Capítulo 7



N/A: Capítulo grande, saberemos um pouco mais sobre o passado do Sirius!!!
Boa Leitura!

Capítulo Sete

No dia seguinte, Sirius levou Hermione para um passeio de carruagem pela vila mais próxima e, embora o que visse provocasse imensa saudade de casa, Hermione adorou a saída. Flores desabrochavam em todos os lugares: em floreiras, onde eram tratadas com cuidado e carinho, e nas montanhas e campos, onde ficavam aos cuidados somente da mãe natureza. A vila era linda com suas casinhas caiadas e ruas de paralelepípedos. Hermione se apaixonou instantaneamente pelo lugar.
Toda vez que saíam de uma das pequenas lojas, os habitantes da vila paravam, tiravam o chapéu e se curvavam. Dirigiam-se a Sirius como “alteza” e, embora ele não soubesse o nome de nenhum deles, tratava a todos com simpatia e simplicidade, sem dar a menor atenção à diferença social que os separava.
Quando retornaram a Gryffindor Park, naquela tarde, Hermione se sentia bem mais otimista com relação a sua nova vida e já nutria esperanças de poder conhecer melhor os habitantes da vila.
A fim de evitar novos problemas para si mesma, limitou as atividades do resto do dia à leitura em seu quarto, além de duas excursões ao bosque, onde tentou sem sucesso maior aproximação de Bichento.
Antes do jantar, deitou-se e dormiu, refletindo que novos conflitos entre ela e Harry Potter poderiam ser evitados, se ela se mantivesse fora do caminho dele, como fizera o dia todo.
Estava enganada. Quando acordou, Angelina guardava uma porção de vestidos coloridos no armário.
— Não são meus — Hermione informou-a com voz sonolenta, ao se levantar.
— São sim, senhorita! — Angelina corrigiu-a com entusiasmo. — O lorde mandou comprá-los em Londres.
— Por favor, diga a ele que não vou usá-los — Hermione pediu com gentileza, apesar do tom firme.
— Ah, não, senhorita! Não posso fazer isso!
— Pois eu posso! — Hermione declarou, abrindo o outro armário, a fim de apanhar um de seus vestidos.
— Não estão mais aí — Angelina explicou, aflita. — Eu os levei embora. Foram ordens do lorde...
— Entendo — Hermione tranqüilizou-a, embora fosse invadida por uma fúria que jamais se imaginara capaz de sentir.
— Senhorita — a criada chamou, torcendo as mãos —, o lorde disse que poderei assumir a posição de sua criada pessoal, se meus serviços forem satisfatórios.
— Não preciso de uma criada, Angelina.
Os ombros da moça vergaram.
— Seria bem melhor do que minhas tarefas atuais...
— Está bem — Hermione concedeu, incapaz de resistir ao tom de súplica de Angelina. — O que uma “criada pessoal” faz?
— Bem, devo ajudá-la a se vestir e cuidar para que seus vestidos estejam sempre limpos e passados. E também devo arrumar seus cabelos. Posso? A senhorita tem cabelos tão lindos e minha mãe sempre diz que tenho jeito para isso.
Hermione concordou, não porque fizesse questão de ter os cabelos arrumados, mas porque precisava de tempo para se acalmar, antes de enfrentar Harry Potter. Uma hora depois, usando um vestido de seda cor de pêssego, com delicados laços de cetim da mesma cor, Hermione examinou seu reflexo no espelho. Seus cabelos estavam presos no topo da cabeça, de onde cachos castanhos saltavam em um arranjo sofisticado, entremeados por fitas idênticas às do vestido. Suas faces apresentavam-se coradas pela raiva e seus olhos marrons faiscavam de ressentimento e vergonha.
Nunca vira, nem imaginara um vestido tão maravilhoso quanto aquele e, também, nunca sentira tamanho desprazer com sua própria aparência. Não a agradava em nada ser forçada a desrespeitar a morte recente de seus pais.
— Ah, senhorita! — Angelina exclamou, cruzando as mãos diante do peito. — Está tão linda! O lorde não vai acreditar quando a vir!
Angelina tinha razão, mas Hermione estava furiosa demais para se sentir gratificada pela expressão de fascínio nos olhos de Harry, quando ele entrou na sala de jantar.
— Boa noite, tio Sirius — cumprimentou o primo com um beijo no rosto, notando que Harry se pusera de pé.
Invadida por profunda rebeldia, Hermione virou-se para ele e permaneceu calada, fitando-o com ressentimento e desprezo, enquanto os olhos verdes do lorde passeavam com insolência por seu corpo. Embora estivesse habituada a receber olhares de admiração de diversos cavalheiros, Hermione reconheceu que não havia nada de cavalheiresco no modo como Harry a examinava.
— Terminou? — indagou, furiosa.
Sem pressa, ele ergueu os olhos para ela, ao mesmo tempo em que um sorriso maroto lhe curvava os lábios, diante do antagonismo de Hermione nem sequer tentara disfarçar. Harry estendeu a mão e, em uma reação automática, Hermione recuou um passo, antes de se dar conta que ele só pretendia puxar a cadeira para que ela se sentasse.
— Cometi mais uma gafe, como não bater na porta? — ele perguntou em tom divertido, aproximando perigosamente os lábios da face de Hermione, quando ela se sentava. — Não é costume na América um cavalheiro ajudar uma dama a se sentar?
Hermione afastou a cabeça com um gesto brusco.
— Está me ajudando a sentar, ou tentando comer a minha orelha?
Harry não conteve um sorriso.
— Talvez eu faça isso, caso a nova cozinheira tenha preparado uma refeição insatisfatória. — Ao se sentar, virou-se para Sirius e explicou: — Despedi aquele francês gordo.
Hermione se sentiu culpada por sua parte no incidente, mas estava tão zangada com a atitude de Harry ao ordenar que se livrassem de seus vestidos, que nem mesmo o sentimento de culpa diminuiu sua ira. Decidida a tratar do assunto em particular, mais tarde, dirigiu-se exclusivamente a Sirius, durante o jantar. Porém, à medida que a refeição prosseguia, foi se tornando constrangida pelo modo como Harry Potter a observava, por entre as velas do castiçal que ocupava o centro da mesa.
Harry levou o copo aos lábios, estudando-a. Sabia que Hermione estava furiosa por ele ter mandado a criada dar fim àqueles trapos pretos. Tanto que, a julgar pelo brilho assassino naqueles espetaculares olhos castanhos, ela não hesitaria em agredi-lo, caso tivesse a oportunidade.
Ali estava uma verdadeira beldade, orgulhosa e cheia de coragem, Harry pensou com imparcialidade. Antes, ela lhe parecera uma garota bonita, mas ele não imaginara uma transformação tão fascinante, resultante da simples mudança nos trajes. Talvez, seu ódio da cor do luto fosse tão intenso, que os vestidos haviam prejudicado a sua percepção. De qualquer maneira, Harry não tinha dúvidas de que Hermione Granger enlouquecera os rapazes, na América. E também não tinha dúvidas de que ela repetiria a façanha na Inglaterra. Ora, ela arrasaria os rapazes e os homens, Harry se corrigiu.
E era justamente esse o seu problema. Apesar das curvas sedutoras e do rosto perfeito, Harry começava a se convencer de que Hermione era mesmo a garota inocente e inexperiente que Sirius defendera. Uma inocente que fora parar à porta de sua casa e por quem Harry se tornara involuntariamente responsável. A imagem de si mesmo no papel de protetor de Hermione, guardião da virtude de uma moça solteira, era tão ridícula que ele quase riu alto. Porém, era exatamente aquele papel que ele seria forçado a desempenhar. Qualquer pessoa que o conhecesse acharia a situação tão ridícula quanto ele, considerando-se a sua notória reputação com as mulheres.
