélia pisou numa pedra – bem em cima de onde estava o seu corte. Ela parou por um momento.
Schwartz violentamente a puxou, exigindo que ela voltasse a andar. Amélia sentiu algo perto do seu baço se romper. Segurou a respiração, mas não parou.
Eles foram para a festa através de uma chave de portal.
Chegaram num grande salão muito decorado, que Amélia tinha a estranha sensação de conhecer. Vários garçons serviam taças e mais taças de champanhe. Risos discretos eram ouvidos por todo o salão. Todos pareciam alegres.
O comensal a levou para junto do seu mestre.
- Schwartz! Pensei que não viesse. Vejo que você trouxe a sua prostituta.
- Sim, Milorde, ela é realmente boa.
Amélia rolou os olhos.
O comensal a largou. Ela impulsivamente colocou as mãos em cima do machucado, que latejava. Sangrava.
‘Ah, ótimo!’
Enquanto o comensal fazia reverências ao seu mestre, Amélia saiu dali, ainda cambaleando pela dor. Vagou sem rumo, até que avistou...
'Severo'
E não era só Severo que estava lá. Rindo e se divertindo, estavam também Bellatrix, Augusto, Rodolphus e Lúcio Malfoy, o irmão de Augusto.
Amélia apressou o seu passo bêbado até chegar ao grupo. Apoiou-se em Severo, mas Augusto foi quem a segurou.
- Amélia! – Augusto disse, assustado.
- O lorde vai te matar! – Bellatrix suspirou. Não dava para afirmar se ela estava assustada ou felicitada com a idéia.
- Você tem que fugir! – Rodolphus completou.
Augusto se voltou para Severo, esperançoso.
- Severo, ela sabe...?
Ele entendeu.
- Sabe. Amélia, desmaie.
Ela olhou incerta para Severo, mas obedeceu. Fechou os olhos e amoleceu o corpo, sentindo-se ser amparada por Augusto Malfoy. Ele a segurou no colo. Comensais, inclusive Schwartz e o próprio Voldemort se aproximaram.
Severo disse:
- Ela desmaiou.
Agora Augusto, aborrecido.
- Esse pateta a trouxe ferida. Está sangrando muito. Não podemos deixá-la aqui. Estragará a festa.
- É verdade, Augusto. – Rodolphus completou – Ela deve ir para algum quarto.
A voz fria de Voldemort, agora, soou.
- Leve-a para o seu quarto, Severo.
- Isso pode não ser uma boa idéia.
- Eu acho que não pedia a sua opinião, Severo. Apenas leve-a.
- Mas, milord...
- Não conteste minhas ordens! Leve-a.
Ele, Schwartz e Voldemort levaram-na para o antigo quarto de Severo. Ela foi deitada cuidadosamente na cama. Schwartz colocou uma poção com cheiro muito forte embaixo do nariz dela. Ela fingiu despertar.
- Vaca!
Ele a esbofeteou na cara. Depois se jogou em cima dela. Beijou violentamente seu pescoço e colo, sem o mínimo carinho, rasgando parte do vestido, enquanto Amélia se debatia, sem forças para lutar. Snape, que não gostou nada do que viu. Aproximou-se em passos largos, o segurou pelo colarinho e o esmurrou, fazendo Schwartz cair no chão. Chutou o estomago dele.
E disse, ríspido.
- Na minha casa não.
Voldemort, na porta, cruzou os braços.
- Severo? Você sente algo por essa aí?
Virou-se, respeitoso.
- Sim, milorde. Posse. Ela sempre foi minha.
- Pena que ela não é a sua escrava. Não posso tomá-la de Frederick. Agora vamos.
Ele olhou por um momento nos olhos de Amélia, um brilho esperto nele.
- Milorde, nesse quarto há...
- Eu não quero saber, Severo. Saia e traga esse fracasso de gente com você!
Os quatro deixaram o quarto. Ela se levantou assim que ouviu o click da porta.
Não demorou a reconhecer o quarto de Severo Snape... Onde tinha a passagem secreta.
'Obrigado, Severo! Obrigado!'
Ela foi até o canto do quarto onde deveria ficar o portal e bateu levemente no assoalho, até achar o local onde o som da madeira é diferente. Tentou levantar as toras de madeira com as unhas... Só conseguiu após quebrar quatro e deixar os dedos esfolados.
Entrou na poça prateada, chegando à escura caverna. Colocou o assoalho no lugar, como Severo, um dia na sua juventude, fizera.
Sem Severo, a caverna não parecia nada romântica. Era muito escura. Quase impossível ver qualquer coisa lá dentro. Morcegos voavam de um lugar para outro, como se quisessem a assustar de propósito.
Aproximou-se do lago.
A água estava enregelante. Ela gemeu quando atingiu a ferida. Ardeu.
Ela caminhou rapidamente até a ponta e penou para achar o lugar onde tinha a pequena abertura que dava no jardim encantado. Mas conseguiu. Nadou um pouco, mas com muita dificuldade, a sensação de ter algo rompido cada vez mais forte. Saiu do outro lado da cachoeira. A atravessou.
A luz finalmente atingia seus olhos, fazendo-a perceber, pelo vermelho da água, que estava sangrando muito. Olhou ao redor.
Mais uma vez, se impressionou em como aquilo tudo poderia ser diferente, dependendo da situação. As fadas tinham um brilho quase assassino... As borboletas encantadas voavam na direção de Amélia, como se tivessem a ameaçando. Ela escutou um barulho. Foi se esconder atrás de uma pedra.
- Mia! Apareça.
Ela espiou. Era Severo. Ela até pensou em ficar escondida, mas confiava nele. Cegamente. E se odiava por isso.
Saiu do seu esconderijo.
- Você precisa sair daqui! Vamos.
Ele pegou a mão dela e começou a guiá-la para dentro da floresta. Ele parecia conhecer aquilo tudo muito bem. Acabaram encontrando um testrálio.
Virou-se.
- Hogwarts é aqui perto. Você estará a salvo com o velho imbecil. Não saia de lá por nada nesse mundo! O Lorde te quer morta!
- Eles sabem chegar lá?
- Sim. Essa floresta é uma extensão da Floresta Proibida. Esses testrálios são de lá.
Ela pousou a mão sobre as costelas proeminentes do animal.
- Por que você me ajudou?
Ele a olhou incerto. Do que dizer? Da resposta?
Hesitou por um momento e então acariciou suavemente o rosto dela.
- Eu não sou quem você pensa, Amélia.
- Quem é você, Severo?
O semblante dele se endureceu.
- Eu nada posso dizer. Todos estarão mais seguros com o meu silêncio, inclusive você. Um dia você saberá.
Ela sorriu honestamente. Delineou o rosto dele com um dos seus dedos esfolados.
- Tem monstros no seu armário, Severo?
- Como em qualquer armário.
- Que bom!
Ela colocou a mão na nuca dele e então o puxou para o beijo mais sincero que tinha dado nos últimos anos. Sem luxúria... Sem pedir nada em troca... Apenas...
Ele deixou os lábios dela e a apertou forte. Machucou, mas ela não se importou. Ele beijou a testa dela.
Amélia suspirou.
- Eu queria ter mais tempo.
- Mas não tem. Você já perdeu muito sangue. Tem que se curar logo.
Ele desapareceu na floresta. Ela montou no testrálio.
Amélia acariciou a pele ossuda do bicho.
- Para Hogwarts, meu amigo.
O animal levantou vôo...
E ela se pegou sentindo uma alegria que há muito tempo não sentia.
XxXxXxX
Reviews, por favor.
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!