Capítulo 8
N/A: Uma cena muito esperada nesse capítulo, rsrs! Boa leitura!
Capítulo Oito
— Não tenho palavras para dizer quanto lamento o que aconteceu ontem à noite — Sirius desculpou-se com Hermione, durante o café da manhã, no dia seguinte. — Errei ao anunciar seu noivado com Harry, mas tinha esperança de que vocês dois pudessem se dar bem. Quando lady Brown... Bem, a mulher é uma bruxa velha e a filha vem tentando conquistar Harry há dois anos. Foi por isso que as duas vieram vê-la, assim que souberam da sua chegada.
— Não há necessidade de explicar tudo de novo, tio Sirius — Hermione falou em tom gentil. — Nenhum grande mal foi feito.
— Talvez não, mas além de todos os defeitos que você já pôde constatar, lady Brown é a maior mexeriqueira da região. Agora que sabe que você está aqui, vai se encarregar de contar isso para todos os conhecidos. O que significa que, em breve, teremos uma fila de visitantes, todos ansiosos para dar uma olhada em você. Em conseqüência, teremos de providenciar uma acompanhante adequada, para que ninguém se ponha a questionar o fato de você estar morando com dois homens solteiros.
Sirius ergueu os olhos quando Harry entrou na sala de jantar. Hermione ficou imediatamente tensa, rezando para que a trégua da noite anterior resistisse à luz do dia.
— Harry, eu estava explicando a Hermione sobre a necessidade de uma acompanhante. Mandei um recado para Sibila Trelawney — acrescentou, referindo-se à tia solteirona que, no passado, ajudara a cuidar do pequeno Jaime. — Sei que ela não tem muito bom senso, mas é a única parente viva que possuo, além de ser a única acompanhante aceitável para Hermione que conheço. E, também, Sibila conhece bem as regras sociais.
— Tudo bem — Harry respondeu, distraído, antes de se aproximar de Hermione. — Espero que não esteja sofrendo nenhum efeito indesejável da sua primeira experiência com conhaque.
— Nenhum — ela respondeu com um sorriso. — Na verdade, até gostei da bebida, depois que me acostumei àquele gosto horrível!
Um sorriso lento curvou os lábios de Harry e Hermione sentiu o coração disparar. Harry Potter possuía um sorriso capaz de derreter geleiras!
— Cuidado para não gostar demais — ele advertiu em tom de provocação, acrescentando: —, prima.
Distraída com planos de transformar Harry em um verdadeiro amigo, Hermione não prestou atenção à conversa entre os dois homens, até Harry se dirigir a ela:
— Está me ouvindo, Hermione?
Ela ergueu os olhos, confusa.
— Desculpe, não estava prestando atenção.
— Na sexta-feira, receberei a visita de um vizinho que acaba de retornar da França — Harry explicou. — Se ele trouxer a esposa, gostaria de apresentá-la a você. A condessa Weasley é um excelente exemplo de como uma mulher deve se comportar na sociedade. Espero que você a observe e a imite.
Hermione corou, sentindo-se como uma criança malcomportada, que acabara de receber uma ordem de seguir o exemplo de outra. Além do mais, já conhecera quatro aristocratas ingleses: Sirius, Harry, lady Brown e Lilá Brown. Com exceção de Sirius, eram todos pessoas extremamente difíceis de se conviver, o que não a tornava nem um pouco ansiosa para conhecer mais dois. Ainda assim, tratou de reprimir os maus sentimentos e afastar o medo.
— Obrigada — falou com delicadeza. — Estou ansiosa para conhecê-los.
Hermione passou os quatro dias seguintes ocupada em escrever cartas, ou desfrutando da companhia agradável de Sirius. Na tarde do quinto dia, foi até a cozinha, a fim de apanhar restos de comida para Bichento.
— Aquele animal logo terá peso suficiente para sustentar um cavaleiro no lombo, se continuar a alimentá-lo com tamanha fartura! — a sra. Pomfrey comentou de bom humor.