McLaggen serviu-lhe mais vinho e Harry bebeu, pensativo, tentando imaginar uma maneira rápida e eficiente de se livrar de Hermione o mais depressa possível. Quanto mais considerava a questão mais se convencia de que deveria providenciar a temporada londrina que Sirius estava tão ansioso para proporcionar a ela.
Com a beleza exuberante de Hermione, seria muito fácil lançá-la com sucesso na sociedade. E, com a ajuda de um pequeno dote, proporcionado por ele mesmo, seria igualmente fácil conseguir-lhe um casamento seguro. Por outro lado, se Hermione realmente acreditava que o tal Draco iria buscá-la, poderia insistir em esperar meses, ou quem sabe anos, antes de aceitar a proposta de outro homem. E tal possibilidade não satisfazia as necessidades de Harry de maneira nenhuma.
A fim de avaliar seu plano, ele aproveitou a primeira pausa na conversa de Hermione e Sirius.
— Sirius me contou que está praticamente noiva de...Damon? Daniel?
— Draco — ela corrigiu-o de pronto.
— Como ele é? Harry perguntou.
Um sorriso afetuoso curvou os lábios de Hermione.
— Ele é gentil, atraente, inteligente, amável...
— Acho que já posso fazer uma idéia — Harry a interrompeu contrariado. — Aceite um conselho: esqueça-o.
Reprimindo o impulso de atirar algum objeto pesado nele, Hermione indagou:
— Por quê?
— Ele não é o homem certo para você. Em quatro dias, você virou minha casa de pernas para o ar. Que tipo de casamento teria com um aldeão sereno, determinado a levar uma vida calma e organizada? O melhor a fazer é esquecê-lo e aproveitar ao máximo as suas oportunidades aqui.
— Em primeiro lugar... — Hermione começou, mas foi prontamente interrompida por Harry, que parecia determinado a lançar as sementes da discórdia.
— É claro que existe a possibilidade de você não conseguir esquecê-lo, mas será esquecida por Damon assim mesmo. Como é mesmo o ditado? “Longe dos olhos, longe do coração.”
Fazendo um esforço sobre-humano para se controlar, Hermione permaneceu calada.
— Não vai discutir? — Harry provocou-a, admirando o modo como a raiva fazia os olhos dela escurecerem. — Não acredito!
Hermione empinou a queixo.
— No meu país, senhor Potter, discutir à mesa é considerado uma grande falta de educação.
A reprimenda fez Harry se divertir ainda mais.
— O que deve ser uma grande inconveniência para você — retrucou com voz macia.
Sirius reclinou-se na cadeira, com um sorriso nos lábios, observando a discussão acalorada do filho com a jovem beldade que o fazia lembrar-se da mãe dela. Eram perfeitos um para o outro. Ao contrário da maioria das mulheres, Hermione não se deixava impressionar por Harry. Sua coragem e generosidade o tornariam mais gentil e, uma vez domado, Harry se transformaria no tipo de marido que todas as moças sonham encontrar. Juntos, os dois seriam felizes e Hermione daria um filho a Harry.
Invadido por profunda alegria, Sirius imaginou o neto que eles lhe dariam, depois que se casassem. Depois de todos aqueles anos de vazio e desespero, ele e Katherine finalmente teriam um neto juntos. Bem era verdade que Harry e Hermione não estavam se dando muito bem no momento, mas isso já era esperado. Harry era um homem experiente, endurecido e amargo, e tinha bons motivos para isso. Hermione por sua vez, tinha coragem, o espírito e a generosidade de Katherine. E Katherine havia mudado a vida do próprio Sirius. Ela lhe ensinara o significado do amor. Assim como da perda. A mente de Sirius vagou pelos eventos do passado, que haviam levado ao que acontecia agora...
Ao completar vinte e dois anos de idade, Sirius já conquistara a merecida reputação de libertino, jogador e encrenqueiro. Não tinha responsabilidades, restrições e absolutamente nenhuma perspectiva de vida, uma vez que o irmão mais velho herdara o título de duque, juntamente com as propriedades e o dinheiro da família. O dinheiro, na verdade, era pouco, pois durante quatrocentos anos, os homens da família Potter haviam demonstrado uma forte tendência para todo tipo de vícios caros. De fato Sirius não era pior que o pai, ou que o avô. O irmão mais novo de Sirius foi o único Potter a manifestar o desejo de combater as tentações do demônio, mas fez isso com o excesso típico dos Potter, tornando-se missionário e se mudando para a Índia.
Mais ou menos na mesma época, a amante francesa de Sirius anunciara que estava grávida. Quando Sirius lhe ofereceu dinheiro, sem mencionar casamento, ela chorou e brigou, mas não conseguiu fazê-lo mudar de idéia. Finalmente, decidiu abandoná-lo, furiosa. Uma semana depois do nascimento de Harry, ela visitou Sirius e, sem a menor cerimônia, abandonou o filho e desapareceu. Ao mesmo tempo em que não sentia nenhuma disposição de arcar com a responsabilidade de criar um filho, Sirius não foi capaz de simplesmente abandonar o menino em um orfanato. Em um momento de grande inspiração, teve a brilhante idéia de entregar Harry para o irmão missionário e sua feia esposa, que estavam de partida para a Índia, a fim de “converter os pagãos”.
Sem nenhuma hesitação, dera o bebê àqueles dois fanáticos religiosos, tementes a Deus, junto com praticamente todo o dinheiro que possuía, para ser usado nas despesas com Harry. Com isso, lavou as mãos.
Até então, Sirius conseguira se sustentar com o dinheiro que obtinha nas mesas de jogos. A sorte, porém, caprichosa que era, acabou por abandoná-lo. Aos trinta e dois anos, Sirius foi obrigado a encarar o fato de que já não era possível manter o padrão de vida adequado a um homem da sua posição apenas com os rendimentos de jogos e apostas. Tratava-se de um problema comum entre os filhos mais novos de famílias nobres e Sirius o resolveu da mesma maneira que a maioria deles fazia: decidiu trocar o nome ilustre por um bom dote. Com indisfarçável indiferença, pediu em casamento a filha de um mercador, uma moça de muito dinheiro, alguma beleza e pouquíssima inteligência.
Tanto a jovem, quanto o pai aceitaram prontamente o pedido. Até mesmo o irmão mais velho de Sirius, o duque, concordou em patrocinar uma festa para comemorar as bodas.
E fora exatamente naquela ocasião que Sirius reencontrou sua prima distante, Katherine Ravenclaw, a neta de dezoito anos da duquesa de Claremont. Quando a vira pela última vez, estava fazendo uma de suas raras visitas ao irmão, em Gryffindor, e Katherine, então com dez anos, passara as férias em uma propriedade vizinha. Durante duas semanas inteiras, ela o seguiu a todos os lugares, sem esconder o brilho de grande admiração nos olhos incrivelmente castanhos. Sirius a considerava uma garota muito bonita, dona de coragem infinitamente maior que muitas mulheres com o dobro da idade dela. Juntos, saltaram obstáculos em seus cavalos e empinaram papagaios.
Agora, ela havia se transformado em uma mulher de beleza ímpar e Sirius não era capaz de desviar os olhos dos dela.
Fingindo-se impassível e indiferente, ele estudara aquela mulher fascinante, seus traços perfeitos, os cabelos castanho-dourados, enquanto ela se mantinha à margem da verdadeira multidão que apinhava o salão, parecendo serena e etérea. Então, Sirius se aproximou e, com ar casual, apoiou um braço no consolo da lareira, admirando a beleza de Katherine com olhar franco e ousado. Esperava que ela manifestasse algum tipo de objeção a suas maneiras diretas, mas Katherine não fez nenhuma. Não corou, nem tentou fugir ao escrutínio. Simplesmente, sustentou-lhe o olhar, como se estivesse esperando que ele terminasse a sua avaliação.
— Olá, Katherine — Sirius finalmente a cumprimentara.
— Olá, Sirius.
— Está achando a festa tão tediosa quanto eu, querida?
Em vez de balbuciar alguma tolice sobre a festa estar maravilhosa, Katherine fixara os olhos nos dele e respondera com calma e tranqüilidade:
— É o prelúdio perfeito para um casamento que vai acontecer por motivos exclusivamente monetários.
A franqueza dela o apanhara de surpresa, embora o que realmente o desarmasse fosse a estranha sombra de acusação que obscureceu os olhos de Katherine, antes que ela se virasse e começasse a se afastar. Sem pensar, Sirius a segurou pelo braço. O contato físico inocente provocou uma reação inesperada em ambos. Então, Sirius a levou para o jardim. À luz do luar, ele a fitou nos olhos e, porque a acusação dela o atingira em cheio, sua voz soou rude:
— É muita presunção de sua parte concluir que o dinheiro é a única razão pela qual vou me casar com Amélia. As pessoas têm inúmeras razões para tomar decisões como essa.
Mais uma vez, aquele olhar desconcertante sustentara o dele.
— Não, em se tratando de pessoas como nós — ela argumentara. — Nós nos casamos para aumentar a riqueza, ou o poder de nossas famílias, ou para melhorar nossa posição social. No seu caso, o casamento servirá para aumentar a sua riqueza.
Ora, era evidente que Sirius estava trocando sua linhagem aristocrática por dinheiro e, embora tal prática fosse comumente aceita, Katherine o fizera sentir-se indigno.
— E quanto a você? — ele reagira. — Não vai se casar por uma dessas razões, também?
— Não. Vou me casar por amar alguém e ser amada pela mesma pessoa. Não vou aceitar um casamento como o que meus pais tiveram. Quero mais da vida e tenho muito mais para dar.
As palavras pronunciadas em tom suave carregavam tamanha convicção, que Sirius permanecera em silêncio por um longo momento, antes de dizer:
— Sua avó não vai ficar nada satisfeita se você se casar por amor, em vez de por posição social, minha cara. Correm boatos de que ela quer uma aliança com os Zabini e que pretende obtê-la através do seu casamento.
Katherine sorrira pela primeira vez, fazendo o coração de Sirius disparar no peito.
— Minha avó e eu — replicara em tom casual — já discutimos esse assunto diversas vezes. Estou tão determinada quanto ela a fazer as coisas a meu modo.
Ela era tão linda, franca e honesta, que a armadura de cinismo que circundara Sirius durante trinta anos começou a derreter, fazendo-o sentir-se subitamente vazio e solitário. Sem se dar conta do que fazia, ele ergueu a mão e, com a ponta do dedo, tocou de leve a face de Katherine, murmurando com ternura:
— Espero que o homem que venha a amar seja digno de você.
Por um momento interminável, Katherine estudara-lhe as feições, como se fosse capaz de enxergar-lhe a alma. Então, sussurrara baixinho:
— Eu acho que é mais uma questão de saber se eu posso ser digna dele. Ele precisa muito de mim, mas só está começando a perceber isso agora.
Após um breve instante, o significado das palavras de Katherine haviam atingido a mente de Sirius e ele ouviu a própria voz murmurar o nome dela com o desespero febril de um homem que acabara de descobrir o que estivera procurando, sem nem sequer se dar conta, por toda a sua vida: uma mulher que o amasse pelo que ele era, pelo que queria ser. E Katherine não tinha outra razão para amá-lo, pois sua linhagem era tão aristocrática quanto a dele, seu círculo de amizades muito superior, sua riqueza, infinitamente maior.
Sirius a fitara, tentando negar os sentimentos que o invadiam. Aquilo era uma grande loucura, disse a si mesmo. Afinal, eles mal se conheciam. Não era o tipo de jovem tolo que acreditava que um homem e uma mulher podiam se apaixonar à primeira vista. Aliás, até aquele momento, Sirius nem sequer acreditara em amor. Agora porém, acreditava, pois queria que aquela mulher bonita, inteligente e idealista o amasse. Pela primeira vez em sua vida, encontrara algo raro e valioso, e estava determinado a manter aquela mulher exatamente como era. Queria se casar com ela e mimá-la, protegê-la contra o cinismo que parecia corromper todos os membros de sua classe social.
A idéia de pôr um fim ao seu noivado com Amélia não pesava em sua consciência, pois Sirius não acalentava ilusão alguma com relação às razões pelas quais ela aceitara se casar com ele. Era verdade que Amélia sentia uma certa atração por Sirius, mas iria se casar porque o pai desejava se unir à nobreza.
Por duas semanas inesquecíveis, Sirius e Katherine haviam conseguido manter seu amor em segredo. Foram as duas semanas de preciosos momentos a sós, de longas caminhadas pelos campos, de muito riso e sonhos sobre o futuro.
Ao final daquele período, Sirius já não podia mais adiar um encontro com a duquesa de Claremont. Queria se casar com Katherine.
Estava preparado para as objeções da duquesa, pois, embora sua família fosse nobre e tradicional, ele era um mero segundo filho, sem título. Ainda assim, tais casamentos ocorriam com freqüência e Sirius imaginava que após algumas discussões, a duquesa cederia porque Katherine desejava aquela união tanto quanto ele. Nem lhe passara pela cabeça que ela ficaria enlouquecida de raiva, que o chamasse de “oportunista libertino” e “degenerado corrupto e devasso”. Também não esperava que ela mencionasse o comportamento promíscuo de seus ancestrais, bem como o dele mesmo, e muito menos que rotulasse os homens de sua família como “loucos irresponsáveis”.
Acima de tudo, Sirius não imaginara que ela fosse capaz de jurar que se Katherine se casasse com ele, seria deserdada e ficaria sem um tostão. Afinal, esse tipo de coisa não ocorria na sociedade londrina. Porém, ao sair daquela casa, Sirius tinha a mais absoluta certeza de que a duquesa faria exatamente o que havia ameaçado. Uma vez em seus aposentos, ele passou a noite em claro, alternando momentos de ódio e desespero. Ao amanhecer Sirius sabia que não poderia se casar com Katherine, pois, mesmo estando disposto a ganhar a vida honestamente, com as próprias mãos, se fosse necessário, jamais admitira que a sua bela e orgulhosa Katherine fosse rebaixada por sua causa. Não seria o responsável por ela ser deserdada pela família e marginalizada pela sociedade.
Simplesmente não poderia permitir que ela se transformasse em uma dona de casa comum. Katherine era jovem e idealista, além de estar apaixonada por ele, mas também estava habituada a vestidos bonitos e criados para satisfazer todas as suas vontades. E não seria com o fruto de seu trabalho que Sirius conseguiria oferecer essas coisas à esposa. Katherine jamais lavara um prato, ou esfregara um chão, ou passara uma peça de roupa, e ele não a veria reduzida a esse tipo de vida só por ter sido tola o bastante para amá-lo.