— Ele ainda tem muito o que engordar, antes de chegar a esse ponto — Hermione replicou, retribuindo o sorriso. — Posso pegar aquele osso grande, ou pretende usá-lo para fazer sopa?
Assegurando que não, a sra. Pomfrey entregou-lhe o osso. Hermione agradeceu e já estava na porta, quando se lembrou de algo e voltou a encarar a cozinheira.
— Ontem à noite, o senhor Potter, ou melhor, o lorde — corrigiu-se, notando que as criadas ficavam tensas só de ouvir o nome do patrão — disse que o pato assado foi o melhor que já comeu na vida. Não sei se ele se lembrou de dizer isso à senhora, mas achei que gostaria de saber.
As faces gorduchas da sra. Pomfrey coraram de prazer.
— Obrigado, milady.
Com um sorriso, Hermione saiu à procura de Bichento.
— Aí está uma verdadeira lady — a cozinheira disse às outras criadas. — É gentil e amável e não se parece nem um pouco com aquelas mulheres insípidas de Londres, nem com as criaturas antipáticas que o lorde trás para Gryffindor, de tempos em tempos. McLaggen ouviu sua alteza dizer a lady Brown que ela é condessa.
Hermione levou a comida ao lugar onde vinha deixando pratos com sobras durante os últimos nove dias. Em vez de espiá-la de seu esconderijo, atrás das árvores, como geralmente fazia, Bichento se adiantou alguns passos, assim que a viu.
— Veja o que eu trouxe hoje — ela falou, tentando atraí-lo para mais perto. Sentiu o coração disparar ao vê-lo aproximar-se ainda mais. — Se me deixar afagá-lo, Bichento, trarei outro osso depois do jantar.
Ele permaneceu imóvel, observando-a com desconfiança e medo. Dando um passo na direção do animal, Hermione se abaixou para colocar o prato no chão, continuando:
— Sei que você quer comer. E eu quero ser sua amiga. Provavelmente, está pensando que a comida é algum tipo de suborno. E tem toda a razão! Sou tão solitária quanto você e acho que poderíamos ser amigos. Nunca tive um cachorro antes, sabia?
Bichento olhou para a comida e, então, voltou a fixar os olhos em Hermione, sem desviá-los, nem mesmo enquanto se inclinava sobre o prato e devorava o alimento. Hermione continuou falando em tom suave, na esperança de tranqüilizá-lo:
— Não sei no que o senhor Potter estava pensando quando decidiu chamá-lo de Bichento. Você não tem cara de Bichento! Eu o chamaria de Lobo, ou Imperador, ou qualquer outro nome tão forte e feroz quanto a sua aparência.
Assim que acabou de comer, Bichento começou a se afastar, mas Hermione estendeu a mão esquerda, apresentando-lhe o osso enorme.
— Vai ter de tirá-lo da minha mão, se quiser comê-lo — avisou.
O cachorro examinou o osso por um breve instante, antes de abocanhá-lo da mão de Hermione. Ela pensou que ele fosse correr para o bosque imediatamente, mas, para sua surpresa e profunda satisfação, ele se acomodou a seus pés e se pôs a roê-lo.
Hermione foi invadida por uma súbita sensação de que, finalmente, os céus estavam sorrindo para ela. Já não se sentia indesejada em Gryffindor, uma vez que os dois Potter eram, agora, seus amigos. E, em breve, ela teria Bichento como companhia, também. Ajoelhou-se e afagou a cabeça do cachorro.
— Você está precisando de uma boa escovada nos pêlos — diagnosticou. — Gostaria que Ginny o visse. Ela adora animais e tem um jeito especial de tratá-los. Tenho certeza de que ela o ensinaria a fazer uma porção de truques, em pouquíssimo tempo — acrescentou sorrindo e ao mesmo tempo sentindo o coração doer de saudade da irmã.
No meio da tarde do dia seguinte, Slughorn foi à procura de Hermione, a fim de informá-la de que lorde Weasley acabara de chegar e lorde Potter pedia que ela fosse até o escritório.
Apreensiva, Hermione examinou a própria imagem refletida no espelho. Então, sentou-se à penteadeira e prendeu os cabelos em um coque impecável, preparando-se para ser apresentada a um aristocrata frio e orgulhoso, da idade de lady Brown.
— A carruagem dela quebrou perto daqui e dois camponeses a trouxeram na carroça — Harry contava a Ronald Weasley, com um sorriso seco. — Quando retiravam o baú de Hermione da carroça, dois leitões escaparam e ela apanhou um deles no exato momento em que Slughorn abriu a porta. Ao vê-la com um leitão nos braços, ele a confundiu com uma camponesa e mandou que fosse fazer sua entrega na porta dos fundos. Quando Hermione tentou explicar quem era, Slughorn ordenou a um lacaio que a expulsasse da propriedade — terminou, entregando um copo de vinho clarete ao amigo.
O conde riu.
— Meu Deus! Que recepção! — Ergueu o copo em um brinde. — A sua felicidade e à paciência de sua noiva.
Harry franziu o cenho e Ronald explicou:
— Como ela não deu meia-volta e pegou o primeiro navio de volta para a América, só posso concluir que a senhorita Granger é uma moça muito paciente. O que é uma qualidade mais que desejável em uma noiva.
— O anúncio de noivado no Times foi obra de Sirius — Harry esclareceu de pronto. — Hermione é uma prima distante e, quando soube que ela vinha para a Inglaterra, ele decidiu que eu deveria me casar com ela.
— Sem consultá-lo antes? — Ronald indagou, incrédulo.
— Fiquei sabendo que estava noivo exatamente como todos souberam: lendo o jornal.
Os olhos azuis do conde iluminaram-se com um brilho divertido.
— Imagino que tenha ficado um tanto surpreso;
— Furioso — Harry corrigiu. — Já que entramos nesse assunto, eu esperava que você trouxesse sua esposa hoje, para que Hermione pudesse conhecê-la. Luna é pouco anos mais velha que Hermione e acho que as duas poderiam se tornar amigas. Para ser franco, Hermione vai precisar de uma amiga, aqui. Foi um escândalo quando a mãe dela decidiu se casar com um médico irlandês e tenho certeza de que lady Brown planeja reavivar o mexerico. Além disso, Hermione é neta da duquesa de Claremont, que não se mostrou disposta a reconhecer a garota. Hermione é condessa por direito, mas o título não vai garantir que seja aceita pela sociedade. É claro que Sirius vai lhe dar todo o apoio necessário, que garantirá que, ao menos, ninguém a rejeite abertamente.
— Ela contará com o peso da sua influência também, o que é considerável — Weasley comentou.
— Não em se tratando de estabelecer a reputação de uma jovem inocente e virtuosa — Harry lembrou-o.
— Verdade — Ronald concordou com uma risada.
— De qualquer maneira, Hermione conheceu apenas as duas Brown como amostra da aristocracia inglesa. Achei que sua esposa poderia lhe dar uma impressão melhor. Na verdade, sugeri a Hermione que observasse Luna como sendo um bom exemplo de comportamento...
Ronald Weasley atirou a cabeça para trás, emitindo uma sonora gargalhada.
— Disse isso a ela? Nesse caso, trate de começar a rezar para que lady Hermione não siga o seu conselho. O comportamento de Luna é excelente... tanto que ela enganou até mesmo você, fazendo-o acreditar que é um modelo de virtude. Acontece que vivo resgatando minha doce esposa de terríveis encrencas. Nunca vi jovem mais determinada e teimosa.
— Nesse caso, Hermione e Luna vão se dar muito bem — Harry concluiu.
— Vejo que está muito interessado nela — Ronald comentou.
— Somente como guardião, embora tenha recebido tal incumbência contra a minha vontade.