Quando, finalmente, conseguira marcar um encontro clandestino com ela, no dia seguinte, Sirius a informou de sua decisão. Katherine argumentou que o luxo não significava nada para ela, implorou que ele a levasse para a América, onde ouvira dizer que qualquer homem era capaz de estabelecer uma vida decente, desde que estivesse disposto a trabalhar.
Sentindo-se incapaz de suportar as lágrimas dela, ou a própria angústia, Sirius fora rude ao dizer que tais idéias não passavam de tolices e que ela jamais sobreviveria na América. Katherine lhe lançou um olhar amargo, como se ele não estivesse realmente disposto a trabalhar para viver. Então, acusou-o de estar interessado em seu dote, não nela... exatamente como a avó dissera.
Para Sirius, que estava sacrificando a própria felicidade por Katherine, a acusação tivera o feito de uma punhalada no peito.
— Acredite no que quiser — havia declarado, virando-se e partindo, antes que sua determinação falhasse e ele fugisse com ela naquele mesmo dia. Ao alcançar a porta, Sirius descobriu não ser capaz de permitir que Katherine acreditasse que ele queria apenas o seu dinheiro. — Por favor, Katherine, não pense isso de mim.
— Não penso — ela confessara.
Katherine também não acreditava que Sirius poria um fim àquele tormento casando-se com Amélia na semana seguinte. Porém foi exatamente o que ele fez, tomando pela primeira vez em sua vida uma atitude inteiramente desprovida de egoísmo.
Katherine comparecera ao casamento na companhia da avó e, enquanto vivesse, Sirius jamais se esqueceria da expressão nos olhos dela, ao final da cerimônia.
Dois meses depois, ela se casara com um médico irlandês e partira para a América. Katherine fez isso porque estava furiosa com a avó e porque não suportaria continuar vivendo na Inglaterra, tão perto de Sirius e sua esposa. E, também, para provar a ele que seu amor teria sobrevivido a tudo, mesmo à vida na América.
Naquele mesmo ano, o irmão mais velho de Sirius morrera em um duelo de bêbados e Sirius herdou o título de duque. Embora não houvesse herdado muito dinheiro, teria sido o bastante para dar a Katherine um padrão de vida muito próximo ao que ela estava habituada. Mas Katherine se fora. Sirius não havia acreditado que o amor dela por ele fosse forte o bastante para sobreviver a alguns desconfortos. Não deu a menor importância ao dinheiro que herdou. Já não dava a menor importância a nada.
Não muito tempo depois, o irmão missionário de Sirius morrera na Índia. Dezesseis anos mais tarde, Amélia também morreu.
Na noite do funeral de Amélia, Sirius se embriagara, como vinha fazendo com freqüência naquela época. Porém, ao se sentar na sala vazia de sua casa, um pensamento sombrio cruzou-lhe a mente: ele também não demoraria muito a morrer. E, quando isso acontecesse, o ducado sairia das mãos dos Potter para sempre, pois Sirius não tinha um herdeiro.
Durante dezesseis anos, vivera em um estranho limbo. Naquela noite, porém, enquanto contemplava sua vida vazia, algo começou a crescer dentro dele. No início, tratava-se apenas de uma vaga inquietação, que foi se transformando em profundo desgosto, depois em ressentimento e, por fim, em fúria. Perdera Katherine, perdera dezesseis anos de sua vida. Suportara uma esposa insípida, um casamento sem amor e, agora, morreria sem ter produzido um herdeiro. Pela primeira vez em quatrocentos anos, o ducado corria o risco de deixar a família Potter e Sirius foi invadido por uma forte determinação de não jogá-lo fora como fizera com o resto de sua vida.
Era verdade que os Potter não haviam sido uma família particularmente honrada e digna, mas o título lhes pertencia e ele faria tudo para mantê-lo.
Para isso, precisava de um herdeiro, o que significava que teria de se casar de novo. Depois de tantas aventuras na juventude, a idéia de dormir com uma mulher, àquela altura, a fim de produzir um herdeiro, parecia-lhe mais cansativa do que excitante. Pensou em todas as belas mulheres que levara para a sua cama, tantos anos antes, lembrou-se da bailarina francesa que fora sua amante e que lhe entregara um bastardo...
Uma súbita explosão de alegria o pusera de pé. Não precisaria se casar de novo, pois já tinha um herdeiro! Tinha Harry. Sirius não sabia ao certo se as leis de sucessão permitiam que o título de duque fosse herdado por um filho bastardo, mas isso não fazia diferença. Harry era um Potter e as poucas pessoas que sabiam de sua existência na Índia acreditavam ser ele o filho legítimo do irmão mais novo de Sirius. Além do mais, o rei Charles concedera o ducado a três de seus bastardos e, agora, Sirius Potter, duque de Grimmauld, faria o mesmo.
No dia seguinte, Sirius contratara detetives, mas dois longos anos haviam se passado, quando um deles enviou um relatório, contendo informações específicas. Não haviam encontrado o menor sinal da cunhada de Sirius na Índia, mas Harry fora localizado em Delhi, onde aparentemente fizera fortuna no ramo de comércio e navegação. O relatório começava com o atual paradeiro de Harry e terminava com todas as informações que o detetive conseguira reunir sobre o passado do rapaz.
O orgulho exultante de Sirius diante do sucesso financeiro de Harry havia se transformado rapidamente em horror e, então, em fúria, à medida que ele lia sobre o abuso depravado que a cunhada impusera à criança inocente que ele entregara aos cuidados dela. Ao terminar a leitura, Sirius vomitou.
Mais determinado do que nunca a fazer de Harry seu herdeiro legítimo, Sirius enviara uma carta, pedindo que retornasse imediatamente à Inglaterra, para que ele pudesse reconhecê-lo formalmente.
Como não obtivesse resposta, Sirius partira para Delhi. Encorajado pelo remorso profundo e pela determinação absoluta, foi à magnífica casa de Harry. No primeiro encontro, Sirius constatou o que o relatório do detetive já lhe dissera: Harry havia se casado e tido um filho, e vivia como um rei. Também deixou claro que não queria nenhum tipo de relacionamento com Sirius, ou com o legado que Sirius estava lhe oferecendo. Nos meses que se seguiram, Sirius permaneceu na Índia e, lentamente, foi convencendo o filho frio e reticente de que ele jamais suspeitara dos abusos terríveis que Harry havia sofrido quando criança. Porém, não conseguiu convencê-lo a voltar para a Inglaterra como seu herdeiro.
Cho, a linda esposa de Harry, ficara maravilhada com a idéia de viver em Londres, na posição de marquesa de Gryffindor, mas nem seus acessos de raiva, nem as súplicas de Sirius exerceram o menor efeito em Harry, já que ele não dava a menor importância a títulos, nem alimentava simpatia alguma pelos Potter no tocante à iminente perda do ducado.
Sirius já estava prestes a desistir, quando se deparou com o argumento perfeito. Uma noite, enquanto observava Harry brincar com o filho pequeno, deu-se conta de que havia uma pessoa no mundo por quem Harry faria qualquer coisa: Jaime. Assim, Sirius mudou imediatamente de tática. Em vez de tentar convencer Harry dos benefícios que ele mesmo teria se voltasse para a Inglaterra, passou a mostrar que, ao recusar que Sirius o reconhecesse como herdeiro, Harry estaria negando a Jaime seu direito de nascimento. Afinal, o título, as propriedades e tudo o mais seriam de Jaime um dia.