Hermione parou diante da porta do escritório, alisou a saia do vestido de musselina verde-claro, bateu e entrou. Encontrou Harry sentado em uma poltrona, conversando com um homem mais ou menos da mesma idade que ele. Quando a viram, os dois pararam de falar e se puseram de pé, o que exaltou as semelhanças entre eles. Assim como Harry, o conde era alto, atraente e possuía porte atlético. Somente os cabelos e os olhos eram diferentes, de um vermelho não muito escuro e os olhos azuis. Por outro lado, ele possuía a mesma aura de calma autoridade que Harry exibia, embora fosse menos assustador. Havia em seus olhos um brilho de humor e seu sorriso era mais amigável do que irônico. Ainda assim, não parecia ser um homem que qualquer pessoa em sã consciência pretendesse ter como inimigo.
— Desculpe-me por ter encarado o senhor — Hermione falou, quando Harry terminou as apresentações. — quando vi os dois juntos, reconheci algumas semelhanças.
— Tenho certeza de que isso foi um elogio, milady — Ronald Weasley comentou, sorrindo.
— Não foi, não — Harry corrigiu-o em tom de brincadeira.
Hermione tentou desesperadamente pensar em algo para dizer, mas nada lhe ocorreu. Felizmente, foi poupada de maior embaraço pelo conde, que lançou um olhar indignado para Harry, inquirindo:
— Ora, que resposta lady Granger poderia dar a tal comentário?
Hermione não ouviu a resposta de Harry, pois sua atenção se desviou para outro ocupante do aposento: um garotinho adorável, de uns três anos de idade, que a fitava com fascinação muda, segurando um barquinho nos braços. Com cabelos vermelhos e olhos azuis-claros, era a miniatura do pai, até mesmo nas roupas que usava. Hermione sorriu para o menino.
— Acho que ninguém nos apresentou — comentou.
— Desculpe-me — o conde falou. — Lady Hermione, permita-me apresentar-lhe meu filho, John.
O menino depositou o barquinho na cadeira a seu lado e curvou-se com um gesto reverente. Hermione retribuiu, segurando a saia, abaixando-se e inclinando a cabeça. O menino soltou uma risada infantil e, apontando para os cabelos dela, olhou para o pai.
— Marrom? — indagou.
— Sim — Ronald confirmou.
— Bonito — John sussurrou, provocando uma gargalhada do pai.
— John, você é jovem demais para tentar conquistar uma lady!
— Ora, mas não sou uma lady — Hermione corrigiu-o, já apaixonada pelo garotinho. — Sou marinheira! — Como John a estudasse com ares de dúvidas, ela acrescentou: — E muito boa. Meu amigo Draco e eu costumávamos construir barquinhos e fazê-los navegar pelo rio, quando éramos crianças. Que tal levarmos o seu barco até o riacho?
John assentiu e Hermione virou-se para o conde, em busca de permissão.
— Tomarei conta dele — assegurou — e do barco, é claro.
Assim que Ronald consentiu, John deu a mão a Hermione e os dois saíram do escritório.
— É evidente que ela adora crianças — o conde observou.
— Ela mesma é pouco mais que isso. — Harry replicou com indiferença.
Ronald virou-se e observou a bela jovem que atravessava o hall. Então, voltou a encarar Harry, erguendo as sobrancelhas com ar de contradição. Porém, não disse nada.
Hermione passou quase uma hora sentada em um cobertor estendido à margem do riacho que cortava os jardins. Com o sol a banhar-lhe o rosto, inventava histórias sobre piratas e tempestades que, supostamente, haviam atacado seu navio durante a viagem da América para a Inglaterra. John ouviu, encantado, segurando com firmeza a linha de pesca que Hermione amarrara ao barquinho, que flutuava na água. Quando o menino se cansou das águas calmas em que seu barquinho navegava, Hermione tomou a linha e os dois seguiram pela margem, até onde o riacho se tornava fundo, passando por debaixo de uma ponte de pedras. Ali, as águas eram um pouco turbulentas, graças a um tronco de árvore caído havia tempos.
Então, Hermione devolveu a linha a John, instruindo-o:
— Segure com firmeza, ou o barco vai bater contra aquele tronco.
— Vou segurar — ele respondeu, sorrindo.
Hermione havia se afastado alguns passos, a fim de colher algumas das flores coloridas que cresciam à margem do riacho, quando John gritou, aflito por ter soltado a linha em um momento de distração.
— Fique onde está! — Hermione ordenou em tom urgente, correndo para o menino.
Esforçando-se para não chorar, John apontou para o barquinho, que deslizava diretamente para os galhos da árvore caída debaixo da ponte.
— Escapou — ele balbuciou, enquanto as lágrimas faziam seus olhos brilharem. — Foi tio George quem fez o barquinho para mim. Ele vai ficar triste.
Hermione hesitou. Embora aquele trecho fosse fundo, ela e Draco haviam resgatado seus barquinhos do rio muito mais perigoso, onde costumavam brincar. Olhou para os lados e para a margem, certificando-se de que ficaria fora de vista. Então, tomou sua decisão.
— Ainda podemos salvá-lo — declarou com firmeza, já tirando o vestido e os sapatos. — Sente-se aqui e espere. Vou buscar o seu barquinho.
Vestindo apenas a combinação, Hermione entrou na água e, quando já não podia sentir o leito do riacho sob os pés, pôs-se a nadar com braçadas vigorosas. Foi fácil encontrar o barquinho. A única dificuldade consistiu em libertar a linha de pesca resistente que havia se enroscado nos galhos da árvore. Assim, Hermione mergulhou diversas vezes, para delícia de John que, aparentemente, nunca antes vira alguém nadar ou mergulhar. Apesar da água fria e turbulenta, o exercício era revigorante e Hermione deu as boas-vindas à quase esquecida sensação de liberdade que a invadiu.
Preocupada em verificar que John não tentaria juntar-se a ela, Hermione acenou e gritou:
— Vou conseguir desta vez! Fique onde está e espere que o nosso navio receba socorro!
Depois de vê-lo assentir com grave obediência, Hermione se sentiu mais tranqüila e voltou a mergulhar.
— Slughorn disse que os dois vieram na direção da ponte e... — Harry parou de falar quando a palavra “socorro” alcançou seus ouvidos.
Os dois homens dispararam na direção da ponte. Tropeçando e escorregando, desceram até a margem, correndo na direção de John. Ao alcançá-lo, Ronald segurou o filho pelos ombros.
— Onde está ela? — indagou, alarmado.
— Debaixo da ponte — o garotinho respondeu com um sorriso. — Ela mergulhou para salvar o barco que tio George fez para mim.
— Ah, meu Deus! Aquela maluca! — Harry murmurou, aflito, já tirando o casaco e correndo para a água.
De repente, uma sereia de cabelos castanhos emergiu na superfície, o corpo em arco, os lábios curvados em um sorriso triunfante e os cabelos molhados sobre os olhos.
— Consegui, John! — gritou, alegre.
— Maravilha! — o menino gritou em resposta, batendo palmas.
Harry imobilizou-se, sentindo o terror se transformar imediatamente em fúria cega, enquanto observava Hermione nadar com facilidade para a margem, seguida do barquinho. Com as pernas afastadas, as mãos na cintura e uma expressão aterrorizante no rosto, aguardou com impaciência a chegada dela à margem.
Compreendendo e até mesmo partilhando os sentimentos do amigo, Ronald Weasley lançou-lhe um olhar de simpatia, antes de puxar o filho pela mão.
— Vamos voltar para dentro da casa, John — ordenou com gentil firmeza. — Acho que lorde Potter quer dizer alguma coisa à senhorita Hermione.
— Ele vai dizer “obrigado”?
— Não exatamente.
Hermione saiu da água de costas e continuou assim, dando passos para trás, enquanto içava o barquinho para a terra firme.
— Viu, John? Eu não disse que conseguiríamos salvar o seu...
Suas costas colidiram em cheio com algo grande, imóvel e resistente, ao mesmo tempo em que um par de mãos fortes seguravam seus ombros, forçando-a a virar-se.