E dera resultado.
Depois de contratar um profissional competente para cuidar de seus negócios em Delhi, Harry se mudara com a família para a Inglaterra. Na intenção de construir um “império” para o filho, Harry gastou de bom grado quantias astronômicas na restauração das propriedades quase abandonadas por Sirius, proporcionando-lhe um esplendor que elas jamais haviam tido.
Enquanto Harry se ocupava sem supervisionar as reformas, Cho passava seu tempo em Londres, assumindo seu lugar de marquesa de Gryffindor. Um ano depois, a cidade fervilhava com os mexericos sobre seus casos amorosos extraconjugais. Poucos meses mais tarde, ela e o filho estavam mortos...
Sirius despertou das lembranças tristes quando a toalha estava sendo removida da mesa.
— Podemos quebrar o hábito esta noite? — perguntou a Hermione. — Em vez de os homens permanecerem à mesa, bebendo vinho do Porto e fumando charuto, podemos fazer isso com você, no salão? Não estou disposto a abrir a mão da sua companhia.
Embora não conhecesse o hábito, Hermione aceitou quebrá-lo e declarou sua intenção. Quando entrava no salão, decorado em tons de rosa e dourado, Sirius a segurou pelo braço, falando em voz baixa:
— Percebo que você abandonou o luto antes da data prevista, minha querida. Se a decisão foi sua, devo aplaudi-la. Sua mãe detestava preto. Ela me disse isso quando era criança e foi obrigada a usar roupas pretas, em luto pela morte dos pais. A decisão foi sua, Hermione?
— Não — ela admitiu. — O senhor Potter mandou a criada retirar as minhas roupas do armário e substituí-las por outras.
Sirius assentiu.
— Harry tem aversão a todos os símbolos de luto. A julgar pelos olhares fulminantes que dirigiu a ele durante o jantar, você não gostou do que ele fez. Deve dizer isso a Harry. Não o deixe intimidá-la, menina, pois ele detesta pessoas covardes.
— Não quero perturbar o senhor, tio Sirius. Disse que seu coração é fraco.
— Não se preocupe comigo — ele replicou com um sorriso. — Meu coração é um pouco fraco, mas não a ponto de não suportar um pouco de excitação. Na verdade, isso vai me fazer bem. A vida aqui era muito desinteressante antes de você chegar.
Quando Harry estava sentado, desfrutando de uma dose de vinho do Porto e de um bom charuto, Hermione tentou várias vezes fazer o que Sirius sugerira. Porém, cada vez que olhava para Harry, a coragem a abandonava. Ele havia escolhido uma calça cinza-escuro, combinando com o paletó, e uma camisa pérola. Apesar do traje elegante e da postura casual, Harry parecia irradiar um poder devastador. Havia algo de primitivo naquele homem e Hermione suspeitou que as roupas caras e o ar indolente serviam apenas como disfarces para enganar as pessoas, dando-lhes a impressão de que ele era civilizado, quando na realidade, não passava de um selvagem.
Mais uma vez, Hermione estudou-o pelo canto do olho e foi imediatamente percorrida por um arrepio. Quais seriam os segredos escondidos no passado de Harry? Certamente, eram muitos, pois era a única explicação para ele ser tão cínico e frio. Ao que parecia, Harry já vira e fizera todo tipo de coisas terríveis e proibidas, que o haviam endurecido tanto. Ainda assim, era bonito, com seus cabelos negros, olhos verdes e físico soberbo. Hermione não poderia negar que, se não passasse a maior parte do tempo com medo daquele homem, gostaria de conversar com ele. Sentia-se tentada a conquistar-lhe a amizade, o que seria tolice tão grande quanto conquistar a amizade do diabo. E igualmente perigoso.
Hermione respirou fundo, preparando-se para insistir com firme gentileza que suas roupas de luto fossem devolvidas ao seu armário. Naquele exato momento, porém, Slughorn entrou no salão, anunciando a chegada de lady Brown e da srta. Brown.
Harry lançou um olhar cínico para Sirius, que deu de ombros e ordenou ao mordomo:
— Mande-as embora.
— Não precisa nos anunciar, Slughorn — declarou uma voz firme, ao mesmo tempo em que uma mulher roliça entrava no salão, seguida por uma jovem, mais ou menos da mesma idade de Hermione. — Sirius! Ouvi dizer que você estava na vila hoje, em companhia de uma senhorita Granger. Por isso, decidi vir conhecê-la. — Fazendo uma pausa tão breve, que mal lhe deu tempo para respirar, a mulher se virou para Hermione: — você deve ser a senhorita Granger. — Examinou-a da cabeça aos pés, como se estivesse procurando por algum defeito. E encontrou. — Ora, que marca estranha essa que tem no queixo, querida! Como isso aconteceu? Foi um acidente?
— De nascimento — Hermione respondeu com um sorriso, perguntando-se se a Inglaterra estaria repleta de pessoas como lady Brown, extremamente mal-educadas, cujas excentricidades eram aceitas por causa de seus títulos e riqueza.
— Que pena! — lady Brown prosseguiu. — Isso a incomoda?
— Só quando me olho no espelho, madame — Hermione respondeu, esforçando-se para conter o riso.
Evidentemente insatisfeita, a mais velha virou-se para Harry, que havia se levantado e, agora, se encontrava de pé, com o cotovelo apoiado na lareira.
— Bem, Gryffindor, pelo que vejo, o anúncio no jornal era verdadeiro. Para ser sincera, não acreditei. E então? Era mesmo?
— Era mesmo o quê? — Harry inquiriu, com ar inocente.
— Slughorn — a voz de Sirius abafou a de lady Brown — sirva refresco às senhoras.
Todos se sentaram e Sirius deu início a uma animada discussão sobre o tempo. A sra. Brown ouviu o monólogo com impaciência e, na primeira oportunidade, voltou a atacar, virando-se para Harry e perguntando à queima roupa:
— Gryffindor, seu noivado está de pé, ou não?
Harry levou o copo ao lábios.
— Não.
Hermione observou as reações diversas `a resposta nos rostos a sua volta. Lady Brown se mostrou satisfeita, enquanto a filha pareceu deliciada. Sirius não escondeu o profundo desgosto e Harry, como sempre, manteve a expressão fechada. O coração generoso de Hermione logo derreteu por ele. Ora, não era de admirar que Harry se comportasse daquela maneira. Ao que parecia, a mulher que ele amava o abandonara, pondo fim ao noivado. Ao mesmo tempo, estranhou o fato de as duas Brown a fitarem imediatamente, esperando que ela dissesse alguma coisa.
Sem compreender o que se passava, Hermione exibiu um sorriso confuso, o que levou lady Brown a reiniciar a conversa:
— Bem, Sirius, se é assim, imagino que você vá apresentar a pobre senhorita Granger à sociedade londrina, na próxima temporada.
— Pretendo tomar as providências necessárias para que a condessa Ravenclaw assuma o seu lugar na sociedade — Sirius a corrigiu.
— Condessa de Ravenclaw... — lady Brown repetiu, arregalando os olhos.
Sirius assentiu.
— Hermione é a filha mais velha de Katherine Ravenclaw. A menos que eu esteja enganado quanto às leis de sucessão, é a herdeira do título escocês de sua mãe.
— Mesmo assim, não vai ser fácil encontrar um bom partido para ela — a mulher declarou para, então, lançar um olhar de falsa simpatia para Hermione. — Sua mãe provocou um escândalo e tanto quando fugiu com aquele trabalhador irlandês.