— Sua maluca! — Harry declarou entre dentes. — Maluca! Poderia ter se afogado!
— Não... não, eu não estava correndo o menor perigo — ela explicou depressa, assustada pela ira que obscurecia os olhos dele. — Sei nadar muito bem... você deve ter visto...
— Assim como o criado que quase morreu, neste mesmo ponto, no ano passado! — ele a interrompeu.
— Ora, quebrar meus braços não vai ajudar em nada! — Hermione queixou-se, esforçando-se em vão para se libertar das mãos implacáveis que a mantinham prisioneira. — Vejo que o assustei e sinto muito por isso, mas não corri nenhum risco... não fiz nada errado.
— Não fez nada errado? Não correu nenhum risco? Harry repetiu, em tom cada vez mais assustador, ao mesmo tempo em que baixava os olhos para o decote profundo da combinação, fazendo Hermione se lembrar de que, além de muito molhada, estava quase nua. — Imagine que outro homem estivesse aqui, agora, olhando para você desse jeito. O que acha que poderia acontecer?
Hermione engoliu em seco, lembrado-se de uma vez em que chegara em casa muito depois do anoitecer. Seu pai já havia organizado um grupo para procurá-la pelos bosques. A primeira reação dele fora de profundo alívio e alegria. Depois... Hermione passara alguns dias sem conseguir se sentar confortavelmente.
— Não sei o que poderia acontecer... Acho que qualquer pessoa que me encontrasse aqui me daria minhas roupas e...
Os olhos de Jason voltaram a baixar para o decote que expunha boa parte dos seios fartos, que subiam e desciam rapidamente, acompanhando a respiração ofegante de Hermione e ao mesmo tempo ressaltando o fato de que ela era uma mulher extremamente desejável, e não a criança que Harry tentara se convencer que era.
— Pois vou lhe mostrar o que poderia acontecer! — ele anunciou com voz rude e, no instante seguinte, seus lábios pousavam com violência sobre os dela.
Hermione se contorceu, tentando escapar aos braços de ferro e ao beijo poderoso. Porém, sua luta pareceu deixá-lo ainda mais furioso e cruel.
— Por favor — ela implorou, quase chorando. — Sinto muito se o assustei...
Lentamente, as mãos de Harry afrouxaram o aperto nos ombros de Hermione. Então, ele ergueu a cabeça e fitou-a diretamente nos olhos. Com um gesto automático, ela cruzou os braços sobre o peito. Seus cabelos caíam como um lençol sobre os ombros, seus olhos, não disfarçavam o medo e o arrependimento.
— Por favor — ela balbuciou com voz trêmula, tentando desesperadamente recuperar a trégua que haviam mantido durante quase cinco dias. — Não fique zangado. Não tive a intenção de assustá-lo. Aprendi a nadar quando era criança, mas só agora percebo que não deveria ter feito o que fiz hoje.
A admissão franca e direta de Hermione apanhou Harry de surpresa. Todos os ardis femininos já haviam sido usados com ele, desde que fizera fortuna e conquistara um título de nobreza, mas sempre sem sucesso. A total ausência de malícia de Hermione, somada àquele rosto bonito e inocente e à sensação do corpo delicado pressionado contra o dele, atuaram como um potente afrodisíaco. O desejo tomou conta de Harry, fazendo o sangue ferver em suas veias, e seus braços apertarem-na contra si.
Hermione viu algo primitivo e assustador nos olhos dele, que não soube reconhecer. Sobressaltada, abriu a boca para gritar, mas não teve tempo para isso, pois os lábios de Harry voltaram a pousar sobre os dela, deixando-a atordoada. Hermione resistiu por alguns momentos, mas foi lentamente invadida por uma sensação também desconhecida, ao sentir as mãos dele deslizarem com ternura por suas costas.
Buscando o equilíbrio que aquele contato destruía, ela pousou as mãos no peito largo, despertando nele a reação imediata de apertá-la ainda mais. Tomada por ímpetos mais intensos a cada momento, Hermione se deixou apoiar no corpo dele, entregando-se àquela exploração deliciosa de seus lábios. Então, ele aprofundou o beijo, tornando o contato mais íntimo, de uma maneira que ela jamais experimentara, nem sequer imaginara possível.
Apavorada, atirou a cabeça para trás, empurrando-o.
— Não! — gritou.
Ele a soltou de súbito e respirou fundo, os olhos fixos no chão. Hermione encarou-o, furiosa, já esperando que Harry pusesse a culpa por aquele beijo indecoroso sobre seus ombros.
— Imagino que eu tenha sido culpada por isso — declarou, zangada. — Sem dúvida, você vai dizer que eu estava pedindo para ser tratada desta maneira!
Ao ver os lábios de Harry se curvarem em um esboço de sorriso, Hermione teve a impressão de que ele estava lutando para recuperar a compostura.
— Você cometeu o primeiro erro — ele finalmente murmurou. — O último foi meu. Desculpe.
— O quê? — ela inquiriu, sem acreditar no que ouvira.
— Ao contrário do que você evidentemente pensa de mim, não tenho o hábito de seduzir garotas inocentes...
— Eu não estava correndo o risco de ser seduzida — Hermione mentiu.
Um brilho zombeteiro iluminou os olhos de Harry.
— Não? — ele indagou com uma pontada de divertimento.
— De jeito nenhum!
— Nesse caso, é melhor você se vestir, antes que eu me sinta tentado a provar que está completamente enganada.
Hermione abriu a boca, pensando em dar uma resposta à altura do comentário insolente, mas o sorriso de Harry foi mais do que sua indignação era capaz de enfrentar.
— Você é impossível! — limitou-se a declarar, sem grande convicção.
— Tem razão — Harry concordou e lhe deu as costas para que ela pudesse se vestir.
Lutando desesperadamente para controlar as emoções caóticas, Hermione se vestiu depressa. Draco a beijara várias vezes antes, mas nunca daquela maneira. Harry não devia ter feito o que fizera, assim como não deveria estar se mostrando tão diferente, agora. Hermione estava convencida de que tinha todos os motivos para se sentir furiosa com ele, mas lhe ocorreu que, talvez, na Inglaterra os costumes fossem outros. Era possível que as mulheres dali reagissem a beijos como aquele com naturalidade. O que a faria parecer tola, se desse maior importância ao fato. E, mesmo que o fizesse, Harry trataria o assunto como sendo insignificante, como, aliás, já estava fazendo. Concluiu que não teria nada a ganhar, irritando-se mais do que já fizera naquela tarde. Ainda assim, não pôde controlar por completo a sua raiva.
— Você é mesmo impossível! — repetiu.
— Já concordamos com isso.
— E, também, é imprevisível.
— Em que sentido?
— Ora, cheguei a pensar que fosse me bater por eu ter assustado você. Ao contrário, você me beijou! Estou começando a pensar que você e o seu cachorro são muito parecidos. Os dois aparentam ser muito mais ferozes do que realmente são.
— Meu cachorro? — Harry indagou, aparentemente sem saber do que ela estava falando.
— Bichento — Hermione esclareceu.
— Você deve ter pavor de passarinhos, se acha que Bichento parece feroz.
— Estou chegando à conclusão de que não há motivo para ter medo de nenhum de vocês dois.
Um sorriso maroto curvou os lábios sensuais de Harry, enquanto ele se abaixava para apanhar o barquinho de John.
— Não conte isso a ninguém, ou vai arruinar a minha reputação.
Hermione ajeitou o cobertor sobre os ombros e, então, empinou o queixo.
— E você tem reputação?
— A pior possível. Quer que eu lhe conte os detalhes sórdidos?
— É claro que não! — Hermione respondeu de pronto e, reconhecendo o leve arrependimento por tê-la beijado de maneira tão atrevida, decidiu tomar coragem e tocar no assunto que a incomodava havia dias: — Existe uma maneira de você compensar o seu erro.