O comentário ofensivo com relação à mãe fez Hermione fervilhar de raiva.
— Minha mãe se casou com um médico irlandês — corrigiu-a.
— Sem permissão da avó — lady Brown argumentou. — Moças respeitáveis não se casam contra a vontade de suas famílias, neste país.
Ora, a implicação era clara: Katherine não fora uma moça respeitável!
— Bem, a sociedade acaba se esquecendo dessas coisas — lady Brown continuou em tom de falsa generosidade. — Enquanto isso, você terá muito que aprender, antes de ser formalmente apresentada. Precisa aprender a maneira correta de se dirigir a cada membro da nobreza, bem como dispor lugares à mesa, em visitas e jantares, o que é bem mais complicado. Vai precisar de meses para saber tudo. O pessoal das colônias é totalmente ignorante sobre regras de etiqueta, mas nós, ingleses, damos importância prioritária às normas de convivência social.
— Talvez isso explique por que nós sempre os derrotamos na guerra — Hermione sugeriu com um sorriso inocente.
Lady Brown estreitou os olhos.
— Não tive a intenção de ofendê-la, mas vejo que terá de aprender a dominar sua língua ferina, se pretende encontrar um bom marido e redimir a reputação de sua mãe.
Hermione se pôs de pé e, com grande dignidade, declarou:
— Mais difícil será imitar a reputação de minha mãe. Ela foi a mulher mais gentil e amável que já existiu. Agora, se me der licença, tenho algumas cartas para escrever.
Hermione fechou a porta atrás de si e foi para a biblioteca, uma sala enorme, cujo assoalho de madeira encerada era quase totalmente coberto por tapetes persas, enquanto prateleiras repletas de livros escondiam as paredes. Furiosa demais para se sentar a uma das mesas e escrever uma carta para Ginny, ou Draco, pôs-se a examinar os livros, à procura de algo que pudesse acalmá-la. Depois se passar por diversos volumes de história, mitologia e comércio, chegou à seção de poesia, onde encontrou obras de vários autores, inclusive alguns que conhecia, como Milton, Shelly, Keats e Byron. Como não estivesse particularmente interessada em ler, apanhou um livro fino, simplesmente porque se encontrava desalinhado em relação aos demais. Então, acomodou-se em uma poltrona confortável e acendeu o lampião a óleo sobre a mesinha ao lado.
Ao abrir o livro, uma folha de papel cor-de-rosa e perfumada caiu ao chão. Com um gesto automático, Hermione se abaixou para apanhá-la e já ia devolvê-la ao seu lugar, quando as primeiras palavras da mensagem escrita em francês chamaram-lhe a atenção

Querido Harry,

Sinto sua falta. Espero, impaciente, contando as horas, pelo
momento de vê-lo novamente...

Hermione disse a si mesma que ler a carta endereçada a outra pessoa era grande falta de educação, imperdoável e muito abaixo de sua dignidade. Porém, a idéia de uma mulher esperando impacientemente por Harry Potter era tão incrível, que ela não foi capaz de controlar a curiosidade. No que lhe dizia respeito, sentia-se mais inclinada a esperar impacientemente que ele desaparecesse! Envolveu-se com tamanha intensidade na descoberta, que nem percebeu a aproximação de Harry e da srta. Brown no corredor.

Estou enviando estes belos poemas na esperança de que você
os leia e pense em mim e nas noites maravilhosas que pas-
samos nos braços um do outro...


— Hermione! — Harry chamou-a em tom irritado.
Subitamente nervosa e sentindo-se culpada, Hermione se levantou de um pulo, deixando o livro cair, apanhou-o do chão e voltou a se sentar. Tentando parecer absorvida pela leitura, abriu o volume e fixou os olhos na página, sem se dar conta de que o livro estava de cabeça para baixo.
— Por que não respondeu, quando chamei? — Harry indagou, ao entrar na biblioteca com a bela srta. Brown a seu lado. — Lilá queria se despedir e lhe da sugestões, caso você deseje fazer compras na vila.
Depois do ataque inexplicável de lady Brown, Hermione não pôde deixar de se perguntar se a srta. Brown estaria insinuando que ela não saberia escolher suas próprias compras.
— Desculpe, mas não ouvi você me chamar — respondeu, esforçando-se para não parecer zangada, ou culpada. — Como vê, eu estava lendo e me distraí. — Fechou o livro e colocou-o sobre a mesa, encarando os dois com expressão tranqüila, que logo se dissolveu, pois o semblante de Harry se contorceu em profundo desgosto. — Algo errado? — perguntou com voz tensa, acreditando que ele acabara de se lembrar do bilhete guardado dentro do livro.
— Sim — ele respondeu, antes de se virar para a srta. Brown, que exibia expressão muito semelhante à dele. — Lilá, pode recomendar um bom professor da vila que possa ensinar Hermione a ler?
— Ensinar-me a ler? Hermione repetiu, incrédula e ao mesmo tempo irritada pelo sorriso de desprezo que curvou os lábios da moça. — Não seja tolo! Não preciso de um professor. Sei ler perfeitamente.
Ignorando-a, Harry continuou olhando para a outra e repetiu:
— Pode recomendar um bom professor que venha ensiná-la?
— Sim, milorde. Tenho certeza de que o vigário, senhor Walkins, aceitará a tarefa.
Com firmeza de quem já se submeteu a insultos demais e não pretende aceitar mais nenhum, Hermione declarou:
— Francamente, isso é absurdo. Não preciso de professor. Eu sei ler.
Harry dirigiu-lhe um olhar gelado.
— Nunca mais minta para mim — advertiu em tom ameaçador. — Detesto mentirosos, especialmente mulheres mentirosas. Você não é capaz de ler uma palavra e sabe muito bem disso!
— Não acredito no que está acontecendo aqui! — Hermione elevou o tom de voz, sem dar a menor importância para a expressão horrorizada da srta. Brown. — Estou dizendo que sei ler!
Furioso por achar que ela estava ultrapassando os limites em sua tentativa de enganá-lo, Harry deu três passos largos até a mesa, apanhou o livro e o pôs nas mãos dela, sem a menor gentileza.
— Então, leia! — ordenou.
Sentindo-se profundamente humilhada por ser tratada daquela maneira diante de uma estranha, Hermione abriu o livro e deparou com o bilhete cor-de-rosa.
— Vamos! — Harry insistiu em tom de zombaria. — Leia!
Hermione lançou-lhe um olhar de desafio.
— Tem absoluta certeza de que deseja ouvir o que está escrito aqui? — indagou.
— Leia.
— Diante da senhorita Brown?
— Leia ou admita, de uma vez por todas, que você não sabe ler.
— Muito bem — Hermione concordou e, forçando-se a controlar o riso, leu em tom dramático: — Querido Harry, sinto sua falta. Espero, impaciente, contando as horas, pelo momento de vê-lo novamente. Estou enviando estes belos poemas na esperança de que você os leia e pense em mim e nas noites maravilhosas que passamos nos braços um do outro...
Harry arrancou o livro das mãos dela. Com ar inocente, Hermione fitou-o diretamente nos olhos e explicou:
— O bilhete está escrito em francês. Traduzi à medida que lia. — Virou-se para a srta. Brown, antes de acrescentar com um sorriso: — O bilhete continua, mas não creio que esse seja o tipo de leitura que deva ser deixado por aí, especialmente quando existem moças decentes por perto. Você concorda?
Antes que qualquer dos dois tivesse tempo de responder, Hermione deu meia-volta e saiu da biblioteca de cabeça erguida.
Lady Brown esperava no hall de entrada, pronta para partir. Hermione se despediu das duas mulheres e começou a subir a escada, na esperança de escapar à ira de Harry que, certamente, pretendia enfrentá-la assim que as visitantes se fossem. Infelizmente, o último comentário de lady Brown fez com que a mente de Hermione ficasse anuviada.
— Não fique chateada com a rejeição de lorde Potter, minha cara — a mulher falou, enquanto Slughorn colocava a capa em seus ombros. — Pouca gente acreditou no anúncio de noivado publicado no jornal. Todos tinham certeza de que, assim que você chegasse, ele encontraria um meio de escapar ao compromisso. Afinal, ele já deixou bem claro que não pretende se casar com ninguém...
Sirius empurrou-a para fora, sob o pretexto de acompanhá-la até a carruagem. Hermione girou nos calcanhares e, como uma deusa ultrajada, encarou Harry com olhar irado.
— Devo entender — indagou em tom perigosamente controlado — que o noivado que você disse estar terminado era o nosso noivado?
Harry não respondeu, mas a tensão que tomou conta de seu semblante era uma resposta inconfundível.
— Como se atreve? — Hermione sibilou, ignorando os criados que os observavam, paralisados de terror. — Como se atreve a insinuar que eu consideraria me casar com você? Eu não me casaria com um homem como você, mesmo que fosse...
— Não me lembro de ter pedido você em casamento — Harry a interrompeu com sarcasmo. — Mas não deixa de ser um grande alívio saber que, se um dia eu perdesse o juízo e lhe fizesse uma proposta tão absurda, você teria a consideração de me recusar.
Prestes a explodir em lágrimas, ela o examinou da cabeça aos pés, com ar de repulsa.
— Você é um monstro frio e arrogante, sem o menor respeito por ninguém, nem mesmo pelos mortos! Qualquer mulher em seu juízo preferiria morrer a se casar com você! Você é um...
Como a voz lhe faltasse, Hermione virou-se e correu para cima.
Parado no meio do hall, Harry observou-a desaparecer na escada. Atrás dele, dois lacaios e o mordomo esperavam, com olhos fixos no chão, o patrão explodir e desabafar neles a ira provocada por aquela garota insolente, que acabara de cometer um ato imperdoável. Após um longo momento, Harry enfiou as mãos nos bolsos e virou-se para o mordomo:
— Acho que acabo de ouvir um sermão arrasador, Slughorn.
Com isso, desapareceu no corredor.
Boquiaberto, McLaggen contou ao outro lacaio:
— Ela preparou um cataplasma para o meu dente inflamado e, agora, estou curado. Talvez ela tenha preparado algum remédio para o mau gênio do lorde, também.
Sem esperar pela resposta, dirigiu-se à cozinha, a fim de contar à sra. Pomfrey e suas ajudantes o incidente inacreditável que acabara de testemunhar. Depois da partida de monsieur André, graças à jovem americana, a cozinha havia se transformado em um lugar bastante agradável para se passar breves momentos de descanso, quando os olhos de águia de Slughorn se encontravam ocupados com outra coisa.
Uma hora depois, a criadagem perfeitamente discreta e bem treinada da mansão Gryffindor já ouvira a história do que havia acontecido na escada. Mais meia hora e o fato já alcançara os estábulos e os jardins.
No andar de cima, as mãos de Hermione tremiam, enquanto ela retirava os grampos dos cabelos e despia o vestido cor de pêssego. Ainda lutando para conter as lágrimas, ela o pendurou no guarda-roupa, vestiu uma camisola e se deitou. No mesmo instante, foi invadida por uma insuportável saudade de casa. Queria fugir dali, colocar um oceano entre si mesma e gente como Harry Potter e lady Brown. Provavelmente, sua mãe deixara a Inglaterra pelo mesmo motivo. Pensando na mulher linda e tão gentil que fora Katherine, Hermione não conteve um soluço.
Lembranças da vida feliz que tivera antes preencheram a mente de Hermione. Ela se lembrou do dia em que apanhara um buquê de flores-do-campo para a mãe e sujou o vestido ao fazê-lo.
— Veja, mamãe. Não são lindas? — indagara. — Eu as apanhei para você, mas sujei o meu vestido.
— São as flores mais lindas que já vi — a mãe respondera — mas você é muito mais linda do que elas.
Lembrou-se da febre que a acometera aos sete anos de idade, quase lhe tirando a vida. Noite após noite, a mãe se sentou na beirada da cama, aplicando panos úmidos sobre sua pele escaldante, enquanto Hermione oscilava entre a consciência e o delírio. Na quinta noite, acordou nos braços da mãe, sentindo o próprio rosto molhado de lágrimas de Katherine, que a embalava e implorava entre soluços:
— Por favor, meu Deus, não deixe minha filhinha morrer. Ela é tão pequena e tem tanto medo do escuro...
Envolta pelos lençóis macios da cama que agora era sua, em Gryffindor, Hermione afundou o rosto no travesseiro, entregando-se ao pranto.
— Ah, mamãe — balbuciou —, sinto tanto a sua falta...
Harry parou diante da porta do quarto de Hermione e ergueu a mão para bater. Porém, imobilizou-a no ar ao ouvir os soluços lá dentro. Depois de refletir por alguns instantes, concluiu que ela se sentiria bem melhor se chorasse todas as lágrimas que possuísse. Por outro lado, se continuasse chorando daquele jeito, certamente acabaria doente. Assim, ele foi até o próprio quarto, encheu um cálice de conhaque e voltou.
Seguindo as instruções arrogantes que ela lhe dera, bateu na porta. Como Hermione não respondesse, Harry entrou e ficou parado à porta, observando os ombros dela sacudirem pelos soluços angustiados. Embora já houvesse visto mulheres chorando, suas lágrimas eram sempre falsas e deliberadas, destinadas a persuadir um homem. Hermione, porém, mantivera a compostura e a dignidade na escada, enquanto dizia em alto e bom tom o que pensava dele. Então, havia se refugiado em seu quarto, a fim de chorar em segredo.
Harry pousou a mão de leve no ombro dela.
— Hermione...
Ela se apoiou nos cotovelos, fitando-o com seus enormes olhos castanhos.
— Saia daqui! — ordenou com voz rouca. — Saia antes que alguém o veja!
Harry estudou a beldade de temperamento forte a sua frente. As faces de Hermione estavam coradas de raiva, seus cabelos castanhos espalhavam-se sobre os ombros. Usando uma camisola branca, fechada até o pescoço, parecia uma criança inocente e abandonada. Ainda assim, havia um ar de desafio na posição em que ela mantinha o queixo, bem como o brilho daqueles fascinantes olhos castanhos. Era como se eles advertissem Harry para que não a subestimasse. Ele se lembrou da impertinência ousada de Hermione, na biblioteca, quando lera o bilhete em voz alta, sem esconder a satisfação que sentia por desconcertá-lo. Cho fora a única mulher com coragem bastante para desafiar Harry, mas só o fizera pelas costas. Hermione Granger o desafiava cara a cara, o que provocava nele um sentimento muito próximo de admiração.
Como Harry não se movesse, Hermione secou as lágrimas do rosto, puxou as cobertas até o queixo e se sentou.
— Faz idéia do que as pessoas vão dizer, se souberem que você está aqui? — indagou, furiosa. — Não tem princípios?