Harry lançou-lhe um olhar especulativo.
— Eu diria que um erro justifica o outro, mas diga o que você quer.
— Quero minhas roupas de volta.
— Não.
— Você não compreende! Estou de luto pela morte de meus pais.
— Compreendo muito bem, mas não acredito que a dor possa ser grande a ponto de não ser guardada dentro de nós. Assim como não acredito nas exibições de luto. Além do mais, Sirius e eu queremos que você construa uma vida nova aqui.
— Não preciso de vida nova! Ficarei aqui somente até Draco vir me buscar e...
— Ele não virá, Hermione — Harry a interrompeu em tom implacável. — Ele não escreveu uma única carta em todos esses meses.
As palavras atingiram Hermione como uma lâmina afiada.
— Ele virá! Sei que virá. Não houve tempo para as cartas chegarem.
A expressão de Harry se tornou mais dura.
— Espero que esteja certa, mas continua proibida de vestir roupas pretas. O luto deve ser guardado no coração.
— Como você sabe? Se tivesse coração, não me forçaria a usar estas roupas, como se meus pais não tivessem existido. Você não tem coração!
— Tem razão. Não tenho coração. Trate de se lembrar disso e não cometa o erro de acreditar que, por baixo da máscara feroz, sou tão manso quanto um cãozinho de estimação. Muitas mulheres pensaram assim e se arrependeram.
Hermione se afastou com pernas trêmulas. Como fora acreditar que poderiam se amigos? Harry era frio, cínico, e amargo, além de ser dono de um temperamento irascível e, claro, de ser completamente desequilibrado! Nenhum homem em sã consciência seria capaz de beijar uma mulher com ternura e paixão, para se tornar frio e cruel alguns instantes depois. Não, Harry não era um cãozinho de estimação, mas sim tão perigoso quanto a pantera que a fazia lembrar, com seus cabelos negros e olhos verdes.
Chegaram juntos aos degraus que levavam à porta da frente da mansão. O conde Weasley encontrava-se à espera deles, já montado em seu esplêndido cavalo alazão, com John confortavelmente instalado a sua frente.
Zangada e envergonhada, Hermione balbuciou uma breve despedida para o conde e, forçando um sorriso, devolveu o barquinho para John. Então, correu para dentro de casa.
John observou-a desaparecer e, então, olhou para Harry e, em seguida, para o pai.
— Ele não a repreendeu, não é, papai? — perguntou, ansioso.
Ronald ergueu o olhar divertido da camisa molhada de Harry para o seu rosto.
— Não, John. Lorde Potter não repreendeu a senhorita Hermione. — Então, dirigiu-se a Harry: — Devo pedir a Luna que venha visitar a senhorita Granger amanhã?
— Venha com ela para que possamos terminar a nossa discussão de negócios.
Ronald assentiu. Passando um braço protetor em torno do filho, esporeou de leve o alazão, que saiu em trote suave pelo jardim.
Harry observou-os partir, a expressão se tornando amarga à medida que, pela primeira vez, ele se permitia encarar o que realmente acontecera na margem do riacho.
N/A: Aeeeeee, primeiro beijo, e primeira aparição do Ron. O pessoal já deve ter percebido que apesar de lutar contra isso a Hermione mexe muito com o Harry e esse beijo foi uma grande prova disso. Tem muito o que acontecer ainda, e esse casamento ainda vai dar o que falar.
Eu queria agradecer novamente ao pessoal que comentou, esse capítulo era pra ter sido postado ontem, mas a minha internet não estava ajudando, quem não tem banda larga passa por essas coisas né, rsrs E pra quem perguntou se eu tenho orkut, o endereço é esse:
http://www.orkut.com/Profile.aspx?uid=17388488205662605612
Se for me adicionar deixa scrap antes vlw?
Bom o próximo capítulo sai em breve!!!
Muito Obrigada aos leitores,
Jéssica Malfoy
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