— Nenhum — Harry admitiu, tranqüilo. — Prefiro objetividade a princípios. Agora, beba isto.
Ele aproximou o cálice do rosto de Hermione e ela e sentiu o cheiro forte do álcool.
— De jeito nenhum! — protestou.
— Beba, ou serei obrigado a forçá-la — Harry insistiu, sem se alterar.
— Você não faria isso!
— Faria, sim, Hermione. Agora, beba como uma boa menina. Vai se sentir melhor.
Percebendo que de nada adiantaria discutir e cansada demais para lutar, Hermione bebeu um gole e tentou devolver o cálice, alegando:
— Já me sinto bem melhor.
Apesar do brilho divertido que iluminou os olhos de Harry por um breve instante, a voz dele se manteve implacável:
— Beba o resto.
— Se eu beber, você sairá do quarto? — Hermione perguntou, irritada.
Como ele assentisse, ela decidiu pôr um ponto final à história e, como se tivesse que engolir um remédio amargo, bebeu dois grandes goles. Depois de engasgar e tossir, sentindo o líquido traçar um caminho de fogo até chegar a seu estômago, Hermione murmurou:
— É horrível!
Então, voltou a se reclinar nos travesseiros.
Harry permaneceu em silêncio por um longo momento, esperando que o efeito reconfortante do conhaque se espalhasse pelo corpo de Hermione. Então, falou:
— Em primeiro lugar, foi Sirius quem anunciou o nosso noivado no jornal. Segundo, você quer se casar comigo tanto quanto eu com você. Estou certo?
— Perfeitamente.
— Se é assim, pode me explicar por que está chorando por saber que não estamos noivos?
Hermione dirigiu-lhe um olhar de desdém.
— Eu não estava chorando — declarou.
— Não? — Com um sorriso, Harry estendeu-lhe um lenço. — Então, por que o seu nariz está vermelho e seus olhos, inchados?
Hermione conteve o riso provocado pelo conhaque e secou os olhos com o lenço.
— Seu comentário não foi nada cavalheiresco.
Harry exibiu um dos raros sorrisos, que lhe suavizavam as feições duras.
— Tenho certeza de que, até agora, não fiz nada que pudesse lhe dar a impressão de que sou um cavalheiro!
O tom de incredulidade zombeteira fez os lábios de Hermione se curvarem em um sorriso relutante.
— Absolutamente nada — ela confirmou. — Eu não estava chorando por causa desse noivado ridículo. Isso só me deixou furiosa.
— Então, por que estava chorando?
Hermione baixou os olhos para as mãos.
— Estava chorando por minha mãe. Lady Brown disse que eu teria de redimir a reputação dela e isso me deixou tão furiosa, que nem fui capaz de responder à altura. — Lançou um olhar rápido para Harry e, como ele parecesse sinceramente preocupado e, pela primeira vez, humano, ela continuou: — Minha mãe era carinhosa, gentil e muito meiga. Comecei a me lembrar de quanto ela era maravilhosa e acabei chorando. Desde que meus pais morreram, tenho esses... momentos de descontrole. Ora estou bem, ora sinto uma falta insuportável deles. Quando isso acontece, eu choro.
— É natural chorar pelas pessoas que ama — Harry falou com tamanha ternura, que Hermione mal acreditou que as palavras haviam mesmo sido pronunciadas por ele.
Sentindo-se estranhamente reconfortada pela presença dele, bem como por sua voz calma e profunda, Hermione sacudiu a cabeça e confessou:
— A verdade é que choro por mim mesma. Choro por autopiedade, por ter perdido meus pais. Não sabia que era tão covarde.
— Já vi homens de muita coragem chorarem, Hermione.
Hermione estudou-lhe os traços bem desenhados. Mesmo sob o efeito suavizante da luz da velas, Harry continuava parecendo invulnerável. Era impossível imaginá-lo com lágrimas nos olhos.
— Você já chorou? — ela indagou, com sua reserva natural sensivelmente diminuída pelo conhaque.
— Não — Harry respondeu, ao mesmo tempo em que seus olhos voltavam a exibir aquele brilho frio que ela já vira antes.
— Nem mesmo quando era garotinho? — Hermione insistiu, tentando provocá-lo para manter o bom humor da conversa.
— Nem mesmo então.
Com um movimento abrupto, Harry tentou se levantar, mas Hermione pousou a mão em seu braço, impedindo-o.
— Senhor Potter — falou, hesitante, tentando reforçar aquela pequena trégua que haviam conseguido estabelecer —, sei que não me quer aqui, mas não ficarei por muito tempo... apenas até Draco vir me buscar.
— Fique quanto tempo quiser — ele replicou, dando de ombros.
— Obrigada — Hermione agradeceu, sem esconder a confusão resultante das mudanças súbitas de humor que ele apresentava. — O que eu quis dizer foi que... bem, eu gostaria muito se nós pudéssemos ser... amigos.
— Que tipo de amizade tem em mente, milady?
Já totalmente alterada pelos efeitos do álcool, Hermione não percebeu a pontada de sarcasmo na voz de Harry.
— Bem, somos primos distantes e não tenho parentes vivos, exceto por tio Sirius e você. Acha que podemos nos tratar como primos?
Harry pareceu surpreso e, então, divertido com a proposta.
— Acho que sim.
— Obrigada.
— Agora, trate de dormir.
Ela assentiu e se acomodou na cama.
— Ah! Já ia me esquecendo de pedir desculpas pelas coisas horríveis que disse, quando fiquei zangada.
Os lábios de Harry se curvaram em um sorriso.
— Está arrependida do que disse?
Hermione ergueu as sobrancelhas e sorriu com impertinência sonolenta.
— Você mereceu cada palavra.
— Tem razão — ele admitiu, ainda sorrindo. — Mas não abuse da sorte.
Reprimindo o impulso de afagar os cabelos de Hermione, Harry foi para o seu próprio quarto, serviu-se de uma dose de conhaque e se sentou na poltrona. Perguntou-se por que Hermione Granger lhe despertava aquele instinto protetor, havia tanto tempo adormecido. Chegara a planejar mandá-la de volta para a América assim que chegasse, e isso fora antes de ela virar sua casa e sua vida de pernas para o ar. Talvez fosse o fato de ela parecer tão perdida e vulnerável, de ser tão jovem e ingênua, que o fizesse sentir paternal. Ou, então, fosse aquela franqueza inocente que o havia apanhado de surpresa. Ou, quem sabe, aqueles espetaculares olhos castanhos, que lhe examinavam as feições como se ela estivesse tentando enxergar-lhe a alma. Hermione não tinha malícia, nem precisava dela, pois aqueles olhos seriam capazes de seduzir um santo.

N/A: Bem Hermione teve seu primeiro encontro com pessoas da aristocracia inglesa, e logo com duas fofoqueiras. O que acharam da tregua entre H/H? Já vou avisando que não vai durar muito.
Assim como eu muitas pessoas não devem ter gostado da decisão do Sirius de desistir da Katherine, mas era a mulher que ele amava, ele queria mais para ela do que uma vida de pobreza. Mas como vocês viram ela não se importava pelo dinheiro. E pra quem quer saber sobre o passado do Harry, está muito longe de ser revelado. rsrsrs
Gostaria de agradecer a todos que estão comentando, estou me esforçando para atualizar o mais rápido possível, a fic deve ir até o capítulo 30, eu já tenho até o capítulo 12 prontos.
Bem em breve vem o proxímo capítulo!!!
Jéssica Malfoy

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